quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Vereda da Poesia = 167 =


Trova de
SARAH MARIANI KANTER
São Paulo/SP

A saudade é luz de vela
iluminando o que eu sou:
descolorida aquarela
que uma renúncia pintou.
= = = = = =

Poema de 
LUCIANA SOARES CHAGAS
Rio de Janeiro/RJ

A cadeira

Você cria histórias em um lugar só seu 
E tem apenas uma vida para se encontrar. 
São saudades de conversas na varanda, 
Que trazem memórias junto ao mar.

A cadeira na varanda, os quadros na parede, 
As redes balançando, o sol, dias felizes. 
O cheiro de café, o bolo de laranja na mesa, 
Lembranças surgem, uma lágrima escorre...
Ah pai, nosso amor não morre.

Recordo-me de seu carinho, a mão em minha cabeça, 
Um gesto tão seu, cheio de ternura. 
Levantava-se da cadeira, ia à cozinha, 
Para se deliciar com as guloseimas que adorava.

Será que esses tempos bons vão voltar? 
Acredito que sim, de algum jeito, enfim... 
Mesmo que você não esteja mais presente, 
A cadeira de balanço ainda está aqui, 
Permanece no mesmo lugar, junto a mim.
= = = = = = 

Poetrix de
ALICE DANIEL
Porto Alegre/RS

achados & perdidos
 
revirando minha vida
achei alma e coração
ambos feridos
= = = = = = 

Poema de
APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Vila Velha/ES

Em vão

Vivo a procura de mim 
dentro de você...
numa busca interminável; 
nunca lhe encontro!

Tenho a impressão
que afinal, 
como se fosse um castigo
chegou de mansinho o  meu fim...

em igual sentido, ingrata reprimenda segue 
aumentando a minha solidão
e me torturando o coração 
simplesmente... simplesmente assim...
= = = = = = 

Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ

Desta saudade infinita
não guardo mágoas, porque
foi a coisa mais bonita
que me ficou de você!
= = = = = = 

Soneto de
THALMA TAVARES
São Simão/SP

O anjo e o fauno

Por que tenho de ser de dois extremos feito?...
De um extremo, o melhor, vem a luz que me eleva.
Mas se às vezes sou luz, outras vezes sou treva,
que me impede enxergar o que é certo e direito.

Do outro extremo, o pior, eu direi contrafeito
que há um fauno viril que à luxúria me leva,
contra o qual, com razão, a razão se subleva
e me faz explodir a revolta no peito.

Quantas vezes me ergui do meu lado mais nobre
como quem, com a luz, de pureza se cobre
e a seguir, sem razão, deixa tudo sombrio.

Entre um anjo e um fauno eu passo a vida assim
a suplicar aos céus que afugentem de mim
o lascivo animal que anda sempre no cio.
= = = = = = = = = 

Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN

Cada tropeço me ensina
que a vida é eterno sonhar.
Na vida nada termina,
muda de forma e lugar.
= = = = = = 

Poema de 
IRENE LISBOA
(Irene do Céu Vieira Lisboa)
Arruda dos Vinhos/Portugal, 1892 – 1958, Lisboa/Portugal

Jeito de Escrever 

Não sei que diga.
 E a quem o dizer?
 Não sei que pense.
 Nada jamais soube.  

 Nem de mim, nem dos outros.
 Nem do tempo, do céu e da terra, das coisas...
 Seja do que for ou do que fosse.
 Não sei que diga, não sei que pense.  

 Ouço os ralos queixosos, arrastados.
 Ralos serão?
 Horas da noite.
 Noite começada ou adiantada, noite.
 Como é bonito escrever!  

 Com este longo aparo, bonitas as letras e o gesto - o jeito.
 Ao acaso, sem âncora, vago no tempo.
 No tempo vago...
 Ele vago e eu sem amparo.
 Piam pássaros, trespassam o luto do espaço, 
este sereno luto das horas. 
Mortas!  

 E por mais não ter que relatar me cerro.
 Expressão antiga, epistolar: me cerro.
 Tão grato é o velho, inopinado e novo.
 Me cerro!

 Assim: uma das mãos no papel, dedos fincados,
 solta a outra, de pena expectante.
 Uma que agarra, a outra que espera...

 Ó ilusão!
 E tudo acabou, acaba.
 Para quê a busca das coisas novas, à toa e à roda?  

 Silêncio.
 Nem pássaros já, noite morta.
 Me cerro.
 Ó minha derradeira composição! 
Do não, do nem, do nada, da ausência e
 solidão.

 Da indiferença.
 Quero eu que o seja! da indiferença ilimitada.
 Noite vasta e contínua, caminha, caminha.
 Alonga-te.
 A ribeira acordou.
= = = = = = 

Trova de 
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte/MG

Disse pra linda tainha
o peixe, muito gamado:
– Casa comigo, peixinha,
que eu estou “apeixonado!”
= = = = = = 

Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Seu sorrir

Eu fico tão feliz com seu alô,
por carta, viva voz, ou celular,
que até me esqueço que sou bisavô,
deixo a bengala e quero saltitar!

Do jeito como estou, borocoxô;
só faço versos para me animar,
passo calado o dia em meu bistrô,
bolando assunto para me inspirar...

Assim, quando você reaparece,
com seu alô gostoso de se ouvir,
minha alegria nesse instante cresce!

Sinto a felicidade bem de perto,
pois sei que o seu alô traz seu sorrir,
que é tudo o que eu preciso. Estou bem certo!
= = = = = = 

Trova de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

Velho em plena mocidade,
sem alma, sem ideais,
que faço desta saudade,
se nem ela me quer mais?
= = = = = = 

Hino de
SANTANA DO SERIDÓ/RN

Santana és orgulho do teu povo
Teus campos e serras me fascinam
Teu céu azul, salpicado de estrelas
Em noites de verão, o luar te ilumina.

Tuas ruas verdejadas de algarobas
Acácias, pés de fícus, flamboyants
A igreja guarda tuas tradições
Que o tempo solidificou.

Eu agradeço a Deus eternamente
Por ter nascido em Santana do Seridó
Pequena mas tão bela, 
Minha terra mãe gentil
De um povo varonil.

Do velho casarão sinto saudades
Perfil de nossa colonização
Do cruzeiro lá no pátio da capela
E dos campos alvejados de algodão.

A agricultura, a mineração e a pecuária
Ajudaram a esculpir a tua história
Desejamos de todo coração
Que o teu futuro seja de vitórias.

Santana do Seridó
Teu pavilhão queremos reverenciar
Teu povo com heroísmo e vigor
Com muita luta o teu solo desbravou
Vamos saudar, 9 de abril 
OH! Terra querida 
Iremos sempre te exaltar.
= = = = = = 

Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Quando uma ofensa me oprime
em silêncio enfrento tudo.
Qualquer grito se redime
ante meu protesto mudo.
= = = = = = 

Recordando Velhas Canções
NOSSA CANÇÃO 
(canção, jovem guarda, 1966) 
Luiz Ayrão

Olha aqui, preste atenção
essa é a nossa canção
vou cantá-la seja onde for
para nunca esquecer o nosso amor,
nosso amor

Veja bem, foi você
a razão e o porquê
de nascer essa canção assim
pois você é o amor 
que existe em mim    

Você partiu
e me deixou
nunca mais você voltou
pra me tirar da solidão
e até você voltar
meu bem eu vou cantar
essa nossa canção
= = = = = = = = = 

Trova de
MANUELLA AJALLA PAZ
Cruz Alta/RS

Verdade da luz de Deus
tão clara aí quanto aqui:
– Quem busca o bem para os seus,
encontra o bem para si!
= = = = = = = = = 

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