segunda-feira, 10 de maio de 2021

Silmar Böhrer (Caderno de Versos) – 3

A CONDOREIRA

É manhãzinha e a pequena
já está em louvação,
a corruíra em bom tom
numa cantiga açucena.

Acordo junto com a corruíra
nesta manhã sabatina,
e como canta essa menina
ali no pé de guajuvira.

A condoreira sempre feliz
cantando como quem diz,
voltei forte ao tabuleiro

Ali na cumeeira do rancho,
apenas eu - nada de ancho,
é quem manda no terreiro.
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CANETA NOVA

Eis que surge um versinho
para inaugurar nova caneta,
verso pobrete do esteta
recebido com carinho.

O verso pobrete do esteta
tem sido o meu diapasão,
os dias vêm, os dias vão,
vou tentando cobrir a meta.

Os dias vão, os dias vêm,
no versejar itinerante
estou vivendo como ninguém,

Caneta nova entre os dedos
é realmente contagiante,
tecemos versos sem arremedos.
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MANHÃ DOMINICAL
             
Nos páramos infinitos do nascente
emerge a primeira alva do arrebol,
trazendo em si a panda luz do sol
que evolve no belo céu do Oriente.

Para dar um toque bucólico ao dia
surge o doce responso de cantigas
em acorde com as sinfonias amigas
dos pássaros a trissar na ramaria.

Emana um contaminado olor agreste
das ervas enquanto a aura celeste
esparge do orvalho o último pingo.

A natureza em modelar consonância
impregna nos ares leve fragrância
nesta evangélica manhã de domingo.
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OH SORTE !

As rimas andam ausentes
nestas primícias de agosto,
estarão - será - descontentes
ou mesmo com algum desgosto ?

Não consigo os mais saborosos
dos meus versos companheiros,
por isso andam desgostosos
aqueles versinhos brejeiros.

Um versejador de paus-quebrados
não pode querer assim tantos
mais do que uns mal rimados,

Mas oh sorte, a Poesia tem benevolência
me borrifando com seus encantos
algum bálsamo pura essência.
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PORFIA

Desafiei-me um certo dia
a rabiscar alguns sonetos,
dois quartetos, dois tercetos,
lançando-me então à porfia.

E o versejador giramundo
pensando ter destreza
ergueu com toda a rudeza
o soneto mais vagabundo.

É que, amigo das musas,
eu vivo fazendo alaúzas*
pensando saber rimar...

São tantas chances preciosas
delas, as minhas formosas,
e não aprendo a sonetar.
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TARDINHAS

Andam ventos ventantes
a ventar nesta noitinha,
até os versos, coisa minha,
são versos ventarolantes.

Os tico-ticos ali no fio
parecem todos gordinhos,
são mesmo emplumadinhos
na boca-noitinha com frio.

Viajam chumaços ao léu
perambulando de déu em déu
as nuvenzinhas passageiras,

E vou em liturgia gostosa
versejando sem rebordosa
nestas tardinhas fagueiras.
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* Alaúzas – algazarras, balbúrdias, celeumas.

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