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quarta-feira, 11 de dezembro de 2024
José Feldman (Um encontro inusitado)
Era uma tarde tranquila na biblioteca de um universo que desafia a nossa compreensão. Estantes infinitas se estendiam até onde os olhos podiam ver, cobertas de livros de todas as épocas e estilos. Em um canto iluminado por um brilho suave, três figuras notáveis saíram de uns livros e tiveram um encontro inusitado além da imaginação: William Shakespeare, Edgar Allan Poe e Monteiro Lobato.
Shakespeare, com seu ar aristocrático e uma pena na mão, foi o primeiro a se pronunciar.
— Ah, senhores! Que prazer imenso é vê-los! Eu sou William Shakespeare, dramaturgo e poeta. E vocês devem ser os ilustres Edgar Allan Poe e Monteiro Lobato. Um encontro de mentes brilhantes, sem dúvida!
Poe, com seu olhar sombrio e uma aura de mistério, respondeu:
— Sim, sou eu, Edgar Allan Poe. O gênio do terror e do macabro. E você, Sr. Shakespeare, deve saber que seus sonetos são maravilhosos, mas, francamente, você precisa de um pouco mais de escuridão em suas obras.
Lobato, sempre com um sorriso no rosto e uma caneta na mão, interveio:
— E eu sou Monteiro Lobato, o escritor para crianças e do folclore do Brasil! Prazer em conhecê-los, senhores. Agora, o que vocês precisam é um pouco de imaginação infantil! Shakespeare, seus dramas são tão sérios que eu me pergunto se você já ouviu uma boa piada!
— Vamos lá, então! — disse Shakespeare, ajeitando seu colarinho. — Eu, que escrevi sobre o amor, a ambição e a tragédia, defendo que a complexidade da condição humana é meu forte. O que você tem a dizer sobre isso, Poe?
— Complexidade? — Poe levantou uma sobrancelha. — O que você entende de complexidade, meu caro? Você escreve sobre amores perdidos, enquanto eu exploro as profundezas da loucura e da morte. Em "O Corvo", por exemplo, abordei a obsessão de um homem que perde sua amada. Não é isso que chama a atenção?
Lobato se inclinou para frente, rindo.
— Loucura, sim, mas e o humor? Vocês dois parecem estar sempre tão sérios! Eu, em "O Sítio do Picapau Amarelo", trago a fantasia e a brincadeira! Afinal, quem não gostaria de conversar com um saci ou uma boneca de pano que ganha vida? Isso é o que eu chamo de literatura!
Shakespeare, com um sorriso travesso, respondeu:
— Então você acha que um saci é mais interessante que um Hamlet? Um príncipe que discute sobre a vida e a morte? Venha, Monteiro, não me diga que prefere a companhia de um personagem que não sabe nem se deve existir!
Poe não deixou barato:
— E o que dizer de sua "Comédia dos Erros"? Uma confusão de identidades que só pode ser resolvida com um final feliz? Isso é muito otimista para o meu gosto. Onde está a tragédia, a verdadeira essência da vida?
Lobato, rindo ainda mais, respondeu:
— Olha, eu não diria que confundir personagens é um erro. É mais uma estratégia de marketing! E, Shakespeare, você fala de tragédia, mas seus personagens têm um talento incrível para fazer escolhas ruins. Que tal um pouco de sabedoria popular? "Quem não arrisca, não petisca!" E olha que eu sou um especialista em ensinar isso às crianças!
A conversa continuou, repleta de risadas e provocações. A biblioteca, testemunha desse encontro inusitado, parecia vibrar com a energia das palavras trocadas. Após horas de debate, todos concordaram que, apesar das diferenças, o que realmente importava era o amor pela literatura.
Poe, finalmente relaxando, disse:
— Sejamos francos, senhores. Cada um de nós tem sua própria abordagem para a complexidade do ser humano. Shakespeare com seu romantismo, Lobato com sua fantasia e eu com meu terror.
Shakespeare assentiu, um brilho de compreensão em seus olhos:
— Exatamente, meu amigo. E o que seria do mundo sem essas diferentes vozes? A diversidade é a alma da literatura.
Enquanto Shakespeare, Poe e Lobato discutiam animadamente, uma nova presença se fez notar na biblioteca. A luz suave que iluminava o espaço pareceu se intensificar, e um homem de porte elegante, com um olhar penetrante e um leve sorriso nos lábios, se aproximou. Era Machado de Assis.
— Boa tarde, senhores! Posso me juntar a essa conversa tão vibrante? Sou Machado de Assis, e ouvi falar sobre suas obras. Estou curioso para saber o que pensam sobre "O Alienista".
Shakespeare, sempre cortês, respondeu:
— Senhor Machado, é uma honra tê-lo entre nós. "O Alienista" é uma obra fascinante. A forma como você aborda a loucura e a razão é singular. Mas diga, o que o levou a explorar a mente humana dessa maneira?
Machado, com um brilho nos olhos, explicou:
— A loucura é um tema que me intriga profundamente. Em "O Alienista", eu queria discutir não apenas a sanidade, mas também o que é considerado normal em nossa sociedade. O Dr. Simão Bacamarte, que se dedica a entender a mente, acaba por se perder em sua própria obsessão. É uma crítica à ciência e à razão.
Poe, com um sorriso enigmático, interveio:
— Fascinante, de fato! Mas você não acha que, em sua busca pela razão, Bacamarte se torna uma figura trágica? Ele se assemelha aos meus personagens que, perdidos em suas obsessões, acabam se destruindo. A diferença é que você traz uma ironia bem-humorada à sua narrativa, enquanto eu prefiro o tom sombrio.
Machado assentiu, apreciando a observação.
— Sim, Edgar. A ironia é um dos meus instrumentos. Eu quis mostrar como a busca pela lógica pode ser tão irracional quanto a própria loucura.
Shakespeare, com seu estilo característico, comentou:
— Muito bem colocado, Machado! Mas me pergunto se a crítica social em "O Alienista" não perde um pouco da profundidade emocional que permeia minhas tragédias. Bacamarte, embora intrigante, parece distante. Não seria mais poderoso se ele tivesse um dilema mais humano, como o meu Hamlet, que luta com questões de vida e morte?
Machado sorriu, reconhecendo a validade da crítica.
— Você tem razão, William. A emoção é fundamental na literatura. Contudo, minha intenção foi refletir a sociedade de uma maneira mais cerebral, quase como uma fábula. O que importa é que, ao final, Bacamarte é um espelho de todos nós.
Lobato, sempre entusiasmado, não deixou de defender seu ponto de vista:
— E eu gostaria de adicionar que, enquanto você aborda a loucura, eu trago a fantasia como uma forma de libertação! Os personagens do seu livro, cercados pela racionalidade, poderiam se beneficiar de um pouco de magia! Imagine Bacamarte conversando com o Saci ou criando novas teorias com a ajuda de Emília!
Machado riu, imaginando a cena.
— Seria uma combinação curiosa, sem dúvida! A magia poderia oferecer a Bacamarte o que falta em sua vida: um pouco de leveza.
Após a troca de ideias, Machado de Assis, com seu olhar perspicaz, fez uma reflexão sobre as obras de seus colegas.
— Senhores, é interessante notar que, apesar de nossas abordagens distintas, todos nós tratamos da condição humana. William, você mergulha nas profundezas da emoção, explorando o amor e a tragédia. Edgar, você desafia os limites da sanidade e do terror, revelando a fragilidade do ser humano diante do desconhecido. E Lobato, você nos lembra da importância da imaginação e da infância, onde tudo é possível.
Ele fez uma pausa, permitindo que suas palavras ecoassem.
— Assim como Bacamarte busca entender a mente humana, nós buscamos entender o que nos torna humanos através de nossas obras. Cada um à sua maneira, contribuímos para um entendimento mais profundo da vida e da sociedade. E, se pudermos aprender uns com os outros, talvez possamos criar um universo literário ainda mais rico.
Os três escritores, tocados pela análise de Machado, concordaram, reconhecendo que, no final das contas, a literatura é um diálogo contínuo. Eles estavam apenas começando a explorar as maravilhas que poderiam surgir de suas interações, prontos para desafiar e inspirar uns aos outros, como verdadeiros mestres da palavra.
Com risadas e promessas de um novo encontro, os escritores se despediram, cada um levando consigo a certeza de que, embora suas obras fossem diferentes, a paixão pela escrita os unia em um laço eterno. E assim, na biblioteca dimensional, as histórias continuaram a se entrelaçar, trazendo à vida a magia da literatura.
Fonte: José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing
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Meus manuscritos,
Panaceia de Textos
Eduardo Affonso* (Cyrano na Pandemia)
* Eduardo Affonso é de Belo Horizonte/MG
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O uso ainda não era obrigatório, mas quis logo estrear as minhas – em especial uma, perfeita para o passeio com os cachorros, porque tinha desenhos de patas caninas.
A Daniella me conhece razoavelmente, mas devia ter se esquecido do meu perfil. Não o psicológico – o perfil literal mesmo. O narigão.
As máscaras eram do tipo peleja: se cobriam o nariz, descobriam a boca, e vice-versa. Sabe vestido de periguete? Aquele padrão.
Sob pena de parecer neurótico ou obsessivo, passei a usar duas máscaras – uma cobrindo o narigão e parte do lábio superior; outra, a boca e parte do queixo. Funcionou bem, considerando que eu não ia mesmo conversar com ninguém e respiração não chega a ser uma necessidade básica.
Consultei sobre modelos maiores. Claro que havia! E me chegou nova remessa, com máscaras de tamanho mais generoso.
Mas para um nariz como o meu, generosidade não basta. É preciso desperdício.
As pautas identitárias conseguiram que houvesse poltronas mais largas nos cinemas, teatros, auditórios e aviões, para acomodar pessoas com sobrepeso. Lojas passaram a disponibilizar roupas de modelagem compatível com índices de massa corporal pra lá de 30. Mas ninguém pensou nos portadores de nariz pluçaize*.
Não há óculos cujas pontes não nos cavem uma vala horizontal no ponto de apoio. Não há armação com plaquetas afastadas o bastante para nossa envergadura nasal. Vale para óculos de grau, vale para os de natação. Conhece algum narigudo campeão de 800 metros cráu*? Nem eu. Quando você se sentir profundamente frustrado, lembre-se do narigudo que tentou mergulhar de esnórquel*.
Não há boné com aba de 20 cm. Não se vende Rinossoro em embalagem de 500 ml.
O pior é que nem somos uma minoria tão desprezível assim. Juca Chaves, Jean Paul Belmondo, Jean Reno, Luciano Huck, Gerard Depardieu. Para não falar em Maria Bethânia, Maria Callas, Barbra Streisand e a bruxa da Branca de Neve.
Para não incomodar de novo a Daniella, acabei comprando mais algumas máscaras numa loja de artigos hospitalares. Antes, sondei quem estava fabricando máscaras caseiras (sempre é bom dar preferência ao pequeno empreendedor), mas ninguém produzia no tamanho Extra GGG Ultra Plus. O moço da loja disse que aquelas eram “oficiais”, do tipo seguro Golden Platinum, com cobertura total. Quebrei a cara.
Fabricantes de máscaras, óculos, burcas, esnórqueis, vaporizadores: pensem em nós. Claro que o gasto de material vai ser muito maior, mas somos um mercado consumidor disposto a pagar mais caro por um produto adequado à nossa pujança nasal. Se não se adaptarem – como fizeram as indústrias de cosméticos para pele negra, de biquínis manequim 54 ou de tesouras para canhotos – é porque vocês não enxergam um palmo adiante do nariz.
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* VOCABULÁRIO
Cráu = crawl. Técnica de natação.
Esnórquel = tubo oco, preso na boca, utilizado por mergulhadores para respirar debaixo da água.
Pluçaize = plus size. Tamanhos maiores.
Fontes: https://tianeysa.wordpress.com/2020/07/24/cyrano-na-pandemia/
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing
Vereda da Poesia = 175
NERO DE ALMEIDA SENNA
Jequitinhonha/MG (1874 – ????)
Muito esquisito eu acho
teus vestidos, minha prima:
são altos demais embaixo,
e baixos demais em cima…
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Poema de
CARLOS FERNANDO BONDOSO
Alcochete/Portugal
Um barco que nunca mais ancorou
vejo em ti a simbiose
do amor e da luz
da beleza
da valsa e do bolero
dançado
perto do vazio
é este silêncio
que me diz à consciência
que as danças
têm o brilho intenso
das almas
ó bolero ó valsa
danças da minha infância
tenho como testemunho
o tempero do tempo
que marcou
e deixou traços
num barco que nunca mais ancorou
= = = = = =
Trova de
SUELY BRAGA
Osório/RS
Muitas rosas só não falam...
Não nos ferem com espinhos,
um doce perfume exalam
e nos cobrem de carinhos.
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Poema de
ALBANO NEVES E SOUSA
Matozinhos/Portugal, 1921 – 1995, Salvador/Brasil
Angolano
Ser angolano é meu fado, é meu castigo
Branco eu sou e pois já não consigo
mudar jamais de cor ou condição...
Mas, será que tem cor o coração?
Ser africano não é questão de cor
é sentimento, vocação, talvez amor.
Não é questão nem mesmo de bandeiras
de língua, de costumes ou maneiras...
A questão é de dentro, é sentimento
e nas parecenças de outras terras
longe das disputas e das guerras
encontro na distância esquecimento!
= = = = = =
Trova de
ANTONIO MARTINS
Piranguçu/MG
Nasci pobre e, na pobreza,
desconheci a abastança...
Mas sempre tive a riqueza
de possuir a esperança.
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Poema de
CÉSAR DÁVILA ANDRADE
Cuenca/Equador, 1918 – 1967, Caracas/Venezuela
Em Que Lugar
Quero que me digas; de qualquer
modo deves dizer-me,
indicar-me. Seguirei teu dedo, ou
a pedra que lances
fazendo flamejar, em ângulo teu braço.
Além, atrás dos fornos de queimar a cal,
ou mais além ainda,
além das valas onde
se acumulam as coroas alquímicas de Urano
e o ar chia como gengibre
deve estar Aquele.
Tens que me indicar o lugar
ainda antes que este dia se coagule.
Aquele deve conter o eco
envolto em si mesmo,
como uma pedra no interior de um pêssego.
Tens que indicar-me, Tu,
que repousas bem mais além da Fé
e até da Matemática.
Poderei segui-lo no ruído que passa
e se detém
subitamente
na orelha de papel?
Por acaso ele está nesse sítio de trevas,
sob as camas,
onde se reúnem
todos os sapatos deste mundo?
(Tradução de José Jeronymo Rivera)
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Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN
Distante dos teus afagos,
nesta inquieta nostalgia,
meus olhos formam dois lagos
que me afogam todo dia!
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Soneto de
CESÁRIO VERDE
Lisboa/Portugal 1855 — 1886
Manias!
O mundo é velha cena ensanguentada,
Coberta de remendos, picaresca;
A vida é chula farsa assobiada,
Ou selvagem tragédia romanesca.
Eu sei um bom rapaz, - hoje uma ossada, -
Que amava certa dama pedantesca,
Perversíssima, esquálida e chagada,
Mas cheia de jactância quixotesca.
Aos domingos a deia já rugosa,
Concedia-lhe o braço, com preguiça,
E o dengue, em atitude receosa,
Na sujeição canina mais submissa,
Levava na tremente mão nervosa,
O livro com que a amante ia ouvir missa!
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Trova Humorística de
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte/MG
– O meu marido é carteiro;
porém bem cedo aprendeu
que, no lar, o tempo inteiro,
quem dá as cartas sou eu!
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Poema de
CRISTOVAM PAVIA
(Francisco António Lahmeyer Flores Bugalho)
Lisboa/Portugal 1933 – 1968
“Na noite da minha morte”
Na noite da minha morte
Tudo voltará silenciosamente ao encanto antigo...
E os campos libertos enfim da sua mágoa
Serão tão surdos como o menino acabado de esquecer.
Na noite da minha morte
Ninguém sentirá o encanto antigo
Que voltou e anda no ar como um perfume...
Há de haver velas pela casa
E xales negros e um silêncio que eu
Poderia entender.
Mãe: talvez os teus olhos cansados de chorar
Vejam subitamente...
Talvez os teus ouvidos, só eles ouçam, no silêncio da casa velando,
E mesmo que não saibas de onde vem nem porque vem
Talvez só tu a não esqueças.
= = = = = =
Trova de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP
Sem querer quebrei o mundo,
que havia em teu coração;
mas, se o remorso dói fundo,
dói mais fundo o teu perdão!
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Hino de
XEXÉU/ PE
Quem te vê, entre montes, surgindo
E teus raios tocando o véu
Não imagina que é o brio refulgente
Da estrela chamada Xexéu.
Uma pátria de berço heroico
De guerreiros, de paz e brandura
Essa luz te faz na alvorada
Como águia voando às alturas.
Meu Xexéu, no voo majestoso
Desafio não é uma quimera
Se há batalha me inscreve à luta
Que a vitória sorrindo te espera.
Elevamos a alma aos céus
Gratidão, com respeito e louvor
Que a bandeira hasteiem da paz
Da justiça, da crença, do amor.
Nossa gente feliz já na praça
Festejando emancipação
Seja sempre sagrado e suave
O teu canto de paz e união
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Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO
Ribeirão Preto/SP
Não me curvo ante o fracasso
nem lamento as busca mortas,
na coragem dos meus passos
trago as chaves de outras portas.
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Poema de
ANA PAULA LAVADO
Angola
Nenhum Verso…
Nenhum verso fala de mim
nem do que eu penso
nem do que eu sinto
nem do que eu sou.
Na realidade,
as palavras são apenas
um jogo de letras
mais ou menos cinzelado
ao gosto de cada um.
E poucos, muito poucos
fazem delas seres vivos e humanos.
Eu não lhes dou vida.
Trabalho-as com mais ou menos nexo
ou talvez sem nexo,
porque dele não sinto falta
nem faz falta o que sou!
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Trova de
ADERBAL MELO
Recife/PE, 1910 – 1931
Por mais que eu viva desperto,
meu porvir não descortino;
o destino é tão incerto,
que também não tem destino.
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Figueiredo Pimentel (A faquinha e a bilha quebrada)
Vicente já está de volta da escola, sossegado, sim, mas a deitar sua olhadela para as vistosas lojas. De repente para. Que estará ele a ver com tanta curiosidade? Um açafate cheio de faquinhas brancas, lindíssimas. Ah! como devem cortar bem! Que lâminas tão polidas e brilhantes! E não são caras: – a oito vinténs. Vão-se-lhe os olhos, mas falta-lhe o melhor; oito vinténs é uma quantia demasiada para as suas finanças. A mãe, uma mulher pobre, apesar de trabalhar muito, pode-lhe lá dar dinheiro para comprar uma faquinha!
— Oh! diz o Vicente de si para si; que poderia eu fazer para ganhar aquele dinheiro?
Saía da loja um sujeito carregado de compras.
— Oh! rapazinho, ajudas-me a levar estas encomendas para minha casa?
— De muito boa vontade, respondeu-lhe o Vicente, se não for muito longe, porque minha mãe se zanga quando venho tarde da escola.
— É muito perto daqui, não te demoras nada.
O Vicente pegou em dois pacotes, e foram ambos andando até a rua onde morava o homem.
— Está bem, rapazinho, aqui tens pelo teu trabalho, – e deu-lhe dois vinténs.
— Muito obrigado, meu senhor, mas eu não quero receber dinheiro por um serviço tão pequeno.
— Pois então guarda-os para te lembrares de mim, tornou-lhe o sujeito, entrando em casa.
Para a rua correu Vicente, pulando de contente.
— Ó mãe!! ó mãe! Olhe o que me deram quando eu voltava da escola: dois vinténs, ambos novinhos (e pôs-se a contar o caso à mãe).
— Se eu pudesse ganhar mais seis vinténs, chegava-me exatamente para comprar uma faquinha. Ah! se a mãe soubesse como são bonitas!
— E para que precisas tu de uma faquinha?
— Ó! mãe! Com uma faquinha posso fazer muitas coisas: aparar os meus lápis e os dos meus condiscípulos; cortar ramos na alameda para chicotes e flautinhas; arranjar um barquinho; e até ajudá-la a descascar as batatas para o jantar, porque as nossas facas são muito grandes. Parece-me que já a estou a ouvir dizer: – Então, ainda não viste a faquinha do Vicente? É tão bonita! E a mãe, quando eu tiver os oitos vinténs, dá-me licença para comprar uma?
— Dou sim, filho. O que eu não sei é como tu os hás de ter.
Vicente passou o serão a imaginar como poderia ganhar alguns vinténs, mas, por mais que batesse na testa, foi-se deitar sem nada ter descoberto.
Um dia, às sete horas da manhã, havia apenas alguns instantes em que se levantara, tirou a lama da porta. De repente, ergueu casualmente a cabeça, e deu com o tio Martinho à janela. É um dos vizinhos.
— Oh! pensa o Vicente; o tio Martinho está já tão velho para tirar a neve que lhe caiu à porta; depressa a retirou para ele não escorregar quando for sair.
Dito e feito. Quando Vicente voltava para casa, abriu Martinho a janela e pôs-se a chamá-lo.
— Fizeste bem, meu rapazinho, em me evitar alguma queda. Se repetires isto quando tornar a chover, dou-te um vintém.
Vicente pensou nas faquinhas, e aceitou contentíssimo a proposta. Infelizmente a chuva não cai todos os dias a cântaros, e decorreu muito tempo antes de ter o dinheiro necessário.
E assim passaram-se semanas e semanas. Trabalhando daqui e dali, mesmo assim o menino apenas conseguiu arranjar sete vinténs.
Só lhe faltava um, para completar a quantia com que poderia comprar a ambiciosa faquinha.
— Ah! se chovesse muito esta noite. Era o pensamento fixo do rapazinho, em cada serão, quando se ia deitar.
***
Uma manhã levantou-se, correu à janela para espreitar o tempo, e a mãe viu-o andar aos saltos, e bater palmas.
Não sabia o que isso queria dizer, mas adivinhou-o quando viu o Vicente, depois de lhe ter vindo pedir a bênção, e de lhe dar um beijo, pegar na pá e na vassoura, e sair de casa.
A mãe pôs-se a espreitá-lo. Que azáfama! que desembaraço! As mãos roxas da friagem, mas a vassoura num corrupio.
Acabou. O Martinho abre a porta, sai, tira a bolsa, e o oitavo ambicionado vintém passa da mão do vizinho para a de Vicente. Correr a ir buscar os outros sete vinténs, guardados com tanto carinho numa caixinha, almoçar e partir para a escola, foi obra de um momento.
Como ele salta pela rua fora! Que leva fechado na mão? Um tesouro que tem medo de perder: oito vintenzinhos em que se vai revendo, contando-os e tornando-os a contar.
Lá está já na rua da loja sedutora. Um instante mais e a faquinha é dele.
***
Do outro lado da rua vai uma menina, vestida pobremente, e andando com muita cautela para não escorregar. Parece transida de frio; as mãozinhas, roxas de todo. Leva uma bilha de leite. O Vicente ia já a entrar na loja, quando, de repente, vê a menina escorregar e cair ao atravessar a rua. A bilha quebrou-se-lhe! O leite que ia ser o almoço da avó, todo entornado!
Quando a vê cair, corre para a ajudar a levantar-se. Já em pé, a menina, lavada em lágrimas, conta-lhe que não leva nem um real, e que a avó ainda não almoçou. Vicente olha para os seus oito vinténs, depois para a loja onde estão penduradas as faquinhas, depois para a pequenina, que ainda continuava a chorar. Reflete um momento.
— Vem comigo, diz-lhe ele pegando-lhe na mão; ambas haveis de ter que almoçar.
Levou-a a outra loja em que não se viam faquinhas, mas uma grande quantidade de pratos, xícaras, bilhas de todos os tamanhos e de todas as cores. O rapazinho escolheu uma bilha azul e branca, muito bonita, pagou um tostão à dona da loja, e ato contínuo foi à leiteria, onde a mandou encher de leite. De todo o seu dinheiro, nada lhe sobrou.
A menina, doida de contente por ter uma bilha nova, sorriu-se e consolou-se. Retomou o caminho de casa, levando ao lado o seu novo conhecido, mas sempre com mil precauções para não tornar a cair.
E, ao separar-se dele, perguntou-lhe:
— Como te chamas?
— Vicente.
— E eu, Maria. A minha avó diz que ainda sou pequenina para guardar dinheiro; mas, quando crescer, hei de ter muito, e hei de te comprar um brinquedo, porque hoje foste um anjinho para mim.
As duas crianças ainda conversaram alguns instantes. Depois separaram-se, prometendo que haviam de ser amigos para sempre. Maria correu para avó, mostrou-lhe alvoroçada a sua bilhinha nova e contou-lhe tudo o que lhe aconteceu. Vicente seguiu para a escola, resplandecente de alegria, pela boa ação cometida.
Fonte: Alberto Figueiredo Pimentel. Histórias da Avozinha. Publicado em 1896. Disponível em Domínio Público.
Célio Simões (O nosso português de cada dia) “Motorista barbeiro”
Antigamente, os barbeiros eram conhecidos não apenas por realizar cortes de cabelo e barba, mas também por desempenhar tarefas como extração de dentes, remoção de calos e unhas, entre outros.
Previsivelmente, tais serviços, incluindo pequenas cirurgias médicas e odontológicas, eram executados de forma precária, pois eles não possuíam nenhuma habilitação técnica, por isso as consequências desagradáveis, senão desastrosas, aos infortunados “clientes”.
Conta-se que em uma cidade do interior do Brasil, um dos barbeiros locais, sentindo fracassar seu faturamento pela concorrência de outros, viajou e quando voltou, trouxe na bagagem outro tipo de equipamento: seringas, pinças e boticões, passando a extrair os dentes de amigos e conhecidos, mediante pagamento.
Vem de longe essa expressão muito usada no dia-a-dia das cidades brasileiras. Há quem se reporte ao século XIX, quando ganhou impulso a fabricação de carros. E se alude aos profissionais que cuidavam de barbas e cabelos, certamente não era pelos erros na execução dessas tarefas e sim, quando atuavam como supostos protéticos, enfermeiros ou médicos.
Não é comum advogados, engenheiros, contadores, agrônomos, economistas e magistrados, por mais que cometam erros, serem rotulados de “barbeiros”. Isso é mais comum com os profissionais da saúde, valendo lembrar o ditado que bem ilustra essa assertiva: - “o erro do médico a terra encobre; a do dentista está na cara”.
Aos motoristas rotulados com essa pecha, é emblemático o caso da jovem que reclamava que seu antigo carro falhava muito e não tinha força para subir qualquer ladeira. Depois do mecânico passar uma semana testando o motor na tentativa de descobrir o defeito, e já tendo trocado todas as peças possíveis, observou que a proprietária partia com o veículo funcionando normalmente, porém voltava reclamando do mesmo problema: o motor estava rateando.
Angustiado e sem saber mais o que fazer, sugeriu ele à distinta senhorita que fossem dar uma volta, com ela na direção e ele como passageiro, observando. No dia do “teste drive” ela ligou o motor e no momento da partida, puxou o afogador ao máximo e candidamente comentou: “isto aqui é um ótimo lugar que eu uso sempre para pendurar a minha bolsa!...”. Perplexo, o mecânico viu logo que o defeito nunca fora do carro e sim da motorista “barbeira”, que sem noção da utilidade do afogador, usava-o indevidamente como cabide, comprometendo o funcionamento normal do veículo.
E quem de nós nunca viu uma “barbeiragem” pelas ruas e estradas do Brasil? Ser chamado de “barbeiro” é quase uma ofensa, mas há situações que não escapam desse qualificativo, expresso ou implícito. Tendo perguntado ao vizinho se sua esposa já estava dirigindo bem o carro da família, após ser aprovada com louvor pela autoescola do bairro, veio a resposta inesperada:
- Está sim! Inclusive, ela já faz as curvas na mesma hora que a estrada faz...
Foi em Portugal que passaram a ser chamados de “barbeiros” aqueles que, de maneira tosca ou imperfeita, executavam qualquer serviço. Mas quando o termo chegou ao Brasil, desembarcou junto com os primeiros automóveis, então esse passou a ser o conceito informal atribuído a quem dirige mal, judia do veículo na hora de estacionar, engata marcha à ré sem olhar quem está atrás, prejudica os demais condutores e promove pânico na via pública.
Se no século XV o termo “barbeiro” era atribuído a quaisquer atividades mal executadas, com o passar do tempo foi relacionado precipuamente aos motoristas, daí a expressão “motorista barbeiro” - ou seja, aquele que transforma em vítima o próprio carro ou o trânsito como um todo, já comprometido pelos constantes engarrafamentos nas médias e grandes cidades, principalmente quando esse vilão insiste em dirigir bisbilhotando o celular.
Ou, o que é mais preocupante, quando ainda sem a necessária versatilidade com os veículos de câmbio automático, os “barbeiros” invadem lojas, sobem em canteiros ou derrubam paredes de garagens, simplesmente porque pisam fundo no acelerador pensando que é o feio!
Não por acaso, tramita no Senado Federal o projeto de lei n.º 3.688/2024 propondo a utilização de carros automáticos e elétricos nas aulas práticas de direção, visando a obtenção da CNH. Pode ser que com essa medida legislativa, esse tipo de barbeiragem diminua bastante ou pelo menos fique limitada àqueles que são “barbeiros” por incrível vocação...
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(*) O autor é advogado, escritor, palestrante, poeta e memorialista. É membro da Academia Paraense de Letras, da Academia Paraense de Letras Jurídicas, da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Artística e Literária de Óbidos, da Confraria Brasileira de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós.
Fontes: Texto enviado pelo autor.
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segunda-feira, 9 de dezembro de 2024
Edy Soares (Fragata da Poesia) 67
José Feldman (Amor e Tragédia nas Sombras da Intolerância)
José era um homem comum, um judeu não praticante que trabalhava incansavelmente em um hospital na cidade, jovem ainda, tinha cerca de 21 anos de idade. O dia a dia se desenrolava entre tubos de ensaio, mas havia algo de especial em seu coração que ainda não tinha despertado. Isso mudou quando conheceu Najla, uma colega de trabalho, uma jovem de beleza estonteante e olhos que refletiam a dor de uma vida conturbada. Ela era jovem também, 19 anos de idade, filha de imigrantes libaneses que traziam consigo a cultura e a religião com muita devoção.
A atração entre eles foi imediata, mas havia um empecilho: Najla estava em um relacionamento com um rapaz que parecia prometer o mundo a ela. No entanto, essa promessa se desfez como um castelo de areia quando ele a engravidou e desapareceu, deixando-a sozinha e vulnerável. A família de Najla, profundamente religiosa, a declarou impura e a expulsou de casa, condenando-a ao ostracismo por um erro que não era apenas dela.
Desesperada e sem ter aonde ir, Najla encontrou abrigo em José. Ele, que sempre teve um coração generoso, não hesitou em alugar um pequeno apartamento para que ela pudesse ter um lugar seguro para esperar o nascimento de seu filho. Durante o dia, ele convivia com sua família, que nada suspeitava de seu amor secreto. À noite, ele se tornava o porto seguro de Najla, compartilhando momentos de ternura e esperança em meio a um mundo que parecia estar contra eles.
O amor que floresceu entre os dois era um oásis em um deserto de intolerância. José adotou a ideia de que a filha que estava por vir, seria um símbolo de sua união, um laço que desafiava as barreiras que a sociedade impunha. O nascimento de Yasmin, em 9 de dezembro de 1975, trouxe uma luz nova à vida de ambos. José não a via apenas como a filha de Najla; ele a amava como se fosse sua, um amor profundo e incondicional.
Mas essa felicidade era efêmera. Em 14 de maio de 1976, tudo mudou. Naquele dia fatídico, José, Najla e Yasmin estavam deixando o prédio para um passeio no parque planejando o futuro juntos, em um momento simples virou tragédia. Ao saírem do apartamento, dois ladrões armados os abordaram. O pânico se instalou quando um dos bandidos tentou arrancar a pulseira do pulso de Yasmin. Com um empurrão, a inocente criança caiu, batendo a cabeça e rolando escada abaixo, enquanto seu choro ecoava em meio ao caos.
José, em um ato desesperado, correu para agarrar Yasmin, mas quando finalmente a alcançou, o silêncio que se seguiu era ensurdecedor. Ela já estava sem vida. O grito de Najla, misturado ao desespero de José, atraiu vizinhos que correram para ajudar, mas nada poderia salvar a pequena. Os ladrões fugiram diante do ocorrido. A cena era um pesadelo, um momento que se tornaria uma ferida aberta em suas almas.
A vida continuou, mas José e Najla foram consumidos pela dor. O luto se transformou em um peso insuportável; um mês depois, Najla fez a escolha trágica de tirar a própria vida. Ele se viu sozinho, mergulhado em uma depressão que parecia não ter fim. Sua família, alheia ao que realmente havia acontecido, levou-o a um psiquiatra. No entanto, a ajuda parecia inútil diante de sua dor insuportável. Em um momento de desespero, ele tentou se suicidar, mas o destino tinha outros planos e ele sobreviveu, sentindo-se ainda mais desamparado.
A culpa corroía sua alma. Ele culpou Deus, questionando a razão pela qual um amor tão puro e sincero entre um judeu e uma árabe não poderia existir em paz. As noites se tornaram um tormento; os sonhos eram assombrados pela imagem de Yasmin rolando escada abaixo, pelos gritos de Najla, pela dor que não se dissipava.
A tragédia de José e Najla se desenrolava como uma peça shakespeariana, repleta de amor, perda e a eterna busca por aceitação em um mundo que muitas vezes se recusa a entender. O amor que havia florescido entre eles, mesmo em meio a tanta adversidade, foi sucumbindo sob o peso da intolerância e da tragédia. A história deles, marcada por momentos de beleza e dor, nos lembra que, apesar das barreiras que tentamos erguer, o amor verdadeiro é uma força imbatível, ainda que, por vezes, tragicamente efêmera.
Décadas se passaram desde aquela tragédia que transformou José, mas a dor que ele carrega é tão viva quanto no primeiro dia. Tentou reconstruir sua vida, mas a imagem de Yasmin rolando escada abaixo e a visão de Najla, caída no meio da rua, não o abandonaram. Essas memórias o assombram, como sombras persistentes que se recusam a se dissipar.
Hoje, sozinho em sua casa, nos momentos de quietude, especialmente à noite, quando a escuridão cobre o mundo, os pesadelos vêm. Ele se vê novamente naquele dia fatídico, o grito de Najla ecoando em seus ouvidos, a impotência de não poder salvar a filha que nunca teve a chance de conhecer. José repete para si mesmo que deveria ter feito mais, que deveria ter encontrado uma maneira de protegê-las. A culpa é um peso que ele carrega, uma carga invisível que o atormenta.
A ideia de ter filhos nunca foi uma possibilidade. O medo de reviver aquela perda, de ver outra criança diante de um perigo semelhante, paralisou seu desejo de paternidade. Ele observa as crianças brincando no parque, sentindo uma mistura de amor e dor. Os risos que ecoam ao seu redor apenas intensificam o vazio em seu coração. As lembranças de Yasmin, que poderia ter corrido por aquelas mesmas calçadas, o perseguem como um fantasma.
As noites se arrastam, e os pesadelos se tornam mais frequentes. Ele acorda em suor, o coração acelerado, tentando se lembrar que o que passou não pode ser mudado. Mas a mente é traiçoeira, e os sonhos levam-no de volta àquela escada, àquele momento de desespero. Ele se pergunta se algum dia encontrará a paz que tanto almeja, se as cicatrizes da mente podem realmente cicatrizar.
Os anos se acumularam, mas a dor não diminuiu. Ele busca consolo em pequenos rituais, em memória de Najla e Yasmin, falando com elas em sussurros, como se ainda pudesse alcançar suas almas. Ele vive com a esperança de que, ao menos, elas saibam que ele as amou profundamente, que sua vida foi marcada por um amor que desafiava todas as barreiras, mas que também trouxe uma dor insuportável.
A sombra do passado é uma companheira constante, e José convive com ela. Ele sabe que, mesmo após tanto tempo, o amor e a perda estão entrelaçados em sua história, e que a memória de Yasmin e Najla permanecerá viva dentro dele, como um lembrete de que a vida é preciosa, mas também frágil.
Fonte: José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
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