Era um moço esperto como poucos, e viu que este mundo era dos espertalhões. Anunciou que curava todas as doenças e que era capaz de adivinhar qualquer segredo que houvesse.
Lembrando-se, porém, que ninguém é profeta em sua terra, Carolino mudou-se da cidade. Foi residir na capital do reino, onde toda a gente o conhecia por Dr. Grilo, em vista da sua imensa altura e extraordinária magreza.
Em pouco tempo, o Dr. Grilo tornou-se célebre. Com sua charlatanice, conseguia coisas maravilhosas.
Sucedeu, entretanto, que o rei, sabendo daquilo, mandou chamá-lo ao palácio.
O Dr. Grilo para lá se dirigiu, tremendo de susto, sabendo que o soberano era malvado, e que com ele ninguém brincava.
Apresentando-lhe a mão fechada, ordenou-lhe sua majestade que dissesse o que era que ali se encontrava.
Vendo-se encurralado, o rapaz exclamou:
— Ah! Grilo! em que mãos estás metido?
— É verdade. – disse o rei abrindo a mão. – É mesmo um grilo que tenho aqui.
Tempos depois, o monarca o fez comparecer novamente à sua presença.
— De que bicho é este sangue? – indagou, apresentando um frasquinho.
O adivinho, desesperado, não tendo outra coisa que fazer, disse:
— Aí é que a porca torce o rabo.
— É de porca mesmo. Adivinhaste! – disse o rei.
Passado um mês, como prosseguissem os sucessos assombrosos do rapaz, o soberano mandou que o trouxessem pela terceira vez.
Ordenou-lhe sob pena de morte, que descobrisse os ladrões de um tesouro real.
Os verdadeiros gatunos, que eram três criados do paço, receando que o Dr. Grilo de fato adivinhasse, foram ter com ele e suplicaram-lhe que os não delatasse.
O rapaz, sem perda de tempo, denunciou-os ao rei.
Grilo foi nomeado, então, médico do hospital militar.
Havia nessa ocasião uma grande epidemia que se espalhava entre os soldados, sem que médico algum soubesse descobrir o que era.
Assim que foi nomeado, o falso doutor dirigiu-se à enfermaria, e declarou que, no dia seguinte, iria autopsiar todos os enfermos, mesmo os vivos.
Pela manhã estavam todos bons, e o hospital inteiramente vazio, pois os soldados nada tinham, fingindo-se doentes, a fim de não irem para a guerra.
O rei, acreditando na ciência de Carolino deu-lhe carta de nobreza e grandes riquezas.
Fonte: Alberto Figueiredo Pimentel. Histórias da Avozinha. Publicado em 1896. Disponível em Domínio Público.
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