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sábado, 23 de março de 2024
Artur de Azevedo (A Nota de Cem Mil-Réis)
O Cavalcanti era um marido incorreto, para não empregar um adjetivo mais forte; imaginem que os seus recursos não davam para acudir a todas as necessidades da família e, no entanto, era ele um dos amantes da Josephine Leveau, uma cocota francesa, cujo nome era muito conhecido nas rodas alegres, e se prestava aos trocadilhos mais interessantes, quer em francês, quer em português.
Como a esposa do Cavalcanti era uma hábil costureira, recorreu à sua habilidade para ajudar nas despesas de casa. Um dia fez um vestido para uma amiga, e, tão bem feito, tão elegante, que a sua fama correu de boca em boca, e valeu-lhe uma freguesia certa, que lhe dava algum dinheiro a ganhar. Havia meses em que ela fazia trezentos mil-réis.
O Cavalcanti não protestou, pelo contrário aprovou. Fez mais, como vão ver.
Uma bela manhã, a Josephine mandou-lhe pedir cem mil-réis para uma necessidade urgente, e ele não os tinha, nem sabia onde ir buscá-los. Hesitou durante algum tempo em cometer uma baixeza, mas acabou cometendo-a. Já o leitor adivinhou que o miserável pediu à esposa o dinheiro que devia mandar à amante.
A pobre senhora não manifestou a menor contrariedade: foi ao seu quarto, abriu uma gaveta onde guardava o fruto do seu trabalho, e tirou uma nota de cem mil-réis, ainda nova. Antes de levá-la ao marido, que esperava na sala de jantar, contemplou-a durante algum tempo como para despedir-se dela para sempre, e então notou que alguém escrevera num canto estas palavras com letra miúda: "Nunca mais te verei, querida nota!" E como D. Margarida - ela chamava-se Margarida - tivesse um lápis à mão, escreveu por baixo daquelas palavras "Nem eu!".
O Cavalcanti empalmou os cem mil-réis com um estremeção de alegria.
- Este dinheiro faz-te muita falta? - perguntou ele.
- Não - respondeu ela - hoje mesmo espero receber igual quantia.
Meia hora depois, o Cavalcanti entregava a nota, dentro de um envelope, a Josephine Leveau.
Nesse mesmo dia D. Margarida recebeu os outros cem mil-réis que esperava. Contra o seu costume, o Cavalcanti estava em casa.
- Olha, disse-lhe ela, aqui estão os cem mil-réis que eu contava receber. A freguesa é boa.
- Quem ela é? perguntou o marido.
- Não a conheço; veio ter comigo e pediu-me que lhe fizesse um vestido de seda, riquíssimo. Tinham-lhe dito que eu trabalhava bem e barato.
- Mas é senhora séria?
- Parece. É francesa, e casada com um banqueiro, disse-me ela. Naturalmente o marido é também francês, porque ela chama-se Madame Leveau.
- Leveau! - repetiu o Cavalcanti empalidecendo.
- Conheces?
- Não.
- Então, por que fizeste essa cara espantada? Boa freguesa! O vestido foi hoje de manhã cedo, e hoje mesmo veio o dinheiro.
- Onde mora essa Madame Leveau?
- Na Rua do Catete.
Dizendo isto D. Margarida abriu o envelope e retirou os cem mil-réis.
- Que coincidência! disse ela; a nota é da mesma estampa da qual te dei hoje de manhã! Por sinal que a outra tinha no canto... Oh!...
Este grito quer dizer que D. Margarida tinha lido a frase "Nunca mais te verei", e o seu acréscimo: "Nem eu!".
- Que foi? perguntou o Cavalcanti.
- A nota é a mesma!...
- A mesma? repetiu o marido gaguejando.
- A mesmíssima! Reconheço-a por causa destas palavras... Vê! a minha letra!...
O Cavalcanti arranjou uma desculpa esfarrapada: disse que tinha pago os cem mil-réis ao banqueiro Leveau, a quem os pedira emprestados; mas D. Margarida não engoliu a pílula, e foi à casa de Josephine certificar-se de que esta era uma cocota frequentada por seu marido.
A pobre senhora separou-se do desgraçado, e abriu casa de modista. Ganha muito dinheiro.
Fonte: Domínio Público
Caldeirão Poético LXXXII
Aila Brito
Cocal/PI
ALÉM DOS VERSOS
Nos campos, nos trigais, no grão maduro...
Em cada plantação se faz zelosa;
Na tez de cada flor, no olor da rosa,
O seu encanto brilha, com depuro.
Nos corações afins, no enlace puro,
No dia, tarde ou noite preciosa,
No gesto amigo e em cada ação bondosa,
A sua essência vibra com apuro!
Além do verso, o dom sensorial
Passeia em outras artes... afinal,
Em tudo, a sua voz nos contagia.
Mas se derrama, quando à luz da lua,
Em seu delírio, encanta e fica nua,
Expondo-se total a poesia!
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Edir Pina de Barros
Brasília/DF
ADEUS
O instante de um adeus jamais se finda
no derradeiro olhar, crispado o rosto,
nas mãos vazias, cheias de desgosto,
na boca os beijos cálidos ainda.
A angústia de um adeus, jamais bem-vinda,
produz ferida na alma, por suposto,
e deixa tal penar ao mundo exposto,
que um breve e distraído olhar deslinda.
Adeus, gume cortante de uma adaga
que, de repente, o sonho estripa e traga
no cálice do efêmero existir.
Depois? Nos resta o tempo da saudade
que chega sem licença e nos invade,
a misturar passado com porvir.
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Edy Soares
Vila Velha/ES
EPITÁFIO
Há neste frio intenso um quê de nostalgia,
uma tristeza oculta, um ar mais carregado;
parece até que o céu também está mudado,
a solidão é fria... E a noite está mais fria!
Olhando da janela, o lago congelado
é feito a vastidão dessa melancolia...
Não volto mais aqui, pois sem a companhia
do meu amor, o inverno é muito mais gelado...
Meus dias por aqui não são mais relevantes,
também estou partindo e deixo aos visitantes
uma plaquinha, escrita, amarrada na porta:
Aqui vivi feliz, mas hoje, entristecido,
sem meu amor de inverno eu fico tão perdido...
Vende-se o bangalô... O preço pouco importa!
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Geisa Alves
Resende/RJ
ARDÊNCIA
Arde-me o amor nas cores do crepúsculo,
nas asas de um ensejo fugitivo.
Arde-me o amor no verso em que eu derivo,
com ânsias de um prazer vital, maiúsculo.
Sinto-o queimar na carne, pele, músculo
e ainda na alma (um fogo redivivo);
em suas chamas folgo e não me esquivo...
No mais é tudo efêmero e minúsculo!
Arde-me o amor nos sonhos de mulher,
nas mãos a desfolhar um malmequer,
nos olhos a sondar a luz do ocaso.
Se é de silêncio e bruma o fim da tarde,
ainda assim, o amor nas veias arde,
e não se extingue a febre em que me abraso.
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José Erato Ferraz
Juiz de Fora/MG
INDÔMITO
Minhas asas sedentas de horizontes
buscam um novo ponto cardeal,
os pés infatigáveis cruzam pontes,
como a ave que não quer um só quintal.
Minha sede esquadrinha novas fontes,
não lhe basta o vulgar manancial.
Há terras a explorar além dos montes...
a mente não se amolda ao trivial.
A carne está sujeita às leis da vida,
mas a alma irrefreável, desprendida,
rejeita amarras, cercas e porteiras.
Meus versos cruzam céus a cada dia,
que sou poeta e minha poesia
não admite a existência de fronteiras.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
José Walter Pires
Ituaçu/BA
SER LUME
E como ficou chato/
Ser moderno / Agora serei eterno.
(“Do poema eterno” de Carlos Drummond de Andrade, 1953)
Não temerei de ser o meu soneto antigo,
Na forma ou no teor, e não sendo moderno,
Mas não vejo existir um mal querê-lo eterno,
como diz o poeta, em glosa que me abrigo.
E, se acaso tiver de enfrentar o perigo,
Indo na marcha à ré pelo que agora externo,
Irei continuar com o meu verso terno
Sem jamais aceitar esse injusto castigo.
Não pretendo negar o empenho dos puristas,
Que buscam defender, por certo, o seu primor,
Consagrado no dom dos vates sonetistas.
Portanto, sem fugir do cânone dessa arte,
Manterei, por dever, seu excelso valor
E do lume saber que já me sinto parte!
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Kleber Lago
São Paulo/SP
A POESIA
Em quase tudo, a sinto e posso vê-la,
mas não consigo definir poesia;
e afirmo que mais fácil me seria
contar, no céu, estrela por estrela.
Bastar-me-ia apenas percebê-la
para satisfazer minha estesia
e me tornar agradecido pela
sensação com que ela me premia.
Vejo a poesia como uma expansão
do belo, em seus matizes mais diversos,
e do que Deus me fez “palavrador”.
Não sei, de fato, é defini-la. Então,
tento exprimi-la como a vejo, em versos
que, em prol de amor e paz, vivo a compor.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Luciana Nobre
Manaus/AM
SEREI EU UM POETA!?
Serei eu um poeta?! Mas que nada!
Por ora nada fiz por merecer...
poeta é quem, chegado o alvorecer,
orvalha corpo e alma de alvorada...
Serei eu um poeta pela estrada?
Motivos não me dou. Não chego a ser!
Poeta é quem, chegado o anoitecer,
transforma a si em noite enluarada...
Eu nada sou além de alguém que, em verso,
declama sua dor, paixão, agrura...
do belo passo longe, rumo inverso...
Poeta de verdade é uma ventura
de quem, na poesia estando imerso,
transmuta noite em dia... em paz, tristura.
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Luiz Antonio Cardoso
Taubaté/SP
EQUILÍBRIO
Meu carnaval era cinzento, vago...
escolas, blocos, festas... tudo em vão!
Nunca adentrei numa avenida e trago
dentro do peito o verdadeiro chão!
Fiz-me um intrépido censor do estrago,
do que eu chamava de loucura e não
da maior festa popular e afago
ao sofrimento de quem chamo irmão!
Mas nada como o tempo, sábio mestre,
a nos mostrar que a vida, tão terrestre,
é a busca infinda do melhor critério...
e se resume no equilíbrio exato,
saber dosar e por no mesmo prato,
matéria e espírito num só mistério!
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Paulo Cézar Tórtora
Rio de Janeiro/RJ
PERGUNTANDO À LUA
Eu vivo perguntando à augusta lua
que enfeita minha noite insone e fria:
—Por que fez prisioneira da Poesia
minha alma, que no céu também flutua?...
E a luz refulge, e brilha, e se acentua
e eu penso na resposta que viria
calando as incertezas, todavia,
a dúvida insistente continua.
A lua, majestosa no seu lume,
oculta-se da nuvem no negrume,
na bruma melancólica que a assalta.
E a musa, então, recolhe-se, sentida,
sem ter a sua súplica atendida
(tem mais presença em mim o que me falta).
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Paulo Maurício Silva
Teresópolis/RJ
UM DIA...
Um dia, eu sei, no Livro concluído,
Serei aquela página virada…
A lembrança, por poucos, bem guardada,
O terno num bazar, desconhecido,
A foto de matiz envelhecido,
Olhando vagamente para o nada…
Um dia eu sei… serei a voz calada,
O verso para sempre interrompido.
Ao fim do desgastado itinerário,
Um rastro de pegadas, solitário,
Que o vento melancólico desfez,
Vestígio que, por fim, desaparece…
Mas se eu pudesse, ao menos, se eu pudesse,
É tudo o que eu seria noutra vez!
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Troya D’Souza
Santa Cruz/RN
ODE À CHUVA
Quando a chuva se ausenta do sertão,
Morre o gado de fome sem comida.
Falta sombra com água na bebida.
A barragem secou o seu porão.
Migram aves buscando solução,
Que o braseiro do sol assola a vida.
A lavoura pouquinha e ressequida
Serve apenas de adubo para o chão.
Mas bombando o trovão na madrugada
É o prenúncio da chuva programada
Que escutei o carão anunciando.
Chuva traz abundância em quantidade,
Vai embora a tristeza e que saudade
Da ramagem no chão se esparramando.
Fonte: Academia Brasileira de Sonetistas (ABRASSO)
https://www.facebook.com/groups/803079378212373/
quinta-feira, 21 de março de 2024
José Feldman (Analecto de Trivões) 24
A. A. de Assis (Quem pergunta aprende)
Já lhes falei do meu primo padre Augusto. Eu tinha uns 12 anos e o ajudava nas missas e ladainhas. Uma das tarefas era balançar o turíbulo, objeto litúrgico utilizado para lançar incenso. Achava chique essa palavra – turíbulo. Um dia perguntei ao padre qual a origem dela. Pacientemente, explicou: “É uma palavra de origem grega, que chegou até nós pelo latim ‘turibulum’”. Não resolveu nada. Explique melhor, eu pedi. Ele riu e continuou a aulinha: “No grego temos ‘thyos’ (em latim ‘tus’, ‘turis’) = incenso + ‘ballein’ (em latim ’bulum’) = lançar, atirar, arremessar. Logo, ‘turíbulo’ significa ‘lançador de incenso’. Satisfeito?”. Na verdade, continuei meio boiando e só bem mais tarde entendi melhor essa história. Mas fiquei todo prosa por haver enriquecido o meu almoxarifado cultural.
É muito bom ter a quem fazer perguntas, alguém com quem debater ideias, tirar dúvidas, conferir alguma informação. Acho bonito, por exemplo, ver um médico trocando opiniões com seus colegas sobre o estado de um paciente. Igualmente quando vejo um advogado ligar para outro advogado para esclarecer alguma sutileza jurídica. Em todas as profissões a ajuda mútua irmaniza o grupo e todos crescem na medida em que permutam conhecimento.
Na “Folha do Norte”, onde trabalhei durante 12 anos, era comum aparecerem dúvidas e a solução natural era trocar figurinhas com os colegas. Meus consultores mais frequentes eram o Elpídio Serra e o Antônio Moscardi. Em alguns momentos chegávamos a pedir uma luz ao amigo Dr. Horácio Raccanello, cujo escritório de advocacia ficava em frente à nossa redação. Em textos relacionados com religião, nossos socorristas habituais eram o padre Orivaldo e, muitas vezes, o próprio Dom Jaime.
Lembro-me também, com muita saudade, dos bons tempos em que trabalhei como professor no Departamento de Letras da UEM. Vira e mexe um de nós se via à volta com algum probleminha de linguagem. E que legal era a discussão em busca de soluções, ainda mais porque eu vivia cercado de sábios: Walter Pelegrini, Baldin, Juliano, Hiran, Maria Céli, Jeanette, Marilurdes, Leonildo, Ângela, Marly, Maria Ignez, Thomas, Boing, Dionísia, Simara, Lourdinha, Sônia, Aglaé, Rosa, Aécio, Bacelar, Tadeu, Renilson, Odilair, Célia, Yara, Márcia, Regina, Adalberto, Salvador, Pedro, Alice, Apolo. Um supertime. (Perdoem-me se a memória é falha e deixei de citar algum nome).
Hoje, aposentado, sinto uma falta enorme daquele fascinante convívio. No Google acho respostas para a maioria das perguntas. Mas não é a mesma coisa. Falta calor humano.
Ainda bem que para discutir dúvidas sobre linguagem e literatura, que são as mais comuns no meu modesto cotidiano, tenho muitos amigos e amigas poetas em Maringá e espalhados Brasil afora. Quero saber se um verso está certinho? Se uma palavra está bem colocada? Se uma ideia está clara?... Fácil. Disparo emails para alguns/algumas deles/delas e logo o problema está resolvido.
Enquanto eles e elas não se cansarem, continuarei perguntando. Perguntando e aprendendo.
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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá)
Fonte: Texto enviado pelo autor
Professor Garcia (Álbum de Haicais) – 1
O Haicai também se escreve Haiku e Haikai, é um poema de origem japonesa que por definição traduz-se como brincadeira graciosa e harmoniosa. Essa forma poética foi criada no século XVI e tornou-se muito popular pelo mundo afora. No Brasil temos muitos concursos de Haicais anualmente, difundindo esse gênero poético por todos os recantos do nosso país, onde há valorosos e espetaculares haicaístas.
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A bênção de Deus
nos traz os sonhos da paz;
são os sonhos meus!
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As flores se vão;
a primavera se foi,
mas meus sonhos, não!
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As folhas se vão;
mortas, secas, já sem vida,
no fim da estação!
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A lua no lago,
de repente ela se assusta
tremendo de frio!
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A noite trevosa,
ao ver a luz das estrelas,
finge-se nervosa!
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A tarde compõe
um cenário assustador,
cheio de saudade!
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Duas rubras rosas:
Ao nascer e ao por do sol,
como são formosas!
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Esses teus perfumes,
trazem-me encantos do amor
cheios de ciúmes!
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Estrela-do-mar,
sinto-me feliz ao vê-la,
comigo a sonhar!
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Já velha e cansada,
a abelha sobre a colmeia,
triste e abandonada!
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Leitura é magia;
quem lê, dá asas aos sonhos
de paz e alegria!
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Linda flor do campo,
o vento que te balança,
rouba teu perfume!
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Nas conchas do mar,
ouço sussurros, lamentos,
de alguém a chorar!
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Na tarde dengosa,
uma nuvem cachimbando
muda a rubra rosa!
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O livro te espera
sempre de braços abertos
para te abraçar!
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O orvalho da rosa,
é qual lágrima que cai
dos olhos do céu!
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Os livros abertos,
são convites para a paz
nos dias incertos!
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O sol vagabundo,
de manhã cedo, bem cedo,
sorri para o mundo!
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Roseiras do amor,
tens os teus lábios beijados
por vento impostor!
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Seguem dois velhinhos,
na solidão, de mãos dadas,
por velhos caminhos!
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Senhor, quem há de,
embalar meus velhos sonhos,
cheios de saudade?!
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Sonhos que se vão:
ao longe um carro de boi
lembra o meu sertão!
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Velho calendário,
encurtas dia após dia,
nosso itinerário!
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Velho carrilhão,
tu tens em tuas batidas
paz e solidão!
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Vê nos arrebóis
que, o Sol não muda a rotina.
Somos como os Sóis!
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Violão a sonhar,
de boca aberta cantando
odes ao luar!
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Fonte> Professor Garcia. Poemas do meu cantar. Natal/RN: Trairy, 2020. Enviado pelo autor.
Rachel de Queiroz (O Amistoso)
Os visitantes ou adversários, convidados para aquela partida amistosa do chamado esporte bretão, chegaram festivamente num caminhão ornado de arcos e guirlandas. Sim, no começo tudo são flores. Flores e palmas, discursos, garrafas de cerveja, e os cartolas, que se distinguem dos demais presentes pelos bonitos ternos domingueiros, gravatas, chapéus de seda, como convém a legítimos paredros (dirigente de time de futebol).
Não havendo no campo instalações de vestiário, os craques descem do carro já devidamente uniformizados — camisa de azul-turquesa, meias e chuteiras, sim, chuteiras regulamentares, que isso é jogo de fato e não pelada de moleques. Deficiências, se as há, é no campo propriamente dito, que seria ótimo se não sofresse de uma depressão bem no seu centro geométrico, exatamente onde se costuma riscar aquele grande círculo de giz. E como essa praça de esportes se situa numa baixada, sempre que chove apresenta o aspecto de um prato fundo cheio de água — e quando não é água é lama.
Naquele dia, felizmente, era apenas lama, e pouca. E sob os aplausos da assistência, tanto mais animada porque gratuita (ainda é um problema a resolver, esse da assistência em campo aberto, sem possibilidades de bilheteria). Juiz, jogadores, cartolas, reúnem-se um pouco de lado, pois que os paredros estão de sapatos novos e aquela supracitada lama os assusta um pouco; faz-se o sorteio, os visitantes pegam o lado sul que é o melhor, o presidente dos locais dá graciosamente o primeiro chute. Começou a partida!
1.° TEMPO
Xaveco, mulato, brevilíneo de canelas arqueadas, revela imediatamente a sua classe de grande artilheiro: tem fôlego, tem velocidade, tem cada tiro direito ou canhoto — tanto faz — que arranca aplausos frenéticos da torcida. Outra grande figura em campo é o goleiro dos visitantes. E o jogo vai indo muito bem, bola para lá e para cá, passe, cabeçada, chute a gol, gol — não, gol não, passou por cima da trave. O couro vai para Bira, Bira perde para um galalau amarelo dos "estrangeiros", o galalau perde para Zico, Zico passa para Lucas, que perde para o capitão dos visitantes, um louro de gorro de meia. Aí Xaveco interfere na raça, toma a bola, o louro tranca, Xaveco dá-lhe uma carga, o louro acha ruim, revida, o juiz apita, os dois se agarram e por trás chega Bira, que é gordo e violento, e larga um pontapé no terço inferior da coluna vertebral do louro. Fecha-se o tempo, o juiz apita, a assistência pula a cerca e invade o campo, o pau começa a comer, mormente nas costas dos forasteiros, o juiz retira-se e se encosta à cerca, aguardando aparentemente que os ânimos serenem. Quem interfere são os paredros, austeros e educados, com as suas gravatas ao vento, chamam asperamente os craques à ordem, expulsam a assistência, interpelam o juiz, que relutantemente volta ao seu posto; aos poucos os craques se acomodam, o juiz apita, os paredros recolhem-se. O jogo recomeça.
Mas parece que o incidente estimulou os visitantes, que dão para jogar milhões. São uns húngaros. O time local perde terreno, o galalau passa a marcar Xaveco, que não dá mais uma dentro. E o diabo do louro tornou-se proprietário do balão, marca um gol de saída, depois o seu "secretário", um crioulinho ligeiro que é uma faísca, marca o segundo tento; e aí Xaveco, desesperado (talvez dentro da área penal), atira uma canelada terrível no galalau, derruba-o, avança no crioulo, larga-lhe o salto da chuteira por cima do dedão, o crioulo grita, o louro acode, Xaveco já completamente louco lhe dá um tapa na cara, o juiz apita, uns gritam falta, outros gritam pênalti, e um engraçado diz que foi só mãos, já que Xaveco apenas meteu a mão na lata do loureba (termo pejorativo: indivíduo alourado).
O juiz continua apitando, parece que vai mesmo marcar o pênalti. E um torcedor local puxa o revólver, dizendo que aquele pênalti só se for passando por cima de algum cadáver. O juiz nessa altura se declara cheio com a partida e larga o apito ali mesmo. Um paredro fala que ele será expulso do quadro de árbitros e o juiz dá troco, que quadro de árbitros uma ova. Mas um dos bandeirinhas voluntários logo se apossa do apito, passa a dirigir o pessoal com surpreendente autoridade e, quando se vê, o jogo começa outra vez. Vai macio, vai de valsa, é um minueto, até que consultados os cronômetros verifica-se que acabou a primeira meia hora, passando-se ao recesso para em seguida dar início ao
2 ° TEMPO
que não houve, segundo passo a expor. Pois não vê que no Distrito havia uma queixa contra Bira — queixa dada por certa donzela que deixara de o ser por artes do craque. Bira escondera-se e só agora aparecia em público, atendendo a apelos da torcida, por tratar-se de amistoso importantíssimo. Mas a polícia, que não tem bandeira, aproveitara a ocasião e, antes que o réu pirasse, dava-lhe voz de "esteje preso".
A assistência, entretanto, que de nada sabia, cuidou que a prisão se prendia à queixa dos visitantes por causa do pontapé de há pouco. E vendo Bira ser arrastado campo a fora, irrompeu num sururu dos diabos, vaiando as visitas com buus e nomes feios; as quais visitas, que tomavam Coca-Cola encostadas à cerca, vendo-se atingidas não só pelos doestos (insultos) como por pedaços de pau e tijolo, revidaram com as garrafas de refrigerante. O tempo fechou outra vez. Os polícias largaram o preso e se meteram no conflito. E quando os de fora começavam a apanhar feio, o motorista deles teve uma ideia: encostou o caminhão bem perto e tocou a buzina. A turma entendeu logo (ou quem sabe já era manobra habitual em "amistosos"?) e de um em um foram deslizando da briga e subindo para o carro. O que sei é que, quando os locais deram pela coisa, os inimigos já partiam numa nuvem de poeira, abandonando na pressa um dos seus paredros, malferido, com o sangue escorrendo do nariz e o belo terno roto.
Bira, igualmente, aproveitara a confusão para ir saindo de manso; agachado numa moita, lá em cima do morro, ficou a espiar o tintureiro chegar, encostar e, de um em um, recolher os remanescentes da refrega. E só saiu do esconderijo tarde fechada, quando no campo completamente deserto uma garça vinda do Jequiá sobrevoava o alagado, bicando restos das flores do buquê ofertado pelos visitantes.
Fontes:
O Melhor da Crônica Brasileira. RJ: José Olympio, 2000. Publicado originalmente no "A Ilha", em 1954.
Emílio de Meneses (Últimas Rimas)
A Leal de Souza
Quando, à primeira vez, lhe vi a grandeza,
Foi nos tempos da longe meninice.
E quedei-me à mudez de quem sentisse
A alma de Pasmos e terrores presa.
Depois, na mocidade, a olhá-lo, disse:
É moço o mar na força e na beleza!
Mas, ao dia apagado e à noite acesa,
Hoje o sinto entre as brumas da velhice.
Distanciado de escarpas e barrancos,
Vejo-o a morrer-me aos pés, calmo, ao abrigo
Das grandes fúrias e os hostis arrancos.
E ao contemplá-lo assim, tristonho digo,
Vendo-lhe, a espuma, os meus cabelos brancos:
O velho mar envelheceu comigo!
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A MORTE DA TORRE
A Coelho Neto
Vetusta catedral que, ao tempo, te esborcinas,
Choras a torre audaz que aos céus erguendo a agulha
Os mistérios e os bens de que a igreja se orgulha,
Do alto mostrava aos fiéis, nas sonoras matinas.
Já, de ti, longe vão as práticas divinas
Com que davas ao incréu a sagrada fagulha
E inda julgas ouvi-la em fragorosa bulha,
A oscilar no teu flanco e a desfazer-se em ruínas.
Abateste, eu me lembro, à tarde, de repente,
Doirando, no clarão de um último arrebol,
O pó que te envolveu sutil e refulgente!
Torre morta! Afinal, do orgulho, no crisol,
Tombaste amortalhada, ampla e gloriosamente,
No purpúreo esplendor da agonia do sol!
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ENVELHECENDO
A Luiz Murat
Tomba às vezes meu ser. De tropeço a tropeço,
Unidos, alma e corpo, ambos rolando vão.
É o abismo e eu não sei se cresço ou se decresço,
À proporção do mal, do bem à proporção.
Sobe às vezes meu ser. De arremesso a arremesso,
Unidos, estro e pulso, ambos fogem ao chão
E eu ora encaro a luz, ora à luz estremeço.
E não sei onde o mal e o bem me levarão.
Fim, qual deles será? Qual deles é começo?
Prêmio, qual deles é? Qual deles é expiação?
Por qual deles ventura ou castigo mereço?
Ante o perpétuo sim, e ante o perpétuo não,
Do bem que sempre fiz, nunca busquei o preço,
Do mal que nunca fiz, sofro a condenação.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
ANTERO
A Félix Pacheco
Eu quisera saber em que horrendo limite,
Em que fronteira atroz, em que raia do mundo,
Está o ponto ante o qual, sem que a tortura o agite,
O teu gênio se esvai como um Deus moribundo.
Senti-te crente um dia. Indeciso senti-te
E, afinal, te senti como quem busca o fundo
Das coisas e obedece a um sinistro convite,
Da descrença imergir no pélago iracundo.
Não inspiras temor, mas não há quem te vença.
Por orgulho, és humilde e, na humildade, és forte.
Na imensa revolta e és a piedade imensa.
Morte, amor, crença ou vida, a quem quer que te exorte,
Dizes: Sou mais que a vida e sou menos que a Crença;
Muito maior que o Amor, pouco menor que a Morte.
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FLOR LUTUOSA
Natacés! Natacés! Meu dote encanto
Que ameigaste, gentil, meus gestos brutos
E me inflamaste, em rápidos minutos,
O ininflamável coração amianto,
De onde essa treva que o teu corpo santo
Assim reveste de pesados lutos?
Porque esses olhos negros quando enxutos
Ficam mais negros úmidos de pranto?
De luto ao ver-te, nem eu sei que sinto.
Não sei se é ver fulgir o halo de um astro,
Dentro de escuro e tétrico retinto.
Creio, seguindo o teu saudoso rastro,
Que vejo um cofre de ébano retinto
Resguardando uma estátua de alabastro!
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MELANCOLIA
Quanta gente talvez no mundo existe
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa.
Raimundo Correia
Pelos males e pelas desventuras,
Com que o destino nos foi tão cruel,
Procuramos em nossas mútuas juras,
Atenuar o travor do nosso fel.
Antefruindo, além, horas futuras
No calmo gozo de um ideal vergel,
Esquecemos passadas amarguras,
O beijo impuro ou a carícia infiel.
Mas por sofrer ainda os vis apodos
Dos que me não conhecem o sofrer,
Vivo a fingir audácias e denodos.
Pensam, ao ver-me o alegre parecer,
Que tenho o riso que ambicionam todos,
Em vez do pranto que não quero ter.
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VITÓRIA-RÉGIA
À tona ingrata e hostil de tétrica palude,
Abre, gloriosamente, a impoluta corola
E esplende, no vigor da vida e da saúde,
Na região que um mortal sopro de peste assola.
Grande como a bondade e alva como a virtude,
Na miséria de em torno ela é a radiante esmola
De uma alma vegetal que em toda plenitude
Do mal que a quer poluir, mais se apura e acrisola.
Bendito resplendor da flora brasileira!
Ela, Senhora, eu sei: dessa voss'alma egrégia,
E o símbolo perfeito, é a expressão verdadeira ...
Fê-la rainha a ciência e, ao vê-la, a musa elege-a
Como suprema flor, de entre todas primeira, -
Rival de Vós que sois como a Vitória-Régia.
Fonte: Menezes, Emílio de. “Últimas Rimas”. In Obra reunida. RJ: José Olympio, 1980.
Estante de Livros (“O Dia em que a Muiraquitã virou Gente”, de Francisco Sinke Pimpão)
Quando um escritor escreve um romance, ele faz um ofício de fé, pois uma vez lançada a idEia, por meio de enredo há muito tempo engendrado, não a segura mais, pois a palavra é mais forte do que um tiro de canhão ou o ferimento de um punhal, fere aqui, ali, acolá e continua ferindo sempre. Por isso, ao se tomar uma iniciativa de tal ordem, há que se ter o cuidado para que ela seja o portador da paz, concórdia e harmonia, levando a mensagem diretamente aos corações dos leitores. Em outras palavras, o autor deve ter em mente que lançar um livro é como mandar um filho para a guerra, através do mar proceloso.
A trama está bem ordenada, de forma a prender a atenção e o interesse do leitor. No conteúdo, o livro transmite preciosas lições de vida, úteis a todos, acima de tudo pelo poder dos exemplos.
O novel romancista, possuidor de notáveis atributos intelectuais, oferece aos leitores uma agradável e profícua leitura. Oxalá seja esta a primeira de muitas obras literárias. Parabéns ao autor, pela qualidade de seu trabalho.
(Valter Martins de Toledo)
O livro conta a história de João Batista Souza Lino Sotto Maior, filho de imigrantes portugueses estabelecidos no Brasil em fins do século XIX, tradicional família ligada ao ramo da tecelagem. Inteligente, bem educado e culto, João decide ser médico a tomar a frente dos negócios da família. A princípio contrariado, seu pai vê com orgulho o sucesso e o reconhecimento do filho, no Brasil e no exterior, como um grande cirurgião. Uma tragédia pessoal vai mudar de maneira drástica o destino desse homem apaixonado pela vida e pela profissão. Abandonando tudo que construíra e deixando de lado tudo aquilo em que acreditava, João vai se embrenhar e buscar refúgio nos confins da Amazônia, muito distante daquilo que comumente chamamos civilização. É nesse cenário, povoado por lendas e histórias que o povo da região ribeirinha acredita que João vai viver sua maior aventura. Da resistência ao passado, que o transformara num homem rude e cético, ao reencontro com a vida e com o amor, João verá, mais uma vez , seu destino ser mudado pela presença de uma mulher; menina-moça inocente e pura, que irá confrontá-lo com suas dores, pecados e mazelas.
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Francisco José Sinke Pimpão, nascido em Curitiba no ano de 1953, é Bacharel em Administração e sócio de uma empresa de consultoria. Nos últimos anos tem-se dedicado ao estudo e aplicabilidade da Gestão de Processos nas Organizações, fruto de 27 anos de atuação no mercado. Com pós-graduação em Marketing e tendo concluído diversos cursos no Brasil e exterior, escreveu diversos artigos publicados em livros e revistas especializadas. Atualmente é redator e coordenador de web sites.
Fontes:
– Francisco Sinke Pimpão .O Dia em que a Muiraquitã virou Gente. Curitiba: Pro Infanti, 2009.
quarta-feira, 20 de março de 2024
Contos e Lendas do Mundo (Rússia: A Princesa Sapa)
Há muito tempo havia um rei que tinha três filhos. Quando eles chegaram a uma certa idade, o rei chamou-os e disse: "Meus queridos jovens, quero que vocês casem para que possa ver meus netos antes de morrer." E seus filhos replicaram: "Muito bem, Pai, dê-nos sua bênção. Com quem devemos casar?"
"Cada um de vocês deve tomar uma flecha, ir até a campina e atirá-la. Quando a flecha cair, ali estará seu destino."
Então os filhos se curvaram diante do pai, e cada um tomou uma flecha e foi a campina executar o que tinha sido determinado.
A flecha do mais velho caiu nos domínios de um nobre, e a sua filha apanhou-a. A flecha do filho do meio caiu no quintal de um mercador, e a sua filha apanhou-a. Mas a flecha do mais jovem, príncipe Ivan, voou e foi-se para lugar desconhecido. Ele caminhou em sua busca, e já estava quase desistindo quando encontrou um sapo sentado com a flecha em sua boca. O príncipe Ivan disse: "Sapo, sapo, devolva minha flecha."
E o sapo replicou: "Case comigo!"
"Como eu posso casar com um sapo?"
"Case comigo, este é o seu destino."
Príncipe Ivan estava muito desapontando, mas o que ele poderia fazer? Ele juntou o sapo e encaminhou-se para casa. O Rei celebrou os três casamentos: seu filho mais velho com a filha do nobre, seu filho do meio com a filha do mercador e o pobre príncipe Ivan com o sapo.
Um dia o Rei chamou os filhos e disse: "Quero ver qual de minhas noras é mais hábil com a agulha. Deixe que cada uma me faça uma camisa."
Os filhos se curvaram em direção ao pai e saíram. Príncipe Ivan foi para casa e sentou-se numa poltrona, muito desconsolado. O sapo apareceu pulando no chão e disse-lhe: "Por que está tão triste, Príncipe Ivan? Está com algum problema?"
"Meu pai quer que você lhe faça uma camisa para amanhã de manhã."
Disse o sapo: "Não desanime, príncipe Ivan. Vá para a cama; a noite é mãe dos conselhos." Então príncipe Ivan foi para a cama e o sapo esperou que ele fechasse a porta, tirou sua pele de sapo e transformou-se em Vasilisa a sábia, uma donzela com formosura além de qualquer comparação. Ela bateu suas mãos e exclamou: "Criadas e amas, estejam prontas para trabalhar! Amanhã de manhã quero uma camisa como meu próprio pai usaria!"
Quando Príncipe Ivan levantou-se na manhã seguinte, o sapo estava novamente no chão, e numa mesa, enrolada numa fina toalha, a camisa. Príncipe Ivan ficou encantado. Ele apanhou a camisa e levou-a ao seu pai. Ele encontrou o Rei recebendo os presentes de seus outros filhos. Quando o mais velho entregou a camisa o Rei disse: "Essa camisa será de um dos meus empregados"; quando o do meio entregou o Rei disse: "Esta é boa somente para o banho". Príncipe Ivan entregou sua camisa, finamente bordada em ouro e prata. O Rei tomou-a, olhou e disse: "Agora esta sim é a camisa! Eu a vestirei nas melhores ocasiões!"
Os dois irmãos mais velhos foram para casa e disseram um ao outro: "Parece que rimos antes da hora da esposa de Ivan - ela não é um sapo, e sim uma feiticeira."
Novamente o Rei chamou seus filhos: "Que suas mulheres me façam um pão para amanhã de manhã" ele disse. Quero saber qual delas cozinha melhor.
Príncipe Ivan retornou à sua casa muito triste. A sapa perguntou-lhe: "Por que está tão triste, príncipe?"
"O Rei quer que você lhe faça um pão para amanhã de manhã" replicou seu marido.
"Não se apoquente, Príncipe Ivan. Vá para a cama; a noite é a mãe de todos os conselhos."
As outras noras do rei que tinham rido da sapa na primeira vez, enviaram um velho criado para ver como a sapa fazia seu pão. . Mas a sapa era astuciosa e adivinhou o que elas queriam. Elas misturou a massa, quebrou os ovos, colocou água, fez uma meleca e colocou no forno. O velho criado correu de volta para as outras esposas e disse-lhes o que tinha visto a sapa fazer.
Então a sapa esperou que todos se afastassem e se transformou em Vasilisa a Feiticeira, bateu palmas e gritou: "Criadas e amas, estejam prontas, trabalhem logo! Amanhã pela manha quero um pão tão leve e branco como jamais nenhum ser humano tenha experimentado."
Príncipe Ivan acordou pela manhã e encontrou sobre a mesa um pão que lhe pareceu o melhor que já tivesse provado, todo enfeitado com belas figuras, que ele levou imediatamente ao seu pai. O rei, ao experimentar o pão levado por Ivan, exclamou: "Isso é o que chamo de pão! É tão bom que só serve para ser comido nos feriados!"
E o Rei determinou que seus filhos trouxessem, no dia seguinte, suas esposas para um banquete. Príncipe Ivan tornou-se sombrio novamente. A sapa, vendo-o assim, perguntou:
"Por que a tristeza, príncipe Ivan? Seu pai foi grosseiro com você?"
"Sapa, minha sapinha, como você poderia me ajudar? Meu pai quer que eu leve você ao banquete, mas como pode você aparecer diante do povo como minha esposa?"
"Não se amofine, Ivan," disse a sapa. "Vá para a festa sozinho que eu vou depois. Quando você ouvir uma batida e um estouro, não tenha medo. Se lhe perguntarem, diga que somente é sua Sapinha pulando na caixa."
Então foi o príncipe Ivan, sozinho. Seus irmãos mais velhos levaram as esposas, maquiadas e vestidas com roupas finíssimas. Eles aproveitaram para gozar de Ivan: "E então, Ivan, não trouxe a sua esposa? Você poderia tê-la embrulhado num lenço. Você não deveria deixá-la sozinha por aí, com tanta beleza. Deve procurá-la no pântano!"
O Rei e seus filhos e noras e todos os convidados começaram o banquete. De repente, houve uma batida e um estouro que foi ouvido em todo o palácio. Então o príncipe Ivan disse: “Não tenham medo, boa gente, é apenas minha sapinha passeando em sua caixa.”
Foi quando uma carruagem dourada, puxada por seis cavalos brancos parou em frente ao palácio e Vasilisa, a Feiticeira, num vestido azul-turquesa clamado de estrelas e com uma lua sobre sua cabeça, tomou Ivan pela mão e levou-o até a mesa do banquete.
Os convidados começaram a comer, beber e se divertir. Vasilisa bebeu de seu copo e derramou as sobras em sua luva esquerda. Então comeu e colocou os ossos na luva direita. As esposas dos príncipes mais velhos viram-na fazendo isso e imitaram seus gestos.
Quando a comilança acabou, era hora da dançar. Vasilisa convidou Ivan,e ambos dançaram e rodopiaram, sob os olhares admirados de todos. Ela sacudiu então sua luva esquerda e... apareceu um lago! Ela sacudiu a luva direita e cisnes começaram a nadar no lago. O Rei e seus convidados ficaram impressionados com tal maravilha.
Então as noras do rei foram dançar. Elas sacudiram uma das luvas, mas apenas vinho caiu sobre os convidados; sacudiram a outra, mas apenas ossos roídos caíram, sendo o Rei atingido na testa por um.
Enquanto isso, Ivan correu de volta para casa. Ele encontrou a pele do sapo e jogou-a no fogo. Quando Vasilisa voltou para casa, procurou a pele mas não conseguiu achá-la. Triste, falou a Ivan: “O que você fez? Tivesse esperado mais alguns dias, eu seria sua para sempre. Mas agora, adeus. Procure-me além das Trinta e Nove Terras, no Décimo Reino, onde Koshchei, o Imortal, vive.” Dizendo isso, transformou-se num cuco cinza e voou pela janela. Príncipe Ivan, desesperado, partiu em busca de sua esposa, Vasilisa. Caminhou, caminhou, que os seus sapatos perderam as solas, e sua túnica se rasgou, e sua capa não mais o protegia da chuva. No caminho, encontrou um homenzinho, muito muito velho.
"Bom dia, meu rapaz”, disse o velhinho. "Onde estás indo e qual a tua missão?”
Príncipe Ivan contou-lhe o acontecido.
"Ah, por que queimaste a pele, Ivan?" disse o velho. "Ela não era sua nem era seu direito fazê-lo. Vasilisa ficou tão sábia quando seu pai, e por isso ele se enraiveceu e transformou-a em sapo por três anos. Ah, bom, mas não vai ajudá-lo agora. Pegue esse rolo de barbante e siga para o local que ele desenrolar.”
Ivan agradeceu ao homenzinho e seguiu a bola de barbante. Num campo aberto, ele encontrou um urso. Ivan estava pronto a matá-lo quando ouviu-o falar em voz humana:
“Não me mate, príncipe Ivan, pois talvez precises de mim um dia."
Ivan então deixou o urso partir. Subitamente ele viu um marreco voando sobre sua cabeça. Pegou sua arma e, quando foi atirar, ouviu o marreco falar com voz humana: “Não me mate, Ivan, pois talvez precises de mim um dia.”
Ele poupou o pato e se foi. O mesmo aconteceu em seguida, só que com uma lebre e mais uma vez ele poupou a vida do animal.
Caminhando ainda, Ivan chegou ao mar e viu um lúcio debatendo-se na areia. “Ah, príncipe Ivan”, disse o peixe, “jogue-me de volta ao mar.”
Então, ele jogou o peixe de volta na água e continuou seguindo a bola de barbante, indo parar numa floresta, onde encontrou uma cabana de madeira. Lá, estava sentada Baba-Yaga, a bruxa, com uma vassoura na mão. Quando ela viu Ivan, disse: "Ugh, ugh, sangue russo, nunca encontrado por mim, agora eu sinto cheiro na minha porta. Quem é? ? Onde está?”
"Você poderia me dar comida e bebida e um banho de vapor antes," retorquiu Ivan. Então Baba-Yaga deu-lhe um banho de vapor, alimentou-o e colocou-o na cama. Então o Príncipe Ivan perguntou-lhe sobre sua mulher, Vasilisa a sábia.
"Eu sei, eu sei,"disse Baba Yaga. "Sua esposa está agora sob o poder de Koshchei, o Imortal. Vai ser duro trazê-la de volta. Koshchei não é páreo para você. As morte está na ponta de uma agulha. A agulha está num ovo. O ovo está num pato. O pato está numa lebre; a lebre num cofre; o cofre no topo do mais alto carvalho que Koshchei, o Imortal, s guarda como olhos de águia."
Ivan passou a noite com Baba-Yaga, e, pela manhã, ela mostrou o caminho até o carvalho. Ele caminhou, caminhou, e chegou até carvalho, onde viu o cofre de pedra n topo. Mas era muito difícil de atingir.
De repente, surgiu um urso e, jogando-se sobre a árvore, sacudiu-a de tal forma que o cofre caiu, quebrou e se abriu. Do cofre saiu uma lebre que partiu numa corrida. A outra lebre, cuja vida o príncipe havia poupado, disparou atrás da primeira e capturou-a. De dentro dela saiu um pato, que partiu como uma flecha pelo ar. Mas em seguida o pato, cuja vida Ivan havia poupado, partiu em sua perseguição, e o fez soltar o ovo, que caiu no mar.
Ivan caiu em prantos. Como poderia achar o ovo no mar? Neste momento o lúcio, salvo por Ivan, nadou até a borda da praia com o peixe em sua boca. Ivan quebrou o ovo, pegou a agulha e quebrou sua ponta. Não demorou muito para Koshchei curvar-se e gritar, mas tudo em vão. Caiu morto.
Ivan correu até o castelo de pedras brancas. Vasilisa correu em sua direção, abraçando-o, beijou-o. E príncipe Ivan e Vasilisa voltaram para sua própria casa e viveram em paz e felicidade até a velhice.
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