sábado, 13 de novembro de 2010

Vanda Fagundes Queiroz (Dois Tempos)


Eu ficava à janela olhando o trem.
Qual seria o seu destino?...
Era um fascínio
imaginar, em fantasia,
quanta gente que partia,
enquanto eu ficava à janela olhando o trem.

Hoje voltei. Quis rever meu mundo antigo.
Talvez o anseio de buscar abrigo,
ou a esperança de encontrar comigo,
ou simplesmente ver o trem passar.
Daquela antiga estação,
do meu velho casarão...
nada encontrei, porém.
Onde está a vida que eu achava linda?
Afinal, o que será que resta ainda
de quem ficava à janela olhando o trem?...

Poema Vencedor dos II Jogos Florais de Caxias do Sul, 2010.
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Fontes:
Livreto dos II Jogos Florais de Caxias do Sul 2010, doação da trovadora Therezinha Diegues Brisolla.
Imagem = http://www.camposonline.com.br/

Antonio Brás Constante (Rumo ao Universo, mas olhando para os dois lados antes de atravessar a lua)


Viajar pelo universo ainda é uma utopia, mas com todos os avanços tecnológicos que andam ocorrendo a cada dia, existe uma boa possibilidade de irmos para o espaço muitos antes do que imaginávamos, e com isso ganharmos mais espaço, já que nosso planeta esgotou quase todos os seus recursos (e quem sabe até a paciência de ter que nos levar literalmente nas costas).

Quando finalmente possuirmos a oportunidade de singrar o espaço sideral, muitas coisas poderão acontecer, por exemplo: ao dizer que sua namorada é uma deusa de outro mundo, você poderá estar falando no sentido literal. Ao comentar que daria as estrelas como prova de seu amor, você terá a oportunidade de realmente comprá-las e dá-las de presente (mas não acredite muito nisso). Além dos atuais riscos de seu computador ser invadido, também haverá o risco de seu planeta ser invadido.

Ao invés de dizer que Deus é brasileiro, vão dizer que Deus é terrestre, algo que não será bem aceito por outras raças alienígenas, então será cultuada uma percepção mais abrangente (Belém não será um lugarejo na Terra, mas sim, um lugarejo em algum ponto do espaço), enfatizando que o conceito de Deus é algo realmente universal (porém, a ideia de múltiplos universos paralelos ainda não será muito bem aceita). Ele (Deus) não poderá mais ser apenas a imagem e semelhança de um ser humano do sexo masculino, e passaremos a dizer que Ele é a imagem e semelhança da energia vital, porém desconhecida, que fluí através de todos os átomos, mas que desconhecemos porque ainda não dispomos de instrumentos que possam ver esta belezinha (talvez o LHC com o tempo melhore isso). Esta composição energética que permeia os átomos será a única coisa semelhante entre os diversos seres espalhados pelo universo (pelo menos até esse hipotético momento futuro) e que terão muitas vezes uma estrutura molecular bem diferente de tudo eu conhecemos (sem átomos de carbono, por exemplo).

A exportação de produtos ganhará dimensões nunca antes vistas, e poderemos vender carros que servirão de souvenir no mundo dos gigantes de Urkolls, e chegaremos a lançar um best seller “como destruir seu planeta em poucos milênios”. Nossos produtos sofrerão embargos em alguns sistemas solares por considerarem os mamíferos seres impuros, e muitos humanos não vão querer negociar com as criaturas do planeta Demonita (na realidade “demonita” seria um apelido terrestre, pois o nome do planeta seria “Su UeE’tDa” ou algo parecido com isso) justamente por causa da aparência dos habitantes de lá, que teriam a pele avermelhada, chifres, asas de morcego, rabo, e respirariam enxofre, apesar disso seriam criaturas extremamente pacíficas.

Planetas vegetarianos fariam boicote contra o nosso hábito de comer carne por acharem aquilo uma crueldade contra outros animais, e planetas habitados por plantas humanóides fariam boicotes ao nosso hábito de comer legumes, frutas e vegetais pelo mesmo motivo.

O sonho de muitos terrestres passará a ser algo como ter uma casinha em uma das luas do sistema de Andrômeda, um sistema solar com quatro sóis, recheado de praias paradisíacas e uma atmosfera energética (melhor do que qualquer comprimidinho azul). A expectativa de vida de um ser humano normal que vivesse por lá, seria de aproximadamente 350 anos.

O klengol (misto de linguagem de sinais e ruídos aparentemente de voz) tornaria-se a linguagem universal, mas não seria fácil nos comunicarmos através dela, visto que somente possuímos dois braços e, principalmente, porque não temos cauda.

Apesar de toda tecnologia, ainda haveria riscos de apagões estelares, com atrasos em viagens superiores a da luz (teoricamente possíveis através dos chamados “buracos de minhocas”). A cozinha universal contaria com pratos exóticos, inclusive alguns feitos com carne humana. Por isso em alguns lugares você será muito bem apreciado, acompanhado de batatas e um bom vinho do planeta Mytrax+1.

Enfim, várias adequações terão de acontecer para vivermos em harmonia dentro da nossa futura realidade universal, até o dia em que também seja possível viajar entre os infinitos planos de existência, mas isto já é assunto para um próximo texto (ou não).

Fontes:
O Autor
Imagem = http://www.rfranco.org.br

Colombina (Poesias Avulsas)


VERTIGEM

Uma semana só. Nem mais um dia
durou aquela estranha sensação
que nos aproximava, nos unia...
e amor não era e nem era paixão.

Algo em mim te agradava, te atraía.
Tu tinhas para mim tal sedução
que, tendo-te ao meu lado, eu me sentia
a mulher mais feliz da criação.

Uma semana só... No meu caminho
um vislumbre de sol e de carinho:
uma sombra, talvez, na tua estrada...

Sete dias ardentes de Novembro...
Deves ter esquecido. E eu só me lembro
que nunca fui com tanto amor beijada!

EU

Sou só e sou eu mesma. O que pensem e digam
os demais, nada importa; eu tenho a minha lei.
Que outros a multidão, covardemente, sigam,
pelo caminho oposto, altiva, eu seguirei.

Que, sem brio e vergonha, outros tudo consigam
e que zombem de mim porque nada alcancei;
quanto mais, com seu ódio, o meu nome persigam,
tanto mais orgulhosa em trazê-lo, serei.

Às pedradas não fujo e as tormentas aceito;
mas a espinha não curvo em prol de algum proveito,
minha atitude sempre a mesma se revela;

A mim mesma fiel, a minha fé não traio;
e, se em dia fatal ferida pelo raio
tombar minha bandeira eu tombarei com ela!

TARDE DE OUTONO

Foi numa tarde assim. O vento soluçava
Agoirando do inverno a lúgubre hospedagem
No céu pálido, branco, há muito não rodava
Do sol a luminosa e rútila equipagem.

A derradeira flor, no jardim desfolhava
Sua pétalas. Era inóspita a paisagem
Em tudo uma tristeza imorredoira errava
Meu Deus! Que dolorosa e tristonha miragem!

E eu, sonhando, revia em meu dourado sonho,
O meu viver tranqüilo, o meu viver risonho,
Tento junto de mim o teu amor calmo e terno.

Reinava um frio intenso...e tu partiste, envolto
Num último sorriso a murmurar "eu volto"
E não voltaste mais! Voltou somente o inverno...

TROVAS: SAUDADE

A saudade é uma andorinha,
mas uma andorinha estranha:
quando, num peito se aninha,
as outras não acompanha…

Saudade – coisa que a gente
não explica nem traduz;
faz do passado, presente,
e traz sombras, sendo luz…

Saudade – febre que a gente
sem querer, pode apanhar,
nunca mata de repente,
vai matando, devagar…

Saudade – a princípio é pena
que nos deixa uma partida;
depois é dor que condena
a morrer dentro da vida…

se é triste sentir saudade,
muita saudade de alguém,
maior infelicidade
é não tê-la de ninguém.

NÓS DUAS

Parecemo-nos muito; assim dizem - e eu o creio.
Além do mesmo sangue, almas iguais nós temos;
pois, pelo mesmo ideal e com o mesmo anseio,
dentro da vida, nós lutamos e sofremos.

Vemos na arte um refúgio, um oásis, um esteio
para a nossa inquietude, e num barco sem remos
vagamos à mercê do próprio devaneio,
sabendo que jamais à enseada chegaremos...

E, apesar de ela ter todo um sol na cabeça
e o nevoeiro do inverno a minha já embranqueça,
da angústia de minha alma a sua compartilha.

Ela pensa, eu medito... Ela sonha, eu me lembro...
Nossa pobreza é igual de Dezembro a Novembro.
Quem somos, afinal? Apenas, mãe e filha.

EXALTAÇÃO

Olhas nos olhos meus. E eu vejo neste instante
toda a terra subir a um céu que desconheço.
Olho nos olhos teus. E fica tão distante
o mundo: e todo o fel que ele contem, esqueço.

Sorris... e, contemplando o teu lindo semblante,
o ideal de minha vida, enfim, eu reconheço.
Falas... ouço-te a voz, e, impetuosa, radiante,
num gesto de ternura, os lábios te ofereço.

Beijas a minha boca. E neste beijo grande
-- como uma flor que ao sol desabrocha e se espande -- ,
todo o meu ser palpita e freme e vibra e estua.

Tudo é um sonho, no entanto; o seu beijo... o meu crime.
Mentirosa ilusão! Pobre ilusão que exprime
somente o meu desejo imenso de ser tua!

SIMPLICIDADE

Tu não podes saber (e és tão inteligente
E tão conhecedor do mundo) o bem que fazes
Para o meu coração, tão triste e tão descrente,
Quando, com tua voz, a ventura lhe trazes.

Tu não podes saber como é grande o presente
Que me dás cada dia: algumas poucas frases
Repletas de ternura... E, generosamente,
Um sonho de mulher, de longe, satisfazes.

Dirás que é pouco o que me dás. Porém, na vida,
Onde tanta maldade encontrei, é o bastante
Esse bem que me faz a tua voz querida;

E quando para mim esse presente vale,
Tu não podes saber... Nem como é apavorante
Imaginar, que um dia, a tua voz se cale...
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Colombina (1882 - 1963)



Yde (Adelaide) Schloenbach Blumenschein nasceu na cidade de São Paulo em 26 de maio de 1882, vindo a falecer na madrugada do dia 14 de março de 1963, vítima de um colapso cardíaco. Filha de Otto Schloenbach e de Adelaide Augusta Dorison, Yde fez parte de seus estudos na Alemanha.

Poliglota, falava alemão, francês, inglês, espanhol e italiano. Estudou piano e canto. Poeta e cronista, ela começou a escrever aos 13 anos de idade, tendo seus primeiros poemas publicados em A Tribuna, de Santos. Colaborou em revistas e jornais como O Malho, Fon-Fon, Careta e Jornal das Moças, tendo se utilizado muitas vezes dos pseudônimos de Colombina e Paula Brasil.

Casou-se com Hanery Blumenschein com quem teve dois filhos. Mais tarde, desquitou-se, provocando um escândalo. Descrita pelas sobrinhas-netas como uma mulher elegante, esguia e pequena em que sobressaíam os olhos azuis, Yde foi vítima de críticas veementes por parte de amigos e familiares que não aceitavam seu modo independente de ser. Mulher emancipada para sua época, vivia sozinha, fumava, freqüentava meios literários e organizava serões em sua casa.

Sempre cercada de literatos, em 1932, teve a idéia de fundar a Casa do Poeta Lampião de Gás. À princípio funcionando em sua casa, em 7 de novembro de 1948, a casa foi oficialmente criada. No caso, a escolha do nome da casa foi uma homenagem dos intelectuais que a freqüentavam à sua idealizadora –o nome é o título de um de seus livros. Yde foi uma de suas diretoras, tornando-se a responsável pela edição de seu jornal mensal O Fanal.

Quanto à sua poesia, o amor é o leitmotiv que perpassa pela grande maioria de seus versos. No caso das trovas, preponderam versos que tratam do amor de forma mais inocente. Todavia, em outros poemas, a forma como rompe com as convenções burguesas ao falar dos desejos carnais provocou a crítica impiedosa por parte de muitos amigos e familiares. Um processo que eclode com o lançamento de seu último livro, Rapsódia Rubra: Poemas à Carne - livro composto de poemas eróticos.

Para comemorar seu jubileu de poesia, o Clube dos Artistas e Amigos organizou uma festa em 25 de junho de 1955, data em que Yde recebeu uma menção da Assembléia Legislativa de São Paulo, tendo sido mais tarde homenageada com o nome de uma rua – Rua Poética Colombina, no Butantan. Patrona da cadeira número 37 da Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul, ao longo da vida Yde recebeu cognomes como "Cigarra do Planalto" e "Poetisa do Amor".

Obras:
14 dVislumbres. Pref. Luís Edmundo. São Paulo: [s.n.], 1908.
Versos em lá menor. São Paulo: São Paulo Editora Ltda, 1930; 2. ed. Empr. Gráf. Dos Tribunais, 1949.
Lampião de gás. São Paulo: Tip. Cupolo, 1937; 2. ed. [s.n.], 1950; 3. ed. Gráfica Canton Ltda, 1961.
Sândalo. São Paulo: [s.n.], 1941; 2. ed. [s.n.], 1952.
Uma cigarra cantou para você. São Paulo: [s.n.], 1946.
Distância: poemas de amor e de renúncia. São Paulo: [s.n.], 1947; 2. ed. Editora Cupolo Ltda, 1953.
Gratidão. São Paulo: Editora Cupolo Ltda, 1954.
Para você, meu amor. São Paulo: Editora Cupolo Ltda, 1955.
Cantares de bem-querer. São Paulo: Editora Cupolo Ltda, 1956.
Manto de arlequim. São Paulo: Editora Cupolo Ltda, 1956.
Inverno em flor. São Paulo: Editora Cupolo Ltda, 1959.
Cantigas de luar. São Paulo: Gráfica Canton Ltda, 1960.
Rapsódia rubra. Salvador: SENAI, 1961.

Fonte:
Katia Bezerra em http://www.amulhernaliteratura.ufsc.br/

Monteiro Lobato (Emília no País da Gramática) Capítulo VI: Na Casa dos Pronomes



— Chega de Adjetivos — gritou a menina. — Eu não sei por quê, tenho grande simpatia pelos PRONOMES, e queria visitá-los já.

— Muito fácil — respondeu o rinoceronte. — Eles moram naquelas casinhas aqui defronte. A primeira, e menor, é a dos Pronomes PESSOAIS.

— Ela é tão pequena. . . — admirou-se Emília.

— Eles são só um punhadinho, e vivem lá como em república de estudantes.

E todos se dirigiram para a casa dos Pronomes Pessoais enquanto Quindim ia explicando que os Pronomes são palavras que também não possuem pernas e só se movimentam amarradas aos VERBOS.

Emília bateu na porta — toque, toque, toque.

Veio abrir o Pronome Eu.

— Entrem, não façam cerimônia.

Narizinho fez as apresentações.

— Tenho muito gosto em conhecê-los — disse amavelmente o Pronome Eu. — Aqui na nossa cidade o assunto do dia é justamente a presença dos meninos e deste famoso gramático africano. Vão entrando. Nada de cerimônias.

E em seguida:

— Pois é isso, meus caros. Nesta república vivemos a nossa vidinha, que é bem importante. Sem nós os homens não conseguiriam entender-se na terra.

— Todas as outras palavras dizem o mesmo — lembrou Emília.

— E nenhuma está exagerando — advertiu o Pronome Eu. — Todas somos por igual importantes, porque somos por igual indispensáveis à expressão do pensamento dos homens.

— E os seus companheiros, os outros Pronomes Pessoais? — perguntou Emília.

— Estão lá dentro, jantando.

À mesa do refeitório achavam-se os Pronomes Tu, Ele, Nós, Vós, Eles, Ela e Elas. Esses figurões eram servidos pelos Pronomes OBLÍQUOS, que tinham o pescoço torto e lembravam corcundinhas. Os meninos viram lá o Me, o Mim, o Migo, o Nos, o Nosco, o Te, o Ti, o Tigo, o Vos, o Vosco, o O, o A, o Lhe, o Se, o Si e o Sigo — dezesseis Pronomes Oblíquos.

— Sim senhor! Que luxo de criadagem! — admirou-se Emília. — Cada Pronome tem a seu serviço vários criadinhos oblíquos. . .

— E ainda há outros serviçais, os Pronomes de TRATAMENTO — disse Eu. — Lá no quintal estão tomando sol os Pronomes Fulano, Sicrano, Você, Vossa Senhoria, Vossa Excelência, Vossa Majestade e outros.

— E para que servem os Senhores Pronomes Pessoais? — perguntou a menina.

— Nós — respondeu Eu — servimos para substituir os Nomes das pessoas. Quando a Senhorita Narizinho diz Tu, referindo-se aqui a esta senhora boneca, está substituindo o Nome Emília pelo Pronome Tu.

Os meninos notaram um fato muito interessante — a rivalidade entre o Tu e o Você. O Pronome Você havia entrado do quintal e sentara-se à mesa com toda a brutalidade, empurrando o pobre Pronome Tu do lugarzinho onde ele se achava. Via-se que era um Pronome muito mais moço que Tu, e bastante cheio de si. Tinha ares de dono da casa.

— Que há entre aqueles dois? — perguntou Narizinho. — Parece que são inimigos. . .

— Sim — explicou o Pronome Eu. — O meu velho irmão Tu anda muito aborrecido porque o tal Você apareceu e anda a atropelá-lo para lhe tomar o lugar.

— Apareceu como? Donde veio?

— Veio vindo. . . No começo havia o tratamento Vossa Mercê, dado aos reis unicamente. Depois passou a ser dado aos fidalgos e foi mudando de forma. Ficou uns tempos Vossemecê e depois passou a Vosmecê e finalmente como está hoje — Você, entrando a ser aplicado em vez do Tu, no tratamento familiar ou caseiro. No andar em que vai, creio que acabará expulsando o Tu para o bairro das palavras arcaicas, porque já no Brasil muito pouca gente emprega o Tu. Na língua inglesa aconteceu uma coisa assim. O Tu lá se chamava Thou e foi vencido pelo You, que é uma espécie de Você empregada para todo mundo, seja grande ou pequeno, pobre ou rico, rei ou vagabundo.

— Estou vendo — disse a menina, que não tirava os olhos de Você. — Ele é moço e petulante, ao passo que o pobre Tu parece estar sofrendo de reumatismo. Veja que cara triste o coitado tem. . .

— Pois o tal Tu — disse Emília — o que deve fazer é ir arrumando a trouxa e pondo-se ao fresco. Nós lá no sítio conversamos o dia inteiro e nunca temos ocasião de empregar um só Tu, salvo na palavra Tatu. Para nós o Tu já está velho coroca.

E mudando de assunto:

— Diga-me uma coisa, Senhor Eu. Está contente com a sua vidinha?

— Muito — respondeu Eu. — Como os homens são criaturas sumamente egoístas, eu tenho vida regalada, porque represento todos os homens e todas as mulheres que existem, sendo pois tratado dum modo especial. Creio que não há palavra mais usada no mundo inteiro do que Eu. Quando uma criatura humana diz Eu, baba-se de gosto porque está falando de si própria.

— E fora os Pronomes Pessoais não há outros?

— Há sim — disse Eu —, moram aqui na casa ao lado. Uns pobres coitados...

Os meninos despediram-se do Pronome Eu para irem visitar os "coitados" da outra casa, muito admirados da petulância e orgulho daquele pronominho tão curto.

— Parece que tem o presidente da República na barriga — comentou a boneca.

E parecia mesmo. . .

Na outra casa os meninos encontraram os Pronomes POSSESSIVOS — Meu, Teu, Seu, Nosso, Vosso e Seus com as respectivas esposas e com os plurais. Emília, que achava as palavras Meu e Minha as mais gostosas de quantas existem, agarrou o casalzinho e deu um beijo no nariz de cada uma, dizendo:

— Meus amores!

Depois encontraram os Pronomes DEMONSTRATIVOS — Este, Esse, Aquele, Mesmo, Próprio, Tal, etc, com as suas respectivas esposas e parentes. As esposas eram Esta, Essa, Aquela, Mesma, Própria, etc, e os parentes eram Essoutro, Estoutro, Aqueloutro, etc.

— Muito bem — disse Narizinho. — Vamos adiante. Vejo alguns senhores muito conhecidos.

De fato, mais adiante os meninos encontraram os Pronomes INDEFINIDOS, muito familiares a todos do bandinho. Eram eles: Algum, Nenhum, Outro, Todo, Tanto, Pouco, Muito, Menos, Qualquer, Certo, Vários, etc, com as suas respectivas formas femininas e os competentes plurais.

— São umas palavrinhas muito boas, que a gente emprega a toda a hora — comentou Emília, sem entretanto beijar o nariz de nenhuma.

Havia ainda os Pronomes RELATIVOS, quê servem para indicar uma coisa que está para trás. Eram eles: Que, Quem, O Qual, Cujo, Onde, etc, com as suas respectivas esposas e plurais. Quindim exemplificou:

— O Visconde, cuja cartolinha sumiu, está danado. Nesta frase, o Pronome Cuja refere-se a uma coisa que ficou para trás.

De fato, o Visconde havia perdido a sua cartolinha na aventura com as Palavras Obscenas. Deixara-a para trás.

— Continue, Quindim — pediu Emília, e o rinoceronte continuou.

— Temos, por fim, os Pronomes INTERROGATIVOS, que servem para fazer perguntas. Todos usam um Ponto de Interrogação no fim, para que a gente veja que são perguntativos.

E os meninos viram lá os Interrogativos: Quê? Qual? Quanto? Quem?

Emília gostou de conhecer aqueles Pronomes. Ela era a boneca que mais trabalho dava aos Senhores Pronomes Interrogativos.
Continua ... Capítulo VII: Artigos e Numerais

Fonte:
LOBATO, Monteiro. Emília no País da Gramática. SP: Círculo do Livro. Digitalizado por http://groups.google.com/group/digitalsource

Pedro Salgueiro (Sertão de Todos Nós)


Fui, sou e serei, para sempre, apenas um sertanejo exilado no litoral. Nada aqui me diz respeito, por aqui tudo é transitório, passageiro... Apenas espero a triste hora do alegre regresso.

Aos trinta, por puro esnobismo, comprei gaiola na última linha do oceano. Cuidadosamente de costas pro mar, pra que toda manhã pudesse desdenhar meu asco de pequeno-burguês físico mas nunca mental. De lá pra cá andejo em linha reta rumo aos Inhamuns.

Aos quarenta atravessei a fronteira imaginária da 13 de Maio, linha simbólica de todas as Fortalezas. Em sentido contrário aos tolos, tontos suburbanos mentais. Meu voo é de avoante ferida, com tiro de chumbo nas c’roas do rio Acaraú, nas quebradas do Riacho do Gado, por trás da Barra da Oiticica, de lado da Caconha de todos os loucos. Pois em cada quarto de qualquer família pulula um doidinho de testa quadrada, encarnado de sangue da abelha Capuchu...

Enquanto o Diabo, rosianamente, redemoinha no terreiro. Gracianamente seco, corre meu sangue pelas veredas pedreguentas do Carão. Do outro braço, o direito, o sangue das tristes Oliveiras, dos tontos bons da Curimatã, do Jumentão da Maravilha. Apenas quando se estende pelas estradas do Canindé, as palavras vão escasseando, até quase sumirem da voz. Água evaporando na língua morna de todos os nós. De marejado apenas os olhos, único órgão úmido do sertanejo que volta.

Sou filho, pelos dois lados, da primeira geração que saiu do campo, que desbravou a cidadezinha no pé da Serra das Matas. Não sou filho de matuto urbano, mas de matuto dos matos, de pés rachados na urina do lajedo quente. Meu pássaro é o Camiranga de beira de caminho, comedor de Cassaco e Tejubina de grota. Meu ouvido é de rabeca triste cantada por cego em final de feira. Minha casinha é branca, de parede grossa, quase na sombra de uma Jurema imaginária. Mesmo longe de nosso chão, formamos confrarias de quase surdos-mudos. Apenas olhamos para o nascente a perscrutar chuva. E quando ela vier, é certo que vem, virá sempre, um dia. Já nos encontrará de mãos trêmulas e mala pronta.

* Pedro Salgueiro é cearense de Tamboril. Publicou O Peso do Morto (1995), O Espantalho (1996), Brincar com Armas (2000), Dos Valores do Inimigo (2005) e Inimigos (2007), todos de contos; além de Fortaleza Voadora (2007), de crônicas.

Fonte:
http://literaturasemfronteiras.blogspot.com/

João do Rozario Lima (Estante de Livros)



“SALVEM O NOSSO PLANETA”

Esta obra contém vários poemas voltados para a realidade em que se encontra nosso planeta e, provavelmente, sobre o que poderá acontecer no futuro. Ela poderá contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos a decidir e atuar na realidade socioambiental de modo comprometido com a vida, com o bem estar de cada um e da sociedade, local e global. Para isso, é necessário que cada ser humano reflita, em suas ações e atitudes praticas do dia-a-dia, o que está consumindo as belezas naturais do nosso planeta.

“A cada instante se desatam da árvore da vida inumeráveis folhas substituídas por outras que de novo brotam, não convindo que fiquem despidos o seu tronco e ramos, mas sempre cobertos e frondosos. A árvore da vida é o reino animal, as folhas que caem, os viventes que morrem, surgindo outros de novo que nascem para lhes suceder.” Marquês de Maricá.

Publicada em 2009 pela Editora Baraúna e lançada em 20/08/2010 na 21ª Bienal Internacional do Livro em São Paulo ;
Gênero: Poesias Brasileira
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“CONTOS E FÁBULAS DA AMAZONIA”

Esta obra contém vários contos voltados para a realidade que se encontra nosso planeta e, provavelmente, o que poderá acontecer futuramente com a Floresta Amazônica, onde costumam dizer que é o pulmão do universo.

Ela poderá contribuir com incentivo a leitura, manter a tradição regional de cada etnia e para a formação de cidadãos conscientes, aptos a decidir e atuar na realidade socioambiental de modo comprometido com a biodiversidade, com o bem estar de cada um da sociedade. Para isso, é necessário que cada individuo reflita em suas ações e atitudes prática do dia-a-dia, o que realmente está fazendo para preservar a vida e as riquezas naturais do nosso planeta.

“ A cada instante, folhas, troncos e galhos de árvores tombam sobre a terra, rios atônitos lançam vômitos de dor. Mares e oceanos reagem com fúrias mortais. Os seres das águas e da terra clamam socorro e inúmeros homens e crianças sonham em voar nas asas da imaginação à procura de um mundo de contos e fábulas em busca de um reino onde encontre homens, fauna e flora vivendo sem pavor” (Maria Cristina Borges).

Publicada em 2010 pela Editora Baraúna e lançada em 20/08/2010 na 21ª Bienal Internacional do Livro em São Paulo ;
Gênero: Contos

Contatos com a Editora
Rua João Cachoeira nº 632 cj, 11 - CEP. 04535.002 Itaim Bibi São Paulo,
Telefone: 11 3167 4261
www.editorabarauna.com.br/
Contatos com o Autor:
E-mail do autor: joanzinhorosario31@hotmail.com
Telefone: 69 3623 3196 e 8481 3844

Fonte:
O Autor

João do Rozário Lima (1955)


Nasceu no Município de São Gabriel da Palha Estado do Espírito Santo em 31 de outubro de 1955, filho de Athayde Martins de Lima e Zita do Rozario Lima.

Mudou-se para o Município de Cacoal, no Estado de Rondônia em 1972, concluindo o Ensino médio no curso do Magistério na Escola Estadual do Ensino fundamental e Médio Bernardo Guimarães.

Prestou concurso municipal em 1997 para o município de Seringueiras, tomando posse na Rede Pública municipal em 1998.

Graduação em Pedagogia pela UNIR (Universidade Federal de Rondônia), especializando-se em Psicopedagogia Clinica e Institucional pela FACIMED (Faculdade de Ciências Biomédicas de Cacoal) de 2004 à 2006.

João do Rozario Lima é professor da Escola Estadual do Ensino Fundamental e Médio Oswaldo Piana e Coordenador da Prestação de Compras das Escolas Municipais do Município de Seringueiras Estado de Rondônia.

Fonte:
O Autor

21º Concurso de Contos Paulo Leminski/2010 (Resultado Final)



1º Lugar:
Conto: “Clarice na torre de cristal”
MARIA ADELAIDE DE AMORIM OLIVEIRA
Rio de Janeiro/RJ;

2º Lugar:
Conto: “Agouro”
CÁSSIO PANTALEONI
Porto Alegre/RS;

3º Lugar:
Conto: “Más notícias”
ANGELO PESSOA MARTINS
Cordeiro/RJ

Melhor Conto Toledano:
Conto: “João das Marias”
ROBERTO CARLOS DA SILVA PEREIRA.

Menções Honrosas:
Conto: “José e Chico: Os dois vaqueiros”
ALDY CARVALHO
São Paulo/SP;

Conto “Visita ao museu”
IRLEY THIAGO DE OLIVEIRA
Curitiba/PR;

Conto “Liliana”
PEDRO LÚCIO LITHG PEREIRA
Pedro Leopoldo/MG;

Conto “Pré-natal”
TATIANA ALVES SOARES CALDAS
Rio de Janeiro/RJ;

Conto”Dona Maria”
GEOVANE FERNADES MONTEIRO
Teresina/PI.

Parceria entre UNIOESTE/CAMPUS DE TOLEDO e PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE TOLEDO através da SECRETARIA DA EDUCAÇÃO – BIBLIOTECA PÚBLICA MUNICIPAL

Fonte:
Concurso

III Bienal Internacional de Poesia em São Paulo


Local: Auditório Externo Freitas Nobre da CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO

Data: 4 de Dezembro de 2010 (Sábado)

Horário: das 9:00 às 17:00 horas

Entrada Franca

Organizador do Evento: WILSON DE OLIVEIRA JASA

Entidades organizadoras:
MOVIMENTO POÉTICO EM SÃO PAULO
CASA DO POETA “LAMPIÃO DE GÁS” DE SÃO PAULO
SOCIEDADE MUNDIAL DOS POETAS

Haverá participação de outras entidades

Evento: Declamação de Poesias, Música, Dança Folclórica, Exposição de Livros

Fonte:
Nilton Manoel

Concurso de Trovas da Academia de Trova do Rio Grande do Norte /2010 – Âmbito Nacional (Retificação do Resultado Final)

Por motivo de um erro de concordância em uma das Trovas classificadas (14ª), houve uma pequena mudança na classificação: -------------------
1º Lugar: Inspiração, não me deixes neste mundo imerso em dor! – Sem ti, sou rio... sem peixes... Sou coração... sem amor...! (Marisa Vieira Olivaes/RS) 2º Lugar: Nas asas da inspiração, alço voos de esperanças e na lira da emoção, dedilho velhas lembranças. (Zeni de Barros Lana/MG) 3º Lugar: Na inspiração... devaneios, num ritual sem esperas, dou asas aos meus anseios, recriando primaveras. (Relva do Egypto Resende/MG) 4º Lugar: Voando pela amplidão, com a lira de meus versos, nas asas da inspiração, diviso mil universos... (Ivone Prado/MG) 5º Lugar: Quando rezas em surdina mãe, vejo nos olhos teus, a inspiração que ilumina tua conversa com Deus! (Elen de Novais Félix/RJ) 6º Lugar: Sob os encantos da lua, em profunda inspiração, eis que o poeta flutua sem tirar os pés do chão. (Dulcídio de Barros Moreira/MG) 7º Lugar: És a musa, minha fada meu talismã, meu troféu, minha inspiração sagrada meu pedacinho de céu... (José Moreira Monteiro/RJ) 8º Lugar: Tu és meu sol, minha lira, onde meu ser se completa; porque é teu amor que inspira meu coração de poeta. (Almerinda Liporage/RJ) 9º Lugar: Cantando até mais que o vento sem desafios fatais... Inspiração é o momento que em silêncio canta mais!!! (Ana Maria Guerrize Gouveia/SP) 10º Lugar: Quando a inspiração palpita nos meus dias mais risonhos, cada trova é uma pepita na bateia dos meus sonhos. (José Antonio de Freitas/MG) 11º Lugar: “Bate” a inspiração na gente... Verso nenhum se aquieta, quando Deus, onipotente, nos permite ser poeta! (Roberto Tchepelentyky/SP) 12º Lugar: A noite inteira acordado e a inspiração não chegou. Um poeta amargurado, foi somente o que restou! (Adalberto Prado/PE) 13º Lugar: A inspiração, inconstante, tem caprichos de mulher: chega, às vezes, inebriante e outras, nem chega sequer! (Wanda de Paula )Mourthé/MG) 14º Lugar: Tudo o que é belo no mundo vem da inspiração de Deus, como o azul meigo e profundo que vejo nos olhos seus. (Licínio Antonio de Andrade/MG) 15º Lugar: A luz que o sol anuncia, o amor, magia secreta... Tudo é sonho e fantasia, na inspiração do poeta! (Dirce Montechiari / RJ) Coordenador: Francisco Neves de Macedo Comissão julgadora: Joamir Medeiros José Lucas de Barros Marcos Medeiros Fonte: Ademar Macedo

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Vânia Maria Souza Ennes em Solenidade de Posse na Academia Feminina de Letras do Paraná


Data: 26 de novembro de 2010
Horário: 16:00h
Local: Centro Paranaense Feminino de Cultura
Rua Visconde do Rio Branco, 1717
Telefone 3232-8123

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.47)


Trova do Dia

Em noites de dissabor,
quando a saudade é cruel,
o poeta imprime a dor
num pedaço de papel!
EDUARDO TOLOI/MG

Trova Potiguar

Nas espirais de fumaça
que se evolam do cigarro...
Menos vida. Que desgraça!
Retornar mais cedo ao barro.
MANOEL DANTAS/RN

Uma Trova Premiada

2010 > São Paulo/SP
Tema > FEITIÇO > Vencedora

Quando o amor se distancia
e o sonho fica apagado,
não há feitiço ou magia
que salve o encanto quebrado...
THEREZA COSTA VAL/MG

Uma Poesia livre

– Gislaine Canales/SC –
AS MÃOS DO MEU AMOR.

As mãos do meu amor
são amantes agradáveis,
gostosas, suaves...
Como pétalas de flor.
O simples toque dessas mãos
me faz sonhar, me faz vibrar...

Eu amo, as mãos do meu amor!

Uma Trova de Ademar

Toda Trova nos fascina,
encanta e nos enternece;
a trova é pura e divina
como se fosse uma prece!...
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

A saudade é impenitente
e acha que tem o direito
de não ter pena da gente,
quando invade o nosso peito.
EDMILSON FERREIRA MACEDO/MG

Estrofe do Dia

O trovão estronda andando
pelo firmamento infindo,
céu de nuvens se cobrindo
cascatas cantarolando,
o pirilampo voando
em noites de escuridão,
só parece um avião
com a sinaleira acesa;
tudo que há de beleza
Deus colocou no sertão.
LOURO BRANCO/CE

Soneto do Dia

– Francisco Macedo/RN –
A MALDADE NO PÓDIO.

Minha alma de poeta trovador
desespera-se ao ver no dia a dia
os crimes perpetrados contra o amor
e a vitória voraz da hipocrisia.

Podemos constatar a tirania
E a força do malandro estuprador
e a mídia que só tem pornografia
descartando a poesia e o seu valor.

O mal assenhorou-se deste mundo,
nos cargos principais, os vagabundos,
destroem e comandam nossas vidas;

os valores mudaram de repente,
enquanto o mal se faz publicamente,
nós fazemos amor às escondidas!

Fonte:
Ademar Macedo

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Zito Batista (Poesias Escolhidas)


O CARNAVAL

Põe a máscara e vai para a folia,
Na afetação de uns gestos singulares,
Esquecido dos íntimos pesares
Que te atormentam todo santo dia ...

Homem doente, perdido nesses mares
Tenebrosos da dúvida sombria,
Vê que há lá fora um frêmito de orgia,
Mesmo através das coisas mais vulgares!

Põe-te a cantar, desabaladamente!
Vai para a rua aos trambolhões, às tontas,
Como se enlouquecesse de repente ...

Agarra-te à alegria passageira:
Olha que o que te espera, ao fim de contas,
É o triste Carnaval da vida inteira ...

MONÓLOGO DE UM CEGO

Falaram-me do sol! Maravilhoso sol
Refulgindo na altura ...
Ah! se eu pudesse ver, assim como um farol
Imenso e inacessível
Em vertigens de luz sobre as nossas cabeças!. ..
E — eterna desventura —
Eu fiquei a pensar: por que o sol invencível
Não rasga o negro véu de minha noite espessa
Quando brilha na altura?

Falaram-me das florestas e das aves!
Das aves, cujo canto
Põe na minha alma em febre uns arrepios suaves
De vaga nostalgia ...
Ah! se eu pudesse ver as aves e as florestas!
Soberbo o meu encanto!
Se eu pudesse aclarar a minha noite sombria,
Quando ouvisse enlevado em delírios e festas
Num soberbo canto
Todo poema de amor das aves nas florestas!

E o mar? Onde o mais belo símbolo da vida?
O mar é um rebelado!
Que vive noite e dia "em soluços gemendo
De cólera incontida,
A investir contra o céu como um tigre esfaimado!
É lindo o mar no seu desespero tremendo!
Eu não o vejo não! Mas chega aos meus ouvidos
E escuto alucinado
A música fatal dos seus grandes gemidos!
Há toda uma história enorme a interpretar
Nesse choro convulsivo e incessante do mar ...

Ah! que destino o meu! que desgraçada sorte
Me traçou, pela terra, a mão de um Deus Brutal!
Na vida, em vez da vida, anda comigo a morte,
A escuridão sem fim ...
Tenho a envolver-me o corpo a asa torpe do mal.

E falam-me do céu, das aves e das flores;
E dizem que o mundo é um paraíso, assim,
Todo cheio de luz, de aroma, de esplendores!
E eu creio! Eu creio em tudo ...
Os homens têm razão! eu creio e desejara
Vendo sumir-se ao longe a minha noite amara
Ver o mar, ver o sol no firmamento mudo
A brilhar!... a brilhar ...

Mas o meu grande sonho, o meu sonho infinito
É outro, um outro ainda: o que me faz chorar
E há de, em fúria, arrancar-me o derradeiro grito
Quando eu daqui me for, aos trambolhões, a esmo,
É a ânsia indefinida, o desejo profundo
De conhecer o que há de mais original no mundo,
De conhecer a mim mesmo!

Porque a julgar, talvez, pelo mal que me oprime
Eu devo ser, por força, um monstro desconforme.
Na eterna expiação do mais nefando crime
Atado ao poste real de minha dor enorme!...
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Fonte:
TAVARES, Zózimo. Sociedade dos Poetas Trágicos. Vida e obra de 10 poetas piauienses que morreram jovens. 2 ed. Teresina, PI: Gráfica do Povo, 2004.

Zito Batista (1887-1926)



Raimundo Zito Batista nasceu no povoado Natal, hoje município de Monsenhor Gil/Piauí, em 16 de setembro de 1887. Adolescente, foi para Teresina com o irmão Jônathas Batista (1885 -1935), que depois se revelaria teatrólogo.

Escreveu poesias desde moço. Mais sonhador ou romântico que o irmão, Zito entregou-se de corpo e alma ao poder embriagante da poesia.

Por essa época, em Teresina, uma mocidade sonhadora dominava a cidade. Poesias, crônicas, cartas amorosas e os acontecimentos sociais que pudessem trazer alegrias ou tristezas ao meio eram traduzidos em versos por jovens poetas que se iniciavam em literatura.

Autodidata, jornalista e poeta, fundou as revistas Cidade verde e Alvorada, sendo diretor da Imprensa Oficial do Piauí.

Foi membro da Academia Piauiense de Letras.

Estreou na poesia em 1909, com a coletânea Almas irmãs, em parceria com Celso Pinheiro e Antônio Chaves, sendo o responsável pela parte intitulada Pedaços do coração.

Depois publicou Chama extinta, 1918 e Harmonia dolorosa, 1924, obras poéticas bem aceitas pela crítica brasileira, merecendo inclusive elogios por parte de Olavo Bilac e Afonso Celso.

Faleceu no Rio de Janeiro, em 20 de outubro de 1926,

Fontes:
http://www.antoniomiranda.com.br
http://www.revistaamalgama.hpg.ig.com.br

Concurso de Trovas da Academia de Trovas do Rio Grande do Norte (ATRN) 2010 (Resultado Final)

(ESTADUAL) 1º Lugar : Cadeira velha, esquecida, sem dono e sem mais ninguém... Só a saudade atrevida reclama a ausência de alguém. (PROF. GARCIA) 2º Lugar : A ausência é tanta, em verdade, que a minha desilusão tem a forma da saudade e os braços da solidão! (MARA MELINNI DE ARAÚJO GARCIA) 3º Lugar : Nessa ausência tão sofrida que o “ciúme” nos impôs, vejo o grande mal que a vida fez na vida de nós dois. (ADEMAR MACEDO) 4º Lugar : A ausência vai separar os nossos corpos, eu sei, mas não vai nunca apagar o eterno amor que eu te dei. (IVANISO GALHARDO) 5º Lugar : Há em minha alma sofrida ausência de toda sorte, nos desencontros da vida e nos encontros da morte. (LUIZ GONZAGA DA SILVA) 6º Lugar : O sonho em minha existência perdeu seu brilho e valor, ao sentir que tua ausência sepultou o nosso amor! (JOAMIR MEDEIROS) 7º Lugar : Tua ausência, mãe querida, o bom filho nunca esquece... És o amor de Deus, és vida: - Tu és a mais linda prece! (JOAMIR MEDEIROS) 8º Lugar : Teus ciúmes, meu tormento, tua ausência, meu martírio; teu sorriso, meu alento, teus carinhos, meu delírio... (JOSÉ DE SOUSA) 9º Lugar : Ausência! Quanta tristeza! Quanta mágoa, quanta dor!... -É o símbolo da incerteza, em se tratando de amor. (MANOEL DANTAS) 10º Lugar : Sua ausência, por maldade, deixou, talvez, por vingança, um punhado de saudade dentro da minha lembrança. (ADEMAR MACEDO) 11º Lugar : Sob a mesma nostalgia, a saudade, sem pudor, sobrevive, todo dia, à ausência do teu amor! (MARA MELINNI) 12º Lugar : Finjo ser feliz, não nego, na tua ausência, querida, pois, és sonho... em que me apego nas esperas desta vida. (PAULO ROBERTO DA SILVA) 13º Lugar : Espera...! Que eu te proponho, pois a ausência é triste sina: - sê a musa do meu sonho, que o meu sonho não termina...! (MARA MELINNI) 14º Lugar : A tua ausência sentida, presente em meu coração, fez-se constante na lida que travei com a solidão. (MARCOS MEDEIROS) 15º Lugar : Desilusões às centenas, as tive, em minha inocência, mas a mais dura das penas é sofrer a tua ausência. (LUIZ GONZAGA DA SILVA) Coordenador: José Lucas de Barros Comissão julgadora: Antônio Augusto de Assis/PR Gislaine Canales/SC Thalma Tavares/SP. (NACIONAL) 1º Lugar: Inspiração, não me deixes neste mundo imerso em dor! – Sem ti, sou rio... sem peixes... Sou coração... sem amor...! (MARISA VIEIRA OLIVAES/RS) 2º Lugar: Nas asas da inspiração, alço voos de esperanças e na lira da emoção, dedilho velhas lembranças. (ZENI DE BARROS LANA/MG) 3º Lugar: Na inspiração... devaneios, num ritual sem esperas, dou asas aos meus anseios, recriando primaveras. (RELVA DO EGYPTO RESENDE/MG) 4º Lugar: Voando pela amplidão, com a lira de meus versos, nas asas da inspiração, diviso mil universos... (IVONE PRADO/MG) 5º Lugar: Quando rezas em surdina mãe, vejo nos olhos teus, a inspiração que ilumina tua conversa com Deus! (ELEN DE NOVAIS FÉLIX/RJ) 6º Lugar: Sob os encantos da lua, em profunda inspiração, eis que o poeta flutua sem tirar os pés do chão. (DULCÍDIO DE BARROS MOREIRA/MG) 7º Lugar: És a musa, minha fada meu talismã, meu troféu, minha inspiração sagrada meu pedacinho de céu... (JOSÉ MOREIRA MONTEIRO/RJ) 8º Lugar: Tu és meu sol, minha lira, onde meu ser se completa; porque é teu amor que inspira meu coração de poeta. (ALMERINDA LIPORAGE/RJ) 9º Lugar: Cantando até mais que o vento sem desafios fatais... Inspiração é o momento que em silêncio canta mais!!! (ANA MARIA GUERRIZE GOUVEIA/SP) 10º Lugar: Quando a inspiração palpita nos meus dias mais risonhos, cada trova é uma pepita na bateia dos meus sonhos. (JOSÉ ANTONIO DE FREITAS/MG) 11º Lugar: “Bate” a inspiração na gente... Verso nenhum se aquieta, quando Deus, onipotente, nos permite ser poeta! (ROBERTO TCHEPELENTYKY/SP) 12º Lugar: A noite inteira acordado e a inspiração não chegou. Um poeta amargurado, foi somente o que restou! (ADALBERTO PRADO/PE) 13º Lugar: A inspiração, inconstante, tem caprichos de mulher: chega, às vezes, inebriante e outras, nem chega sequer! (WANDA DE PAULA MOURTHÉ/MG) 14º Lugar: É inspiração, é magia, a beleza que possuis, rastro de luz que irradia estes teus olhos azuis! (FRANCISCO JOSÉ PESSOA/CE) 15º Lugar: Tudo o que é belo no mundo vem da inspiração de Deus, como o azul meigo e profundo que vejo nos olhos seus. (LICÍNIO ANTONIO DE ANDRADE/MG) Coordenador: Francisco Neves de Macedo Comissão julgadora: Joamir Medeiros José Lucas de Barros Marcos Medeiros Fonte: Ademar Macedo

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.46)


Trova do Dia

O acerto, sim, amedronta!
Mas creio que estamos quites:
para os meus erros sem conta
Deus tem perdão sem limites!
PEDRO ORNELLAS/SP

Trova Potiguar

Colega é como fumaça,
se vai com facilidade;
o amigo é a argamassa
do muro da eternidade!
HELIODORO MORAIS/RN

Uma Trova Premiada

2010 > São Paulo/SP
Tema > FEITIÇO > Vencedora

Tens tal feitiço no olhar
que, em nosso adeus, por encanto,
foram gotas de luar
que escorreram do teu pranto!
WANDA DE PAULA MOURTHÉ/MG

Uma Poesia livre

– Sírlia Lima/RN –
UMA QUESTÃO DE PELE.

Sinto na pele
De cor tão escura
Negra como a noite
Causa ruptura
Essa cor que eu não pintei
Incomoda aos inclementes
Tem inveja dos meus dentes
E da força que eu herdei
Sentem medo da minha cultura
Das minhas rezas, aos orixás
Da minha dança...
Dos meus patuás ...
Eu clamo as forças da natureza
Que me tingiu com tal beleza
Que eu chego a incomodar
Tratam-me com tal preconceito
Mas deitam comigo no leito
Isso não deixam passar
Passados 100 anos de escravidão
Libertaram os escravos
Não mudaram o sistema
Ainda temos os senhores de engenho
Como gestores de uma república que se diz livre
Mas cede a pressão
Teia de corrupção
E tudo continua sendo
Uma questão de pele.

Uma Trova de Ademar

Sentindo do mundo as dores,
a Mãe no sofrer, navega
num mar aberto de amores
que o próprio filho renega!...
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

Ao reler o livro antigo,
grande emoção me tomou:
deu-me a impressão de um amigo
que de repente voltou.
AUROLINA DE CASTRO/AM

Estrofe do Dia

Até mesmo o uirapuru cantador
Seresteiro que cala os outros cantos
Sobre o galho calou-se com encantos
E ficou contemplando o Ser de flor.
Na floresta formou-se um esplendor
Ao redor da divina criação.
A cascata parou sua canção
E ficou sobre a rocha adormecida,
Vendo a flor ofertando a luz da vida
Através de um divino coração.
GILMAR LEITE/PE

Soneto do Dia

– José Paes/MG –
A N E V E

Ao ver os meus cabelos se nevando
lembro-me das ramagens quando geia
em noites invernais, de lua cheia,
sob os beijos sutis de um vento brando.

Elas se nevam, mas de vez em quando...
Tornam-se brancas, brancas, mais que a areia
de onde se ouvia o canto da sereia
e onde as sereias de hoje estão cantando...

Mas às ramagens volta o verde lindo
enquanto vai o gelo se sumindo
ao doce sol dos dias invernais:

e esta neve caída em meus cabelos
é perene e eu me lembro disso ao vê-los,
e sei que pretos não se tornam mais!...

Fonte:
Ademar Macedo

Monteiro Lobato (Emília no País da Gramática) Capítulo V: Entre os Adjetivos

No bairro dos adjetivos o aspecto das ruas era muito diferente. Só se viam palavras atreladas. Os meninos admiraram-se da novidade e o rinoceronte explicou:

— Os Adjetivos, coitados, não têm pernas; só podem movimentar-se atrelados aos Substantivos. Em vez de designarem seres ou coisas, como fazem os Nomes, os adjetivos designam as qualidades dos Nomes.

Nesse momento os meninos viram o Nome Homem, que saía duma casa puxando um Adjetivo pela coleira.

— Ali vai um exemplo — disse Quindim. — Aquele Substantivo entrou naquela casa para pegar o Adjetivo Magro. O meio da gente indicar que um homem é magro consiste nisso — atrelar o Adjetivo Magro ao Substantivo que indica o Homem.

— Logo, Magro é um Adjetivo que qualifica o Substantivo— disse Pedrinho — porque indica a qualidade de ser magro.

— Qualidade ou defeito? — asneirou Emília. — Para Tia Nastácia ser magro é defeito gravíssimo.

— Não burrifique tanto, Emília! — ralhou Narizinho. — Deixe o rinoceronte falar.

O armazém dos Adjetivos era bem espaçoso e algumas prateleiras recobriam as paredes. Na prateleira dos qualificativos pátrios, Narizinho encontrou muitos conhecidos seus, entre os quais Brasileiro, Inglês, Chinês, Paulista, Polaco, Italiano, Francês e Lisboeta, que só eram atrelados a seres ou coisas do Brasil, da Inglaterra, da China, de São Paulo, da Polônia, da Itália, da França e de Lisboa.

Havia ali muito poucos Adjetivos daquela espécie. Mas as prateleiras dos que não eram Pátrios estavam atopetadinhas. Os meninos viram lá centenas, porque todas as coisas possuem qualidades e é preciso um qualificativo para cada qualidade das coisas. Viram lá Seguro, Rápido, Branco, Belo, Mole, Macio, Áspero, Gostoso, Implicante, Bonito, Amável, etc. — todos os que existem.

— E na sala vizinha? — perguntou o menino.

— Lá estão guardadas as locuções adjetivas.

— O que são essas Senhoras Locuções? — perguntou Emília.

— São expressões que equivalem a um adjetivo e são empregadas no lugar deles. Por exemplo, quando digo: O calor da tarde aborrece o Visconde, estou usando a Locução Da tarde em lugar do Adjetivo Vespertino; ou quando digo Presente de Rei, em lugar de Presente Rêgio.

Aquele Presente Régio agradou Emília, que ficou pensativa.

O movimento no bairro dos Adjetivos mostrava-se intenso. Milhares de Nomes entravam constantemente para retirar das prateleiras os Adjetivos de que precisavam — e lá se iam com eles na trela.

Outros vinham repor nos seus lugares os Adjetivos de que não necessitavam mais.

— As palavras não param — observou Quindim. —

Tanto os homens como as mulheres (e sobretudo estas) passam a vida a falar, de modo que a trabalheira que os humanos dão às palavras é enorme.

Nesse momento uma palavra passou por ali muito alvoroçada. Quindim indicou-a com o chifre, dizendo:

— Reparem na talzinha. É o Substantivo Maria, que vem em busca de Adjetivos. Com certeza trata-se de algum namorado que está a escrever uma carta de amor a alguma Maria e necessita de bons Adjetivos para melhor lhe conquistar o coração.

A palavra Maria achegou-se a uma prateleira e sacou fora o Adjetivo Bela; olhou-o bem e, como se o não achasse bastante, puxou fora a palavra Mais; e por fim puxou fora o Adjetivo Belíssima.

— A palavra Mais forma o Comparativo, com o qual o namorado diz que essa Maria é Mais Bela do que tal outra; e com o Adjetivo Belíssima ele dirá que Maria é extraordinariamente bela. E desse modo, para fazer uma cortesia à sua namorada, ele usa os dois graus do adjetivo. Partindo da forma normal que é a palavra Bela, usa o Grau comparativo, com a expressão Mais Bela, e usa o Grau superlativo, com a palavra Belíssima.

— Mas nem sempre é assim — observou Emília. — Lá no sítio, quando eu digo Mais Grande, Dona Benta grita logo: "Mais grande é cavalo".

— E tem razão — concordou o rinoceronte —, porque alguns Adjetivos, como Bom, Mau, Grande e Pequeno, saem da regra e dão-se ao luxo de ter formas especiais para exprimir o Comparativo. Bom usa a forma Melhor. Mau usa a forma Pior. Grande usa a forma Maior, e Pequeno usa a forma Menor. O resto segue a regra.

— E para que serve o superlativo?

— Para exagerar as qualidades do Adjetivo. Forma-se principalmente com um íssimo ou com um Érrimo no fim da palavra, como Feliz, Felicíssimo; Salubre, Salubérrimo. Ou então usa o O Mais, como O Mais Feliz.

— E se quiser exagerar para menos? — indagou Pedrinho.

— Nesse caso usa a expressão O Menos Feliz. ..

— Sim — murmurou Emília distraidamente, com os olhos postos no Visconde, que continuava calado e apreensivo como quem está incubando uma idéia. — O Sonsíssimo Visconde, ou O Mais Sonso de todos os sabugos científicos.. .

De fato, o Visconde estava preparando alguma. Deu de ficar tão distraído, que até começou a atrapalhar o trânsito. Tropeçou em várias palavras, pisou no pé de um Superlativo e chutou um O maiúsculo, certo de que era uma bolinha de futebol.

Que seria que tanto preocupava o Senhor Visconde?
--------------
continua = Capítulo VI: Na Casa dos Pronomes
--------------
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Emília no País da Gramática. SP: Círculo do Livro. Digitalizado por http://groups.google.com/group/digitalsource

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Antonio Manoel Abreu Sardenberg (Entre Amigos I)


Queridos amigos e queridas amigas.

Estamos apresentando mais um projeto ENTRE AMIGOS, desenvolvido pelo site Alma de Poeta - http://www.sardenbergpoesias.com.br/ , para divulgar poesias de nossa autoria e de amigos poetas conhecidos aqui na net.

No número de hoje temos a grata satisfação de trazer os seguintes amigos poetas
Ligia Antunes Leivas
José Feldman
Antonieta Elias Manzieri
Dária Farion

Espero que gostem desse ENTRE AMIGOS, feito com muito carinho para todos vocês.
Esperamos todos para um cafezinho no nosso espaço cultural http://www.sardenbergpoesias.com.br/
Um forte e terno abraço.

A. M. A. Sardenberg
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Antonio Manoel Abreu Sardenberg
São Fidélis "Cidade Poema"/RJ
SOL POENTE

Quando contemplo ao longe o sol poente
atrás do monte lá no infinito
sonho acordado o sonho mais bonito,
e tenho a fé de um homem forte e crente.

A luz suave, quase se apagando,
acende em mim um fogo tão ardente,
e ao pensar eu fico imaginando
o amor se pondo assim tão de repente.

O tempo passa e vem a madrugada
como um açoite castigando a gente
na aurora fria, escura e tão calada!

Oh... breve tempo tenha dó de mim
por que flagela um coração carente,
me machucando tanto, tanto, assim!

Lígia Antunes Leivas
Pelotas/RS
ENTRELINHAS

Na insensatez dos conceitos
emergem desejos...
Quebra-se o elo:
desequilibra-se o universo.

A expectativa antessonha auroras
neste querer maior
de peles de veludo unidas
no desenho de nós mesmos.

Na hora cálida da tarde
atiçam-se todas as luzes...
Um pouco de mim, de ti, de nós
e a explosão de todos os sentidos.

Cada espaço traz a medida certa
...um oceano cresce entre nossas vidas
e nesta separação entre desenganos
descubro-me atônita!

Olhos ao longe (tão longínqüa distância!...)
Sou voz perdida, sou desterro
sou muito menos agora
que as entrelinhas deste poema...

José Feldman
Ubiratã/PR
SIMPLESMENTE SENTIDO

Quando sentir o vento tocar seus ouvidos,
sou eu
sussurrando o meu amor por você.

Quando sentir as gotas da chuva sobre seu rosto,
são as minhas lágrimas
que te encharcam com meu amor.

Quando sentir o calor de um dia de verão,
imagine que é o meu corpo
te abraçando e
te dando o calor de meu coração.

Quando olhar pela janela de seu quarto e vir as estrelas piscando,
são meus olhos
que piscam aos milhares
as palavras
“Eu te amo!”

Quando passear pelo parque e vir uma árvore,
abrace-a e feche os olhos,
estará abraçando a mim,
meu corpo, meu coração
junto a si.

E se olhar para o alto desta árvore
ouça o farfalhar das folhas
É minha voz dizendo:
Eu sou teu para todo o sempre,
Volta para mim!

Antonieta Elias Manzieri
São Pedro/SP
AUSENTE

Ando dispersa de mim,
não sinto minha presença,
não quero ficar assim,
não suporto essa ausência.

Busco e rebusco meu eu
num labirinto medonho.
O que foi feito de mim?
Onde estão os meus sonhos?

Só eu posso me reencontrar
nessa estrada sem fim.
Mas estou tão longe de mim...
Será que ainda consigo me achar?

A distância é assustadora,
eu desconheço o caminho.
Nem uma mão consoladora
para curar as feridas
causadas pelos espinhos.

Nada, ninguém, só eu
a clamar desconsolada...
Isolei-me dos amigos meus,
perdida nessa longa estrada.

E agora, que rumo seguir?
Será que valeu a pena,
por coisas tão pequenas,
destruir o meu porvir?

Dária Farion
Pinhais/PR
CARISMA DIVINO

Ter na alma o afeto,
Na palma da mão a vida.
Encerrar no coração a imagem
Na mente a coragem.

Ter certeza,
Gritar com firmeza:
Meu filho , és meu rei
meu herói.

Fonte:
Antonio Manoel Abreu Sardenberg

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.45)


Trova do Dia

O meu viver enfadonho,
só de amarguras composto,
põe as rugas do meu sonho
sobre as rugas do meu rosto!
GISLAINE CANALES/SC

Trova Potiguar

As gaiolas da maldade
são projetos anti-ninhos,
retirando a liberdade
das asas dos passarinhos
DJALMA MOTA/RN

Uma Trova Premiada

2010 > São Paulo/SP
Tema > FEITIÇO > Vencedora

Desprezei-te, fui omisso,
quis um “caso” passageiro...
Mas o Amor fez o feitiço
virar contra o feiticeiro!
RENATO ALVES/RJ

Uma Poesia livre

– Clevane Pessoa/RN –
RASGOS.

Às vezes somos motivados por um nada
aparente
noutras, agimos por todos os motivos
- novos e antigos...
Em certas ocasiões, estamos compromissados
aos amigos
mas noutras, o que fazemos, de fato,
é para atingir os inimigos...
Mágoas, dissabores, sendo omisso ou valente,
o ser humano vai esboçando seu próprio retrato
quando age de uma forma ou de outra forma
quando se revolta ou quando se conforma
quando obtém fracassos ou se enche de glória...
E é em cada rasgo de personalidade
que nós diferenciamos dos demais
para escrever a nossa própria história
atracando ou nos afastando
de nosso próprio cais...

Uma Trova de Ademar

Após um sonho, acordei
num desespero medonho,
pois neste sonho, eu te amei...
Mas foi somente no sonho!...
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

Se mentes quando me dizes
que me amas, que me queres,
eu sou, entre as infelizes,
a mais feliz das mulheres !...
MARISOL/RJ

Estrofe do Dia

Ao passar em Afogados
Diga a minha esposa bela,
Que eu derramei duas lágrimas
Sentindo saudade dela;
Tive sede, bebi uma
E a outra, eu guardei pra ela.
JOÃO PARAIBANO/PB

Soneto do Dia

– Antero de Quental/Portugal –
NA MÃO DE DEUS.

Na mão de Deus, na sua mão direita,
Descansou afinal meu coração.
Do palácio encantado da Ilusão
Desci a passo e passo a escada estreita.

Como as flores mortais, com que se enfeita
A ignorância infantil, despojo vão,
Depois do Ideal e da Paixão
A forma transitória e imperfeita.

Como criança, em lôbrega jornada,
Que a mãe leva ao colo agasalhada
E atravessa, sorrindo vagamente,

Selvas, mares, areias do deserto...
Dorme o teu sono, coração liberto,
Dorme na mão de Deus eternamente!

Fonte:
Ademar Macedo

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Antonio Facci (Livro de Trovas)


Você vai viver cem anos
arrisca alguém um palpite,
mas não está em meus planos
aceitar nenhum limite.

Entre pássaros e flores
vivia o alegre guri,
esquecendo suas dores
feliz, como nunca vi.

Se de barro fomos feitos
nesta olaria divina,
somos dois corpos perfeitos
partilhando a mesma sina.

Eu estou enfeitiçado
só pelos encantos teus,
serei porém, libertado
no meu encontro com Deus.

Eu vejo o velho telhado
com um aspecto medonho,
é todo desarrumado
porém, acalenta um sonho.

Luiz Antonio Aguiar (O Que Vale a Literatura?)



Só para começar, não é por acaso que o título que dou a este texto não é “Quanto vale a Literatura?”.

Acontece que aqui não se trata mesmo de um valor quantificável. Mas, de um valor subjetivo. Íntimo. Pessoal. Algo registrado (ou contabilizado) no espírito de cada um.
Mas, também na identidade de uma população com seus... valores.

No seu recente A literatura em perigo, Todorov escreve:

Hoje, se me pergunto por que amo a literatura, a resposta que me vem espontaneamente à cabeça é: porque ela me ajuda a viver(...) Ela nos proporciona sensações insubstituíveis que fazem o mundo real se tornar mais pleno de sentido e mais belo(...) Ela permite que cada um responda melhor à sua vocação de ser humano(...)O leitor(...) lê essas obras(...)para nelas encontrar um sentido que lhe permita compreender melhor o homem e o mundo, para nelas descobrir uma beleza que enriqueça sua existência; ao fazê-lo, ele compreende melhor a si mesmo.

O que vale a Literatura para alguém que escreve algo assim? Ora, vale uma vida. A vida dele. Literatura aqui se torna algo tão essencial que não se poderia sobreviver neste mundo, ainda mais neste mundo contemporâneo ─ e no nosso caso, neste mundo brasileiro ─ sem o consolo e a iluminação da Literatura.

Já, segundo a lenda sobre a destruição do acervo da Biblioteca de Alexandria, que está num livro doloroso de se ler, A biblioteca desaparecida, de Luciano Canfora, quando perguntado o que se deveria fazer com os volumes da maior biblioteca da Antiguidade, o dignitário fundamentalista islâmico, cioso da nova ordem que queria impor à cidade que seu exército acabara de invadir, ordenou: Se o que está esses livros não se pode encontrar no Corão, queime-os, pois eles não dizem a verdade. Se o que está neles está no Corão, queimei-os, pois são dispensáveis. Preciosas obras da cultura grega, entre outras, exemplares únicos, viraram combustível das saunas de Alexandria.

O que valeria a Literatura para esse dignatário?

Para muitos indivíduos que estão engajados na Educação, de diversas maneiras, a Literatura vale pelo que ensina. Ou melhor, pelo que se pode agregar a uma obra Literária em termos de uma utilidade didática, que ela não tem, em sua origem, mas que se pode “trabalhar” a partir dela. Tanto que há um termo que significa a literatura na escola: paradidático. Acessório do didádico.
É uma tendência que vem sofrendo abalos, séria e forte contestação, mas ainda subsiste.

Para Graciliano Ramos, ou melhor, para seu autobiográfico personagem, o menino, em Infância, o que vale a Literatura? E para a igualmente autobiográfica menina de Felicidade clandestina, de Clarice Lispector? Para o primeiro, salvação, desembrutecimento, humanização; para a segunda, o título diz tudo.

É então desse valor tão etéreo, mas em alguns tão presente, que estou falando.

Creio que é nesse Reino, o desse valor, que finalmente esta articulação ─ o Movimento por um Brasil Literário ─ de entidades e indivíduos, mobilizada pelo valor da Literatura, pode trabalhar. E isso torna o Movimento por um Brasil Literário bastante especial.

Há muitas pessoas para quem a Literatura não está presente em suas vidas. Para estes, a Literatura vale quase nada. Há quem mesmo quando fala em Literatura, pensa em leitura; e chega a trocar os termos, sem sentir; mas aí é outra coisa, e neste caso a especificidade do Movimento, sua peculiaridade, é essencial. Porque não estamos neste Movimento ─ pelo menos segundo entendo ─ falando daquela capacidade que confere cidadania, autonomia, acesso à contemporaneidade, defesas contra logros e estelionatos políticos etc... Estamos falando dessa capacidade aplicada a uma instância humana ─ o ser humano cria e o ser humano usufrui da Literatura ─ em que se exige um tanto além da capacidade de leitura. Na qual a capacidade de leitura é meio para abrir ao ser humano a percepção e a vivência da Terceira Margem do Rio.

Trata-se de aceitar a senha do Era uma vez.
Do Abre-te Sésamo.
Do Alf-Laila, wa-Laila (Mil noites mais uma noite).
Do Faz-de-Conta e do Pirlimpimpim.

De acreditar na possibilidade de tomar o caminho para a Terra do Nunca, assim como a capacidade de enxergar, dentro de si, um Peter Pan. Ou talvez um Gancho. Ou um Drácula.

De compartilhar sem pejo da loucura bela que tomou D. Quixote, Madame Bovary, Tom Sawyer.
E isso é muito mais difícil.

Há muita gente neste país que se devota à disseminação da leitura, convicta e resolutamente, sabendo exatamente o que está defendendo e por quê. São pessoas preciosas. Só que...

Faz pouco, nos jornais, Luciana Villas Boas, diretora editorial da Record, declarou: O povo brasileiro descobriu a importância da leitura antes do hábito de leitura. E essa sacada foi ótima, muito perspicaz, captando no pulo uma sutileza que explica muita coisa no Brasil, inclusive o crescimento recente do mercado editorial.

Ora! O problema que nos propomos a resolver é complexo... Mesmo quem não lê afirma que é importante ler. Mesmo sem dizer nem se preocupar em dizer o que está defendendo: é importante... ler o quê?

Mas, afirma-se, de todo jeito, a importância da leitura.

Há muito menos gente ─ talvez somente os iniciados, os infectados, os amorudos da Literatura ─ defendendo o direito de ler Literatura. A Democratização da Literatura.

Seria mais ou menos o direito de cada um de se aventurar no Reino da Verossimilhança, escapando da imposição da Verdade. De se submeter à relação alquímica na qual o leitor se transforma ao transformar a obra que lê.

Então, temos certeza de que queremos insistir nisso?

É nisso mesmo que queremos nos meter?

Não que eu pessoalmente tenha dúvidas, mas é justo perguntar: não seria mais fácil parar de chatear os outros afirmando nossa especificidade? Não seria mais fácil engrossarmos uma corrente que já tem reconhecimento público? Um valor já estabelecido?

Eu acredito que não se pode vivenciar o intangível da vida, das pessoas, do mundo, sem a Literatura (ou alguma outra expressão artística que nos anime, insufle). Eu acredito que não se pode conviver em paz, sem medo, sem ansiedade, com essa parte da existência, que abrange inclusive a cessação de existir, além de uma infinidade de outros enigmas e mistérios, sem a Literatura. Além disso, amo a Literatura em si, seu modo de expressão e o que ela pode expressar, sua arte, esta porção de beleza que ela pode gerar, essa materialização do espírito, de seus enigmas e segredos, em objeto (artístico) e vivência. Essa coisa de a gente ser possuído por uma obra literária, enquanto se lê e quando a relembra.

É uma questão de amor.

Hábito se transmite, se ensina, se condiciona, se corrige, se domestica. É sempre em mão única.
Amor é mútuo.

(O que uma obra faz com um indivíduo que a lê com amor é amá-lo.)

Mas, como passar amor aos que não o sentem? Aos não-iniciados?

Não, não sei precisar como. Mas, talvez haja pistas a serem seguidas.

Ruth Rocha certa vez, numa palestra, disse que há pessoas condenadas a ler ─ que vão buscar uma obra Literária sob as mais adversas condições (lembram da Costureirinha, personagem do filme Balzac e a Costureirinha Chinesa, de 2002?).

Como se dá isso, trata-se também de um mistério. Creio que estes já tem a Literatura dentro de si, antes de conhecer qualquer obra. E vão perseguir esse chamado, para saciar uma lacuna, uma agonia, uma fome... “um não sei que, que nasce não sei onde,// vem não sei como, e dói não sei porque”.

Com estes, temos somente de facilitar o seu acesso aos livros – bibliotecas com acervos fartos, mediadores de leitura ─, e o resto que tiver de acontecer acontecerá. Mas, o amor pela Literatura, eles já estão fadados a contrair.

Há aqueles, do tipo o dignitário que ordenou a cremação da Biblioteca de Alexandria ou os que somente podem conceber a Literatura como um recurso de transmissão de mensagens pragmáticas, seja didáticas, religiosas ou político-partidárias, ou qualquer proselitismo. São poucos, tão poucos quanto os condenados a ler. E não adianta nos ocuparmos destes.

No entanto, gloriosamente, há todo um meio-termo, a maioria, o mais numeroso contingente da população, que pode, quem sabe, ser sensibilizado/contaminado pelo valor que a Literatura tem para os iniciados. Paixão contagia. Amor cativa. Os que amam a Literatura (como Todorov) tem o poder de passar esse amor. E isso acontece ao falarem dos livros que leram, que foram importantes em suas vidas, que mudaram suas vidas, dos quais sentem saudades, dos seus livros e autores e personagens mais queridos, mais amigos, companheiros de longa data e para toda a vida...

É colocar Bartolomeu olhando da tela da TV para cada pessoa da família, com seu jeito meigo, sincero, contando o causo de como é que foi seu encontro com a leitura, dos livros que se tornaram seus livros, de suas lembranças dos livros que leu. Resistir, quem há de?
Se for este o caminho (?), será que podemos fazer isso? Somos capazes de resistir à tentação de convidar os não iniciados/futuros portadores em potencial da Literatura em seus espíritos e vida e cotidiano a abrir uma obra em função de algum sentido pragmático, mais palatável? Para aprender alguma coisa, por exemplo...? Isso deve ou não ser evitado?

Creio que sim. Que a pragmatização rouba da obra sua relação maior com o indivíduo. Uma relação não mensurável, às vezes oculta nas entranhas espirituais de cada um, uma reação ao que se lê que não pode ser pré-determinada pela exigência de se decifrar e decorar uma mensagem prevista e fechada: certo ou errado.

Literatura é algo que se planta, num coração e num espírito, digamos, com sementes de tomate; só que o resultado pode ser brotarem esfinges.

Já imaginaram uma prova, seja de múltipla escolha ou de texto corrido, em que se cobre do aluno uma definição (segundo o gabarito ou o texto-base) do que ele acha que é e onde é O Sítio do Picapau Amarelo?

Não me admiraria se a resposta certa fosse: “Nenhuma das respostas anteriores porque o Sítio do Picapau Amarelo não existe”.

Mas e se houvesse um rebelde, um gauche na vida que, tocado pelo anjo torto, riscasse todas as opções, de “A” a “E”, recusando-as, e escrevesse, à guisa de resposta, na margem da folha: “Fica em Taubaté, ou pode ser logo ali, junto ao Labirinto do Minotauro, à Toca do Coelho de Alice, a uma região da Terra da Mancha cujo nome agora não quero lembrar, bem no universal hipermercado de impossíveis possibilíssimos. Aliás, nada existe em termos absolutos. Tudo é uma suposta existência. Tudo é conjectura, como escreveu Machado, que segundo o poeta que até hoje, sentado de costas para o mar, sendo mineiro de nascença, nos observa lá do seu bronze passou à imortalidade por fazer bruxarias” ... ? E se daí seguisse o candidato, se animando, mandando ver e deixando rolar, usando o verso da folha entronizada, compondo um texto inusitado, espantoso... Magnífico. Literário.

Que nota ele estaria arriscado a levar, se fosse uma questão do ENEM?

Creio que o Movimento pelo Brasil Literário pode interferir no tecido cultural como um todo, ter uma ação abrangente, não-fragmentada, não localizada. E isso, creio também, é o que tem capacidade de infundir este valor de que falamos, ou de mudar este valor da Literatura em nossa sociedade ─ que é um valor cultural, que não reside num segmento isolado, mas está no ar. É o que pode ter esse alcance geral, escapando de nichos com fins (pragmáticos) fragmentados/fragmentadores.

(e uma ação para ter impacto num tal âmbito, mesmo que nosso produto seja tão diferenciado, precisa incluir mídia e marketing ─ sortilégios diabólicos que são a corrente sanguínea das idéias e hábitos em nossa contemporaneidade; até porque, desde Umberto Eco, sabemos que não precisamos ter medo de despertar, como um Gregor Samsa, metamorfoseados em apocalípticos, nem em integrados... Ou seja: podemos fazer uma mídia/marketing do Bem)

O Movimento por um Brasil Literário pode ser o elemento que faltava, um catalisador, o toque final para gerar a massa crítica, diante das tantas e dispersas iniciativas da sociedade civil para democratizar a Literatura. Pode ser a sinergia desses movimentos todos, sua integração num espírito, numa idéia transformadora. Numa utopia; e utopias são impossibilidades férteis, como argumenta Otávio Paes.

Pode ser uma inspiração para se mudar o que vale a Literatura para nosso povo. Para surgir essa nova mentalidade, a da Literatura como um valor inalienável e fundamental no tecido social. Ou para se inserir para sempre a Literatura entre nossos valores básicos.

Finalmente, sobre o foco da Campanha sugerida pelo Instituto C&A ao Movimento, na Mídia, a Família... Para mim, um achado: se estamos falando de valor, nada como reunir Literatura ao que vale, ao que tem valor, no imaginário do nosso público-alvo. Até porque não se trata de um golpe de publicidade. É sincero: amor, esperança no futuro, família e Literatura tem tudo a ver, reciprocamente. São valores que se fortalecem ao interagirem.

Nada como, no colo da mãe e do pai, da avó e do avô, junto com o netinho amado esteja abraçado, também, um livro de histórias encantadas que se lê para a criança. Enfim, sem poder ainda concluir essa linha de pensamento...

Literatura faz parte da Família.
Literatura é da Casa.

Fonte:
http://www.luizantonioaguiar.com.br/

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.44)


Trova do Dia

Vivo, no ocaso, otimista
pois, quando o sol vai-se embora,
vejo o pincel de um Artista
pondo, em meu céu... tons de aurora...
MARINA BRUNA/SP

Trova Potiguar

A noite sai do espetáculo,
inerme, discreta e estranha;
o sol por trás de um pináculo
eriça a luz na montanha... (...)
MANOEL CAVALCANTE/RN

Uma Trova Premiada

2010 > São Paulo/SP
Tema > FEITIÇO > Vencedora

Noel, em tarde tranquila,
compondo um samba sutil,
fez o Feitiço da Vila
enfeitiçar o Brasil!...
HERMOCLYDES SIQUEIRA FRANCO/RJ

Uma Poesia

– Prof. Garcia/RN –
TODOS CHORARÃO.

Se não houver mais flores nos jardins,
se faltar o perfume dos rosais,
sofrerão nossos anjos querubins
ao romper das auroras matinais!
Se faltarem belezas campesinas,
sabiás e os mais lindos rouxinóis,
que serão das auroras tão divinas
sem os cantos que encantam todos nós?
Sem os perfumes virginais dos campos,
sem a voz maviosa das cascatas,
chorarão os poetas pirilampos,
no silêncio final da voz das matas.
Todos nós choraremos de desgosto,
nunca mais os poetas vão cantar,
rolarão muitos prantos pelo rosto,
"as almas dos poetas vão chorar".

Uma Trova de Ademar

Eu ouvi, desde criança,
que uma chuva, sendo fina,
traz os pingos de esperança
para a “nação” nordestina...
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

É fácil guardar rancores,
é simples mudar de rota;
difícil é sorrir nas dores
ou suportar a derrota.
MÁRIO BARRETO/PE

Estrofe do Dia

A praia é uma virgem deitada na areia,
De olhos abertos, contemplando a Lua.
Enquanto, nas águas, a barca flutua,
Lá no firmamento, Diana passeia…
O Sol, com ciúme, a praia incendeia,
Com raiva da Lua que não quis casar:
A Lua queixosa começa a chorar!
Na cama do céu, coitada, desmaia...
Derramando prantos de prata na praia;
Que coisa bonita na beira do mar!
OTACÍLIO BATISTA/PE

Soneto do Dia

– Guilherme de Almeida/SP –
NÓS

Quando as folhas caírem nos caminhos,
ao sentimentalismo do sol poente,
nós dois iremos vagarosamente,
de braços dados, como dois velhinhos...

E que dirá de nós toda essa gente,
quando passarmos mudos e juntinhos?
---" Como se amaram esses coitadinhos!
Como ela vai, como ele vai contente!"

E por onde eu passar e tu passares,
hão de seguir-nos todos os olhares
e debruçar-se as flores nos barrancos...

E por nós, na tristeza do sol posto,
hão de falar as rugas do meu rosto...
Hão de falar os teus cabelos brancos...

Fonte:
Ademar Macedo