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domingo, 17 de novembro de 2024
José Feldman (O Último Suspiro de Mia)
Oh, amiga leal, tua ausência é um tormento,
teu miado é um canto que não se apaga,
e a vida, sem ti é um triste lamento.
Nos dias nublados a dor é uma chaga,
em cada lembrança, um doce momento,
que me abraça e em lágrimas se embriaga.
Os nomes são fictícios, mas a história foi real.
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Na esquina de uma rua movimentada, sob a sombra de um velho carvalho, havia uma gata chamada Mia. Ela era apenas um filhote quando a vida a presenteou com uma dura realidade: o abandono. Junto com seu irmão, Max, Mia enfrentava o mundo desconhecido, cheio de perigos e solidão. Os dois se aconchegavam em caixas de papelão, buscando calor e proteção um no outro. Mas, à medida que os dias passavam, a vida na rua tornava-se cada vez mais insuportável.
Certa manhã, um casal, Giuseppe e Erin, que passava por ali notou os dois gatinhos. Erin, a mulher, de olhos suaves e coração gentil, não conseguiu resistir. “Olha, amor! Precisamos ajudar!” disse ela, apontando para os filhotes trêmulos. Giuseppe , que sempre teve um carinho especial pelos animais, concordou. Eles se aproximaram e, com cuidado, pegaram Mia e Max, levando-os para casa.
O novo lar era um lugar acolhedor. Mia e Max foram recebidos com carinho, comida e um espaço quentinho para dormir. Eles logo se adaptaram, explorando cada canto da casa, enquanto o casal se tornava a família que nunca souberam que precisavam.
Mas a felicidade não durou muito. Dois anos depois, Max começou a apresentar problemas de saúde. Giuseppe e Erin fizeram o possível para cuidar dele, levando-o ao veterinário, mas infelizmente a doença venceu a batalha. Mia estava ao lado do irmão quando ele deu seu último suspiro. A dor da perda foi insuportável. Ela não entendia por que seu pequeno mundo havia desmoronado tão rapidamente.
Com a partida de Max, a vida de Mia se transformou em um luto silencioso. O calor do lar agora parecia gelado. Ela se afastou de tudo e todos, passando horas em um canto escuro da casa. O casal, preocupado, tentava animá-la, mas a alegria que antes preenchia o lar havia se dissipado. Ela não parecia mais ser a mesma gata brincalhona.
Foi Giuseppe quem mais se dedicou a cuidar dela. Ele a cercou de amor, tentando atrair sua atenção com brincadeiras e petiscos.
“Mia, minha querida, você ainda tem a mim”, ele dizia, acariciando seu pelo macio. Com o tempo, ela começou a reagir, mas apenas em momentos fugazes. Ele sentava-se ao seu lado, contando histórias, e afagando seus pelos.
Com o passar dos meses, Mia começou a aceitar a presença dele, mas a tristeza nunca a abandonou por completo.
Giuseppe se tornara um amigo dedicado, compreendendo que a cura de Mia precisava vir do seu próprio ritmo.
Ele sempre dizia: “Estamos juntos nessa, meu amor.” E, assim, um novo laço foi formado, uma amizade silenciosa, mas profunda.
Os anos se passaram, e Mia envelheceu. Já não era mais a gata ágil e brincalhona que um dia foi. Com 15 anos, ela começou a enfraquecer.
Giuseppe, agora mais velho também, percebeu que o tempo estava se esgotando. Ele se dedicou ainda mais a cuidar dela, alimentando-a com carinho e dando-lhe amor nos momentos mais difíceis.
“Você é minha irmã, e eu estarei com você até o fim”, prometeu ele, segurando-a em seus braços.
Mia se aninhava em seu colo, buscando conforto. Giuseppe se lembrava de cada amassada de pão, cada momento feliz que passaram juntos, e seu coração se apertava ao pensar que tudo isso estava chegando ao fim.
Certa manhã, Giuseppe acordou e percebeu que Mia não havia se levantado. Ele se aproximou e viu que ela estava mais fraca do que nunca. Com delicadeza, a pegou no colo, acariciando seu pelo, enquanto lágrimas escorriam pelo seu rosto.
“Você é tudo para mim, Mia. Eu te amo tanto”, ele sussurrou, com a voz embargada.
Enquanto Mia respirava lentamente, ele ofereceu um pouco de comida, ajudando-a a comer. Mas, naquela manhã, ela parecia tão cansada. Seu olhar, antes vibrante, agora estava distante. Giuseppe, com o coração pesado, sabia que o momento estava se aproximando. Ele segurou Mia mais apertado, como se pudesse transmitir todo o amor que sentia através daquele abraço.
E então, em um momento silencioso e sereno, Mia deu seu último suspiro. Giuseppe sentiu seu corpo relaxar em seus braços, e a dor da perda o atingiu como uma onda devastadora. Ele chorou como uma criança, deixando suas lágrimas caírem sobre o pelo dela, enquanto o vazio se instalava em seu coração.
Mia partiu, mas seu espírito permaneceria para sempre na vida de Giuseppe. Ele sabia que havia amado e sido amado de uma maneira pura e incondicional. A dor da perda seria eterna, mas as memórias dos momentos felizes que passaram juntos seriam seu consolo.
A casa, agora silenciosa, era um lembrete do amor que um dia habitou aqueles espaços. Giuseppe prometeu nunca esquecer a gata que entrou em sua vida em meio à dor e encontrou um lar. Ele sabia que, embora Mia não estivesse mais ali fisicamente, seu amor e a amizade que compartilharam viveriam para sempre em seu coração.
Fontes: José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Meta, do Whatsapp
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Meus manuscritos,
Panaceia de Textos
Vereda da Poesia = 160 =
ÁTILA SILVEIRA BRASIL
Cornélio Procópio/PR
Velha foto esmaecida
deixou lágrima de herança!
Hoje a vejo colorida
pelo cristal da lembrança!
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Folclore Brasileiro em Versos de
JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR
Matinta Pereira
Na bruma da noite, um canto a soar,
Matinta Pereira, sombra a vagar,
com penas de gaivota e mistérios a contar,
guardiã das almas, seu destino a traçar.
Canta para os mortos, em lamento profundo,
e em cada sussurro, um eco fecundo,
protege os perdidos, os que não têm voz,
e em seu olhar sábio, a dor se faz feroz.
Mas quem a desafia, deve ter temor,
pois a força da bruxa é de um grande amor,
que luta na sombra, em busca de paz,
e entre os mistérios, a vida se faz,
Matinta, a lenda, com seu eterno clamor,
nas noites de velas, seu canto é fervor.
= = = = = =
Trova de
LICÍNIO ANTONIO DE ANDRADE
Juiz de Fora/MG
Cai a tarde e a passarada
em gorjeios musicais
é orquestra desafinada
na algazarra dos pardais.
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Poema de
APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Vila Velha/ES
Se
Se eu morresse hoje (agora)
Levaria comigo
A tristeza do seu adeus.
Depois de tudo que restou de mim
Sou a parte de você
Que se desprendeu de mim...
= = = = = =
Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ
Das culminâncias da serra
ao mais profundo grotão,
trago viva a minha terra,
dentro do meu coração!
= = = = = =
Soneto de
MÁRIO QUINTANA
Alegrete/RS (1906 – 1994) Porto Alegre/RS
A Rua dos Cata-ventos (I)
Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta é cor das venezianas:
Verde!... E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!
Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons... acerta... desacerta...
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas...
Jogos da luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever até me esqueço...
Pra que pensar? Também sou da paisagem...
Vago, solúvel no ar, fico sonhando...
E me transmuto... iriso-me... estremeço...
Nos leves dedos que me vão pintando!
= = = = = = = = =
Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN
As cordas desafinadas
e esta voz chegando ao fim!...
São mimos das madrugadas
guardados dentro de mim!
= = = = = =
Poema de
APOLÔNIA GASTALDI
Ibirama/SC
O vento
Um dia
bem à tardinha
bate o vento
a viração
e
varre ligeiro
as folhas secas do chão
Olhei bem aquela cena
do terreiro limpo
e
então
lembrei todos os sonhos
que eu tinha
na coração.
Se você tivesse visto
com os olhos da alma
a dor
não teria arrancado
de mim
aquele amor
Sonho com o terreiro limpo
depois de uma viração.
Um amor não mata outro
o que nos mata
é a dor.
= = = = = =
Trova humorística de
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte/MG
Arma um barulho no "ninho"
ao ver que a cara-metade
curte um som com o vizinho
em "alta-infidelidade!"
= = = = = =
Soneto de
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP
Oh, tempo!
A rua onde brinquei na meninice,
período mais feliz de minha vida,
só fui revê-la agora, na velhice...
E ali... senti minha alma compungida!
Aquela que implorou que eu não partisse...,
que era tão bela e larga, tão comprida,
como pôde encolher? Foi vigarice
do tempo que a tornou tão espremida?
Meu grande espanto fez-me recordar
do imenso amor da minha juventude,
que então julguei ser o maior do mundo...
Mas quando a vida me obrigou provar
a imensidão daquele amor... Não pude,
tão diminuído estava... E moribundo!
= = = = = =
Trova de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP
O homem é tão insensato,
tanto na farsa delira,
que chega a viver, de fato,
o fato que era mentira!
= = = = = =
Hino de
ROSÁRIO DO SUL/RS
Terra fértil de ricas colheitas
de rebanhos e verdes cereais
tua praia de areias eleitas
lembra imenso lençol de cristais
Estribilho:
Rosário do Sul, Rosário do Sul
Do povo gaúcho contente e feliz
orgulho da gente, cidade bendita
que sonha e palpita no sul do país
O brasão da cidade retrata
as origens que a história traduz
em seus rios, a pureza da prata
sobre o verde à que o ouro dá luz
O rosário, a cabeça de touro
e as armas que em paz hoje estão
simbolizam no verde e no ouro
que Rosário engrandece a nação
Quem o rio contemplar das barrancas
vendo as águas e a vida passar
essas praias de areias tão brancas
dentro d'alma vai sempre levar
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Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO
Ribeirão Preto/SP
Velha casa, sonho alado
que a saudade hoje remonta
para mostrar meu passado
brincando de faz de conta.
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Recordando Velhas Canções
SAMBA TRISTE
(1960)
Billy Blanco e Baden Powell
Samba triste
A gente faz assim
Eu aqui
Você longe de mim, de mim
Alguém se vai
Saudade vem e fica perto
Saudade resto de amor
De amor que não deu certo
Samba triste
Que antes eu não fiz
Só porque
Eu sempre fui feliz, feliz
Agora eu sei
Que toda a vez que o amor existe
Há sempre um samba triste, meu bem
Samba que vem de você, amor
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Universos Di Versos,
Vereda da Poesia
Geraldo Pereira (A Sapatilha de Ponta)
Retomo sempre que posso o início de vida de cada uma das minhas filhas, recordando o primeiro choro que ouvi, de cada uma separadamente na sala de parto. Gosto de parar e notar o quanto progrediram! Fabiana chorou logo, Patrícia demorou e levou umas palmadas nas costas, mas pronunciou-se fortemente, fazendo o avô, na sala de espera, dizer: “Pelo choro, será tão inteligente quanto a outra!”. Digressão psicológica tirada, talvez, em conversa de calçada com Sylvio Rabello. Depois, Carolina nem queria sair da barriga, fazendo Jorge Regueira rebuscar o ventre à procura dela, mostrando quando quis e bem entendeu o pé, veio à luz de cabeça para baixo. Chegou e chorou, deu o grito das outras, igual ao de Fabiana e tão estridente quanto o de Patrícia.
Agora, já estão todas mais na frente! Fabiana rodopiando no balé, calçando a sapatilha de ponta. Chega do ensaio, conversa com Catarina e Karina, confessa: “Vou tirar um retrato com a minha sapatilha de ponta!”. Depois, volta-se para mim e define, deseja - isso sim! - substituir a foto de seu quarto de uma bela moça atacando a sapatilha por seu próprio retrato.
Concordo e me disponho a ser o fotógrafo oficial do grupo!
Patrícia ingressa na adolescência, pelo menos pretende isso e aparece no Shopping Center todos os sábados para fazer o footing, como dizem os do meu tempo, imitando os americanos, e não gosta ela que se fale agora. Vai e volta, anda pra lá e pra cá, paquera de um e de outro lado, mas vez ou outra é tomada pelo desejo infantil, pede dinheiro e monta o cavalinho que sai rodopiando no salão.
Carolina é pixote, agarra-se à boneca, instala-se na casa dos sonhos de criança e tome briga com Catarina. Mas, se Catarina não vier, a boca vai lá embaixo e a chorumela é grande!
São três meninas diferentes, três cabecinhas completamente diversas, uma quase moça, outra forçando a chegada, embora presa na brincadeirada da idade e a pequena, sem saber das paqueras da vida, agarra-se com a boneca e se encanta com as estórias das fadas e das bruxas.
Eu virei motorista, levo Fabiana e trago Patrícia, secretariado, sempre, por Carol, que diz: “Painho! Menina pequena pode ir?”. Se disser que pode ela vai, se falar que não, ela fica, imperturbável, tranquila. É programa de toda ordem, festa de aniversário e festa sem motivo! O carro abarrotado, gente por todo lado! Aí, Catarina me explica que Pedro – o pai –, não pôde vir, ocupado como está no Palácio do Governo. Digo eu, então, a ela: “Seu pai é um fidalgo! Nasceu em tempo errado! Elegante como um Prefeito, mas simples como Pedro, o pescador da Galileia!”.
Ela não entende bem, mas garante que vai dizer ao pai!
Fabiana divagando, qual bailarina no palco, confessa ao meu ouvido, satisfeita e vibrante, quase gritando: “Painho! Quebrei a sapatilha de ponta!”. “Ah, meu Deus, não me diga uma coisa dessa!”. Tem que quebrar, mesmo, é a explicação que recebo!
Eis a vida de pai, em três idades diferentes!
(Texto escrito na adolescência da filha mais velha, na pré-adolescência da segunda filha e na infância da terceira).
Fonte: Geraldo Pereira. Fragmentos do meu tempo. Recife/PE. Disponível no Portal de Domínio Público
Humberto de Campos (Punição)
Há mulheres que você nunca deve se casar. Temos que deixá-las se casar com seus amigos – Alfred Capus.
Molemente estirado no leito revolto, com a farta cabeleira de ouro em desalinho sobre o travesseiro em que se achava impresso ainda, o sinal de outra cabeça, a linda Julieta Erst acompanha com os olhos os movimentos do Dr. Cardoso Simas, que abotoa a botina, tranquilamente, com o pé sobre uma cadeira. Olhando-o, assim, de costas, ela examina, desvanecida, a máscula formosura do amante jovem, cuja harmonia de espáduas se patenteia através da camisa de seda creme sob a cruz grená do suspensório quando, de repente, a sua saudade lhe dita uma queixa:
- Vê, só, Eduardo, o que foi o resultado daquele arrufo em nossa vida! Se tu não tens brigado comigo, naquela tarde, nós nos teríamos casado, e, em vez deste amor cortado de sustos, de incertezas, de pecados, viveríamos, agora, um junto do outro, sem temores nem pesares!
O rapaz continua, de costas, abotoando as botinas e a moça insiste, aconchegando o lençol, com os olhos nele:
- Seria uma vida ideal; não achas?
- Talvez... - aventura o moço.
- Talvez por quê?
E ele, explicando-se, displicente:
- Por que? Porque, se eu me tivesse casado contigo, estaria, agora, no escritório, enquanto que o Erst se acharia, talvez, aqui, na minha ausência, amarrando os sapatos!
E, sem olhar para trás, continua, em silêncio, abotoando a botina…
Fonte: Humberto de Campos. A Serpente de Bronze. Publicado originalmente em 1925. Disponível em Domínio Público.
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