CELSO LUIZ FERNANDES CHAVES
Cambuci/RJ
De viver tenho prazer
no amor tenho muita sorte,
vivo para te querer
enquanto não vem a morte.
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Soneto de
EMÍLIO DE MENESES
Curitiba/PR, 1866 – 1918, Rio de Janeiro/RJ
Um músico barbudo
Tem a doença do som e a fatuidade
De pensar que todo ele, fibra a fibra,
É o sonoro instrumento em que só se há de
Vibrar o canto em que o universo vibra.
No seu queixo que pesa mais de libra,
E de pelos na escura densidade,
Pensa que o contraponto se equilibra
À harmonia da capilaridade.
Quando, às vezes, a crítica o abarba
Ele, acudindo ao exigente apelo,
Do ardor de um gênio musical se engarba.
De um filho de Isaú, a cara é o selo,
Pois nem o Padre Eterno tem mais barba,
Nem as onze mil virgens mais cabelo.
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Trova de
LUIZ CLÁUDIO COSTA DA SILVA
Parnamirim/RN
A imponente arte conserva,
os traços e a singeleza
da bela deusa Minerva:
- musa da mãe natureza!
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Soneto de
JOÃO BATISTA XAVIER OLIVEIRA
Bauru/SP
À lágrima
Quando a esperança acorda um sonho leve
e o som da natureza se aprimora;
penumbras do passado vão embora
e o toque do relógio não se atreve...
Quando o aperto de mão à paz aflora
e a dúvida do amor torna-se breve;
o gelo da pintura vira neve
e o justo com justiça não demora...
Ressurgem as latentes pradarias;
os olhos não se enganam com a fala
e a liberdade enfim mais aparece.
Tertúlias fraternais noites e dias
lapidam o poeta que se exala
e à lágrima fervente desfalece!
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Trova Premiada de
MERCEDES LISBÔA SUTILO
Santos/SP
Trova – apenas quatro versos
traduzem a vida, a fundo,
do homem em seus universos
- poesia que abraça o mundo!
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Poema de
CASTRO ALVES
Freguesia de Muritiba (hoje, Castro Alves)/BA (1847 – 1871) Salvador/BA
Dedicatória
A pomba d'aliança o voo espraia
Na superfície azul do mar imenso,
Rente... rente da espuma já desmaia
Medindo a curva do horizonte extenso...
Mas um disco se avista ao longe... A praia
Rasga nitente o nevoeiro denso!...
Ó pouso! ó monte! ó ramo de oliveira!
Ninho amigo da pomba forasteira! ...
Assim, meu pobre livro as asas larga
Neste oceano sem fim, sombrio, eterno...
O mar atira-lhe a saliva amarga,
O céu lhe atira o temporal de inverno. . .
O triste verga à tão pesada carga!
Quem abre ao triste um coração paterno?...
É tão bom ter por árvore — uns carinhos!
É tão bom de uns afetos — fazer ninhos!
Pobre órfão! Vagando nos espaços
Embalde às solidões mandas um grito!
Que importa? De uma cruz ao longe os braços
Vejo abrirem-se ao mísero precito...
Os túmulos dos teus dão-te regaços!
Ama-te a sombra do salgueiro aflito...
Vai, pois, meu livro! e como louro agreste
Traz-me no bico um ramo de... cipreste!
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Trova Popular
O meu amor me disse ontem
que eu andava coradinha;
os anjos do Céu me levem
se esta cor não era minha!
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Soneto de
JERSON BRITO
Porto Velho/RO
Sem recato
Chegaste desprovida de recato
Trazendo teus sussurros em oferta
Minh'alma revelada, descoberta
Celebra, degustando fino prato
Da cela dos sorrisos deste vate
Garbosa e sedutora abriste a porta
Outrora esmaecidos, tela morta
Fizeste dos sonhares o resgate
Em mim, nas remotíssimas paragens
Despontam as recônditas imagens
Pedindo teu carinho, esse pincel
Na face tens deveras duas luzes
Guiando lindas mãos com que produzes
Um mundo refulgente, meu laurel
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Trova de
GERALDO LYRA
Recife/PE
Como simples jangadeiro,
no mar das paixões da vida
vou ficando sem roteiro,
numa jangada perdida...
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Folclore Brasileiro em Versos
JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR
Saci Pererê
No bosque escuro, um riso a ecoar,
um pé só dança, travesso, à espreita,
Saci, travador de rimas a brincar,
com seu gorro vermelho em meio à colheita.
Nos ventos que sopram, seus truques ecoam,
leva com ele o medo, o riso a flutuar.
Atrás da moita seus rastros enevoam,
sua lenda vive sempre a nos provocar.
Mas não é só travessa a sua essência,
guardião das matas, do fogo a grelha,
ensina ao homem a ter paciência,
que no simples ato, a vida é uma bem-querença.
Em cada folguedo, uma nova centelha,
no coração do povo, sua presença.
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Trova de
ANTÔNIO TORTATO
Curitiba/PR, 1934 – 1992, Paranacity/PR
Como a sombra, o falso amigo
reza na mesma cartilha.
Ambos caminham contigo
somente enquanto o sol brilha.
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Soneto de
ALFREDO SANTOS MENDES
Lisboa/Portugal
Música divina
É música divina o chilrear,
De uma ave que voa, solta ao vento!
É música divina, doce alento…
Se alguém nos diz baixinho: eu vou te amar!
É música divina o sussurrar,
Que o mar provoca em cada movimento.
Divina melodia, o açoitamento;
Que a onda nos difunde, ao se espraiar!
É música divina, quando o amor,
É cântico divino, sedutor;
Lembrando Pierrot e Columbina!
Até o próprio vento em noite escura,
Sibilando estridente na lonjura…
Nada mais é, que música divina!
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Trova de
FERNANDO CÂNCIO
Fortaleza/CE, 1922 – 2013
O morro grita o seu nome
num frenesi sem igual
e vai sambando com fome
a deusa do carnaval!
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Soneto de
GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS
Pedido
Peço aos irmãos, aos filhos e aos amigos,
que, quando a morte venha me levar,
não coloquem meu corpo nos abrigos
cimentados, gelados e sem ar!
E nem me ponham em belos jazigos!
Nesses lugares, eu não quero estar!
Tristeza e solidão são os perigos.
Minha alma quer seguir a navegar!
Por isso eu peço a quem me queira bem,
leve meu corpo longe ... até o mar!
Onde haja céu! Onde vente também!
Nesse lugar azul só de beleza,
lancem ao mar o que de mim restar,
quero ser parte dessa natureza!
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Trova Funerária Cigana
Sou triste como a tesoura
que corta a negra mortalha,
ou da cova a dura terra
que sobre o morto se espalha.
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Spina de
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP
Metades
Opostos em transe
circulam na mente
buscando um quê,
reflexões de um carente burguês.
Em vielas secretas, são espelhos
indefesos em invólucro de buquê.
Sutis maramos de múltiplos tons,
âmagos dispersos na nula psiquê.
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Trova de
ARTHUR THOMAZ
Campinas/SP
Gonçalves Dias, teu verso
das terras do Maranhão
aos píncaros do Universo,
prega ao mundo a comunhão!
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Soneto de
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP
Súplica
Aves! Cantai por mim que não possuo lira!
Vós sois como os poetas, livres e inspiradas...
Onde existis, cantais alegres, descansadas,
como a dizer que a vida enleva, encanta e inspira...
Eu não nasci com estro, ó donas da safira!
Jamais foi meu o dom das palavras rimadas,
no peito meu as mágoas sempre estão caladas,
apenas sei chorar! E o pranto já se expira...
Clamor de desespero é só o que eu poderia
arrancar de meu peito. E nunca uma poesia!
Oh! menestréis dos céus, ouvi o que vos clamo!
Ide bem alto, alto, e lá no céu profundo
ao Criador dizei que eu peço neste mundo,
amor, somente o amor do alguém a quem eu amo!
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Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
Como é bom saber que o filho
vida afora alegre vai,
dando forma, força e brilho
aos sonhos do velho pai!
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Poema de
JOSÉ LEZAMA LIMA
Campamento de Columbia/Cuba, 1910 – 1976
Ah, que você escape
Ah, que você escape no instante
em que tenha alcançado sua melhor definição.
Ah, minha amiga, não queira acreditar
nas perguntas dessa estrela recém-cortada,
que vai molhando suas pontas em outra estrela inimiga.
Ah, se fosse certo que, à hora do banho,
quando, em uma mesma água discursiva,
se banham a imóvel paisagem e os animais mais finos:
antílopes, serpentes de passos breves, de passos evaporados,
parecem entre sonhos, sem ânsias levantar
os mais extensos cabelos e a água mais recordada.
Ah, minha amiga, se no puro mármore das despedidas
tivesses deixado a estátua que poderia nos acompanhar,
pois o vento, o vento gracioso,
se estende como um gato para deixar-se definir.
(Trad. Claudio Daniel)
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Trova de
SELMA PATTI SPINELLI
São Paulo/SP
Quando a paixão acontece
de uma forma alucinada,
qualquer esquina parece
uma grande encruzilhada.
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Soneto de
JOSÉ XAVIER BORGES JUNIOR
São Paulo/SP
A última rosa
Quero agora te abraçar, por um instante!
E ficar, assim, quieto nos teus braços,
E sentir teu respirar, nesses compassos
Desta música divina e alucinante!
Quero assim, permanecer nesse teu mundo
De sussurros de hinos e de magias...
De teus olhos vem a luz onde me inundo,
De tua voz vem a candura de alegrias...
Quero assim estar contigo quando um dia,
Nos chamar para o seu seio a eternidade.
Quem ficar não deve nunca sentir dor.
Quem ficar deve viver em alegria
E na rosa carregada de saudade
Ofertar à eternidade o grande amor!
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Trova de
JOSÉ LUCAS DE BARROS
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN
Fui rever meu chão de outrora,
mas a saudade era brava:
meus olhos sorriam fora;
dentro o coração chorava!
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Poema de
CECÍLIA MEIRELES
Rio de Janeiro/RJ, 1901 – 1964
Dois cravos roxos
Esta noite, quando, lá fora,
campanários tontos bateram
doze vezes o apelo da hora,
na minha jarra, onde a água chora,
meus dois cravos roxos morreram...
Meus dois cravos roxos morreram!
Meus dois cravos roxos defuntos,
são como beijos que sofreram,
como beijos que enlouqueceram
porque nunca vibraram juntos...
São como a sombra dolorida
de olhos tristes, que se perderam
nas extremidades da vida...
Oh! miséria da despedida...
Meus dois cravos roxos morreram...
Meus dois cravos roxos morreram!
Meus dois cravos roxos, fanados,
crepuscularam, faleceram,
como sonhos que se esqueceram,
alta noite, de olhos fechados...
Eu pensava numa criatura,
quando os campanários bateram...
Tudo agora se me afigura
irremediável desventura...
Irremediável desventura!
Meus dois cravos roxos morreram...
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Trova Humorística de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP
Quando a lágrima do olhar
beijar o sol num Adeus,
um arco-íris vai brilhar
entre os meus olhos e os teus!
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Hino de
Arapoti/PR
Verde planalto de belezas mil.
És o recanto feliz do meu Brasil.
Orgulho dos filhos teus.
Terra mais rica não há.
Arapoti! Arapoti!
Celeiro natural do meu Paraná.
Rio das Cinzas imponente majestoso.
A cingir qual diadema este solo generoso.
E a ponte sulfurosa presente da natureza.
A mostrar qual venturosa esta terra de riqueza.
Em cada passo em direção ao progresso.
Consolida a esperança de um grandioso sucesso.
Nasceste de um braço forte de herói desbravador.
É o milagre do norte, terra de luz e esplendor.
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Trova de
ALFREDO ALISSON VALADARES
Sete Lagoas/MG
Cai a velha na lagoa
sendo a custo resgatada,
mas seu genro não perdoa:
– tanto barulho por nada?!!!
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Soneto de
LAÉRCIO BORSATO
Poços de Caldas/MG
A moça e a rosa
Numa manhã de sol, na rosa entreaberta,
As pétalas luziam com as gotas de orvalho.
Ao longe um carrilhão repetia a hora certa.
Muita gente agitada corria pro trabalho.
Ali embevecido, o rapaz se põe alerta!
Uma janela abriu e na fresta de um galho,
Viu a moça surgir toda risonha, liberta;
Estendeu ao sol, uma colcha de retalho...
Fez na manhã seguinte, o mesmo itinerário...
A rosa toda se abrira. No campanário,
Repetia-se as batidas da manhã anterior...
Ele novamente ali! Voltou pra ver a rosa!...
Ou quem sabe, a moça faceira e formosa,
De farto sorriso e os olhos cheios de amor!...
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Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO
Ribeirão Preto/SP
Retida além do horizonte
onde a razão se esvazia,
dos sonhos ergo uma ponte
e prossigo a travessia.
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Recordando Velhas Canções
Ideias erradas
(samba, 1959)
Não faça ideias erradas de mim
Só porque eu quero você tanto assim
Eu gosto de você mas não esqueço
De tudo quanto valho e mereço.
Não pense que se você me deixar
A dor será capaz de me matar
De um verdadeiro amor não se aproveita
E não se faz senão aquilo que merece
Depois ele se vai, a gente aceita
A gente bebe, a gente chora, mas esquece.
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