quarta-feira, 6 de novembro de 2024

José Feldman (Pafúncio no lançamento de um livro)

Era uma vez, em uma cidade onde a fofoca corria mais rápido que o vento, um jornalista chamado Pafúncio. Ele trabalhava para a renomada revista de fofocas "Fuxico & Fofocas", conhecida por suas histórias exageradas e manchetes que faziam até as pedras rirem. Pafúncio, um homem baixo e gordinho, tinha uma habilidade especial: ele conseguia transformar qualquer evento mundano em uma comédia tragicômica.

Um belo dia, a revista recebeu um convite para o lançamento do novo livro de um escritor famoso, o aclamado autor de romances, Aureliano Cabrito. O evento prometia ser o maior do ano, e Pafúncio estava determinado a ser o primeiro a descobrir todos os segredos por trás da obra. Com seu bloco de notas e caneta de tinta permanente (que estava mais permanente do que o próprio Pafúncio gostaria), ele se preparou para o grande dia.

No dia do evento, o salão estava repleto de celebridades. Havia atores, cantores e até aquele influenciador que ficou famoso por postar vídeos de gatos fazendo yoga. Pafúncio, com sua camiseta da revista e uma calça que parecia ter sido escolhida por um toureiro, se espremeu entre os convidados. Ele tinha um plano: entrevistar Aureliano e descobrir se ele realmente escrevia seus livros enquanto fazia malabarismos com laranjas, como alguns diziam.

Quando finalmente encontrou o escritor, ele estava cercado por fãs e jornalistas. Pafúncio, com sua voz de locutor de rádio, gritou: “Aureliano! Como você lida com a pressão de ser um autor tão famoso?” 

O escritor, surpreso, olhou para ele e respondeu: “Com muito café e algumas doses de solidão.”

Pafúncio, em sua mente, transformou isso em uma manchete: “Aureliano Confessa: Café e Solidão São Seus Melhores Amigos!” Mas ele não parou por aí. Com um olhar astuto, decidiu que era hora de fazer perguntas mais inusitadas. 

“E se você tivesse que escolher entre escrever um livro ou dançar tango com um gato, o que você escolheria?” Aureliano, sem saber se ria ou chorava, respondeu: “Bem, eu acho que o gato tem mais ritmo!”

Pafúncio, já rindo da sua própria piada, decidiu que precisava incluir o pato na matéria. Em um momento de pura inspiração, ele começou a imaginar como seria a capa da próxima edição da revista: “Aureliano e Seu Pato: A Revolução Literária da Dança!”

Mas a situação ficou ainda mais extravagante quando a assistente de Aureliano, uma mulher alta e elegante chamada Serena, decidiu que era hora de fazer a tradicional leitura de trechos do livro. Enquanto ela se preparava, Pafúncio avistou uma mesa com um bolo enorme, decorado com a imagem do escritor. 

Sem pensar duas vezes, ele se aproximou e, antes que alguém pudesse impedi-lo, cortou um pedaço generoso do bolo com uma colher de sopa.

Enquanto devorava o bolo, ele ouviu Serena começar a ler um trecho profundo e poético sobre o amor. Com a boca cheia de glacê, ele não pôde conter uma risada alta, que ecoou pelo salão. Todos os olhares se voltaram para ele, e Pafúncio, em sua típica falta de jeito, tentou se justificar. “Desculpem, mas essa passagem é muito doce… assim como o bolo!”

A plateia, entre risadas e olhares de desaprovação, começou a aplaudir a espontaneidade de Pafúncio. Vanessa, sem saber se ria ou se ficava brava, continuou a leitura. Mas ele, agora inspirado, começou a fazer comentários entre os trechos, criando uma espécie de stand-up literário.

“E quando Aureliano diz que ‘o amor é como um pássaro que voa para longe’, eu só consigo pensar: será que ele também dança tango com um gato?” 

A plateia, em um momento de cumplicidade, riu alto e a tensão do evento desapareceu.

No final do lançamento, ele saiu do evento não apenas com um pedaço de bolo na mão, mas com a certeza de que, em meio a tanta seriedade do mundo literário, sempre há espaço para uma boa dose de humor e, é claro, um gato dançarino.

Assim, Pafúncio voltou para a redação, onde escreveu sua matéria com entusiasmo, transformando o lançamento em um dos eventos mais cômicos da cidade. E assim, o jornalista e seu espírito travesso continuaram a fazer história nas páginas da revista, sempre prontos para a próxima fofoca que brotasse como um bolo em uma festa.

Fonte: José Feldman. Peripécias de um jornalista de fofocas & outros contos. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul, 2024.

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