sábado, 20 de março de 2010

Trova 130 - Amália Max (Ponta Grossa/PR)

Heitor Saldanha (Poesias Escolhidas)


O ACIDENTE DE ONTEM

O menino levava um buquê de flores
e um cartão com endereço.
O bonde matou o menino.
Um horizontes de olhos
reuniu o sofrido instante.
Dentro da manhã de abril
alada em altas bandeiras,
o sangue escorria puro, simples,
sobre os trilhos de ferro
sobre as pedras da rua.
Ninguém leu o endereço do cartão.

ESTRUTURA DAS ÁGUAS
a Moacyr Félix

O mar é um cenário aberto
que derrapou no espaço,
e ancorou-se
de bruços
à espera de si mesmo.
Quando sonha se rascunha
lenta metamorfose.
Às vezes
vem,
é um galgo
com seu arco de triunfo,
Chega,
flue,
e dissuade
sua breve estrutura.
Outras vezes vem armado
duma carranca bovina,
Chega,
muge
e se estira
desarmado,
lascivo
Mas quando se recompõe
em placitude de espera,
é o campo do boi mugindo.



Hoje enquanto tiver dinheiro
beberei
Depois
entregarei ao garçom
meu relógio de pulso
meus carpins de nylon
meus óculos de tartaruga (que nome bonito)
minha caneta tinteiro
e continuarei bebendo
bebendo
sem literatura
sem poema
sem nada.
Só.
Como se o mundo começasse agora.
Estou nesses conscientes estados de alma
em que não posso me salvar
e nem salvá-la.

ANDAMENTO

De que estarei me despedindo hoje?
Há em mim uma clara ressonância de
despedida.
Mas não devo saber,
nem é preciso saber.
Creio que vim
pra dizer um dia
na cara do mundo:
hoje estou me despedindo.
E as criaturas boas do meu sangue
abririam a boca
que lhes cortasse o ímpeto inexpresso.
Claro que estou me despedindo.
Hoje sou mais criança do que nunca.
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Fontes:
A Hora Evarista, Instituto Estadual do Livro, Editora Movimento, Porto Alegre, 1974.
Antonio Hohlfeldt (seleção). Antologia da Literatura Rio-Grandense Contemporânea. vol. 2. Cronica e poesia. RS: L&PM, 1979.

Heitor Saldanha (1910 – 1986)


Heitor Saldanha (Cruz Alta, 1910 — Porto Alegre, 1986) foi um poeta brasileiro.

É considerado um dos maiores poetas do Rio Grande do Sul. Participou, com vários outros autores, do Grupo Quixote, muito importante na década de 1950 em Porto Alegre.

Seus poemas, que mostram uma preocupação nítida com os problemas das classes oprimidas, estão reunidos no volume A Hora Evarista. Entre eles, se sobressaem aqueles reunidos em As Galerias Escuras, em que poetiza a vida dos carvoeiros de Arroio dos Ratos e Minas do Butiá.

Heitor Saldanha era fascinado pela vida dos homens trabalhadores em minas de carvão. Chegou a trabalhar numa dessas minas em São Jerônimo, na década de 1950, por dois anos e meio, segundo ele "na busca da poesia, embora não seja necessário que para se escrever sobre alguma coisa, se participe diretamente dela..." Quando os mineiros souberam que havia sido lançado um livro (As Galerias Escuras), presentearam Saldanha com uma lanterna de mina, ou "a luz que iluminava seus caminhos".

Casado com a contista gaúcha Laura Ferreira, foi morar no Rio de Janeiro em 1958, permanecendo por doze anos na cidade. Lá tornou-se amigo de Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Ferreira Gullar e Décio Pignatari, entre outros, participando de inúmeros debates, encontros poéticos e muita agitação e boemia.

Participou de várias antologias e teve obras traduzidas para o espanhol.

Fontes:
– wikipedia.
– Desenho do escritor feito pelo artista plástico francês Michel Drouillon. Publicado no fascículo sobre o poeta da série Autores Gaúchos, do Instituto Estadual do Livro, Porto Alegre, 1984.

Luis Fernando Verissimo (O Nariz)


Era um dentista, respeitadíssimo. Com seus quarenta e poucos anos, uma filha quase na faculdade. Um homem sério, sóbrio, sem opiniões surpreendentes mas uma sólida reputação como profissional e cidadão. Um dia, apareceu em casa com um nariz postiço. Passado o susto, a mulher e a filha sorriram com fingida tolerância. Era um daqueles narizes de borracha com óculos de aros pretos, sombrancelhas e bigodes que fazem a pessoa ficar parecida com o Groucho Marx. Mas o nosso dentista não estava imitando o Groucho Marx. Sentou-se à mesa do almoço – sempre almoçava em casa – com a retidão costumeira, quieto e algo distraído. Mas com um nariz postiço.

- O que é isso? – perguntou a mulher depois da salada, sorrindo menos.
- Isso o quê?
- Esse nariz.
- Ah. Vi numa vitrina, entrei e comprei.
- Logo você, papai...

Depois do almoço, ele foi recostar-se no sofá da sala, como fazia todos os dias. A mulher impacientou-se.

- Tire esse negócio.
- Por quê?
- Brincadeira tem hora.
- Mas isto não é brincadeira.

Sesteou com o nariz de borracha para o alto. Depois de meia hora, levantou-se e dirigiu-se para a porta. A mulher o interpelou.

- Aonde é que você vai?
- Como, aonde é que eu vou? Vou voltar para o consultório.
- Mas com esse nariz?
- Eu não compreendo você – disse ele, olhando-a com censura através dos aros sem lentes. – Se fosse uma gravata nova você não diria nada. Só porque é um nariz...
- Pense nos vizinhos. Pense nos cliente.

Os clientes, realmente, não compreenderam o nariz de borracha. Deram risadas (“Logo o senhor, doutor...”) fizeram perguntas, mas terminaram a consulta intrigados e saíram do consultório com dúvidas.

- Ele enlouqueceu?
- Não sei – respondia a recepcionista, que trabalhava com ele há 15 anos. – Nunca vi ele assim.

Naquela noite ele tomou seu chuveiro, como fazia sempre antes de dormir. Depois vestiu o pijama e o nariz postiço e foi se deitar.

- Você vai usar esse nariz na cama? – perguntou a mulher.
- Vou. Aliás, não vou mais tirar esse nariz.
- Mas, por quê?
- Por quê não?

Dormiu logo. A mulher passou metade da noite olhando para o nariz de borracha. De madrugada começou a chorar baixinho. Ele enlouquecera. Era isto. Tudo estava acabado. Uma carreira brilhante, uma reputação, um nome, uma família perfeita, tudo trocado por um nariz postiço.

- Papai...
- Sim, minha filha.
- Podemos conversar?
- Claro que podemos.
- É sobre esse nariz...
- O meu nariz outra vez? Mas vocês só pensam nisso?
- Papai, como é que nós não vamos pensar? De uma hora para outra um homem como você resolve andar de nariz postiço e não quer que ninguém note?
- O nariz é meu e vou continuar a usar.
- Mas, por que, papai? Você não se dá conta de que se transformou no palhaço do prédio? Eu não posso mais encarar os vizinhos, de vergonha. A mamãe não tem mais vida social.
- Não tem porque não quer...
- Como é que ela vai sair na rua com um homem de nariz postiço?
- Mas não sou “um homem”. Sou eu. O marido dela. O seu pai. Continuo o mesmo homem. Um nariz de borracha não faz nenhuma diferença.
- Se não faz nenhuma diferença, então por que usar?
- Se não faz diferença, porque não usar?
- Mas, mas...
- Minha filha...
- Chega! Não quero mais conversar. Você não é mais meu pai!

A mulher e a filha saíram de casa. Ele perdeu todos os clientes. A recepcionista, que trabalhava com ele há 15 anos, pediu demissão. Não sabia o que esperar de um homem que usava nariz postiço. Evitava aproximar-se dele. Mandou o pedido de demissão pelo correio. Os amigos mais chegados, numa última tentativa de salvar sua reputação, o convenceram a consultar um psiquiatra.

- Você vai concordar – disse o psiquiatra, depois de concluir que não havia nada de errado com ele – que seu comportamento é um pouco estranho...
- Estranho é o comportamento dos outros! – disse ele. – Eu continuo o mesmo. Noventa e dois por cento de meu corpo continua o que era antes. Não mudei a maneira de vestir, nem de pensar, nem de me comportar, Continuo sendo um ótimo dentista, um bom marido, bom pai, contribuinte, sócio do Fluminense, tudo como era antes.
- Mas as pessoas repudiam todo o resto por causa deste nariz. Um simples nariz de borracha. Quer dizer que eu não sou eu, eu sou o meu nariz?
- É... – disse o psiquiatra. – Talvez você tenha razão...

O que é que você acha, leitor? Ele tem razão? Seja como for, não se entregou. Continua a usar nariz postiço. Porque agora não é mais uma questão de nariz. Agora é uma questão de princípios
.

Fonte:
Luis Fernando Verissimo. O Nariz e outras cronicas. Ed. Ática, 2003.

Mario Quintana (O Chalé da Praça Quinze)



O chalé fazia parte da gente. Me lembro do Bilo, com o seu perfil perpendicular de cegonho sábio, o longo bico mergulhado – não no gargalo do gomil da fábula, não propriamente no canecão de chop, que era de fato o que estava acontecendo – mas no poço artesiano de si mesmo.

Me lembro do Reynaldo, redondo, pacato, amável, tão amável, pacato e redondo que parecia um desses personagens de romance policial que ninguém desconfia que seja o autor do último crime da mala.

Me lembro do Cavalcanti com a sua cara silenciosa e receptiva de mata-borrão.

Me lembro de mim, silencioso. Sim, a determinada hora éramos todos silenciosos...essa hora em que não é preciso dizer nada, nem mesmo o verso inesquecível de Valery: “Oh mon bom compagnon de silence”.

Este silêncio era apenas quebrado quando chegava o Athos, o Athos centrífugo e pirotécnico. Mas isso não perturbava o nosso silêncio, nem o próprio silêncio do Athos...Pois havia um profundo e misterioso rio de silêncio que corria subterraneamente a todas as nossas palavras.

Era o rio da poesia?

O rio da harmoniosa confusão das almas?

Agora é apenas o rio do tempo que passou.

Fonte:
Antonio Hohlfeldt (seleção). Antologia da Literatura Rio-Grandense Contemporânea. vol. 2. poesia e crônica. RS: L&PM, 1979.

Armindo Trevisan (Poesias Escolhidas)


NÃO ESCOLHI A COR DE MINHA PELE
(tradução da poesia, do espanhol, por José Feldman)

Não escolhi a cor de minha pele
que é igual a pele de qualquer homem
ela que me envolve por todos os lados
mas, dentro desta pele estou eu: um negro!

Tenho a mesma imagem e semelhança
de homens que possuem outra cor de pele
e eu sei que foi o sol que me queimou
para fazer-me mais resistente e mais formoso.

Como negro, eu habitei um continente
amaldiçoado durante séculos,
fui perseguido por outros homens
e, algumas vezes, também perseguido por homens de minha cor.

Que profundas são as feridas que sangram,
dentro e fora de mim! Pode acaso esquecer
o látego, os suplícios e a morte
daquele tempo em que cobiçavam meu ouro e meu marfim?

Eu sei que nada me serve crucificar-me
em minha propria historia! Nem com fúria selvagem
sonhar a destruição de meus perseguidores.
Antes de ser negro, eu sou simplesmente um homem.

Minha gloria é elevar-me à altura
das palmeiras de meus desertos,
e, quando bradem os leões, deixar-me
ao largo dos rios que inundam minhas florestas.

Não escolhi a cor de minha pele!
Vejo que a noite borbulha de estrelas,
e que a lua, mais que o sol, suaviza
os recantos inacessíveis de minha alma.

Sempre foram brancos vossos Deuses e vossos anjos!
Meu coração sabe que o espírito voa
tão veloz que não se consegue ver sua cor .
Sim! A cor de Deus é a cor do vento.

Eu sou negro e eu sou homem! Agora
que a história abriu aos poucos suas portas
eu posso, pela primeira vez, ser um homem negro.
A humanidade se tornou maior comigo.

Me toca a responsabilidade de perdoar
Eu que não posso tirar, para sempre,
de sobre os ombros de homens vivos: eu com eles
carregar meu fardo até a grande Aurora.

Não escolhi a cor de minha pele
Que é igual a pele de qualquer homem!
Voces também compreenderão que o sangue dos homens
está debaixo da pele, e é um rio de fogo.

Posto que sou um homem livre, me amo
como se ama a vida, que também oferece
a brancura dos dentes para sorrir.
A vida – que nos submerge em sua noite luminosa.

A LUZ DE TUA PELE

À luz de tua pele invento a noite.
Nela me embrenho até à morte alheia.
Ninguém é mais sozinho do que o açoite
que apaga tua luz, e me incendeia.

SOBRE AS PLUMAS

Sobre as plumas da noite quando, amada,
a carne lhe varria o pensamento,

olhou à sua volta, e viu na estrada
os ossos de milhões que a lua ungia:

crematórios, bengalas, dentaduras,
retratos esmaecidos, tristes óculos ...

E meditou no sonho e na loucura.
Como podia amar uma outra carne

se a carne, donde lhe nascera o sexo,
era esse fogo que lavrava forte

nos campos e cidades, semeando
vitríolo e estrume com a mão da morte?

QUISERAM HOSPEDAR-SE

Quiseram hospedar-se no silêncio,
que embriaga o amor depois que os corpos lassos
derramam o perfume de seu vinhos.

Mas não puderam. Triste e sozinhos,
falaram de si mesmos como ausentes.

EMBORA TUA CARNE

Embora tua carne seja a mesma:
quem põe no teu braseiro outro carvão,
e irrita a flama que se torna azul
para variar de língua e de bailado?

Quem faz girar o teu robolo, e afia
a lâmina que não te deixa fria?

O TRÂNSITO

Que fica deste trânsito? É a seda
com sua larva dentro do casulo,

cobrindo a solidão. E, no seu músculo,
a forte pontaria de uma flecha

que, no ar gelado e azul, abate e ave,
sem destruir-lhe vôo tão suave.

A QUEM TE ALÇA

A quem te alça às nuvens, desvalida,
doas teu corpo. E apóias tua mão

numa outra mão, ciente de que o coito
é uma aventura de soldado afoito.

Pois essa subita valentia
te reconduz aos pés da noite fria,

onde tua mão é garra de animal:
e vence, de ambos, quem não desconfia.

REFÚGIO

Às praias dão garrafas com mensagens,
ou tábuas em que flutuaram náufragos.

Às praias dão navios com equipagens,
pinguins, baleias que se desnortearam.

Não é diverso o porto de teus lábios:
ali também vão dar tristes suspiros,

Gemidos, alaridos, menoscabos,
e a alegria de giros e regiros

em que te perdes quando amas de fato,
e o teu corpo se rende a um ultimato.

PRIMAVERA

Por que será que penso nos teus lábios
quando avisto, em quintais, limões maduros?

Serão eles, dobrados sobre os muros,
Livreiros que esquadrinham alfarrábios?

Ou hão de perecer polidos cabos
Rumorejando sobre os ares puros?

Eu sempre penso nos limões: dourados,
Guardam-se incorruptíveis, e fechados.

QUEM DIRÁ AOS AMANTES

Quem dirá aos amantes
o caminho
pelo qual os corpos vão
ao termo do que souberam?
E depois foi noção,
espaço, letra,
e não quiseram o retorno?
Quem os aguardará do outro lado
onde o riso,
a aveia, são o preâmbulo
da carícia no seio?

Quem dirá aos
amantes que o amor há de despir
o acontecido
e passará pela mão
como passou o frio
de flor em flor?

POEMA QUE COMEÇA EM SÁBADO

Foi então que as ervas
se dobraram a língua dos cactos enrugou-se
e subiram pelos telhados os pombos

e ambos na medula da noite ao pé do copo
e da lâmpada resolveram amar-se por toda
a eternidade e isto durou até à véspera do sim

e o não reboou
silenciosamente dentro da boca onde um beijo
polia os ossos o homem apalpou-se e por fim
rolaram em cima dessa coisa chamada mundo

e houve um mundo chamado amor.

SALMO NUPCIAL

Sejas visível
Senhor

quando a carne
de outra carne
florescer na minha

e um enxame
de abelhas brancas
beber no umbigo
dela

e nossa escuridão
servir à noite

e erguermos
à altura do mundo

a solidão
dos animais.
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Fontes:
Armindo Trevisan. A Dança do Fogo. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2001.
Armindo Trevisan. Abajur de Píndaro & Fabricação do Real. São Paulo: Edições Quíron; INL, 1975

Armindo Trevisan (1933)



Nasceu em Santa Maria, RS, em 1933.

Doutorou-se em Filosofia pela Universidade de Fribourg, Suíça, com a tese Ensaio sobre o problema da criação em Bergson (1963).

Nesse mesmo ano, fez curso de aperfeiçoamento em Paris.

De 1969 a 1970, e de setembro de 1974 a fevereiro de 1975, foi bolsista da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

Atuou como Professor Adjunto de História da Arte e Estética na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, de 1973 a 1986.

Lecionou, também, no curso de pós-graduação em Artes Visuais da UFRGS até 2000.

Entretanto, é a religiosidade que permeia toda a sua obra, mesmo em seus versos mais sexuais. E é esse criticismo social e político entrelaçado com um sensual lirismo religioso que faz sua obra merecedora de vários prêmios.

E é esse criticismo social e político entrelaçado com um sensual lirismo religioso que faz sua obra merecedora de vários prêmios. Entre eles o Prêmio Gonçalves Dias da União Brasileira de Escritores por seu primeiro livro de poesias, “A surpresa do ser”, publicado em 1967 e em cuja comissão julgadora se incluíam Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e Cassiano Ricardo, o prêmio nacional de Brasília pelo livro “O abajur de Píndaro” em 1972 e o prêmio APLUB de Literatura 1996-1997 pelo livro “A dança do fogo”.

Mas além de poesias, também escreve alguns ensaios ao longo de sua trajetória, bem como contribui com alguns jornais, entre 1967 e 1982, em Brasília (DF), Petrópolis (RJ), Porto Alegre (RS), São Paulo, Rio de Janeiro e Portugal, bem como com algumas revistas em ambos os países.

Este poeta e ensaísta tem obras traduzidas em várias línguas, principalmente alemão, italiano, espanhol e inglês, rompendo as fronteiras geográficas da cultura brasileira.

Foi escolhido como patrono da 47" Feira do Livro de Porto Alegre.

Poesias:
A surpresa de ser (1967),
A imploração do nada (1971),
Funilaria no ar (1973),
Corpo a corpo (1973),
O abajur de Píndaro / A fabricação do real (1975),
Em pele e osso (1977),
O ferreiro harmonioso (1978),
O rumor do sangue, 1979,
A mesa do silêncio (1982),
O moinho de Deus (1985),
Antologia poética (1986),
A dança do fogo (1995),
Os olhos da noite (1997),
O canto das criaturas (1998),
Orações para o novo milênio (1999).

ENSAIOS
- Essai sur le problème de la création chez Bérgson – Fribourg, Suíça, 1963
- A escultura dos sete povos – Porto Alegre, 1978
- Os sete povos das Missões – Série: Raízes gaúchas, III volume – Porto Alegre, 1980
- Escultores contemporâneos do Rio Grande do Sul – Porto Alegre, 1982
- Os sete povos das Missões – Porto Alegre, 1984
- A dança do sozinho – uma análise da arte abstrata – São Paulo, 1988
- Como apreciar a arte – do saber ao sabor: uma síntese possível – Porto Alegre, 1990
- Reflexões sobre a poesia – Porto Alegre, 1993
- A sombra luminosa – ensaios de estética cristã – Petrópolis, 1995
- A poesia: uma iniciação à leitura poética – Porto Alegre, 2000

Fontes:
http://revistaentrelivros.uol.com.br
http://www.ufsm.br/literaturaehistoria/armindotrevisan.html

Caravana da Leitura nas praças públicas de Avaré e Região



O projeto é aberto a estudantes e ao público em geral e consiste na venda de livros por um preço simbólico.

O projeto “Caravana da Leitura” criado pelo escritor Laé de Souza, depois de percorrer mais de 60 cidades brasileiras chega a diversas cidades do interior de São Paulo. Aplicado desde 2004, em parceria com as Secretarias de Educação e de Cultura dos municípios e apoio do Ministério da Cultura, o trabalho acontecerá nos municípios de Itaporanga, Itaí, Piraju, Cerqueira César e Avaré, entre os dias 22 a 27 de março.

Até o final de 2010 o público terá a oportunidade de conferir a passagem da “Caravana” em diferentes praças públicas do país, oferecendo livros para o público infantil, juvenil e adulto, pelo valor simbólico de R$1,99. O projeto reúne uma grande variedade de obras literárias do escritor Laé de Souza, apresentando histórias do cotidiano, em uma linguagem bem-humorada e pontuada por reflexões.

Aos amantes da literatura, a atividade oferece uma ótima oportunidade para rechear a estante e saciar o desejo de boa cultura. De acordo com Laé de Souza, idealizador do projeto, a ação é inédita e tem como objetivo gerar oportunidades de leitura a pessoas de todas as idades e classes sociais. “Buscamos quebrar o estigma que o brasileiro não gosta de ler. O brasileiro gosta de ler sim, o que lhe falta é oportunidade e acessibilidade aos livros que infelizmente custam muito caro no Brasil. O Caravana da Leitura vai na contramão dessa fórmula errada”, esclarece Laé de Souza.

Este ano, o evento deverá passar por mais de 40 cidades dos estados de São Paulo e Bahia com previsão de distribuição de cerca de 120 mil livros. “O objetivo do trabalho é levar cultura e incentivar o hábito da leitura em todo o Brasil. Dessa forma acreditamos que a leitura pode ser democratizada”, destaca Laé de Souza.

Como funciona o projeto?

Para realização das atividades uma tenda é montada em praça pública, com a exposição de muitos livros. Como numa feira livre, além de estudantes convidados para o evento, as pessoas podem circular, pegar e obter orientações de uma equipe multidisplinar que auxilia aos leitores na escolha das obras. A idéia da tenda é aproximar as pessoas de forma livre e sem compromisso, permitindo que elas sintam-se parte integrante desse grande movimento em prol da leitura.

Interessados poderão conhecer outros projetos de incentivo à leitura, de Laé de Souza e o roteiro da Caravana da Leitura, em "Agenda", no site http://www.projetosdeleitura.com.br/

Fonte:
Colaboração de Laé de Souza.

II Conferencia Nacional de Cultura



PROPOSIÇÕES APROVADAS NA II CONFERÊNCIA NACIONAL DE CULTURA

II CONFERÊNCIA NACIONAL DE CULTURA ELEGE 32 PRIORIDADES PARA O SETOR

Após três dias de debates, os participantes da II Conferência Nacional de Cultura (CNC), realizada em Brasília, elegeram as 32 prioridades que nortearão as políticas públicas para o setor. As prioridades setoriais foram aprovadas por unanimidade no plenário pela manhã.

Presente ao Centro de Convenções e Eventos Brasil 21 durante os trabalhos na tarde deste domingo, o ministro da Cultura, Juca Ferreira, reafirmou o grande mérito da Conferência: promover o acesso de todos à discussão e formulação das políticas públicas. “A democracia e a inclusão têm sido uma grande preocupação do governo e do ministério da Cultura”.

As prioridades eleitas serão tratadas uma a uma, de acordo com sua natureza. Algumas poderão servir para incrementar políticas públicas já existentes, outras devem se transformar em projetos de lei para envio ao Congresso Nacional ou, ainda, integrarem ações interministeriais de estímulo a áreas afins, como cultura e educação, por exemplo.

Ao todo, foram analisadas 347 propostas pelos participantes da conferência, dentre os quais artistas, produtores culturais, investidores, gestores e representantes da sociedade de todos os setores da cultura e de todos os estados do País. Dos 883 delegados credenciados, 851 votaram por meio de cédulas nas propostas prioritárias.

A aprovação do marco regulatório da Cultura, que já tramita no Congresso Nacional, foi a proposta mais votada (754 votos). O marco é composto principalmente pelo Sistema Nacional de Cultura (SNC), Plano Nacional de Cultura (PNC) e proposta de emenda constitucional (PEC) 150/2003, que vincula à Cultura 2% da receita federal, 1,5% das estaduais e 1% das municipais. A proposta também explicita o apoio à aprovação do Programa de Fomento e Incentivo à Cultura (Procultura), que atualiza a Lei Rouanet.

A Conferência aponta a urgência de se construir um marco regulatório para a cultura brasileira. É uma demanda legítima da sociedade, que prioriza a agenda cultural em todas as esferas de governo. Demos um grande passo para fortalecer definitivamente a importância dessa políticas para o desenvolvimento sustentável do país”, explica a coordenadora executiva da Conferência, Silvana Meireles.

Os debates da Conferência seguiram cinco eixos temáticos: produção simbólica e diversidade cultural; cultura, cidade e cidadania; cultura e desenvolvimento sustentável; cultura e economia criativa; gestão e institucionalidade da cultura.

Entre os destaques estão a formalização do trabalho na cultura, o incentivo ao ensino de arte nas escolas, o reconhecimento de um “custo amazônico” como fator que onera as iniciativas culturais devido a questões geográficas e logísticas da região – a ser incluído em editais de novos projetos -, a ampliação do acesso à internet e a necessidade de reformulação da Lei de Direitos Autorais. O marco legal para os Pontos de Cultura e a Lei Griô Nacional também estiveram entre as propostas mais votadas.

Esse é um momento de afirmação da cultura. Esse tema não será mais subalterno. Claro que todas as outras pastas são importantes, mas nada se realiza sem cultura”, afirma Juca Ferreira, ressaltando que neste ano o ministério terá orçamento recorde, o equivalente a 1% do total de impostos arrecadados pela União.

Pré-conferências

Todos os estados realizaram suas conferências, elegendo 743 delegados ao todo. Mais de 200 mil pessoas estiveram diretamente envolvidas nas etapas estaduais e municipais. Novidade nesta edição, as conferências setoriais – 143 no total – tiveram 3.193 inscrições de candidatos a delegados. Além de deliberar, esses encontros têm o objetivo de estimular a criação e o fortalecimento de redes de agentes e instituições culturais do País.

I CNC

Em sua primeira edição, em 2005, 1.192 municípios realizaram conferências, o que representou 21,42% do total das cidades brasileiras. Nesta segunda Conferência, nas etapas municipais e estaduais, observou-se um significativo avanço no processo participativo, uma vez que, de agosto a outubro de 2009, aconteceram 3.071 reuniões, ou seja, mais da metade do total dos municípios do País estiveram envolvidos.

PROPOSTAS PRIORITÁRIAS

EIXO1: PRODUÇÃO SIMBÓLICA E DIVERSIDADE CULTURAL
SUB–EIXO: 1.1 - Produção de Arte e Bens Simbólicos
1 - Implementar políticas de intercâmbio em nível regional, nacional e internacional entre os segmentos artísticos e culturais englobando das manifestações populares tradicionais às contemporâneas que contemplem a realização de mostras, feiras, festivais, oficinas, fóruns, intervenções urbanas, dentre outras ações, estabelecendo um calendário anual que interligue todas as regiões brasileiras, com ampla divulgação, priorizando os grupos mais vulneráveis às dinâmicas excludentes da globalização, com o objetivo de valorizar a diversidade cultural.
6 - Registrar, valorizar, preservar, e promover as manifestações de comunidades e povos tradicionais (conforme o decreto federal 6.040 de 7 de fevereiro de 2007), itinerantes, nômades, das culturas populares, comunidades ayahuasqueiras, LGBT, de imigrantes, entre outros com a difusão de seus símbolos, pinturas, instrumentos, danças, músicas, e memórias dos antigos, por meio de apresentações ou produção de CDs, DVDs, livros, fotografias, exposições e audiovisuais, incentivando o mapeamento e inventário das referencias culturais desses grupos e comunidades.

SUB–EIXO: 1.2 - Convenção da Diversidade e Diálogos Interculturais
17 - Garantir políticas públicas de combate à discriminação, ao preconceito e à intolerância religiosa por meio de: a) campanhas educativas na mídia, em horário nobre, mostrando as diversas raças e etnias existentes em nosso país, ressaltando o caráter criminoso da discriminação racial; b) demarcação de terras das populações tradicionais (ribeirinhos, seringueiros, indígenas e quilombolas), estendendo serviços sociais e culturais a essa população, a fim de garantir sua permanência na terra; c) campanhas contra homofobia visando respeito a diversidade sexual e identidades de gênero.
18 - Implementar a Convenção da Diversidade Cultural por meio de ações sócio-educativas nas diversas linguagens culturais (literatura, dança, teatro, memória e outras), e as linguagens especificas próprias dos povos e culturas tradicionais, conforme o decreto federal 6.040 de 7 de fevereiro de 2007 dirigidas a públicos específicos: crianças, jovens, adultos, melhor idade.

SUB – EIXO: 1.3 - Cultura, Educação e Criatividade
22 - Articular a política cultural (MINC e outros) com a política educacional (MEC e outros) nas três esferas governamentais para elaborar e implementar conteúdos programáticos nas disciplinas curriculares e extracurriculares dedicados à cultura, à preservação do patrimônio, memória e à história afro-brasileira, indígena e de imigrantes ao desenvolvimento sustentável e ao ensino das diferentes linguagens artísticas, inclusive arte digital e línguas étnicas do território nacional, de matriz africana e indígena, e ao ensino de línguas, inserindo-os no Plano Nacional de Educação,sob a perspectiva da diversidade e pluralidade cultural, nas escolas, desde o ensino fundamental, universidades públicas e privadas com a devida capacitação dos profissionais da educação, por meio da troca de saberes com os mestres da cultura popular nos sistemas municipais, estaduais e federais, bem como (26) Garantir condições financeiras e pedagógicas para a efetiva aplicação da disciplina "Língua e Cultura Local".
36 - Instituir a lei Griô, que estabelece uma política nacional de transmissão dos saberes e fazeres de tradição oral, em diálogo com a educação formal, para promover o fortalecimento da identidade e ancestralidade do povo brasileiro, por meio do reconhecimento político, econômico e sociocultural dos Grios Mestres e Mestras da tradição oral, acompanhado por uma proposta de um programa nacional, a ser instituído, regulamentado e implantado no âmbito do MINC e do Sistema Nacional de Cultura.

SUB–EIXO: 1.4 - Cultura, Comunicação e Democracia
63 - Garantir que o acesso a internet seja realizado em regime de serviço publico e avançar com a formulação e implantação do plano nacional de banda larga contemplando as instituições culturais e suas demandas por aplicação e serviços específicos.
68. Regulamentar e implementar o capitulo da comunicação social na Constituição Federal, tendo em vista a integração das políticas de comunicação e cultura, em especial o artigo 223, que garante a complementaridade dos sistemas publico, privado e estatal. Fortalecer as emissoras de radio e TV do campo público (comunitárias, educativas, universitárias e legislativas) e incentivar a produção simbólica que promova a diversidade cultural e regional brasileira, produzida de forma independente. Implantar mecanismos que viabilizem o efetivo controle social sobre os veículos do campo público de comunicação e criar um sistema de financiamento que articule a participação da união, estados e municípios.

EIXO 2: CULTURA, CIDADE E CIDADANIA
SUB-EIXO 2.1: Cidade como fenômeno cultural
80 - Estabelecer uma política nacional integrada entre os governos federal, estaduais, municipais e no Distrito Federal, visando a criação de fontes de financiamento, vinculação e repasses de recursos que permitam a instalação, construção, manutenção e requalificação de espaços e complexos culturais com acessibilidade plena: teatros, bibliotecas, museus, memoriais, espaços de espetáculos, de audiovisual, de criação, produção e difusão de tecnologias e artes digitais, priorizando a ocupação dos patrimônios da união, dos estados, municípios e do Distrito Federal em desuso no país.
83 - Criar marco regulatório (Lei Cultura Viva) que garanta que os Pontos de Cultura se tornem política de Estado garantindo a ampliação no número de Pontos contemplando ao menos um em cada município brasileiro e Distrito Federal, priorizando populações em situação de vulnerabilidade social de modo a fortalecer a rede nacional dos Pontos de Cultura.
SUB–EIXO: 2.2 - Memória e Transformação Social
101 - Incluir na agenda política e econômica da União, estados, municípios e no Distrito Federal o fomento à leitura por meio da criação de bibliotecas públicas, urbanas e rurais em todos os Municípios, com fortalecimento e ampliação dos acervos bibliográficos e arquivísticos, infraestrutura, acesso a novas tecnologias de inclusão digital, capacitação de recursos humanos, bem como ações da sociedade civil e da iniciativa privada,com objetivo de democratizar o acesso à cultura oral, letrada e digital.
112 – Propiciar condições plenas de funcionamento ao Ibram de modo a garantir com sua atuação, que os museus brasileiros sejam consolidados como territórios de salvaguarda e difusão de valores democráticos e de cidadania, colocadas a serviço da sociedade com o objetivo de propiciar o fortalecimento e a manifestação das identidades, a percepção crítica e reflexiva da realidade, a produção de conhecimento, a promoção da dignidade humana e oportunidades de lazer.
SUB–EIXO: 2.3 - Acesso, Acessibilidade e Direitos Culturais
124 – Criar dispositivos de atualização da lei de direitos autorais em consonância com os novos modos de fruição e produção cultural que surgiram a partir das novas tecnologias garantindo o livre acesso a bens culturais compartilhados sem fins econômicos desde que não cause prejuízos ao(s) titular(es) da obra, facilitando o uso de licenças livres e a produção colaborativa, considerando a transnacionalidade de produtos e processos de forma que se atinja o equilíbrio entre o direito da sociedade de acesso a informação e a cultura e o direito do criador de ter sua obra protegida, assim como o equilíbrio entre os interesses do autor e do investidor.
131 – Assegurar a destinação dos recursos do Fundo Social do Pré-sal para a cultura, aos programas de sustentabilidade e desenvolvimento do Sistema Nacional de Cultura, ampliando os investimentos nos programas que envolvam conveniamentos entre União, Estados, Municípios e Distrito Federal.

EIXO 3: CULTURA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
SUB–EIXO: 3.1 - Centralidade e Transversalidade da Cultura
140 – Implementar e fortalecer as políticas culturais dos estados, a fim de promover o desenvolvimento cultural sustentável, reconhecendo e valorizando as identidades e memórias culturais locais – incluindo regulamentação de profissões de mestres detentores e transmissores dos saberes e fazeres tradicionais, ampliando as ações intersetoriais e transversais por meio das interfaces com a educação, economia, comunicação, turismo, ciência, tecnologia, saúde e meio ambiente, segurança pública e programas de inclusão digital, com estímulo a novas tecnologias sociais de base comunitária.
141 - Incentivar a criação e manutenção de ambientes lúdicos, para o desenvolvimento de atividades artísticas e culturais em escolas públicas e espaços educacionais sem fins lucrativos, museus, hospitais, casas de saúde, instituições de longa permanência, entidades de acolhimento e abrigos, CAPs, CAPs – AD (Centro de Atenção Psicossocial), centros de recuperação de dependentes químicos e de ressocialização de presos (Apacs) e presídios.
SUB–EIXO: 3.2 - Cultura, Território e Desenvolvimento Local
152 – Promover, em articulação com o MEC, organizações governamentais e não governamentais, a criação de cursos técnicos e programas de capacitação na área cultural para o desenvolvimento sustentável.
154 – Fomentar e ampliar observatórios e as políticas culturais participativas com o objetivo de produzir inventários, pesquisas e diagnósticos permanentes, também em parceria com universidades e instituições de pesquisa, subsidiando políticas públicas de cultura, articuladas intersetorialmente e territorialmente, com ações capazes de preservar os patrimônios cultural e natural, inserindo as histórias locais nos conteúdos das instituições educacionais, identificando e valorizando as tradições e diversidade culturais locais, aproximando os movimentos culturais das questões sociais e ambientais, contribuindo assim para o desenvolvimento sustentável local e a redução das desigualdades regionais.
SUB–EIXO: 3.3 - Patrimônio Cultural, Meio Ambiente e Turismo
165 - Promover e garantir o reconhecimento, a defesa, a preservação e a valorização do patrimônio cultural, natural e arquivístico a partir de inventários e estudos participativos, em especial nas comunidades tradicionais, estimulando o turismo comunitário sustentável, por meio da articulação interministerial com participação popular, que crie parâmetros para a atuação nessa vertente da economia da cultura e destine recursos, inclusive por meio de editais, para a implantação e o fortalecimento de roteiros turísticos que articulem patrimônio cultural, memórias, meio ambiente, tecnologias, saberes e fazeres, valorizando a mão-de-obra local/regional, com a realização de ações voltadas para a formação, gestão e processos de comercialização da produção artístico-cultural da região.
175 - Valorizar as tradições culturais dos 5 biomas,o, como forma de proteção e sustentabilidade, bem como garantir a melhoria e conservação das vias de acesso a todos os municípios, revelando e valorizando suas potencialidades turísticas e culturais, com sua difusão em museus, sites específicos e redes sociais, preservando o patrimônio material e imaterial, regulamentando em lei o cerrado e demais biomas como patrimônio cultural.

EIXO 4: CULTURA E ECONOMIA CRIATIVA
SUB–EIXO: 4.1 - Financiamento da Cultura
187 - Com base no art. 3º inciso III da Constituição brasileira que estabelece a redução das desigualdades sociais e regionais, que seja garantido o reconhecimento do “custo amazônico” pelos órgãos gestores da cultura em projetos culturais, editais e leis de incentivo, em especial pelo Fundo Nacional de Cultura, assegurando dotação específica e diferenciada para os estados da Amazônia Legal, considerando as dimensões continentais, as diferenças geográficas e humanas e as dificuldades de comunicação e circulação na região, incluindo o Custo Amazônico na Lei Rouanet no Fundo Amazônia.
192 - Garantir, com a aprovação da PEC 150/2003, ainda neste semestre, as políticas de fomento e financiamento, via editais, dos processos de criação, produção, consumo, formação, difusão e preservação dos bens simbólicos materiais, imateriais e tradicionais (indígenas, ribeirinhas, afrodescendentes, quilombolas e outros) e contemporâneas (de vanguarda e emergentes), facilitando a mostra de suas obras artísticas, garantindo direitos autorais e registrando os artistas e suas obras como patrimônio nacional.
SUB–EIXO: 4.2 - Sustentabilidade das Cadeias produtivas
230 - Ampliar os recursos públicos e privados, para a sustentabilidade das cadeias criativas e produtivas da cultura, valorizando as potencialidades regionais e envolvendo todos os setores da sociedade civil e do poder público no processo de criação, produção e circulação dos bens e produtos culturais, objetivando ampliar a circulação e a exportação dos produtos culturais brasileiros.
236 - Criar um programa nacional (por região) de capacitação de agentes e empreendedores culturais, com foco nas cadeias produtivas, contemplando a elaboração e gestão de projetos, captação de recursos e qualificação técnica e artística, ofertando oficinas, cursos técnicos e de graduação, em parceria com as Instituições de Ensino Superior (IES).
SUB–EIXO: 4.3 - Geração de Trabalho e Renda
250 - Regulamentar as profissões da área cultural, criando condições para o reconhecimento de direitos trabalhistas, previdenciários no campo da arte, da produção e da gestão cultural, incluindo os profissionais da cultura em atividades sazonais.
252 - Investir na profissionalização dos trabalhadores da cultura, através da ampliação dos cursos de nível superior, técnicos e profissionalizantes, realizar concursos públicos em todas as esferas governamentais para o setor, equiparando nestes concursos o piso salarial de nível superior à carreira especialista em gestão pública ou equivalente e incluindo o reconhecimento de novas áreas de formação relacionadas ao campo.

EIXO 5: GESTÃO E INSTITUCIONALIDADE DA CULTURA
SUB–EIXO: 5.1 - Sistemas Nacional, Estaduais, Distrital e Municipais de Cultura
262 – Consolidar, institucionalizar e implementar o Sistema Nacional de Cultura (SNC), constituído de órgãos específicos de cultura, conselhos de política cultural (consultivos , deliberativos e fiscalizadores), tendo, no mínimo, 50% de representantes da sociedade civil eleitos democraticamente pelos respectivos segmentos, planos e fundos de cultura, comissões intergestores, sistemas setoriais e programas de formação na área da cultura, na União, Estados, Municípios e no Distrito Federal, garantindo ampla participação da sociedade civil e realizando periodicamente as conferências de cultura e, especialmente, a aprovação pelo Congresso Nacional da PEC 416/2005 que institui o Sistema Nacional de Cultura, da PEC 150/2003 que designa recursos financeiros à cultura com vinculação orçamentária e da PEC 049/2007, que insere a cultura no rol dos direitos sociais da Constituição Federal, bem como dos projetos de lei que instituem o Plano Nacional de Cultura e o Programa de Fomento e Incentivo a Cultura-Procultura e do que regulamenta o funcionamento do Sistema Nacional de Cultura.
279 – Criar um sistema nacional de formação na área da cultura, integrado ao SNC, articulando parcerias públicas e privadas, a fim de promover a atualização, capacitação e aprimoramento de agentes e grupos culturais, gestores e servidores públicos, produtores, conselheiros, professores, pesquisadores, técnicos e artistas, para atender todo o processo de criação, fruição, qualificação dos bens, elaboração e acompanhamento de projeto, captação de recursos e prestação de contas, garantindo a formação cultural nos níveis básico, técnico, médio e superior, à distância e presencial, fazendo uso de ferramentas tecnológicas e métodos experimentais e produção cultural.
SUB–EIXO: 5.2 - Planos Nacional, Estaduais, Distrital, Regionais e Setoriais de Cultura
308 – Defender a aprovação do Programa Cultura Viva e o Programa Mais Cultura no âmbito da proposta de consolidação das leis sociais como políticas publicas de Estado, com dotação orçamentária prevista em lei e mecanismo publico de controle e gestão compartilhada com a sociedade civil.
310 - Garantir que as conferências nacional, distrital, estaduais e municipais de Cultura tenham caráter de política pública e que suas diretrizes e decisões sejam incorporadas nos respectivos Planos Plurianuais e nas Leis de Diretrizes Orçamentárias, assegurando sua efetiva execução nas Leis Orçamentárias Anuais.
SUB–EIXO: 5.3 - Sistema de Informações e Indicadores Culturais
324 – Realizar imediatamente mapeamento preliminar das manifestações culturais, dos distintos segmentos (conforme a II CNC), dos povos e comunidades tradicionais (em conformidade com o decreto 6040), das expressões contemporâneas, dos agentes culturais, instituições e organizações, dos grupos e coletivos, disponibilizando o banco de dados resultante em uma plataforma livre de fácil acesso e com descentralização da informação; em paralelo, a criação de um órgão federal de estudos e indicadores culturais integrado ao SNC; mapear as cadeias criativas e produtivas, empreendimentos solidários; investir em capacitação técnica de equipes locais; atualizar continuamente o mapeamento preliminar e gerar produtos tais como: roteiros e eventos de integração e intercambio; catálogos com as varias linguagens e manifestações, publicação de anuários e revistas.
336 - Implantar o Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais e os respectivos sistemas estaduais e municipais, desenvolver mecanismos de articulação entre governo e sociedade civil, para facilitar e ampliar o acesso às informações e capacitar pessoal em todas as esferas, para a geração, tratamento e armazenamento de dados e informações culturais.

LIVRO, LEITURA, LITERATURA: DIREITO DE TODOS

A leitura e a escrita constituem elementos fundamentais para a construção de sociedades democráticas, baseadas na diversidade, na pluralidade e no exercício da cidadania; são direitos de todos, constituindo condição necessária para que possam exercer seus direitos fundamentais, viver uma vida digna e contribuir na construção de uma sociedade mais justa.” (Plano Nacional do Livro e Leitura – PNLL - dezembro de 2006)

A leitura e a escrita são direitos e necessidades relacionados com a prática cidadã, que ajudam as pessoas a construir sua individualidade e seu prazer estético, sendo transversais a todas as artes. O letramento – habilidade de ler criticamente e produzir textos - contribui de forma efetiva para o rompimento da fatalidade social e capacita o cidadão a criar seu espaço no mundo contemporâneo e a estabelecer as relações com os demais. Diretrizes que fundamentam uma Política de Estado, aliadas à gestão eficaz, são fundamentais para a concretização dos objetivos de toda política cultural para um país.

Por essas razões fundamentais ao desenvolvimento integral do ser humano é que se faz necessária a inclusão, no Plano Nacional de Cultura, de propostas que garantam a democratização do acesso à leitura e à escritura para todos os brasileiros.

O PNLL, avaliado e aprovado após três anos de sua implantação pela Pré-Conferência do Livro, Leitura e Literatura, sustenta que o melhor caminho para o acesso à leitura no Brasil é por intermédio da biblioteca de acesso público, seja ela escolar pública ou comunitária, na zona urbana ou rural, porque ela, quando bem estruturada, é:
• Centro de educação permanente, única forma de acesso ao livro e à informação na maioria dos municípios brasileiros;
• Centro de memória das cidades, que preserva e dá acesso à história e à cultura universal e local;
• Centro cultural, que pode agregar às suas atividades e serviços o diálogo com outras linguagens artísticas;
• Promotora do letramento, que é condição importante para o acesso a outras linguagens artísticas e às novas tecnologias.
Assim, pedimos sua atenção e apoio para as seguintes propostas, nos eixos 2 e 5, elaboradas e legitimadas pela Pré-Conferência do Livro, Leitura e Literatura:

Eixo 2 – Cultura, cidade e cidadania:

Garantir para toda a população urbana e rural, em sua diversidade, a criação, a manutenção e a sustentabilidade de bibliotecas públicas, comunitárias, itinerantes e escolares da rede pública e outros espaços de leitura, com quadro de profissionais qualificados que permitam o acesso à leitura literária, científica e informativa, em seus diversos suportes (livros, jornais, revistas, internet, livro acessível, em Braille, áudios-livro, equipamentos visuo-espaciais etc.), informatizadas, em rede, integradas e dinamizadas por mediadores de leitura.

Eixo 5 – Gestão e institucionalidade da cultura:

Consolidar o PNLL (Plano Nacional do Livro e da Leitura), por meio de mecanismos legais e da garantia dos recursos orçamentários; criar o Instituto Nacional do Livro, Leitura e Literatura, e incentivar a implantação de planos e fundos estaduais e municipais, mediados pelos Conselhos Estaduais e Municipais de Política Cultural, assegurando o controle e a participação social e criando um sistema de condicionamentos e contrapartidas previstas nos demais programas sociais do governo federal para as instâncias responsáveis pela institucionalização das políticas públicas; fortalecimento do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas Municipais.

Em resumo: a aprovação de propostas que garantam e viabilizem o acesso ao livro, à leitura, à literatura, e promovam a conseqüente melhoria do índice de letramento dos brasileiros, aliadas à consolidação institucional do PNLL e à criação de novos órgãos de gestão eficiente nesta área da cultura, vai ao encontro e potencializa toda ação proposta pelos vários segmentos representados nessa Conferência.

Brasília, 13 de março de 2010.

Fonte:
Neida Rocha

Estante Virtual presente em 50 cidades de 22 a 26 de Março

Depois de revolucionar a Bienal do Livro no Rio de Janeiro com o serviço de troca de livros, vai novamente materializar a Estante Virtual! E dessa vez não será em apenas um lugar, mas em 50 cidades ao mesmo tempo!

De 22 a 26 de março, a Estante vai ter postos de busca em mais de 70 universidades de todo o país. De Pelotas/RS a Boa Vista/RR, os stands serão pilotados por sebos, livreiros virtuais e até mesmo leitores, que se engajaram nessa divulgação, como a Samia, de Rio Branco/AC, e o Tiago, de Santa Maria/RS.

Em cada posto de busca, os visitantes vão se deparar com um desafio: descobrir um livro que não esteja no portal! Isso mesmo, o desafio agora é achar algum título que não está na Estante.

Quem conseguir realizar a proeza, preencherá um cupom eletrônico para concorrer a R$100 em livros por posto de busca. E, claro, para tornar as coisas mais emocionantes, o tempo será limitado: 1 minuto, medido por uma ampulheta (de verdade, com areia!), que será também presenteada ao ganhador, como troféu. Já quem encontrar todos os livros que procurar (o caso mais comum!) também vai concorrer a 10 vales de R$ 100 em livros, estes sorteados entre todos os visitantes, de todos os 70 stands. Os nomes dos ganhadores serão divulgados no blog no dia 31/03/2010

O objetivo disso tudo é mostrar para todo o país que os sebos brasileiros, com acervos reunidos aqui na Estante, têm todos os tipos de livros. Ou seja, não servem apenas para se procurarem raridades, como muita gente boa ainda pensa, mas para qualquer demanda de livro. Seja ele lançado há 10 anos ou há poucos meses, seja ele um livro comum ou um best-seller, via de regra você pode comprá-lo nos sebos - e por um preço muito mais acessível do que nas livrarias!

Acompanhe na próxima semana, no blog da Estante , toda essa movimentação nacional! Vamos postar fotos e vídeos de toda a parte do Brasil. Veja também o regulamento da campanha e a lista das mais de 70 universidades com postos de busca.

André Garcia
Criador / Diretor
http://www.estantevirtual.com.br/

PS: As cidades em que se materializará:
Aracaju/SE,
Belém/PA,
Belo Horizonte/MG,
Boa Vista/RR,
Brasília/DF,
Camaçari/BA,
Campina Grande/PB,
Campinas/SP,
Campo Grande/MS,
Canoas/RS,
Criciúma/SC,
Cuiabá/MT,
Curitiba/PR,
Dourados/MS,
Florianópolis/SC,
Fortaleza/CE,
Goiânia/GO,
Ijuí/RS,
Iratí/PR,
João Pessoa/PB,
Juiz de Fora/MG,
Leme/SP,
Londrina/PR,
Macapá/AP,
Maceio/AL,
Manaus/AM,
Maua/SP,
Natal/RN,
Palmas/TO.
Pelotas/RS,
Petrópolis/RJ,
Piracicaba/SP,
Porto Alegre/RS,
Porto Velho/RO,
Recife/PE,
Ribeirão Preto/SP,
Rio Branco/AC,
Rio de Janeiro/RJ,
Salvador/BA,
Santa Maria/RS,
São Bernardo do Campo/SP,
São José dos Campos/SP,
São Leopoldo/RS,
São Luis/MA,
São Paulo/SP,
Sorocaba /SP
Teresina/PI,
Tubarão/SC,
Uberlândia/MG,
Vitória da Conquista/BA,
Vitória/ES,

Fonte:
Newsletter da Estante Virtual. edição 30.

Nilton Manoel (Trovas Avulsas)

Canta o galo, nasce o dia!
do chão da praça sem nome,
põe num canto a moradia,
para lutar contra a fome.

vida com seus mistérios
mostra-nos e muito bem
que no Poder, homens sérios,
são sérios se lhes convém.

Dia da árvore, na escola,
faz-se festa às derrubadas;
a folhagem, sempre amola
sujando pátio e calçadas.

O mundo vive pedante;
grita e clama por socorro!
Gasta-se alto a todo o instante,
Não com gente... com cachorro!

Casa velha, quanto encanto!
tem cobras, cupins, lagartos...
uma história em cada canto
e fantasmas pelos quartos.

Na feira da corrupção
dois produtos têm destaque:
-laranja na execução;
pepino na hora do baque!

Meu filho só dá trabalho...
diz, na escola, o pai irado!
e o mestre olhando o pirralho...
por isto estou empregado!
======
Fonte:
Colaboração do autor

Nilton Manoel



Poeta e prosador, normalista, pedagogo, especialista em Educação, contabilista, jornalista; dedica-se a artes visuais, a numismática e a filatelia.

Autor de Didática da Trova, Cem anos de jornalismo escolar, co-autor de Alfabetização e Letramento. No momento pesquisa a importância dos textos literários do programa Ler e Escrever e a didática poética dos textos do PNLD de 2010.

Pertence a Institutos Históricos e Geográficos, clubes de leitura e entidades de genealogia, Academia Virtual Brasileira de Letras, Academia Brasileira Poesia. Pertenceu a grupos de teatro e a Escola Municipal de Belas Artes.

Foi produtor e apresentador radiofônico de Cultura em Movimento, ex-Conselheiro Municipal de Cultura (3 gestões).

Em Educação: coordenou um dos núcleos do Mobral; ex-PCP da DRE/SP. Cursista dos projetos: Ipê, Profa, Letra e Vida, Teia do Saber, Escola Cidadã, Circuito de Gestão, Tecendo Saberes, TDAH, informática educacional básica e avançada, etc.

Tem comendas e prêmios recebidos.

Realiza, anualmente, os Jogos Florais Internacionais e Estudantis de Ribeirão Preto.

Livros reeditados: Cenas Urbanas, Trovas da Juventude; Caviar, Gororoba e Sal de Frutas, Sandálias de Peregrino, Poesia Mágica.

Fonte:
Colaboração do autor

sexta-feira, 19 de março de 2010

Trova 129 - Sinclair Pozza Casemiro (Campo Mourão/PR)

Antonio Abel Fernandes (Cascata Poética)

INSPIRAÇÃO

Novamente estou feliz hoje...
A alegria chegou no meio da madrugada
Como uma gaivota de asas prateadas
Planando leve como pluma ao vento...
Chegou como chega uma saudade,
Como chega uma verdade...

Como chega um esperado momento...
Chegou silenciosa...
Como pétala de rosa
Desprendida
E livre...

Chegou como uma folha de outono
Carregada pela brisa fresca e perfumada...

Chegou como um fiapo de algodão ao vento...
Como um leve e etéreo pensamento...
Como o sonho de uma criança feliz...
Como o som de palavras que um jovem enamorado diz
À sua amada...

Chegou como o eco de uma música distante...
Como o canto de um pássaro errante...
Como a primeira gota de chuva em terra quente...
Como o brilho fugaz e tremulante
De uma estrela cadente...

Chegou discreta,
Sem ruído...
Como chega o poeta
Em sua mesa predileta...
Num cantinho qualquer
De um bar
Por aí, perdido...

Chegou de mansinho
Como águia em seu ninho,
Como chega ao telhado o passarinho...
Mas chegou para ficar!
Pois aqui é o seu lugar!

RESPIRAÇÃO

De uns tempos para cá
Estou sentindo algo inusitado!...
Sinto-me feliz, em paz e relaxado!...

Já não me preocupo mais com o presente,
Nem com o futuro...
Esse tirano obscuro
Esse algoz inexorável
Que arrasta tanta gente
A um sofrimento inútil e interminável...

Nem me preocupa mais o meu passado...
O que fiz ontem de certo ou de errado
Tudo já caiu no esquecimento...
Creio até que já fui perdoado!

O amanhã, para mim,
Já não é mais assustador!...
Já não sinto mais aquele medo de doença ou “dor”...
Ouço apenas as batidas do meu coração...
E o ruído agradável e aveludado
Da minha respiração...

Há, sem dúvida alguma
Uma ligação
Entre o meu respirar
E o pulsar
Compassado
Do meu coração...

É no meu respirar que está o mistério,
O segredo
E o sagrado...
Durante o dia eu pratico uma respiração ritmada...
O ar entra e sai dos meus pulmões
Como o descer e o subir harmonioso
Dos degraus de uma perfeita escada!...

De uma forma tranqüila, sem pressa.
E sem agitações...
Sinto uma energia boa percorrendo a espinha...
E uma alegria
Diferente
Que é só minha!...

Creio que é nesta minha habitual atitude
Que está o segredo do meu bem-estar continuado...
E do meu prazer de viver
Pleno de saúde,
Sem tédio e sem enfado!...
--------------
Fonte:
Colaboração do poeta.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Trova 128 - Marcelo Zanconatto (São Paulo)

Antonio Manoel Abreu Sardenberg (Meu Velho Pião)


Peguei a fieira fina,
Enrolei no meu pião.
Dei um impulso com o pulso
Lancei o brinquedo ao chão.
Vi meu passado girando
E aos poucos fui lembrando
As voltas que vida dá
E que não podem voltar
Como o giro de um pião!

Gira, meu velho pião,
Não perca tempo com o tempo
Pois que a vida é momento,
O resto é só ilusão...

Não adianta remorso
E nem arrependimento...
O que girou, já girou,
O passado já passou,
Pode esquecer que é besteira,
É pião que foi lançado
E com o punho arremessado
Pela ponta da fieira...
_______________

Fonte:
Colaboração do Poeta

Orlando Silva (Pião)


Tempo alegre de menino
Cheio de sonho e ilusão
Acreditava na vida
Ria e jogava pião
Mas tu foste no meu destino
Um brinquedo multicor
A minha ilusão perdida
Um lindo sonho de amor

O pião corre assim na calçada
A rodar, a rodar, a rodar
Eu invejo a feliz garotada
A salvar, a cantar, a brincar
O destino puxou a fieira
Desse pobre romance de amor
Hoje eu fico tristonho a chorar
E tu segues na vida
A rodar, a rodar
---------------------
Fonte:

Beatriz Nassif (O Pião)



O filho ganhou um pião do pai que lembrou como ficou feliz quando ganhou seu primeiro pião de seu pai. O filho falou “Legal” e logo perguntou:

- Isso é uma escultura de pêra?
-Não! Isso é um pião!
-Ah! Uma escultura de pêra se chama peão! E eu achando que peão era uma peça de xadrez!
-Filho, peão é uma peça de xadrez.
-Ah!
- Entendeu agora?
-Sim. Peão tem mais de um significado!
- Pelo amor de Deus! Isso é um pião, mas se escreve com “i”.
- Ah! É um “pião”! E como é que se usa?
- Filho, para usar um pião, você enrola uma cordinha no pião, que vem no pacote, e solta, assim ele começa a girar.
- Ah! Que nem os que vêm nos salgadinhos, só que nesse tem cordinha.
- É, mas o dos salgadinhos é sem graça! Até que enfim você entendeu!
- Pai!

O pai pensou “Ai meu Deus” e disse:

- O que filho?
- Porque você não me deu as instruções? É bem mais fácil!
- Porque não tem.
- Mas por quê?
- Porque…- ele pensou que ia dar o maior trabalho para explicar e disse:
- Deixa pra lá.

Depois de um tempo, o pai encontrou o menino na frente da tevê, com o pião novo ao lado, mexendo nos controles do videogame. Algo chamado “Monster Top” (pião monstro). O pai pensou: “Na próxima vez vou dar um carrinho…” Ele olhou novamente para o menino e continuou pensando: “Pensando bem, um videogame com carrinho”.
__________
Baseada na crônica Bola, de Luís Fernando Veríssimo

Fonte:
http://beatriznassif.wordpress.com/2008/10/23/o-piao/

Célio Simões (Um desastrado jogo de pião)


Todo dia a exasperante rotina se repetia. Eu tinha que seguir pela rua Dr. Machado até a Farmácia Esculápio, esquina com a Bacuri, descer com o freio de mão puxado no rumo da beira, dobrar a direita no Chocron e entrar na “Casa Careca”, para comprar cinco pães e cem gramas de manteiga marca “Aviação”, acondicionadas em latas amarelas. Depois de pesada, era embrulhada numa praga de papel celofane, do qual escorria para o meu braço parece mingau de crueira, derretendo a olhos vistos sob o implacável calor da manhã. E eu ainda aturava o repetitivo chiste de rima pobre do italiano:

- Seu Caporal, quero cinco pães.

- Pães não hães!

Que lindo! A mesma graça, entra ano sai ano. Feita a compra, tinha início o percurso contrário. Subida da ladeira da Dr. Machado a partir do Chocron, cheiro de morcego exalando do solar do Barão do Solimões, uma parada para ver seu Galúcio soldando peças feitas no torno com perfeição de artista, olhos protegidos da chuva de centelhas incandescentes com óculos pretos de escafandro. Depois, nova parada para observar como estava o guarda-chuva do padre do velho Vidal. Lembram dele?

Segundo apregoava seu sócio Crispim, um sujeito branquelo, careca e bonachão, a quem faltava um generoso pedaço da orelha esquerda, esse sacerdote era sábio na previsão do tempo. Pregado na parece do interior da mercearia, a miniatura do religioso envergando batina preta e um inseparável guarda-chuva constituía atração à parte. Quando o sol estava a pino, o equipamento inclinava-se para trás, evidenciando ser dispensável; quando o toró se aproximava, o mesmo retornava a sua posição normal, protegendo o beato do aguaceiro que se avizinhava. Na verdade, tudo era controlado por um bastão de mercúrio, que oscilava ao sabor da temperatura ambiente. Para mim, moleque abestado, o tal padre era a quintessência da prestidigitação, espécie de segredo insondável que os donos da loja guardavam a sete chaves e morreram sem me revelar.

Depois dessas estratégicas paradas, a descida pela rua de terra até em casa, passando em frente ao Grupo Escolar José Veríssimo, até que era rápida. Nessas alturas, porém, o feixe de cinco pães enrolados numa tirinha miserável de papel já se soltara e não raro algum caía pelo chão, incômodo que era secundado pela melequeira geral da manteiga se espalhando por todos os lados, prenúncio de ralho ou coisa pior por parte de d. Lady. Mas o que realmente me invocava era a postura daquele sujeito, ar superior, sentado calmamente na calçada da casa do seu José Batista, vendo meu desespero, sem poupar-me do desafio:

- E aí Célio, a gente vai ou não jogar pião hoje?

O cara vivia me enchendo a paciência. Éramos vizinhos e parceiros de aventuras durante o verão, quando o vento arfante do Laguinho estufava nas alturas os coloridos papagaios empinados, porfiando entre si fiados na eficácia das linhas enceradas com vidro de magnésia moído no pilão, supostamente o melhor que existia. No jogo de peteca demonstrávamos quase a mesma habilidade, ora eu ganhando, ora ele, de modo que nunca nossos estoques de “bolivianas” ficaram desfalcados por uma que outra imprevisível derrota. Porém, o seu ostensivo desafio no jogo de pião tinha uma clara razão de ser. Ele era dono de um alentado pião do melhor jacarandá feito no torno, cujo certeiro e preciso arremesso com linha americana o tornou imbatível entre os moleques que freqüentavam o antigo matadouro. Por sua notória perspicácia, sabia ele que eu não dispunha de um igual ao seu, nem de dinheiro para comprar de quem quer que seja, fato que o estimulava às constantes provocações.

Naquele ano de 1958, quando o Brasil pela vez primeira ganhou a Copa do Mundo com um timaço de fazer inveja a esse simulacro de Seleção que hoje existe (Gilmar, Djalma Santos, Belini, Orlando e Nilton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Pelé, Vavá e Zagalo), o Amazonas foi de uma generosidade franciscana para com os obidenses. No trapiche em frente à usina da Companhia Paulista de Aniagem, onde se prensava toda a juta da região, fila de estivadores bamburravam na captura do jaraqui, com o sincronizado bailado de suas tarrafas antes de mergulharem no caudal barrento, para voltarem à superfície prenhes do peixe símbolo dos Pauxis. Menino pra todo lado gritando “pega o resto!” a cada lance mais ousado dos tarrafeadores; outros juntando as sobras para um cozido na mesa modesta dos moradores do Cariazal; outros mais, simplesmente se refrescando no banho gostoso do traiçoeiro remanso e o sujeito lá, olhando-nos de cima para baixo, escorado no poder do belo pião enfiado na ilharga do calção, pronto para o enfrentamento, mesmo ali sendo lugar de pescaria e não de uma disputa terrestre.

Paciência tem limite. Aquilo não podia continuar. Fui me aconselhar com o “Rato Branco”, serviçal da casa do Silvestre Reis, escrachado até no apelido, que tinha o diabo no couro mas sabia das coisas, tanto que era respeitado pelos demais porque era bom de porrada e (diziam) introduzira sob a pele do braço direito uma veia de poraquê, que o tornava imbatível nas competições de queda de braço na fila do mercado. Contei-lhe meu problema. Disse que aquele camarada, ao mesmo tempo meu amigo e meu vizinho, sonhava em duelar comigo num jogo de pião, mas eu não dispunha de nenhum, nem de dinheiro para comprar. Terminado o relato, ouvi compenetrado as orientações do ilustre roedor:

- Tem mesa ou cama de madeira na tua casa?
- Claro. Meus pais iam comer ou dormir aonde?
- Claro uma p... Não chateia. Tu quer ou não o conselho?
- Por que essa pergunta sobre a mesa e a cama?
- Tem serrote na tua casa?
- Tem. Mas espera aí. O que mesa, cama e serrote têm a ver com jogo de pião?
- Tu faz o seguinte. Pega o serrote, serra o pé da cama, acerta as bordas com um terçado e coloca um prego na ponta que vira um pião. Se não der, leva pro seu Inácio, bem no lado da Igreja, que ele fabrica caixão de defunto e faz pra ti. Quando ele te desafiar, pode disputar que tu vai acabar ganhando...

Com aquela idéia, larguei a pescaria de jaraqui e entrei furtivamente em casa, esgueirando-me no rumo do quarto dos meus pais. Lá estava a bela cama e para minha sorte, os quatro pés já eram torneados em formato de cone invertido, tornando desnecessária a tarefa de usar o terçado. Arranjei o prego, cortei a cabeça com um alicate, amolei na calçada e fiquei de tocaia esperando todo mundo sair para que o serrote, de ruído escandaloso, fosse utilizado. A chance apareceu quando meus velhos foram fazer compra na “A Pernambucana”, que recebera um enorme estoque de casimira “Aurora” e a Risete avisou que o preço estava uma pechincha. Apanhei a serra e decepei o pé da cama, que obviamente ficou capenga. O jeito foi quebrar um pedado do muro do quintal da dona Domingas, mãe da d. Maria Menezes (precursora das modernas cabeleireiras, ela frisava as madeixas das moças com água quente e não raro uma delas ia para a festa sem um pedaço do couro cabeludo...), nivelando-a na parte posterior, próximo à parede, para que ninguém notasse o estrago. Consegui com o Amadeu, vizinho e comandante do “Sialpe”, um pedaço de linha americana e me senti pronto para duelar com meu antagonista.
Sete e meia da manhã, um sol desmaiado surgiu atrás da Serra da Escama. Morto de preguiça fui tangido para meu dever cívico de comprar os pães e a abominável manteiga na padaria do Careca.

- Seu Caporal, quero cinco pães.
- Pães não hães!

Carcamano f.d.p. um dia tu me paga, pensei. Comprei os pães cacetes e a praga da manteiga “Aviação” que logo viraria mingau e voltei no mesmo passo. Vi seu Galúcio fabricando soldando suas peças na oficina e o padre do velho Vidal tentando cobrir a cabeça num sinal claro que iria chover. Passei pelo quintal do Dr. Emanoel Rodrigues e olhei a quantidade de motores de popa prontos para a próxima caçada de pato do mato, esporte favorito do famoso advogado. Confronte à esquina do José Veríssimo lá estava ele, posudo, com seu pião de jacarandá. Na oportunidade, novo repto me foi lançado:

- E aí Célio, é hoje?
- Como tu quiser. Agora já tenho meu pião...

Deixei na parte que me pareceu mais limpa da calçada os pães e a nojenta da manteiga, riscamos um círculo no chão para “tirar o ponto” e demos início à peleja. Infelizmente perdi (ele era mesmo um craque...) e meu pião feito da perna da cama dos meus pais foi para a roda. Em seguida, após enrolar caprichosamente a linha americana no seu garboso artefato, como que sorvendo prazerosamente cada segundo da minha angustiante expectativa, mirou, aprumou e soltou o golpe fatídico com tamanha violência, que a ponta de ferro do petardo penetrou na frágil peça de cedro improvisada, ficando encravada na mesma, inutilizando-a por completo. Adeus pé da cama, que nunca mais recuperou a performance, nem com o reparo que lhe fez o carpinteiro Vevé.

Julho de 2008. Eu acabara de jogar a preliminar de Mariano X Paraense no Estádio Ary Ferreira, em Óbidos, num calor dos infernos. Troquei de roupa e junto com o Sérgio, meu filho, posicionamo-nos na arquibancada para assistir o prélio entre as equipes titulares desses famosos times locais. Com a voz embargada por incontáveis doses da tinhosa, eis que aparece meu velho opositor, deu-me um abraço e sem meias palavras lançou dessa vez um outro desafio.

- Precisas escrever sobre o nosso jogo de pião, quando tu serraste o pé da cama do teu pai... mas não te esquece que fui eu que ganhei!
- Mas como eu vou contar um negócio que nem me lembro mais?
- Te vira, apela pra tua memória, mas não esquece. Meu pião inutilizou o teu!

No Baile dos Pauxis tornei a encontrá-lo, acompanhado de sua digna esposa. Lá mesmo comecei a reconstituir os fatos, tarefa interrompida com justiça pelo desfile de Monique, a bela Garota Óbidos 2008. Meu estimado amigo João Cândido de Amorim Pinto, não se trata de proselitismo de perdedor, porém, cinqüenta anos depois daquela peleja, está resgatado meu compromisso de narrar o episódio tal como ele aconteceu. Em contrapartida você, sempre brilhante em tudo que faz, ainda tem na consciência um pecado a ser remido. A responsabilidade, embora indireta, por uma cama de apenas três pernas, que me custou uma senhora surra com corda de manilha e até hoje não sei que fim levou.

Fonte:
http://www.obidos.com.br/

quarta-feira, 17 de março de 2010

1a. Bienal do Livro do Paraná



No dia 10 de março aconteceu, no Estação Convention Center, o coquetel de lançamento da 1ª Bienal do Livro do Paraná.

Bienal do Livro do Paraná acontece em Curitiba em outubro de 2010. Evento segue os moldes consagrados da Bienal do Livro do Rio de Janeiro: uma grande festa da Cultura, Literatura e Educação.

De 1º a 10 de outubro de 2010, Curitiba será a capital da literatura. A cidade vai receber a Bienal do Livro do Paraná, no Estação Embratel Convention Center.

A Bienal será uma realização da Fagga Eventos, em conjunto com o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e a Câmara Brasileira do Livro (CBL).

O objetivo do evento é incentivar o hábito da leitura e democratizar o acesso aos livros e a literatura, fortalecendo a Educação e a Cultura no país. A Bienal do Livro do Paraná seguirá o modelo já consagrado da Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro, que em 2009 chega à sua 14ª edição, e das Bienais do Livro de Minas Gerais e da Bahia, sendo muito diferente do evento literário recentemente realizado em Curitiba.

Uma grande festa do livro. Assim será a Bienal do Livro do Paraná. Uma vasta programação cultural, direcionada para todos os públicos – de todas as idades – irá proporcionar o encontro dos leitores com seus autores, incluindo palestras, debates, sessões de autógrafos e visitação escolar. A expectativa é receber, durante os 10 dias de evento, público de aproximadamente 200 mil pessoas – sendo 40 mil alunos de escolas da rede pública e privada. O evento ocupará dois auditórios do Estação Embratel, um total de 246 metros quadrados de área. São esperados 60 expositores na edição de 2010. Uma das grandes atrações da Bienal será o Café Literário, palco de encontros informais e descontraídos entre autores e público. A programação diversificada possibilita que sejam apresentados temas como humor, processo criativo e preferências literárias, entre outros.

Com foco no público infanto-juvenil, a Bienal vai oferecer uma série de atividades especiais que irão estimular o prazer pela leitura. Uma área será transformada no Circo das Letras, com direito a picadeiro e luzes coloridas, onde serão realizadas oficinas de leitura e apresentação de contadores de histórias.

O evento contará com uma diversificada programação cultural, incluindo a atração Café Literário, que vai reunir autores e público em um bate-papo e debates sobre diferentes temas. A bienal acontecerá no Estação Embratel Convention Center. A curadoria do evento está nas mãos do jornalista Rogério Pereira, fundador do jornal literário Rascunho. A promoção é da Fagga Eventos, também responsável pela tradicional Bienal do Livro do Rio de Janeiro. A edição paranaense recebe o apoio do Sindicato Nacional dos Editores de Livros e da Fundação Cultural de Curitiba.

Segundo Andréia Raspold, vice-presidente da Fagga Eventos, a Bienal do Livro Paraná já era um sonho antigo da empresa e que agora poderá ser concretizado. “O nosso foco é trabalhar o autor e o livro. A ideia é fazer um evento atrativo, que chame as pessoas e que elas se divirtam. Não queremos somente o público leitor, mas também formar leitor”, comenta.

A programação também tem foco no público entre 7 a 13 anos por causa deste objetivo. Haverá atividades infantis e também o Arena Jovem, um espaço voltado para a interação dos jovens com autores e personalidades. A atração Circo das Letras vai despertar o prazer pela leitura de uma forma lúdica. A Bienal do Livro Paraná ainda possui o projeto Visitação Escolar, para a participação de alunos do Ensino Fundamental das escolas municipais, estaduais e particulares da cidade. Especificamente para os estudantes da rede pública, o valor do ingresso será trocado por um voucher. Este poderá ser utilizado na compra de um livro nos estandes das editoras presentes. Para participar da iniciativa, as escolas devem enviar projetos pedagógicos, como a criação de um Clube do Livro na sala de aula. Uma maneira de formar isto é a aquisição de um livro diferente por cada estudante. Os professores terão acesso livre à bienal.

Serão 10 dias de evento, com expectativa de reunir 200 mil visitantes durante toda a bienal. A programação final, com as atrações especificadas, deve ser divulgado um mês antes da realização da Bienal do Livro Paraná. A Fagga Eventos também é responsável pelas bienais do livro de Minas Gerais e Bahia, além da do Rio de Janeiro, promovida há mais de duas décadas.

O diretor de marketing da Fundação Cultural de Curitiba, Eduardo Pimentel Slaviero, afirma que a Bienal do Livro Paraná vai resultar em benefícios para a cidade. De acordo com ele, toda ação que incrementa as áreas literária e cultural da cidade vai contar com o apoio da Prefeitura de Curitiba, por meio da fundação. “Este é um evento muito importante para a cidade porque coloca Curitiba em evidência no cenário nacional. Esperamos que a bienal tenha sequência aqui em Curitiba, como acontece com a Bienal do Rio”, revela. A Fundação Cultural de Curitiba tem intensificado ações na área da literatura, com programas de incentivo à leitura e produção literária, mediante oficinas, cursos e palestras.

Serviço:

Bienal do Livro do Paraná

Data: 01 a 10 de outubro de 2010

Local: Estação Embratel Convention Center – Avenida Sete de Setembro 2.775 - Curitiba

Realização: Fagga Eventos, Sindicato Nacional dos Editores de Livros – SNEL, Câmara Brasileira do Livro – CBL. Mais informações: www.bienaldoparana.com.br

Fonte:
Simultaneidades.

Roberto de Souza Causo (Anjo de Dor)


artigo de Gian Danton para o Digestivo Cultural.

Até há pouco tempo existia um grande preconceito contra a literatura de terror brasileira. Acreditava-se que uma história passada em São Paulo, com personagens com o nome de Ricardo, não conseguiriam chegar aos pés dos livros escritos nos EUA, com personagens chamados, por exemplo, Richard. Era um preconceito que dominava a literatura do gênero, incluindo a ficção científica. Editoras colocavam banners em seus sites com os dizeres: "Não aceitamos originais de ficção científica" ou "Não aceitamos originais de terror".

Felizmente as coisas mudaram, e muito. O sucesso dos vampiros de André Vianco (Os sete) e da fantasia de Orlando Paes Filho (série Angus) abriu os olhos das editoras para os talentos nacionais. Graças a isso, podemos hoje ler obras como Anjo de dor (Devir, 2009, 212 págs.) de Roberto de Sousa Causo.

Roberto Causo é um dos mais importantes e respeitados nomes da literatura desse gênero, no Brasil. Começou a publicar profissionalmente no início da década de 1990, mesmo período em que organizou a I Convenção de Ficção Científica do Brasil, em Sumaré, São Paulo. O evento contou com a presença do badalado escritor Orson Scott Card. Roberto foi um dos classificados no Concurso de Contos Jerônymo Monteiro, promovido pela célebre Isaac Asimov Magazine, editada pela Record, que marcou época, influenciando toda uma geração de fãs e escritores. Colaborou com a revista publicando, além de contos, entrevistas e resenhas.

Desde então, tem publicado textos sobre o gênero de horror nos mais diversos veículos, de Playboy à Cult. Também é um conhecido organizador de coletâneas, como Dinossauria Tropicalia (GRD, 1994), Rumo à Fantasia (Devir, 2009) e Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Científica (Devir, 2008), além de ter publicado romances, como A corrida do rinoceronte (Devir, 2006).

Anjo de dor, sua mais recente publicação, mostra que o preconceito contra o horror nacional é apenas isso: preconceito. Causo começou a escrevê-lo em 1990, num barracão que foi o que restou da cozinha e do banheiro da casa de seus pais, derrubada pela prefeitura de Sumaré para ampliação de uma avenida. Antes dele, quem ocupava o lugar era um ex-pugilista chamado Ricardo. O texto era escrito de madrugada, em uma velha máquina Olivetti. O clima em que foi escrito certamente influenciou a obra. O ex-pugilista deu nome ao protagonista, um barman de uma casa noturna, e a história se passa toda em Sumaré.

Anjo de dor inicia com a chegada à cidade de uma cantora talentosa e bonita, mas repleta de mistérios, Sheila Fernandes. O responsável por pegá-la na rodoviária é justamente o barman Ricardo. Começa aí uma relação de paixão e desconfiança que desembocará no terror quando o passado da cantora a alcançar.

O romance tem óbvia influência de Stephen King (o filme Cemitério Maldito é inclusive citado em um trecho em que o protagonista vai ao cinema, e a primeira epígrafe do livro é justamente de King), inclusive no estilo, mais próximo do chamado dark fantasy (em que uma narrativa aparentemente realista vai se distorcendo até ser dominada por elementos fantásticos) do que do terror puro. No livro O cemitério maldito, de King, acompanhamos a vida normal de um médico, salpicada aqui e ali de elemento de terror, como um pesadelo, ou a história de um cemitério de animais de estimação, capaz de fazê-los renascer. O terror em si só começa muito lá na frente, quase no meio do livro, mas aí já estamos plenamente fisgados pela história, simpatizando com os personagens como se fossem vizinhos. King usa muito bem o realismo na primeira parte, para introduzir aquilo que os roteiristas de cinema chamam de suspensão de descrença: a partir de determinado ponto, o leitor acreditará em qualquer coisa.

Anjo de dor segue uma estrutura semelhante. A trama fantástica propriamente dita só começa na página 73. Até ali acompanhamos Ricardo em sua vida aparentemente contraditória de homem capaz de usar a violência a qualquer momento, mas, ao mesmo tempo, vegetariano.

Antes disso, há pequenos elementos de suspense, que deixam entrever o desenlace, como na página 50: "Fugindo. Sheila, aos gritos no salão superlotado, para os ouvidos de todos, dizia-lhe que estava fugindo. De quem, ou de quê?", que procuram manter o interesse. São poucos e o leitor mais apressado talvez largue o livro pela metade. Se persistir, encontrará uma trama envolvente, um thriller de perder o fôlego e um livro muito bem escrito.

O domínio da narrativa ajuda a manter o leitor. Frases como "O silêncio da cidade adormecida é o silêncio das histórias não contadas" lembram Alan Moore (que revolucionou o terror com Monstro do Pântano na década de 1980) e ajudam a manter o leitor enquanto a trama não engrena.

Uma curiosidade da história é a inclusão, na trama, de elementos de espiritismo. Esse talvez seja um diferencial do terror nacional. O Brasil é o único país em que o espiritismo fez sucesso como religião, talvez por conta das influências indígenas e negras. O brasileiro, mesmo o católico, acredita em comunicação com espíritos com uma naturalidade que não é encontrada em outros países, muito menos no racional EUA, lar da maioria dos escritores de terror de sucesso. O próprio King já disse que não acredita em espíritos e não tem nenhum interesse na comunicação com eles.

Roberto Causo parece não só acreditar em espíritos, como tem com eles uma relação de naturalidade kardecista. É como se o romance dissesse: o terror não está no mundo dos espíritos, mas no coração dos homens encarnados.

Anjo de dor é, portanto, um livro que não se prende a simplesmente copiar o terror norte-americano, embora, evidentemente, o autor tenha aprendido muito bem com ele. E, mais do que um bom livro de terror, é uma boa obra.

Fonte:
Digestivo Cultural. 22/02/2010

Retratos da Leitura revela que brasileiro está lendo mais



O brasileiro lê, em média, 4,7 livros por ano. Este é um dos principais indicadores a que chegou a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, encomendada pelo Instituto Pró-Livro ao Ibope Inteligência. O estudo constatou que somente a leitura de livros indicados pela escola, o que inclui os didáticos, mas não só, chega a 3,4 livros per capita. A leitura feita por pessoas que não estão mais na escola ficou em 1,3 livro por ano.

Em algumas regiões, esse número é ainda maior, como é o caso do Sul, onde foram apurados 5,5 livros lidos por habitante/ano. Em seguida, vem a região Sudeste (4,9), o Centro-Oeste (4,5), o Nordeste (4,2) o Norte (3,9). Os leitores lêem mais nas grandes cidades (5,2 livros por habitante/ano) do que nas pequenas localidades do interior (4,3 em municípios com menos de 10 mil habitantes). A pesquisa também confirma que as mulheres lêem mais que os homens – 5,3 contra 4,1 livros por ano. Os jovens leitores ganham destaque na pesquisa. O público entre 11 e 13 anos chega a ler 8,6 livros por ano. De 5 a 10 anos, lêem 6,9 e de 14 a 17 anos o volume é de 6,6 livros por ano.

Essa média sobe entre os que possuem maior escolaridade. Entre aqueles que possuem formação superior, ela é de 8,3 livros/ano. Esse número é de 4,5 livros para quem tem ensino médio completo, 5 para quem cursou entre 5ª e 8ª série do ensino fundamental e 3,7 para quem tem até a 4ª série.

A Retratos da Leitura no Brasil também constatou que, apesar dessa média de leitura, os brasileiros não compram muitos livros: 1,1 livro adquirido por ano (as compras no mercado, por sinal, aparecem empatadas com os empréstimos particulares no quesito principal canal de acesso aos livros). O Brasil possui 36 milhões de compradores de livros e, entre eles, a média é de 5,9 livros exemplares adquiridos por ano.

Por se tratar de uma nova metodologia desenvolvida pelo Centro Regional de Fomento ao Livro na América Latina e no Caribe (Cerlalc/Unesco), que incluiu crianças e adolescentes com menos de 15 anos e pessoas com menos de três anos de escolaridade, os novos números não podem ser comparados com aqueles apurados na primeira edição, em 2000. Para efeito de estudo sobre o comportamento leitor da população, o Ibope separou uma amostra semelhante (população acima de 15 anos, com mais de três anos de escolaridade e que leu pelo menos um livro nos três meses anteriores). Nesse grupo – que não dá para ser extrapolado para o conjunto da população – o índice cresceu de 1,8 para 3,7 por habitante.

Fonte:
Jornal Guatá – Cultura em movimento. Foz de Iguaçu.