quinta-feira, 27 de maio de 2021

Estante de Livros (O Coração das Trevas, de Joseph Conrad)

Sinopse:


O livro escrito em 1899 apresenta a narrativa de Charlie Marlow, um alter ego de Joseph Conrad, sobre suas experiências nos confins da África. Marlow descreve os sombrios horrores enfrentados no coração da selva africana, como a morte iminente e a bárbara selvageria dos nativos. O objetivo de Marlow nesse ambiente hostil é encontrar o Sr. Kurtz, personagem envolto em certo misticismo. No decorrer de sua jornada, os caracteres da personalidade de Kurtz são apresentados, alçando paulatinamente esse personagem à uma condição divina. Entretanto, quando o encontro entre os dois finalmente acontece sobra certa decepção com o desfecho, dadas às expectativas criadas no decorrer da viagem.

Comentários:
Trata-se de um clássico da literatura universal que vale a pena ser lido. O enredo do filme "Apocalypse Now" de Coppola é baseado nesse livro, trazendo Marlon Brando no papel correspondente ao do Sr. Kurtz, entretanto, o filme não substitui a leitura do livro.

Conrad sabia como ninguém que o “o sentido de um episódio não estava dentro, como uma amêndoa, mas fora, envolvendo a narrativa”. E é nesse periférico que se nos apresenta um clássico. Não tenho a pretensão de iniciá-lo em Conrad, seria uma empresa fadada, de antemão, ao fracasso, sabedor que sou que “não há iniciação para tais mistérios”, esta tem que se dar na descoberta de suas lendárias páginas de aventura humana “no meio do incompreensível, que é também detestável”, mas, ao final, nos coroa com o halo literário que só os grandes autores nos sabem ofertar. Em Conrad, somos salvos pela sua “devoção à eficiência”, nada falta ou transborda; tudo na medida certa, no tempo certo. Em algumas páginas, o romântico se nos impõe, e temos a beleza em estado primevo; em outros momentos, o drama surge, a emoção dita e domina.

Contexto

O livro possuiu similaridades com a vida de Conrad. Oito anos e meio antes de escrevê-lo, o autor fora designado por uma companhia de comércio belga para trabalhar como capitão de um navio no Rio Congo. Na chegada à estação no Congo, ele descobre que o navio que iria comandar sofrera danos e necessitava de reparos. No dia seguinte, ele sobe o rio em outro navio, comandado por outra pessoa. Durante a jornada, o capitão adoece e Conrad assume o comando. Eles buscavam Georges-Antoine Klein, o agente da estação mais longínqua da companhia, que acaba morrendo na viagem de volta. O próprio Conrad fica muito doente e retorna à Europa antes de completar os três anos de contrato que havia assinado com a companhia.

Interpretação da obra:

O prof. José Monir Nasser dizia que para compreender a obra de Joseph Conrad, é preciso saber interpretar os aspectos simbólicos fartamente utilizados por ele. Se você ler a obra dogmaticamente, não vai compreender nada.

Joseph Conrad usa a África como uma metáfora da condição humana, da qual não estão excluídos os abismos e os horrores. Ele penetra num mundo estranho, quase surrealista.

O que Joseph Conrad quer nos contar é o dilema moral do ser humano e o caos do mundo em que vivemos. Mostra-nos a sociedade enlouquecida criada por Kurtz, que assume, nesta sociedade que criou, o papel de Deus, decidindo quem deve e quem não deve morrer. Nos mostra, ainda, que o ser humano vive num mundo concreto, natural e contraditório, onde existem aspectos benignos e malignos, tal qual a natureza que é também potencialmente contraditória e onde se encontram forças de sustentação e forças de repúdio.

O homem não é 100% natureza. Há uma parte nele que não pertence à natureza e que não é humana, mas Divina (o espírito que corresponde ao intelecto, à sabedoria e ao conhecimento instantâneo da realidade). O intelecto (não é a razão) faz a ligação do homem com o mundo transcendente, onde está a verdade. E nós humanos somos prisioneiros dessa tensão que é a essência da vida humana. Platão dizia que o homem é o intermediário entre o animal e o anjo.

Quando Kurtz retorna para a “civilização”, à beira da morte, desvela um pouco mais do mistério de tudo e emite sua expressão final antes de se quedar sem vida: “O Horror! O Horror!”, ele prenuncia o julgamento de sua alma na Terra. Marlow já não é o mesmo, frente à iluminação final de Kurtz.

Personagens

Charles Marlow: O protagonista no romance. Marinheiro do Império Britânico durante o final do século XIX e início do século XX, durante o auge do imperialismo britânico.

Sr. Kurtz: O personagem onde a história é centrada. Um comerciante de marfim na África e comandante de um posto de troca, ele monopoliza sua posição como um semideus entre os africanos nativos. Kurtz reúne-se com o protagonista do romance, Charles Marlow, que o devolve à costa via barco a vapor. Kurtz, cuja reputação o precede, impressiona Marlow fortemente e, durante a viagem de regresso é testemunha dos seus momentos finais.

Adaptações e influência

Orson Welles adaptou e estrelou Heart of Darkness, em uma transmissão da CBS Radio em 6 de novembro de 1938, como parte de sua série, The Mercury Theatre on the Air. Em 1939, adaptou a história ao seu primeiro filme para a RKO Pictures, escrevendo um roteiro com John Houseman. O projeto nunca foi realizado. Welles esperava ainda produzir o filme quando ele apresentou outra adaptação de rádio da história como seu primeiro programa como produtor-estrela da série de rádio da CBS This Is My Best. Seu estudioso Bret Wood chamou a transmissão de 13 de março de 1945, de "a representação mais próxima do filme que Welles poderia ter feito, aleijada, é claro, pela ausência de elementos visuais da história (que foram tão meticulosamente projetados) e a duração de meia hora da transmissão."

Uma antologia de televisão da Playhouse 90 pela CBS foi ao ar com uma adaptação livre de 90 minutos em 1958. Esta versão, escrita por Stewart Stern, usa o encontro entre Marlow (Roddy McDowall) e Kurtz (Boris Karloff) como seu ato final, e adiciona uma história de fundo em que Marlow é o filho adotivo de Kurtz. O elenco inclui Inga Swenson e Eartha Kitt. 
 
A adaptação mais famosa do livro é a cinematografia de Francis Ford Coppola Apocalypse Now de 1979, que move a história do Congo para o Vietnã e no Camboja durante a Guerra do Vietnã. No filme, Martin Sheen interpreta o Capitão Benjamin L. Willard, um capitão do Exército dos Estados Unidos com a missão de "encerrar" o comando do coronel Walter E. Kurtz (Marlon Brando). No filme, Brando atua em um de seus papéis mais famosos. 
 
Um documentário de produção do filme, intitulado Hearts of Darkness: A Filmmaker's Apocalypse, expôs algumas das principais dificuldades que o diretor enfrentou ao produzir o filme até a sua conclusão. As dificuldades que Coppola e sua equipe enfrentaram espelhou alguns dos temas do livro. 
 
Em 1991, o autor e dramaturgo australiano Larry Buttrose escreveu e encenou uma produção teatral de Kurtz (baseado em Heart of Darkness), com a Crossroads Theatre Company, de Sydney. A história foi anunciada a ser transmitida como uma peça de rádio ao público australiano, em agosto de 2011 pela Vision Australia Radio, e também pela RPH – Radio Print Handicapped Network em toda a Austrália. 
 
Em 13 de março de 1993, foi ao ar pela TNT uma nova versão da história dirigida por Nicolas Roeg, estrelada por Tim Roth como Marlow e John Malkovich como Kurtz.

Em 2011, uma adaptação em ópera do compositor Tarik O'Regan e o libretista Tom Phillips foi estreada no Linbury Theatre da Royal Opera House, em Londres. Uma suite para orquestra e narrador foi posteriormente extrapolada a partir deste concerto.

Em 2012, o jogo de tiro em terceira pessoa, Spec Ops: The Line, mostra que se inspirou no livro para seu enredo, sendo considerado uma verão moderna de Coração das Trevas.

O livro também inspirou a banda britânica Iron Maiden em sua canção “The Edge Of Darkness” do álbum de 1995, “The X Factor”. 
 
Essa não é a única música do álbum inspirada em um grande clássico da literatura; “Sign Of The Cross” é inspirada na obra “O Nome da Rosa” de Umberto Eco e “Lord Of The Flies” inspirada na obra homônima do ganhador do Premio Nobel de literatura de 1983, o também britânico William Golding.

Conclusão:

Os mistérios em torno das personagens de Conrad simbolizam a impenetrabilidade misteriosa da alma humana, e as suas complicações.

"Vivemos como sonhamos - sozinhos"

“O objetivo que tento atingir, pelo poder da palavra escrita, é fazer você escutar, fazer você sentir e acima de tudo, fazer você ver. Isto, e nada mais, é tudo
”. Palavras de Joseph Conrad, talvez um dos mais vicerais escritores que a literatura ocidental já produziu.
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Jósef Teodor Konrad Korzeniowski nasceu em 1857, na cidade de Berdichev, na Ucrânia, uma região que foi parte da Polônia, mas na época estava sobre controle russo.

Nota: Alguns atribuem que Joseph Conrad nasceu em Berdyczow uma província ucraniana na Polônia daquela época. Hoje a cidade ucraniana Berdichev.

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