segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Vereda da Poesia = 166 =


Trova de
JOSÉ RODRIGUES FERNANDES 
Fortaleza/CE (1910 – ????)

Chora o vento lá por fora...
Chora a chuva e vão-se as águas.
O coração também chora,
mas nunca se vão as mágoas.
= = = = = =

Poema de 
ELVIRA BARBOSA CAMARINHA
Braga/Portugal

Donzela

Com violino e rabeca
donzela me sinto,
ao toar de Agosto quente,
com a alma ardente,
corpo decente.

Tesouro guardado.

Chave do cofre, escondida
algures,
perdida,
sinal de nova vida!

Donzela
nua de pés,
adormece na sua tela!

Tesouro apetecido.

Saudades tuas
serão manhãs cruas...
donzela perdeu a sensualidade,
pecado arremessado
pelos senhores da Verdade!
Prazo de validade...

Tesouro requisitado.

Tarde,
fez-se noite,
a donzela fechou-se...
cadeado!

Saudades donzela do
teu Amor quente,
enfeitiçado!

Donzela liberou o passado...
e dela ficou o beijo molhado.
= = = = = = 

Limerique de
NILTON MANOEL
Ribeirão Preto/SP, 1945 – 2024

Limerique Urbano IV

Pela longa rua da feira
tem tudo de bom e primeira;
vê-se a granel,
quentinho. pastel...
Tem até gente barraqueira.
= = = = = = 

Poema de
SÉRGIO TAVARES
Piabetá/RJ

Eu te peço perdão

Eu te peço perdão, por ser tão inexato,
por não possuir a claridade desse dia,
por ter uma visão de mentecapto,
por ter a vida, assim, sempre vazia.

Eu te peço perdão, por não estar onde me queres,
por dizer não, quando na verdade te queria,
por sorrir, quando tanto tu choravas,
mas, por chorar, quanto tanto tu sorrias.

Mas não me culpe se tudo deu errado,
se o teu amor nunca foi correspondido,
pois apesar de estar sempre do teu lado,
meu sentimento foi mal compreendido.

Culpe menos ainda o meu verso,
que é apenas uma forma de sangria,
é, apenas, o reflexo do meu reverso,
e se nasceu foi porque tu morrias.
= = = = = = 

Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ

Conheço um tipo de fome
que não se farta de pão:
fome de amor!  Eis o nome
da fome do coração!...
= = = = = = 

Soneto de
EMÍLIO DE MENESES
Curitiba/PR, 1866 – 1918, Rio de Janeiro/RJ

Alcoolismo

A leitura do tópico tremendo
À lembrança me trouxe uma anedota
Velha, tão velha quanto aquela bota
Que era toda o Larousse do remendo.

Certo alcoolista, um sábio artigo lendo
De um médico alemão de grande nota
Contra o álcool, diz em compulsão devota:
"Como ele prova quanto o vício é horrendo!"

E acrescenta: "A verdade em mim desperta!
Eu não quero pelo álcool cair morto,
Vou dizê-lo bem alto e de alma aberta!"

Tal leitura me traz tanto conforto,
Que vou beber saudando a descoberta
Três garrafas de bom vinho do Porto!...
= = = = = = = = = 

Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN

Amores na mocidade!...
Depois, a contrapartida:
cansaço, dor e saudade
na curva extrema da vida!
= = = = = = 

Poema de 
RABINDRANATH TAGORE
Índia (1861 - 1941) 

Julgamento

Não julgues...
Habitas num recanto mínimo desta terra.
Os teus olhos chegam
Até onde alcançam muito pouco...
Ao pouco que ouves
Acrescentas a tua própria voz.
Mantém o bem e o mal, o branco e o negro,
Cuidadosamente separados.
Em vão traças uma linha
Para estabelecer um limite.

Se houver uma melodia escondida no teu interior,
Desperta-a quando percorreres o caminho.
Na canção não há argumento,
Nem o apelo do trabalho...
A quem lhe agradar responderá,
A quem lhe agradar não ficará impassível.
Que importa que uns homens sejam bons
E outros não o sejam?
São viajantes do mesmo caminho.
Não julgues,
Ah, o tempo voa
E toda a discussão é inútil.

Olha, as flores florescem à beira do bosque,
Trazendo uma mensagem do céu,
Porque é um amigo da terra;
Com as chuvas de Julho
A erva inunda a terra de verde,
e enche a sua taça até à borda.
Esquecendo a identidade,
Enche o teu coração de simples alegria.
Viajante,
Disperso ao longo do caminho,
O tesouro amontoa-se à medida que caminhas.
(tradução de José Agostinho Baptista)
= = = = = = 

Trova de 
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte/MG

Esta angústia indefinida,
que sempre à noite me invade,
são sombras próprias da vida
ou disfarces da saudade?
= = = = = = 

Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Não tenha inveja!

O voo do urubu tão silencioso
e, na aparência, sem esforço algum,
nos lembra um parapente fabuloso,
cujo piloto tem risco comum....

O nosso pobre abutre é bem feioso,
mas seu voar supera qualquer um;
enquanto o voo à vela é majestoso,
perigo o urubu não tem nenhum!

A lei protege até sua existência,
por sua importante excelência,
limpando sem cansar a Natureza!

Vendo o urubu no céu, não tenha inveja,
(como de quem com risco é que veleja),
já que o manjar do abutre é a impureza!
= = = = = = 

Trova de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

A esperança do colono
de sol a sol é cativa...
mas seu patrão não é dono
dos sonhos que ele cultiva!
= = = = = = 

Hino de
NOVA GRANADA/SP

Sob as bênçãos de São Benedito,
do valente Francisco dos Santos,
veio a nós este solo bendito,
a quem vou dedicar o meu Canto.

No começo eras Vila Bela,
com orgulho lembra a gente tua;
outro nome surgiu nesta tela,
mas o amor de teus filhos continua!

Deus te salve, oh, Granada,
do "São João" ao "Pitangueiras",
para sempre, terra amada,
do "Matão" ao "Corredeira".

Teu passado é glorioso,
tua face é altaneira;
do teu povo laborioso
é a paz, "Cidade Hospitaleira"!

Brava gente chegada da Espanha
fez o nosso progresso aumentar
e, de força irmanada tamanha,
nossa Nova Granada aí está.

Teu passado foi feito de glórias,
teu presente à luta pertence,
teu futuro já tem uma história;
que alegria é morrer granadense!
= = = = = = 

Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Com as chaves da alvorada,
Deus que é poder e magia,
deixa a noite enclausurada
e abre as portas para o dia.
= = = = = = 

Recordando Velhas Canções
QUEM É 
(fox, 1959) 
Oldemar Magalhães e Osmar Navarro

Quem é...
Que lhe cobre de beijos
Satisfaz seus desejos
E que muito lhe quer... Quem é

Quem é...
Que esforços não mede
Quando você lhe pede
Uma coisa qualquer

Quem é...
Que de você tem ciúmes
Quem é 
que lhe ouve os queixumes
= = = = = = = = = = = = = 

Trova de
CLARINDO BATISTA ARAÚJO
Jardim do Piranhas/RN, 1929 – 2010, Natal/RN

Negra cinza no chão pobre
que resultou da queimada,
é o triste manto que cobre
a Natureza enlutada!...
= = = = = = = = = 

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