sexta-feira, 7 de maio de 2021

A. A. de Assis (88 Poeminhas) – 3 –

Ebook enviado pelo poeta quando da comemoração de seus 88 anos, em 21 de abril de 2021.

45.
Posso viver
sem ter nada,
porém jamais
sem ter / nura.

46.
Dissolve-se a nuvem
em finos fios de chuva.
Benze o trigo,
benze a uva.

47.
Velho e doce apreço.
Menino da roça,
da roça inesqueço.

48.
A lua e as estrelas,
tão belas.
E no entanto, para vê-las,
só o poeta abre as janelas.

49.
Quem nada
tem tudo.
Somente os peixes,
para salvar-se,
puderam dispensar a Arca.

50.
Era um riozinho,
e doce.
Cresceu, virou mar,
salgou.

51.
Gritarias, tiroteios.
Onde andam
os passarinhos
com os seus gorjeios?

52.
Há pedras
nos caminhos, há.
Caminhos nas pedras
há porém também.

53.
Ploque
ploque
ploque.
Passa um cavalo
levando
o passado embora.

54.
Os lírios dos campos.
Plateia de gala
para o show
dos pirilampos.

55.
Quero-quero-quero,
que queres tu tanto assim?
– Quero a quera-quera.

56.
Fantástico evento:
o fascinante momento
em que o botão
vira rosa.

57.
Tão pobrinha
a lua.
E todavia doa
o luar.

58.
Deveras,
deveras.
Na ausência
as horas são eras.

59.
No quintal vizinho
tinha um pé de pinha. Tinha.
Nem quintal tem mais.

60.
Agenda do dia:
encher de bem
o em redor da gente.

61.
Não se traz de volta
a ovelha
lhe puxando a orelha.
Dê-lhe amor e a mão.

62.
Mais que o prédio,
o morador.
O que dá valia ao vaso
é ser a casa da flor.

63.
Pergunte às crianças
se há vida
onde ninguém brinca.
Polegar pra baixo.

64.
Andorinha sobe,
andorinha
sobe e desce,
faz um “s” e some.

65.
Casal de velhinhos
na varanda
olhando a lua.
Tão longe a de mel...

66.
As cinzas da mata,
que dó.
Lágrimas em pó.

Continua…

Imagem: montagem por José Feldman com fotos obtidas no livro de Assis, "Vida, Verso e Prosa" e enviadas pelo poeta.

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