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segunda-feira, 1 de setembro de 2025

A. A. de Assis (À moda de haicais) – 2, final


26
Lua cheia míngua, 
de repente volta nova. 
Imortalidade.

27
Pastel com garapa 
na alegre manhã de abril. 
Neto e avô na feira.

28
Já se sente o aroma. 
Vai começar a colheita 
das maçãs na serra.

29 
Par de idosos muda
para um quarto de casal. 
Romance no asilo.

30 
Peneiras ao alto.
Braços fortes abanando 
o café colhido.

31
Passa um guarda-chuva. 
Embaixo dele um senhor 
com um violino.

32
Acorda a cidade 
embrulhada em nevoeiro. 
Brincando de Londres.

33 
Solitária rosa.
Um pingozinho de orvalho 
faz-lhe companhia.

34
Só o poeta vê.
O figo traz na barriga 
um minibuquê.

35
Retreta na praça 
após a missa solene. 
Viva a Padroeira.

36
Cai, haicai, balão, 
cai aqui na minha mão. 
Viva São João.

37
Ploque-ploque-ploque. 
Passa um cavalo levando 
o passado embora.

38
Três ou quatro garças 
cata-catando mariscos. 
Inverno na praia.

39
Compadres proseiam 
degustando um conhaquinho. 
Nem tchum pra friagem.

40
Que bom que deixaram 
seus sorrisos para os netos. 
Álbum de família.

41 
Ele na primeira,
eu na derradeira infância. 
O bisneto e o biso.

42
Chaminés fumegam 
nos chalezinhos da serra. 
Noite de geada.

43
Vizinhas tricotam 
fofocas e cachecóis. 
Às vezes cochilam.

44
Menino com medo 
corre pra cama da mãe. 
Zune o vento, uivante.

45
Era um riozinho, 
e enquanto rio era doce. 
Virou mar, salgou-se.
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A. A. DE ASSIS (Antonio Augusto de Assis), poeta, trovador, haicaísta, cronista, premiadíssimo em centenas de concursos nasceu em São Fidélis/RJ, em 1933. Radicou-se em Maringá/PR desde 1955. Lecionou no Departamento de Letras da Universidade Estadual de Maringá, aposentado. Foi jornalista, diretor dos jornais Tribuna de Maringá, Folha do Norte do Paraná e das revistas Novo Paraná (NP) e Aqui. Algumas publicações: Robson (poemas); Itinerário (poemas); Coleção Cadernos de A. A. de Assis - 10 vol. (crônicas, ensaios e poemas); Poêmica (poemas); Caderno de trovas; Tábua de trovas; A. A. de Assis - vida, verso e prosa (autobiografia e textos diversos). Em e-books: Triversos travessos (poesia); Novos triversos (poesia); Microcrônicas (textos curtos); A província do Guaíra (história), À moda de haicais, etc.

Fontes:
Ebook enviado pelo autor. 
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing

domingo, 31 de agosto de 2025

A. A. de Assis (À moda de haicais) – 1


01 
As rosas no cio.
Sedutoramente abertas 
para o beija-flor.

02 
Poeta no parque.
Enquanto caminha ao sol 
vai catando haicais.

03
Rosas, lírios, dálias 
competem na exposição. 
Continua o empate.

04 
Uma flor silvestre
no jardim do shopping-center. 
Êxodo rural.

05 
Agregada ao cedro,
agrega-lhe graça a orquídea: 
dá-lhe encanto e aroma.

06 
Caminhão de flores.
Da roça para a cidade, 
perfumando as trilhas.

07 A prece da tarde.
Em coro cantam as aves 
as Ave-Marias.

08 
De moto, a cavalo, a pé.
As romarias movidas 
pelo dom da fé.

09 
Um raio de lua
deita no colo da rosa. 
Namorinho antigo.

10
Pousa um passarinho 
na imagem de São Francisco. 
Os irmãos se entendem.

11 
Chocados os ovos,
há o choque dos seres novos. 
E a vida prossegue.

12 
Corações em rede,
uns em prece pelos outros. 
Noite de Natal.

13 
Festa da Virada.
Volta à estaca zero o sonho 
de um planeta em paz.

14 
Shorts e bonés
prontos pra descer a serra. 
Alegria em alta.

15 
Nobre flamboyant.
Só ele no vasto pasto 
dando sombra aos bois.

16 
Chuva levezinha.
Meu pai dizia: chuvinha 
de plantar feijão.

17 
Futebol na areia.
Quem sabe algum dia um deles 
será rei também.

18
Três dias de samba, 
tamborim, ziriguidum. 
Momento Brasil.

19 
Da folha de amora
para o lencinho da amada. 
Mágico tear.

20
Outrora cantavam 
de tardezinha as cigarras. 
Onde mora o outrora?

21
Bem-te-vi se esbalda 
na bica do chafariz. 
Se sacode, voa.

22
Bebê brinca ao sol. 
De pressinha a vó repassa 
pra família as fotos.

23
Levinhas, levinhas, 
voam as garças em V. 
Vitória da paz.

24 
De repente o rio
cai no precipício e explode. 
Vira catarata.

25
Bisos na varanda 
contemplando a lua cheia. 
Tão longe a de mel.
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continua…
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A. A. DE ASSIS (Antonio Augusto de Assis), poeta, trovador, haicaísta, cronista, premiadíssimo em centenas de concursos nasceu em São Fidélis/RJ, em 1933. Radicou-se em Maringá/PR desde 1955. Lecionou no Departamento de Letras da Universidade Estadual de Maringá, aposentado. Foi jornalista, diretor dos jornais Tribuna de Maringá, Folha do Norte do Paraná e das revistas Novo Paraná (NP) e Aqui. Algumas publicações: Robson (poemas); Itinerário (poemas); Coleção Cadernos de A. A. de Assis - 10 vol. (crônicas, ensaios e poemas); Poêmica (poemas); Caderno de trovas; Tábua de trovas; A. A. de Assis - vida, verso e prosa (autobiografia e textos diversos). Em e-books: Triversos travessos (poesia); Novos triversos (poesia); Microcrônicas (textos curtos); A província do Guaíra (história), À moda de haicais, etc.
Fontes:
Ebook enviado pelo autor. 
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

domingo, 15 de junho de 2025

Benedita Azevedo (Ondas de Haicais) 1


1
À beira do rio
Embelezando o remanso -
Aguapés floridos.
2
Descem pelo caule
carambolas bem maduras -
Festa de sanhaços.
3
Férias de verão -
Barraca armada na praia,
hora do cochilo.
4
Em meio à conversa,
a poeta tenta ouvir
Canto da cigarra.
5
Dia de faxina -
Deixem! Deixem o casulo
pendurado na estante.
6
Manada sedenta
só encontra lama no açude.
Longa estiagem.
7
Na lama do rio
menino cata minhoca -
Pescaria à noite.
8
Pé de cambuci -
Reflexos dourados do sol
na fruta madura.
9
Na roça de arroz,
bando de pássaros-pretos -
Lavrador vigia.
10
Amendoim… um real.
Nos corredores dos ônibus
gritam vendedores.
11
Vestida pra festa -
Uma pequena cantárida
no braço da moça.
12
Amendoim na praia -
O ambulante deixa amostra
na barriga da moça.
13
Beirando a calçada
as romãs pendem do galho -
Sementes à mostra;
14
Pendente de um galho
o passante puxa a rama 
da bucha madura.
15
Poluição na festa -
A fumaça dos cigarros
paira sobre as mesas.
16
No meio da roça 
o leito do rio minguante -
Peixes encalhados.
17
Reunião de amigos
durante a festa no clube -
Aquecedor central.
18
Invasão no sítio -
Nas adocicadas nêsperas
o interesse de todos.
19
Sob a chuva fria
no estreito vão entre barracas
a moça caminha.
20
Vacina da gripe -
Tantas cabecinhas brancas
na fila do posto!
21
Gritos no portão -
Crianças correm atrás
da pipa que cai.
22
Cintilando ao sol
as bolhas de sabão
caem na varanda.
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Benedita Silva Azevedo, nasceu em Magé/RJ. Radicada no Rio de Janeiro, desde 1987, mudou-se para a praia do Anil, Magé/RJ em 1990. Educadora, poeta, escritora e animadora cultural. Formada em Letras, especialista em educação e pós-graduada em Linguística. Membro efetivo da Academia Mageense de Letras, da Academia Pan-Americana de Letras e Artes, do Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais, da Antologia Virtual de Letras Luso-Brasileira, do Grêmio  Haicai Sabiá e do Grêmio Haicai “Águas de Março’. Patronesse da Academia Virtual Sala de Poetas e Escritores. É haicaista premiada em vários concurso nacionais. Publicou vários  livro individuais. Organizou algumas antologias. Tem participação em revistas, jornais e sites. Participou de mais de 20 antologias.

Fontes:
Benedita Azevedo. Rumor das Ondas: haicais. Curitiba: Auraucária Cultural, 2010. Livro enviado pela autora.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing  

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Professor Garcia (Álbum de Haicais) – 2


A luz do luar,
vejo arabescos na areia
de espumas do mar!
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A noite me aquece;
e eu, sem dormir um segundo,
o dia amanhece!
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A noite sem sono
e, a lua cheia de luz,
sozinha no abandono!
= = = = = = = = = 

Aos raios, o orvalho,
é o pranto cristalizado
no olhar do espantalho!
= = = = = = = = = 

Aquele sem teto,
que tem a noite por leito,
precisa de afeto!
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 A velha candeia,
piscava quase sem luz;
ó, que noite feia!
= = = = = = = = = 

Cai a tarde mansa.
No por do Sol, no poente,
sombras de esperança!
= = = = = = = = = 

Folhas pelo chão,
São meus sonhos que se arrastam
cheios de ilusão!
= = = = = = = = = 

Longe dos meus campos,
das outonais primaveras,
não há pirilampos!
= = = = = = = = = 

Minha mãe, de joelhos,
com o velho terço entre os dedos,
pede a Deus, conselhos!
= = = = = = = = = 

Nas brisas serenas,
no sopro de um vento brando,
a voz das camenas*!
= = = = = = = = = 
* Camenas = musas
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No botão da flor,
depois da explosão da rosa,
os lábios do amor!
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No esplendor das matas,
há mil cantos seresteiros
na voz das cascatas!
= = = = = = = = = 

No livro do adeus,
conto as mesmas digitais
desses dedos seus!
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Ó, destino meu!
Nunca me carregue um sonho
que a sorte me deu!
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Ouço a voz do mar;
mesmo quando o mar se alteia,
é o mesmo cantar!
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Passa a multidão;
no meio dessa fanfarra,
segue a solidão!
= = = = = = = = = 

Pousou na janela,
meu bem-te-vi cantador;
que linda aquarela!
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Que lindo arrebol:
Todo o meu jardim se abrindo,
aos raios do sol!
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Se chove lá fora,
ficamos nós dois a sós,
e assim, ninguém chora!
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Seresta na rua?
bandolins e violões
violando a lua!
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Sonho que se sonha,
se for um sonho de amor
não nos envergonha!
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Sozinho no mundo,
pisando em terras estranhas,
sou qual vagabundo!
= = = = = = = = = 

Surge a luz do sol;
e uma auréola de luz
brilha no arrebol!
= = = = = = = = = 

Teu choro foi tanto,
que deixou teus pés e os meus,
cobertos de pranto!
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Fonte> Professor Garcia. Poemas do meu cantar. Natal/RN: Trairy, 2020. 
Enviado pelo autor.

quinta-feira, 21 de março de 2024

Professor Garcia (Álbum de Haicais) – 1


O Haicai também se escreve Haiku e Haikai, é um poema de origem japonesa que por definição traduz-se como brincadeira graciosa e harmoniosa. Essa forma poética foi criada no século XVI e tornou-se muito popular pelo mundo afora. No Brasil temos muitos concursos de Haicais anualmente, difundindo esse gênero poético por todos os recantos do nosso país, onde há valorosos e espetaculares haicaístas.
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A bênção de Deus
nos traz os sonhos da paz;
são os sonhos meus!
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As flores se vão;
a primavera se foi,
mas meus sonhos, não!
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As folhas se vão;
mortas, secas, já sem vida,
no fim da estação!
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A lua no lago,
de repente ela se assusta
tremendo de frio!
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A noite trevosa,
ao ver a luz das estrelas,
finge-se nervosa!
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A tarde compõe
um cenário assustador,
cheio de saudade!
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Duas rubras rosas:
Ao nascer e ao por do sol,
como são formosas!
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Esses teus perfumes,
trazem-me encantos do amor
cheios de ciúmes!
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Estrela-do-mar,
sinto-me feliz ao vê-la,
comigo a sonhar!
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Já velha e cansada,
a abelha sobre a colmeia,
triste e abandonada!
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Leitura é magia;
quem lê, dá asas aos sonhos
de paz e alegria!
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Linda flor do campo,
o vento que te balança,
rouba teu perfume!
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Nas conchas do mar,
ouço sussurros, lamentos,
de alguém a chorar!
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Na tarde dengosa,
uma nuvem cachimbando
muda a rubra rosa!
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O livro te espera
sempre de braços abertos
para te abraçar!
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O orvalho da rosa,
é qual lágrima que cai
dos olhos do céu!
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Os livros abertos,
são convites para a paz
nos dias incertos!
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O sol vagabundo,
de manhã cedo, bem cedo,
sorri para o mundo!
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Roseiras do amor,
tens os teus lábios beijados
por vento impostor!
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Seguem dois velhinhos,
na solidão, de mãos dadas,
por velhos caminhos!
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Senhor, quem há de,
embalar meus velhos sonhos,
cheios de saudade?!
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 Sonhos que se vão:
ao longe um carro de boi
lembra o meu sertão!
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Velho calendário,
encurtas dia após dia,
nosso itinerário!
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Velho carrilhão,
tu tens em tuas batidas
paz e solidão!
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Vê nos arrebóis
que, o Sol não muda a rotina.
Somos como os Sóis!
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Violão a sonhar,
de boca aberta cantando
odes ao luar!
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Fonte> Professor Garcia. Poemas do meu cantar. Natal/RN: Trairy, 2020. Enviado pelo autor.