NEI GARCEZ
Curitiba/PR
A justiça nos ensina
o equilíbrio que nos deu:
o teu direito termina,
bem onde começa o meu!
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Folclore Brasileiro em Versos de
JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR
O Lobisomem
Na lua cheia um uivo a ressoar,
o Lobisomem surge, a besta a vagar,
filho da maldição em dor a se transformar,
nas noites sombrias sua fúria a despertar.
Homem e lobo em luta a se tornar,
os instintos primais, a razão a ofuscar,
entre as sombras da floresta, um ser a errar,
a busca por paz, que nunca vai encontrar.
Mas há quem o veja como trágico ser,
uma vida marcada, um amor a perder,
e em cada transformação, um grito de dor,
que ecoa na bruma em busca de amor.
Na solidão da noite, um lamento a crescer,
o Lobisomem, na sombra, anseia por viver.
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Trova de
FLÁVIO ROBERTO STEFANI
Porto Alegre/RS
Abaixo a guerra entre irmãos!
Plantemos a paz somente.
- Quem tem sementes nas mãos
não tem granadas na mente.
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Soneto de
JOÃO BATISTA XAVIER OLIVEIRA
Bauru/SP
Tropeço
Vejo-me agora no final da estrada
e as consequências de uma vida aflita
a procurar afoito a mais bonita
virtude altiva, joia lapidada.
As mãos vazias cheias de desdita
não afagaram outras sem ter nada.
E a consciência viva, tão pesada,
arrasta o fardo que a ambição incita.
Peço perdão para mim mesmo, eu sei
que para evoluir existe lei
da semeadura e sua consequência.
Queira ou não queira o fim faz o começo
para engendrar a escala sem tropeço;
ser mais humilde na nova existência!
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Trova de
ÂNGELA TOGEIRO
Belo Horizonte/MG
Nesta minha caminhada
não me horroriza a violência,
mas a boca que calada
alimenta-lhe a existência.
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Poema de
ANTERO JERÓNIMO
Lisboa/Portugal
Há nesta recorrente dolência
um preparo para o saber
barreiras a quebrar fronteiras
a adivinhar o acontecer
Ciente desta real irrealidade,
desta minha inconformidade
anulo a envolvência do espaço
à dimensão retemperadora dum abraço
Há beleza e encanto
no dia onde espreita o pranto
da nuvem carregada d' incerteza
esparjo água límpida e fecunda
Existo na pureza utópica
revelando anseios secretos
na essência harmoniosa dos afetos
Na beleza deste amar
quero em gratidão levitar!
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Quadra Popular
Diga, meu benzinho, diga,
com tua boca, confesse,
se no mundo já encontrou
quem tanto bem lhe quisesse.
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Poema de
NELIO CHIMENTO
Rio de Janeiro/RJ
Gentileza
A gentileza anda tão pálida
Quão fagulha apagada
Perdida na poeira bruta
Que envolve essa era de gente afobada.
Gente que vive no corre-corre sem fim,
Competindo entre si e com o tempo,
Que não para uma prosa
E acha que a vida é mesmo assim.
Mas assim não é, isso o tempo dirá,
Precisamos do afeto e da energia humana...
Para alimentar o ânimo que nos elevará
Ao patamar que a alma reclama.
Temos a primazia de saber sorrir
E o privilégio de se emocionar,
Para desenvolver a arte de se relacionar
E aprender a viver e se divertir.
Nesses tempos de afeto precário,
Encoberto pelo encanto do novo,
Bom seria que a gentileza desse povo,
Não virasse joia inativa de relicário.
Quero me ver nos olhos dos outros,
Dizer algo a alguém, para ouvir meu pensamento,
Ceder o lugar, para ter um lugar na vida,
Fazer da trilha rude, uma alameda florida.
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Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ
A justiça humana é falha!
E reconheço isto a custo...
Se é rico, livra o canalha!
Se é pobre, condena o justo...
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Poema de
CRIS ANVAGO
Lisboa/Portugal
Vê para lá do nevoeiro
Não te deixes cegar
Fechar os olhos
Não te leva a nenhum lugar
A canção foi feita para ser compreendida
Preciso de ouvir todas as palavras
Só assim percebo as frases
E com elas o pensamento
Que, de repente passou por ti
Não vejas só o nevoeiro
Vê com o coração
Eu estou para lá do que não vês…
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Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN
A estrela da mocidade,
que em minha infância brilhou;
brilha em meu céu de saudade,
depois que a infância passou!
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Poema de
SEBASTIÃO ALBA
Braga/Portugal, 1940 – 2000
Ninguém, Meu Amor
Ninguém, meu amor
ninguém como nós conhece o sol
Podem utilizá-lo nos espelhos
apagar com ele
os barcos de papel dos nossos lagos
podem obrigá-lo a parar
à entrada das casas mais baixas
podem ainda fazer
com que a noite gravite
hoje do mesmo lado
Mas ninguém meu amor
ninguém como nós conhece o sol
Até que o sol degole
o horizonte em que um a um
nos deitam
vendando-nos os olhos.
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Trova de
FRANCISCO JOSÉ PESSOA
Fortaleza/CE, 1949 - 2020
Quantos banquetes regados
a vinho, trufa e salmão...
quantos irmãos relegados
sem água, sem luz, sem pão!
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Spina de
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP
Clausura
Reclusa no próprio
tempo, seu sorriso
é seu sentimento.
Ora transborda paz, um alento,
às vezes um leve contratempo.
Atada em utopias, é momento,
ou somente uma página virada
levada por folhagens no vento.
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Trova de
MARA MELINNI
Caicó/RN
Uma família sem teto,
repartia o mesmo pão...
Mas sobrava sempre afeto,
no final da divisão...!
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Soneto de
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP
Será?
Tal qual a juriti de canto triste,
que enfrenta a vida solitariamente,
mas mesmo assim tão só, jamais desiste
de esperar que um amor se lhe apresente...
Também minha alma que é tristonha e crente,
no aguardo de seu par, por muito insiste...
E tal e qual a juriti, não sente
vontade de cantar e ainda resiste.
Será que a juriti tristonha, um dia
terá o trinado de uma cotovia,
de tão feliz, por encontrar seu par?
Se acontecer tal sorte, algo me diz,
minha alma vai também ser tão feliz,
que ao certo vai cantar, e muito amar!
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Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
Com que suave ternura
tece a canária o seu ninho!
– Mãe é assim, dengosa e pura...
a nossa e a do passarinho.
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Poema de
SONIA CARDOSO
Curitiba/PR
Finitude
Não mereces a finitude
No duro calcário
Mereces o acolhimento
Da terra mãe, que te
Acolheu, te fez germinar
E crescer em tamanho e beleza.
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Trova de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP
Tenham todos terra e teto,
sem preconceito ou fronteira
e que haja amor, não decreto,
para a inclusão verdadeira!
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Poema de
PEDRO EMÍLIO
São Fidélis/RJ (1936 – 2013)
Canção Finita
Do primeiro canto da primavera
serão teus:
- o pássaro e a canção
Da primeira flor da primavera
serão teus:
- a cor e o perfume
Do primeiro verso da primavera
serão teus:
- o poeta e o poema.
Do último canto da primavera
de quem serão:
- o pássaro e a canção?
Da última flor da primavera
de quem serão:
- a cor e o perfume?
Do último verso da primavera
de quem serão:
- o poeta e o poema?
Murcha a flor...
quieto o pássaro...
morto o verso...
De quem será a primavera?
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Trova Humorística de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP
O meu sonho é uma tapera
que nenhum caminho corta;
e assim mesmo ainda espera
que alguém bata à sua porta!
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Hino de
TREZE TÍLIAS/SC
Erguendo os braços co´as algemas rotas
Na data augusta da libertação
O escravo outrora vil e acorrentado
Enflora as armas deste teu brasão.
Deixando ao longe a escravatura branca
Louro imigrante aqui chegou
Liberto da opressão e agora livre
Semente, flor e fruto ele plantou.
Teu signo é herança de um falaz passado,
Mas hoje é lema do Brasil inteiro
A liberdade à sombra da Bandeira
Os pés na terra e os olhos no Cruzeiro.
Por sobre os troncos e os grilhões em sangue
E o azorrague de uma mão cruel
Colocou Deus as régias mãos bondosas
E a imagem redentora de Isabel.
Caminha, juventude, e acende a chama
E mostra ao mundo escravo o teu perfil.
És filho desta terra quem a ama.
A liberdade é filha do Brasil.
Não olhes nunca, heroica juventude
Lá no passado as marcas dos grilhões,
Há no futuro uma esperança nova
Tu és da primavera as florações.
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Poetrix de
CECY BARBOSA CAMPOS
Juiz de Fora/MG
Retrospecto
Relógio antigo
ecoa passado
em badaladas musicais.
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Poema de
ELCIANA GOEDERT
Curitiba/PR
En(frente)
Como disse outro poeta
Sim, "a vida vale a pena"
Tá difícil nesse planeta
Mas tento me manter serena
Sigo firme com minha meta
Se preciso rezo uma novena
Repito um mantra, discreta
Sei que logo tudo se engrena.
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Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO
Ribeirão Preto/SP
Sozinha, num desvario,
sem concretude, meus braços,
traçam, sobre um leito frio
o perfil dos teus abraços.
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Recordando Velhas Canções
CONSTRUÇÃO (DEUS LHE PAGUE)
(1971)
Chico Buarque de Holanda
Rio de Janeiro/RJ
Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo por tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
E agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo por tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
E agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado
Deus lhe pague
Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir,
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair,
Deus lhe pague
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,
Deus lhe pague
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