sábado, 25 de junho de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 253)


Uma Trova Nacional

A escuridão, por mais densa,
também nos traz coisas belas:
sem luz se ama, se pensa,
dá-se mais valor às velas.
–ELIANA PALMA/PR–

Uma Trova Potiguar

Quando visito um abrigo
de velhos abandonados,
fico dizendo comigo:
que filhos mais desalmados!
–LUIZ XAVIER/RN–

Uma Trova Premiada


2006 - Amparo/SP
Tema: RESPEITO - Venc.

Havia tanto respeito
naquele beijo na testa,
que a paixão ficou sem jeito
e retirou-se da festa!...
–JOSÉ OUVERNEY/SP–

Uma Trova de Ademar

Construí dentro de mim,
com minh’alma enternecida,
um teatro onde, por fim,
pude encenar minha vida!...
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Vi, na página primeira,
de um velho livro que eu lia,
que a saudade é companheira
de quem não tem companhia...
–VASQUES FILHO/PI–

Simplesmente Poesia

–ARTHUNIO MAUX/RN–
Divisão

Uma banda de mim é fantasia
na outra metade é ilusão.
No meu quarto rogo todo dia
que seja inteiro o meu coração.

Estrofe do Dia

Estava um dia a sonhar,
uma alma apareceu,
uma botija me deu
e me ensinou o lugar,
quando eu comecei cavar
já fui sentindo um espanto,
não sei se foi diabo ou santo
que gritou de lá : não cave,
a riqueza é uma ave
que não pousa em todo canto.
–ZÉ DIONÍZIO/PB–

Soneto do Dia


–LISIEUX/MG–
Oração

Liberta-me, ó Senhor, da minha vida,
também da morte, enfim, vem libertar-me;
porque não posso, por mim só, livrar-me
da culpa que em meu peito achou guarida...

Não deixes, meu Senhor, despedaçar-me
o coração, que a cada vã batida,
faz-me sofrer a alma arrependida. ..
Preciso, ó Deus, a ti aconchegar-me.

Quero, meu Pai, ouvir-te novamente,
quero outra vez sentir-te, plenamente,
toma-me, pois, em Teus paternos braços...

Coloca-me nos lábios, Teu louvor,
arde o meu peito com Teu doce amor
e guia em Teus caminhos os meus passos.

Fontes:
Textos enviados pelo Autor
Imagem = Sonho e Poesias

Lucas Nascimento da Silva (Despedida do TREMA)


Estou indo embora. Não há mais lugar para mim. Eu sou o trema. Você pode nunca ter reparado em mim, mas eu estava sempre ali, na Anhangüera, nos aqüiféros, nas lingüiças e seus trocadilhos por mais de quatrocentos e cinqüentas anos.

Mas os tempos mudaram. Inventaram uma tal de reforma ortográfica e eu simplesmente tô fora. Fui expulso pra sempre do dicionário. Seus ingratos! Isso é uma delinqüência de lingüistas grandiloqüentes! ... O resto dos pontos e o alfabeto não me deram o menor apoio...

A letra U se disse aliviada porque vou finalmente sair de cima dela.

O dois pontos disseram que sou um preguiçoso que trabalha deitado enquanto eles ficam em pé.

Até o cedilha foi a favor da minha expulsão, aquele C cagão que fica se passando por S e nunca tem coragem de iniciar uma palavra.

E também tem aquele obeso do O e o anoréxico do I.

Desesperado, tentei chamar o ponto final pra trabalharmos juntos, fazendo um bico de reticências, mas ele negou, sempre encerrando logo todas as discussões.

Será que se deixar um topete moicano posso me passar por aspas? ...

A verdade é que estou fora de moda. Quem está na moda são os estrangeiros, é o K, o W "Kkk" pra cá, "www" pra lá.

Até o jogo da velha, que ninguém nunca ligou, virou celebridade nesse tal de Twitter, que aliás, deveria se chamar TÜITER.

Chega de argüição, mas estejam certos, seus moderninhos: haverá conseqüências!

Chega de piadinhas dizendo que estou "tremendo" de medo.

Tudo bem, vou-me embora da língua portuguesa. Foi bom enquanto durou.

Vou para o alemão, lá eles adoram os tremas.

E um dia vocês sentirão saudades. E não vão agüentar!...

Nos vemos nos livros antigos.

Saio da língua para entrar na história!

Adeus,
Ass: Trema.

Fontes:
Revista Universitária OffLine - edição 19. São Paulo: www.mercadojovem.com.br
Imagem = Secreta Litteratum

Amosse Mucavele (O Bebedor dos Tormentos)


Aticei o fogo do cigarro no meu coração.

Ficou em chamas e senti a necessidade de apagar, cortei o desejo, continuei no meu puxa-puxa, alguém trouxe-me a água. não aceitei, lembrei-me que no meu reino apagasse as chamas do cigarro com uma garrafa de gin.

Entornei-a dentro de mim, e dentro de mim já tinha um barco a espera; viajei com os olhos fechados, a minha visão era o copo e o cigarro ambos discutindo a primazia nas minhas duas mãos. e de repente abri a vista; deparei-me com o NEWTON trocamos um dedo de conversa falamos de muita coisa desde as prostitutas ate a ciência. em seguida ele falou-me da sua 3ª lei: ação e reação.

Fiquei de ouvidos boquiabertos e dos olhos carregados de uma ternura milenar, daí aprendi como se fabrica uma dor na consciência, levantei, tentei andar, não consegui, comecei a sentir o peso do meu corpo, e de tudo que engendrei a desaguar nos meus pés amputados pela força do álcool. Afinal quem são os meus pés para suportarem toda esta carga?

Tentei falar: a minha voz era um viaduto transportando silêncios, procurei as palavras não as encontrei em lugar algum, creio que o vento da boêmia as levou.

Desço do barco, percorro na embriaguez do meu dilema: será este o destino do meu dinheiro? sei que o melhor remédio é distanciar-me deste amigo da ocasião que só me visita quando as vacas estão gordas e quando são atacadas pela peste da pobreza ou dos bolsos rotos anda longe de mim.

O que vale estar bêbado e não ter chão para dormir?

E se eu tivesse comprado livros com dinheiro gasto naquela fatídica noite teria educado o meu raciocínio e neste exato momento estaria a vender saberes para o mundo, eu de álcool prostitutas cigarros não falem mais, preciso de distância com estes três aliados.
Caros amigos ensine-me a ser poeta. por favor...

Fonte:
Texto enviado pelo autor

Efigênia Coutinho (Êxtase)


Qual uma aquarela o êxtase se colore,
Para enfeitar o umbral da emoção.
Que em beijos, minha boca te devore,
E do ato de amar, sentimos a explosão.

Comungando da volúpia festejamos,
A nossa entrega num beijo sensual.
E o êxtase percorre o que fadamos
Para o desejo cobiçado torne-se real.

Por um latejar que enrubesceste,
Nossos corpos explodem de paixão.
O sangue umedece calorosamente
A nossa carne sedenta em fusão.

É o desejo que brota envolvendo,
Selando em beijos este momento.
Do amor, a magia transcendendo
Nossas almas em puro encantamento.

Fonte:
Texto e imagem enviados pela autora

Monteiro Lobato (Caçadas de Pedrinho) VIII – Os negócios da Emília


Desde essa aventura ficou Pedrinho com mania de caçadas — mas caçadas de feras africanas. Queria leões, tigres, rinocerontes, elefantes, panteras, e queixava-se a Dona Benta (como se a boa senhora tivesse culpa) da pobreza do Brasil a respeito de feras. Chegou a propor-lhe que vendesse o sítio para comprar outro bem no centro de Uganda, que é a região da África mais rica em leões.

— Aqui nem dá gosto morar, vovó — dizia ele, torcendo o nariz. — Fora o jaguar, que outra fera possuímos? Só paca e veado e anta — uns pobres herbívoros que têm medo de gente. Eu queria mas era enfrentar peito a peito um rinoceronte!...

Dona Benta arrepiava-se com aquilo. Lera muita coisa sobre as grandes feras africanas e sabia que nenhuma existe mais traiçoeira e feroz do que o rinoceronte, com aquele seu terrível chifre no meio da testa. A pobre senhora esfriava da cabeça aos pés só ao lembrar-se do horror que seria uma chifrada de tal espeto.

— Veja, Nastácia, para que deu Pedrinho agora! — dizia ela. — Quer caçar rinocerontes... Não sei por quem puxou essa terrível inclinação.

Tia Nastácia benzia-se. Ignorava o que fosse um rinoceronte, não tendo visto nenhum, nem no cinema, nem em sonho; mas a simples palavra lhe metia medo. “Rinoceronte, credo!”

— E o pior — continuou Dona Benta — é que quando estas crianças encasquetam fazer uma coisa, fazem mesmo. Elas viram e mexem e acabam caçando algum rinoceronte. Você vai ver.

E assim aconteceu. Parece fábula, parece mentira do Barão de Munchausen e, no entanto, é a verdade pura: os netos de Dona Benta caçaram um rinoceronte de verdade!...

— Como?

— Esperem lá. Algum tempo depois do assalto das onças havia chegado ao Rio de Janeiro um circo de cavalinhos que era uma verdadeira arca de Noé. Trazia enorme bicharada — seis leões, três girafas, quatro tigres, zebras, hienas, focas, panteras, cangurus, jibóias e um formidável rinoceronte. Quando Pedrinho leu nos jornais a notícia do grande acontecimento, ficou assanhadíssimo. Quis ir ao Rio ver as feras, chegando a escrever a Dona Tonica, sua mãe, pedindo licença e meios. Antes, porém, de receber qualquer resposta, um fato sensacional se deu no Rio: o rinoceronte arrebentou as grades da jaula durante certa noite de temporal e fugiu. Fugiu para as matas da Tijuca, tomando depois rumo desconhecido.

Esse fato causou o maior rebuliço no Brasil inteiro. Os jornais não tratavam de outra coisa. Até uma revolução, que estava marcada para aquela semana, foi adiada, porque os conspiradores acharam mais interessante acompanhar o caso do rinoceronte do que dar tiros nos adversários.

“Um rinoceronte interna-se nas matas brasileiras”, era o título da notícia que vinha em letras graúdas em todos os jornais. Durante um mês ninguém cuidou de mais nada. Grande número de bombeiros e soldados da polícia foram mobilizados. Os melhores detetives do Rio aplicavam toda a sua esperteza em formar planos para a captura do misterioso animal. As forças do norte que andavam caçando o Lampião deixaram em paz esse bandido para também se dedicarem à caça do monstro. Dizem até que o próprio Lampião e seus companheiros pararam de assaltar as cidades para se entregarem ao novo esporte — a caça ao rinoceronte.

Onde estaria ele? Nas florestas do Amazonas? Nas matas virgens do Espírito Santo? Ninguém sabia. Telegramas chegavam de toda a parte sugerindo pistas. Um de Manaus dizia: “Numa floresta, a dez léguas desta cidade, foi visto, dentro dum cerrado de taquaruçus, o vulto negro dum monstro que parece ser o tal rinoceronte. Pedimos providências”.

Cinco detetives e numerosos bombeiros foram mandados de avião para aquele ponto, a fim de investigar. Descobriram tratar-se duma vaca preta que ficara entalada na moita de taquaruçus...

Outro telegrama do mesmo gênero veio da cidade de Cachoeiro, no Espírito Santo. “Nas matas vizinhas ouvem-se urros que não são de onça, nem de nenhum animal conhecido por aqui. Pedimos enérgicas providências.”

O avião dos detetives voou para lá. Era um papagaio que fugira dum jardim zoológico, no qual aprendera a imitar o urro de todos os animais.

Onde estará o rinoceronte? — eis a pergunta que, da manhã à noite, se repetia pelo país inteiro. Onde poderia ter-se escondido a tremebunda fera?

Ninguém possuía elementos para responder. Ninguém sabia. Ninguém — exceto... Emília!

Parecerá um absurdo. Parecerá invenção de gente sem serviço e, no entanto, é a verdade pura. Só a pequenina boneca do sítio de Dona Benta sabia realmente onde estava escondido o monstro!...

O caso foi assim. Logo que, naquela noite de temporal, o rinoceronte escapou da jaula e se internou nas matas da Tijuca, deu de andar sem rumo, e foi varando, sempre para diante, num trote respeitável até que, pela madrugada, surgiu na mata virgem do sítio de Dona Benta. Gostou do lugar e resolveu ficar por ali, pastando a viçosa folhagem das ervas que encontrou.

A presença do rinoceronte causou grande rebuliço entre os habitantes daquela mata. A capivara, que vive tanto em terra como em água, atirou-se ao rio e não teve mais coragem de sair. As onças fugiram. Os macacos empoleiraram-se na mais alta de todas as árvores. Nenhum animal podia compreender um bicho tão estranho e monstruoso. Observando aquilo, os besouros da Emília resolveram correr e avisá-la. Foram ter com a boneca.

— Apareceu lá na mata um bicho, que não se parece com bicho nenhum nosso conhecido — informaram eles gemeamente.

— Grande? — perguntou a boneca.

— Terá o tamanho duma casinha de caipira.

Emília calculou logo que fosse algum boi tresmalhado mas, pela descrição que os besouros fizeram, viu logo que não podia ser boi. De repente, teve uma idéia.

— Escutem: o tal monstro não é preto?

— Sim.

— Não tem o couro enrugado?

— Enrugadíssimo.

— Não tem um chifre só no meio da testa?

— Isso mesmo. Um chifre pontudo.

— Come gente?

— Não, só come capim e folhas de árvore.

Emília pôs-se a refletir, com a mãozinha no queixo. Ou era unicórnio, animal fabuloso que não existe, pensou consigo, ou era rinoceronte, e como Emília andasse com a cabeça cheia de rinocerontes, de tanto ouvir Pedrinho ler as notícias do rinoceronte que fugira do circo, imediatamente percebeu que se tratava do mesmo.

— É ele! — exclamou, em voz alta. — Que sorte tem Pedrinho! Quis um rinoceronte e um rinoceronte apareceu!...

— Ele quem? — indagaram os besouros, com as testinhas franzidas.

— Ele! — repetiu a boneca, fazendo uma tal cara de pavor que os besouros se puseram a tremer. — Ele é ele, não sabem?

Emília teve preguiça de ensinar àqueles burrinhos o que era um rinoceronte. E para ainda mais os assustar, fez outra cara horrendíssima e repetiu em tom cavernoso:

— Ele!...

Os dois besouros desmaiaram.

Emília deixou-os lá e voltou para casa sem pressa nenhuma, pensando, pensando. Ciganinha como era, costumava tirar partido de tudo. Por isso estava se tornando a boneca mais rica do mundo. O acaso a fizera descobrir um rinoceronte. Pois bem: Emília iria vender esse rinoceronte a Pedrinho...

Quando entrou na varanda já trazia o seu plano formado.

— Pedrinho — disse ela —, tenho um bom negócio a propor.

O menino estava espichado na cadeira preguiçosa, lendo os últimos jornais recebidos. Sem tirar os olhos da notícia que lia, respondeu:

— Já vem ela com os tais negócios! Negócios de boneca — bobagens...

— Trata-se dum negócio muito sério, Pedrinho. Quando você souber o que é, vai arregalar um olho deste tamanho!

— Pois então desembuche logo e não amole — disse ele, sem tirar os olhos do jornal. — Estou lendo uma notícia muito interessante sobre o rinoceronte fugido.

Emília fingiu-se interessada.

— Sim? E que diz a notícia?

— Diz que tudo isto, toda esta história de rinoceronte fugido não passa duma formidável peta. Não existe rinoceronte nenhum. O diretor do circo inventou o caso apenas para reclame.

— Que pena! — exclamou a boneca, fingindo tom compungido. — Seria tão bom se fosse verdade...

— Eu logo vi que era peta — disse Pedrinho, querendo bancar o esperto. — Percebi desde o começo que se tratava duma formidável peta. Rinoceronte no Brasil! Impossível. Esses animais não suportam o nosso clima.

Emília sorriu de tal jeito que o menino desconfiou.

— De que está rindo assim, boba?

— Da sua esperteza, Pedrinho. Bem diz Tia Nastácia que você é um alho...

— Muito obrigado pelo elogio; mas, alho ou cebola, deixe-me em paz. Olhe, Emília, vá ver se eu estou no pomar, ouviu?

— Então não quer fazer o negócio que venho propor?

Pedrinho queria e não queria. Por fim, a curiosidade o venceu.

— Que negócio é? Vamos, diga logo.

Emília preparou-se para apresentar o negócio. Antes, porém, fez um rodeio.

— Escute cá, Pedrinho. Quanto acha você que vale um rinoceronte no Brasil? Responda!

O menino tonteou com o disparate. Não podia haver pergunta mais absurda e boba do que aquela. Ficou danado.

— Foi para isso que me veio interromper a leitura do jornal? Ora, vá lamber sabão, ouviu?

Novo sorriso finório da boneca, que disse:

— Paz, paz! Não se queime. Responda à minha pergunta. Dê um preço qualquer.

— Não amole, Emília. Se continua a insistir, leva um peteleco.

— Não sabe — disse ela. — É natural. Um menino que jamais saiu do Brasil, que não esteve nem no Rio de Janeiro, é natural que não saiba o preço dum rinoceronte. Está desculpado...

— Bobagem! — exclamou Pedrinho, queimado. — Então é preciso ter saído do Brasil, ter viajado pelo mundo, para saber uma coisa à-toa como essa? Basta um pouco de raciocínio.

— Pois raciocine e responda à minha pergunta.

Pedrinho pensou um bocado e disse:

— Vale contos de réis. O valor das coisas depende da raridade delas, diz vovó. Numa terra onde haja centenas de rinocerontes, um deles vale... vale quanto? Vale o mesmo que um boi aqui ou uma vaca. Mas em terra onde não há nenhum, vale o que for pedido pelo seu dono. Eu, por exemplo, se fosse rico, era capaz de dar até trinta contos por um rinoceronte.

— Bom. Se fosse rico, dava trinta contos. E quanto dá sendo pobre? Tinha coragem de dar por um deles o carrinho de cabrito?

Esse carrinho de cabrito constituía o orgulho do menino. Fora presente do Manuel Carapina, um carpinteiro que passara lá uns dias, reformando o assoalho da casa. Pedrinho dava mais valor ao carrinho do que a todos os coches dourados de todos os reis da Terra — pela simples razão de que o carrinho lhe pertencia e os coches pertenciam aos reis. Mas um rinoceronte era um rinoceronte, de modo que a resposta do menino foi a que podia ser.

— Um rinoceronte vale todos os carrinhos de cabrito do mundo inteiro — disse ele.

— Pois eu tenho um belo rinoceronte à venda e se você quiser trocá-lo pelo carrinho, o negócio está feito.

— Basta! — gritou o menino. — Se continua a amolar-me com essa história, vou lá no seu cantinho e quebro todos os seus brinquedos. — Disse e absorveu-se de novo na leitura dos jornais.

Emília não contara com aquela saída. Percebeu que nem Pedrinho, nem ninguém no mundo jamais acreditaria que ela realmente tivesse um rinoceronte para vender — e desse modo estava arriscada a perder um grande negócio, talvez o melhor negócio de sua vida…
––––––––––––-
continua ... IX – Emília vende o rinoceronte
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Caçadas de Pedrinho/Hans Staden. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. III. Digitalização e Revisão: Arlindo_San

Ialmar Pio Schneider (Verso Xucro II)


E no próprio mate amigo
és consolo na saudade,
lembrança doce que invade
este peito de índio macho,
os recuerdos de muchacho
que não voltam nunca mais,
o convívio com meus pais,
com minhas manas e manos
e os meus tristes desenganos
que já ficaram pra trás.

Da boiada o berro xucro,
dos passarinhos o canto,
da china o suave encanto,
do pago inteiro a beleza,
o esplendor da natureza
de tudo que nos pertence,
velha trova riograndense
és um motivo de glória
já remarcado na história
de um povo que luta e vence !

Nasces livre na Campanha,
lá na Serra ou nas Missões,
nem conservas os grilhões
de trovador erudito,
hás de ser sempre bendito
no estilo de quem te faz,
um peão ou capataz
pouco importa quem te faça,
espelho limpo da raça,
legado dos ancestrais !

Quem te escuta nas tertúlias
e nos saraus de galpão,
percebe com emoção
que trazes em tua essência
tal devoção à querência,
sentimento imenso e forte
capaz de vencer a morte
porque no pago do Além
sempre teremos Alguém
pra dirigir nossa sorte !

Fontes:
Texto enviado pelo autor, de
PÁG. 16 - O TIMONEIRO - CANOAS, 23.9.83 - TRADICIONALISMO
Imagem = Pura Barbaridade

Ordem do Mérito Cultural 2011 pelo Ministério da Cultura


O Ministério da Cultura abriu dia 21 de junho o prazo para a inscrição das propostas de indicação à Ordem do Mérito Cultural para o ano de 2011. O tema central da celebração desta edição será Pagu- Sonho-Luta-Paixão em homenagem a Patrícia Rehder Galvão, conhecida pelo pseudônimo de Pagu, escritora e jornalista brasileira que teve grande destaque no movimento modernista iniciado em 1922.

Criada em 1995, pelo Ministério da Cultura, a Ordem do Mérito Cultural é o reconhecimento do Governo Federal a personalidades, grupos artísticos, iniciativas e instituições que se destacaram por suas contribuições à Cultura brasileira.

As condecorações são entregues, anualmente, por ocasião do Dia Nacional da Cultura (5 de novembro). Neste ano, a cerimônia de condecoração será realizada no dia 9 de novembro, no Theatro Santa Izabel na cidade de Recife (PE). Desde sua criação até hoje, já foram entregues mais de 430 condecorações a personalidades nacionais e estrangeiras.

As indicações podem ser enviadas para o site do Ministério da Cultura até o dia 22 de julho, mediante o preenchimento do formulário específico disponível no endereço eletrônico do MinC (http://www.cultura.gov.br/site/indicacoes-para-a-ordem-do-merito-cultural-2011/), ou pelos Correios, após download do documento (http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2011/06/ordem-do-merito-cultural-2011-formulario.doc ) a ser preenchido e encaminhado para o seguinte endereço:

Ordem do Mérito Cultural 2011
Ministério da Cultura
Assessoria de Comunicação Social
Esplanada dos Ministérios, Bloco B, 4º andar
CEP 70068-900 Brasília – Distrito Federal

Dúvidas e informações:
E-mail: omc2011@cultura.gov.br
Tels.: (61) 2024- 2406, com Eliane Rodrigues, ou 2024-2411, com Cleusmar Fernandes.

Indicações

As indicações podem ser feitas por quaisquer pessoas, e os indicados – personalidades, grupos, iniciativas e instituições que tenham contribuído para a Cultura brasileira – serão avaliados pela Comissão Técnica, constituída por gestores das Secretarias do Ministério da Cultura, que emitirá parecer conclusivo antes de encaminhá-lo à consideração do Conselho da Ordem do Mérito Cultural.

Integram o Conselho da OMC, a Ministra de Estado da Cultura, que o preside na qualidade de Chanceler, e os Ministros de Estado das Relações Exteriores, da Educação e da Ciência e Tecnologia.

A Homenageada

Musa da 3ª geração do Modernismo Brasileiro, Patrícia Galvão (1910-1962) foi romancista, poetisa, militante política e incentivadora da cultura. Formada na Escola Normal da Capital, em São Paulo, Pagu participou do movimento antropofágico sob influência de Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade com quem se casou em 1930. Em 1931 ingressou no Partido Comunista e passou a editar, junto com Oswald de Andrade, o jornal O Homem do Povo, onde assinava a coluna “A Mulher do Povo”.

Como militante do Partido Comunista, a escritora foi presa três vezes. Em 1931, no Brasil, ao participar de um comício do partido realizado em Santos com os estivadores. Em 1935, em Paris, onde foi presa como comunista estrangeira e repatriada ao Brasil por portar uma identidade com o nome de Leonnie. E depois de retornar ao Brasil, quando passou a trabalhar para o jornal A Plateia e se separou de Oswald de Andrade, foi presa e torturada, ficando na cadeia por cinco anos.

Ao sair da prisão, em 1940, rompeu com o Partido Comunista e casou-se com o jornalista Garaldo Ferraz. Em 1942 passou a atuar ativamente na imprensa, sobretudo como crítica de Artes. Em 1950, concorreu à Assembleia Legislativa de São Paulo pelo Partido Socialista Brasileiro; lançou o manifesto Verdade e Liberdade e passou a exercer importante papel no panorama cultural da cidade de Santos. Pagu frequentou o curso da Escola de Arte Dramática de São Paulo e passou a se dedicar cada vez mais ao teatro. De 1955 a 1962, trabalhou no jornal A Tribuna de Santos como crítica literária e de teatro e televisão.

Em setembro de 1962, Pagu viajou a Paris para ser operada de câncer. A cirurgia fracassa, ela volta ao Brasil e morre no dia 12 de dezembro. Entre os livros publicados pela escritora estão: Parque Industrial (1933), A Famosa Revista (1945), Verdade e Liberdade (1950), Safra Macabra (1998), Croquis de Pagu (2004), e Paixão Pagu – Uma autobiografia precoce de Patrícia Galvão (2005).

Pagu deixou dois filhos: Rudá de Andrade, fruto do casamento com Oswald de Andrade e Geraldo Galvão Ferral, filho de Geraldo Ferraz.

Fonte:
Texto de Heli Espíndola, Ascom/MinC, enviado pelo Ministério da Cultura.)
Foto: Site oficial/Viva Pagu
http://www.cultura.gov.br/site/2011/06/21/ordem-do-merito-cultural-2011/

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 252)


Uma Trova Nacional

Ancoradas no meu peito,
as lembranças da paixão.
Donas de fato e direito
dominam meu coração ...
–LUIZ CARLOS JÚNIOR/SP–

Uma Trova Potiguar

Não vou falar por maldade
o que acabei de saber:
"A Mentira é uma Verdade
que esqueceu de acontecer!"
–SERGIO SEVERO/RN–

Uma Trova Premiada

2000 - Barra do Piraí/RJ
Tema: SERESTA - M/E

Passas fazendo seresta,
mal a noite se insinua...
E vais transformando em festa
toda a tristeza da rua...
–MARIA NASCIMENTO S. CARVALHO/RJ–

Uma Trova de Ademar

Ouvi desde a meninice
e guardo com fé tamanha
palavras que Cristo disse
lá no sermão da montanha...
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Vento, o construtor perfeito,
ao ver meus dias tristonhos,
fez uma duna em meu peito,
com restos de antigos sonhos!
–EUGÊNIA MARIA RODRIGUES/MG–

Simplesmente Poesia

– ANDRÉ BONATTO JR/RS–
Tu II

Até aonde eu podia ir
em teu destino?
Onde meu limite?
Meus olhos queriam
mais do que
lhes cabia dentro.
Tolo. tolo,
quando deixei
tuas palavras
molharem
os meus ouvidos,
e teus verdes olhos
esverdearem os meus.
Hoje voas
e eu poemo!

Estrofe do Dia


Emoções que na vida eu já vivi
não previa o mais sábio dos profetas;
pois eu que era na vida um sonhador
vejo agora, alcançando minhas metas,
que em mim nasce a mais pura da certeza
de que tudo que tem de mais beleza
Deus coloca na mente dos poetas.
ADEMAR MACEDO/RN–

Soneto do Dia

–CRUZ E SOUZA/SC–
Piedade

O coração de todo o ser humano
Foi concebido para ter piedade,
Para olhar e sentir com caridade
Ficar mais doce o eterno desengano.

Para da vida em cada rude oceano
Arrojar, através da imensidade,
Tábuas de salvação, de suavidade,
De consolo e de afeto soberano.

Sim! Que não ter um coração profundo
É os olhos fechar à dor do mundo,
ficar inútil nos amargos trilhos.

É como se o meu ser campadecido
Não tivesse um soluço comovido
Para sentir e para amar meus filhos.

Fontes:
Textos enviados pelo Autor
Imagem = Scraplandia

Calêndula Literária 397 (Lançado pela UBT Porto Alegre)


Lançado mais um número da Calêndula Literária, a edição 397, Boletim Informativo da União Brasileira de Trovadores (UBT) Seção de Porto Alegre - RS

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Baixe este boletim de 5 paginas para seu computador AQUI

Algumas Trovas da Galeria de Trovas

“Que levas tu na mochila?”,
diz ao corcunda um peralta.
E o corcunda: - “A alma tranquila
e a educação que te falta.”
LILINHA FERNANDES+

Sendo um mistério profundo,
que a gente nunca pressente,
Destino é força do mundo
regendo a vida da gente...
MILTON NUNES LOUREIRO +

Trova é bom para a saúde,
faz amigos, dá prazer.
Talvez até nos ajude
a esquecer de envelhecer...
ANTONIO A. DE ASSIS – PR

Fonte:
Enviado por A. A. de Assis

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 251)


Uma Trova Nacional

Desde o berço à sepultura
caminharei sem temor,
conduzindo esta ventura:
ter nascido trovador.
–GILSON FAUSTINO MAIA/RJ–

Uma Trova Potiguar

Um beijo em ti, tão criança,
que agora tão longe vai...
Tudo me sai da lembrança,
mas o teu beijo não sai!
–PROF. GARCIA/RN–

Uma Trova Premiada

2009 - Niterói/RJ
Tema: CRENÇA - M/E

Se a tua crença é a vaidade,
olha o mar e vê quem és:
ele sai da majestade,
te alcança e te lava os pés...
–ALBA CHRISTINA CAMPOS/SP–

Uma Trova de Ademar

Tendo Deus como suporte,
o destino mais mesquinho
não vai mudar sua sorte
nem alterar seu caminho.
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

O céu aceso no pasto,
a unir milhões de vidrilhos,
campeia meu sonho gasto,
com seu chicote de brilhos...
–PAULO CESAR OUVERNEY/RJ–

Simplesmente Poesia

–INOEMA N. JAHNKE/RS–
Esperança

Eu sou o sorriso sincero,
Sou o medo na solidão,
Sou a dúvida sussurrada,
E a resposta encontrada,
Sou a saída, e a chegada,
Na mesma estrada,
Sou a luz na escuridão,
A ternura no coração,
Sou o sorriso da criança,
Eu sou...A própria esperança.

Estrofe do Dia

A bruma leve passava
Marejando o véu da noite,
O vento manso soprava
Nas telhas fazendo açoite.
Um trovão “malassombrado”
Rugia desesperado
Rasgando o bucho do céu;
As nuvens formavam mantos
Que derramavam seus prantos
No chão fazendo escarcéu.
–HÉLIO CRISANTO/RN–

Soneto do Dia

–AMILTON MACIEL MONTEIRO/SP–
Comum de Dois

O que separa o antes do depois
é uma linha tão tênue e tão delgada,
que em verdade ela não separa nada,
tal qual o que ocorre ao menos com nós dois!

Homem e mulher nós somos, minha amada,
mas tão unidos, tão colados, pois
que já nos chamam até “comum-de-dois”,
galhofa para a qual damos risada!

Não sei por que é que Deus nos faz assim:
eu grudado em você, e você em mim,
como o hoje se gruda ao amanhã!

O Pai do Céu, talvez, agrade a gente
pra que tenhamos vida mais cristã
e o nosso amor perdure eternamente!

Fonte:
Textos enviados pelo Autor
Imagem = http://fotosdahora.com.br

Jogos Literários de Montargil – 2012 (Classificação Final)


Quadra Popular
Tema :HONESTIDADE


1º)
No seu trabalho sagrado
o alentejano, em verdade
mesmo mal remunerado
nunca vende a honestidade!
MARIA AMÉLIA BRANDÃO DE AZEVEDO
ESTORIL

2º)
Viver com Honestidade
É na vida um grande bem
É fazer muita amizade
Fazendo feliz alguém
CELESTE MARIA DA SILVA AVÓ CHARNECA
S.Miguel de Machede ÉVORA

3º)
Quando um aperto de mão
Tinha a força dum contrato,
Podia-se crer então
Até num simples gaiato…
FERNANDO MÁXIMO
AVIS

4º)
Quando um homem é honesto
detém sempre dignidade
quer seja rico ou modesto
é um homem de verdade
MARIA RUTH BRITO NETO
LISBOA

5º)
Nesta vil sociedade
O que mais me custa ver,
É falta de honestidade
Em quem mais devia ter
FERNANDO MÁXIMO
AVIS

6º)
Se do percurso da vida
faz parte a honestidade
ela está enriquecida,
sem ser rica na verdade.
FELIZARDA ROSA DA SILVA N.MAIA
LISBOA

7º)
Se a verdade não te inspira
devido ao custo elevado…
Experimenta a mentira
e aguarda o resultado!
RITA VILELA
Paço de Arcos

8º)
Fosse a vida honestidade,
sementeira de amor dito
só colhia a humanidade
seara de alto gabarito.
MARÍLIA JOSÉ DORDIO MARTINS
Portalegre

9º)
Honestidade? Valor!
Todos deviam ter.
É verdade sim senhor,
Mas parece não haver!
JOSÉ MARQUES AFONSO
BEJA

10º)
Honestidade, meu bem,
que palavra tão comprida,
como tal quase ninguém
lhe presta a atenção devida.
VICTOR BATISTA
BARREIRO

1º do Alentejo
CELESTE AVÓ CHARNECA

1º de Montargil e da EBI

Não devemos esquecer
os valores que aprendemos,
honestos devemos ser
em tudo o que fazemos.

CONTOS

1º)
Esperança Em Melhores Dias
MARIA RITA DOS SANTOS ROMÃO
Paço de Arcos

2º)
Dádivas Da Vida
MARIA FILOMENA SANTOS COSTA FIGUEIREDO
Leiria

3º)
A Sede De Ontem
DONZÍLIA RIBEIRO MARTINS
Paredes


Quando O Deslumbramento Bate A Má Porta
JÚLIO SILVA MÁXIMO VIEGAS
Queijas

5º)
Natureza
MARIA FILOMENA SANTOS COSTA FIGUEIREDO
Leiria

6º)
Honestidade
FERNANDO MÁXIMO
Avis

7º)
Senhora Honestidade
MARIA ALBERTINA DORDIO MARTINS
Portalegre

8º)
Ela Não Gostava De Mentir
MARIA RITA DOS SANTOS ROMÃO
Paço de Arcos

9º)
Dificil
FERNANDINO LOPES
Avis

10º)
Honestidade
JOÃO BAPTISTA COELHO
S. Domingos de Rana

1º do Alentejo
FERNANDO MÁXIMO
Avis

Fonte:
Lino Mendes

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 250)

Praia Brava (São Sebastião) - autoria de JB Xavier,
desenho a lápis e carvão

Uma Trova Nacional

Voltei a ter confiança
neste mundo tão ruim,
ao descobrir a criança
que ainda habitava em mim!
–RENATO ALVES/RJ–

Uma Trova Potiguar

Olhos fundos; enfadonhos,
tez crestada, mão ferida...
Só você, pai, por meus sonhos,
foi capaz de dar a vida...!
–MANOEL CAVALCANTE/RN–

Uma Trova Premiada

2009 - Niterói/RJ
Tema: CRENÇA - M/E.

Se a tua crença é a vaidade,
olha o mar e vê quem és:
ele sai da majestade,
te alcança e te lava os pés...
-ALBA CHRISTINA C. NETTO/SP-

Uma Trova de Ademar

Ouvi desde a meninice,
e guardo com fé tamanha,
palavras que Cristo disse
lá no sermão da montanha...
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Quando um povo escravo acorda,
pondo fim ao jugo insano,
a mão de Deus põe a corda
no pescoço do tirano ...
–JOUBERT DE ARAUJO/ES–

Simplesmente Poesia

–GILBERTO CARDOSO/RN–
Baú de Trovas.

O Baú de Sílvio Santos
contém riquezas sem par
mas não possui os encantos
deste baú de Ademar;
ele não vai perguntar
a vocês: "Quem quer dinheiro?"
Mas se algum interesseiro
quiser, de fato, um tesouro,
ele nos dará o ouro
de um poema verdadeiro.

Estrofe do Dia

Nos lindos carnaubais,
nas manhãzinhas brumosas,
no desabrochar das rosas,
nos bonitos parreirais,
nas frondes dos coqueirais
que tremulam noite e dia,
por dentro da serrania,
por toda gruta e recanto;
se vê o suave encanto
das telas da poesia.
-ZÉ DE CAZUZA/PB-

Soneto do Dia

–FRANCISCO NEVES MACEDO–
Tributo ao Dicionário.

O dicionário, qual mulher incrível,
e sempre para nós, indispensável,
numa entrega total, imensurável,
doando para nós, todo o possível.

Se o verso parecer quase impossível
por sua doação, fica viável
e neste conviver terno e saudável
torna a vida mais doce e mais sensível...

É você, meu amigo dicionário,
nosso caso de amor extraordinário
jamais terá divórcio, ele é moderno.

Vamos esparramar nossa poesia
em romântica e doce parceria...
Nosso caso de amor será eterno!

Fontes:
Textos enviados pelo Autor
Imagem = http://www.jbxavier.com.br

Monteiro Lobato (Caçadas de Pedrinho) VII – O assalto das onças


Depois de tomado o café com farinha de milho, Pedrinho pendurou o Visconde no galho mais alto duma árvore próxima, armado do binóculo de Dona Benta, para dar aviso da chegada das onças. O nobre fidalgo, porém, sempre tivera o costume de acordar tarde, ali pelas dez horas, mais ou menos. Em vista disso resolveu dormir no seu galhinho, certo de que só lá pelas dez horas as onças viriam. Dormiu e, portanto, não pôde dar aviso da chegada das onças, que já estavam bem perto. Quem percebeu a aproximação delas foi a Emília, que tinha um faro maravilhoso.

— Estou sentindo no ar um cheirinho de onça! — exclamou, em certo momento.

Por força da sugestão ou porque de fato andasse pelo ar algum cheiro de onça, todos ergueram o nariz e sentiram um forte cheiro de onça. Como é então que o Visconde não dava nenhum aviso? Pedrinho correu ao terreiro e gritou:

— Avise duma vez, palerma! Não vê que as onças já estão chegando?

O pobre fidalgo acordou com o berro e ainda cheio de sono espiou pelo binóculo, mas em sentido contrário, de modo que viu as onças muitíssimo longe.

— Vêm, sim — disse ele —, mas tão longe, tão longe e tão pequenininhas, que até que cresçam e cheguem dá tempo de...

Não pôde concluir. Escorregou do galho e veio de ponta-cabeça ao chão.

Mas não havia tempo de acudir o pobre Visconde, caído de mau jeito bem em cima duma lama onde ficou de cabeça enterrada. O tempo era o exatamente necessário para se colocarem sobre as pernas de pau. Corre-corre geral. Cada um tratou de apanhar o par de pernas que lhe pertencia e de ajeitar-se em cima. Em três minutos o terreiro ficou povoado daqueles estranhos bípedes pernaltas. A primeira coisa que lá do alto viram foram as granadas de cera da Emília, arranjadinhas sobre o telhado. Pedrinho quis examiná-las. Não pôde. A boneca espantou-o com um grito.

— Não se aproxime! Não bula, não me estrague o capítulo!...

E Tia Nastácia? Essa ficou embaixo, rezando e riscando a cara e o peito de trêmulos pelo-sinais. Apesar de descrente da vinda das onças, que lhe parecia coisa impossível, começou a sentir um horrível medo. E se viessem mesmo? pensava ela. E se o tal cheirinho que a boneca sentira no ar fosse mesmo cheiro de onça?

Súbito — Miau! Um horrível miado ressoou no pasto. Devia ser o sinal de ataque do onço viúvo. Logo em seguida surgiram de dentro de todas as moitas uma infinidade de caras de onças e jaguatiricas e irarás e cachorros-do-mato, com olhos ameaçadores e dentuças arreganhadas.

Só então a pobre negra se convenceu de que tinha errado. Correu qual uma desvairada às pernas de pau que Pedrinho lhe tinha feito. Nada achou. A Cléu se havia utilizado delas. Olhou aflita para a escada. Bobagens, escada! As onças também trepariam pelos degraus. Seus olhos esbugalhados procuravam inutilmente a salvação.

— Trepe no mastro! — gritou-lhe a Cléu.

Sim, era o único jeito — e Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou que nem uma macaca de carvão pelo mastro de São Pedro acima, com tal agilidade que parecia nunca ter feito outra coisa na vida senão trepar em mastros.

Foi a continha. A onçada toda já estava no terreiro.

A princípio, os assaltantes não perceberam o truque inventado por Pedrinho para lográ-los. Os animais de quatro pés raro olham para o alto e, como os pernaltas guardassem o mais absoluto silêncio, as onças não os viram lá em cima de seus espeques. Entraram pela casa adentro em procura deles e, não os encontrando, mostraram-se desapontadíssimas.

— Fugiram, os covardes! — uivou, com os olhos chispantes de cólera, o onço viúvo. — Alguém os avisou e eles fugiram...

Nisto, uma cuspidinha da Emília caiu-lhe bem no focinho. O onço olhou para cima e sorriu, lambendo os beiços.

— O nosso “almoço” não fugiu, não! — exclamou, contentíssimo. — Lá estão todos os “pratos”, cada qual em cima de dois “espetos”.

Toda a bicharia olhou para cima, com água na boca. Não tinham comido na véspera, o apetite era forte e viram que iam ter uma bela variedade de petiscos — um menino, duas meninas, um leitão, uma boneca, uma velha branca e uma velha preta. Ótimo!

— Isso é que é almoço! — observou uma irará. — Vai ser um banquete dos bons...

Mas como devorar aqueles pernaltas? O onço, que era o mais forte do bando, experimentou o pulo. Deu quatro ou cinco pulos formidáveis, os maiores de sua vida — mas inutilmente. Os espetos tinham quatro metros de altura e os seus pulos não iam acima de três metros e noventa e cinco centímetros.

— Com pulo não vai — disse ele. — Precisamos inventar outra coisa. Que há de ser?

— Tenho uma idéia — latiu um cachorro-do-mato de talento. — Eles não podem ficar lá em cima toda a vida. Hão de descer logo que a fome aperte. Minha idéia é ficarmos aqui de plantão até que desçam.

— Sim — disse o onço, que era burríssimo — mas se a fome aperta para eles, também aperta para nós — e como é?

— Revezamo-nos — resolveu o cachorro. — Metade do bando vai caçar e almoçar no mato, enquanto a outra metade fica de guarda. Desse modo poderemos permanecer aqui a vida inteira, se for preciso.

— Eu não disse? — cochichou Dona Benta. — As malvadas vão revezar-se e estamos perdidos...

A situação era gravíssima. Cléu, que não tinha prática de aventuras maravilhosas, fez bico de choro. As onças estavam decididas a tudo; e, se os pernaltas podiam resistir por muitas horas, o mesmo não acontecia à pobre Tia Nastácia, que já mal se agüentava no mastro. — Vou cair! — berrou ela, de repente. — Não agüento mais. Minhas mãos já começam a escorregar...

— Estão vendo? — disse o onço, passando a língua pela beiçaria. — O nosso banquete vai começar pela sobremesa. O furrundu está dizendo que não agüenta mais e vai descer...

— Emília! — gritou Pedrinho. — Estamos esperando por você! Que venha a surpresa das granadas.

A boneca tratou de tirar partido da situação.

— Muito bem — disse ela — mas só lançarei as minhas granadas sob três condições.

— Diga depressa!

— Primeiro: que todos reconheçam que sou a mais esperta e inteligente do bando. Segundo: que Dona Benta me dê um regadorzinho de jardim, dos verdes — de outra cor não quero. Terceiro que...

— Socorro! — berrou, num tom de cortar a alma, a pobre Tia Nastácia, que não podendo mais agüentar-se no mastro vinha escorregando lentamente.

Emília não esperou pela resposta às suas condições. Aproximou-se do telhado, tomou as granadas e — zás! — arremessou-as contra o bando de feras. As granadas romperam-se ao bater nos alvos e deixaram sair de dentro enxames de caçunungas, que são as mais terríveis vespas que existem.

Foi uma tragédia! As vespas ferraram nos focinhos e olhos das onças e irarás e cachorros-do-mato, fazendo-os fugirem dali numa desabalada louca. Em meio minuto o sítio ficou inteiramente limpo de bicho feroz.

Não foi sem tempo. Tia Nastácia já estava no chão, escarrapachada ao pé do mastro, mais morta do que viva, suando

O suor frio da morte. Se as granadas da Emília não tivessem produzido aquele maravilhoso resultado, a boa negra realmente não escaparia de virar furrundu de onça...

— Viva! Viva a Emília! — gritou Cléu, entusiasmada com a proeza da boneca.

— Viva! Viva a rainha das bonecas! — gritaram os outros.

Prática como era, Emília tratou de aproveitar aquele entusiasmo para ganhar coisas. Obteve de Dona Benta a promessa dum lindo regadorzinho verde; de Pedrinho apanhou, ali na hora, cinco tostões novos; e de Narizinho conseguiu uma mobília de boneca.

— E você, Cléu, que me dá?

— Um beijo, Emília.

A boneca fez um muxoxo de pouco-caso. Depois, voltando-se para Tia Nastácia:

— E você, pretura?

Tia Nastácia não pôde responder. O susto por que passara fora tanto que havia perdido a voz. Foi preciso darem-lhe a beber uma caneca d’água. Só então pôde abrir a boca e dizer:

— Você me salvou a vida, Emília, e não há o que pague semelhante coisa. Dou tudo quanto me pedir.

— Quero aquele pito de barro em que você pita — respondeu a boneca.

Foi assim que Emília ganhou o célebre pito de barro que mais tarde deu de presente ao Pequeno Polegar.
––––––––––––––-
Nota sobre o uso das expressões raça negra e macaca de carvão
Na época que Monteiro Lobato escreveu esta história, a expressão negro referia-se à raça das pessoas, assim como o branco, o amarelo, etc.
A frase “Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou que nem uma macaca de carvão pelo mastro de São Pedro acima”, é uma expressão para se entender a situação na história, sem de uso de malícia ou de forma insultosa.

José Feldman
––––––––––––-
continua ... VIII – Os Negócios da Emília
---------------------
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Caçadas de Pedrinho/Hans Staden. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. III. Digitalização e Revisão: Arlindo_San

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 249)

Alinhar ao centro
Uma Trova Nacional

Se pensas em me deixar
quero que seja feliz!
A tristeza vai passar,
apagando a cicatriz!
–LUIZ CARLOS JÚNIOR/SP–

Uma Trova Potiguar

A chuva, intensa, aflorou,
o fel da dor e, no entanto,
ante um sonho, que findou,
desfez-se o amor, fez-se o pranto.
–FABIANO WANDERLEY/RN–

Uma Trova Premiada

2009 - Niterói/RJ
Tema: CRENÇA - M/H.

Teu adeus me machucou
mas eu creio, sem revolta,
que a rua que te levou
trará teus passos de volta!
–MARINA BRUNA/SP–

Uma Trova de Ademar

Quero imediatamente,
de maneira natural,
fazer um resgate urgente
da minha própria moral!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

As praias, que são tão belas
quando o sol as incendeia,
transformam-se em passarelas
feitas de espumas e areia.
–ORLANDO BRITO/MA–

Simplesmente Poesia

MOTE :
Vou beber pra ver se mato.
a dor que está me matando.

GLOSA :
Tem algo mesmo de fato
que vive me consumindo,
mas isto que estou sentindo
vou beber pra ver se mato.
Bem sutil vou como um gato,
devagar se aproximando,
a virada está chegando
e não vai ao fim do mês;
vou liquidar de uma vez
a dor que está me matando.
–LUIZ XAVIER/RN–

Estrofe do Dia

Estava um dia a sonhar,
uma alma apareceu,
uma botija me deu
e me ensinou o lugar,
quando eu comecei cavar
já fui sentindo um espanto,
não sei se foi diabo ou santo
que gritou de lá : não cave,
a riqueza é uma ave
que não pousa em todo canto.
–ZÉ DIONÍZIO/PB–

Soneto do Dia

–MÁRIO QUINTANA/RS–
A Rua dos Cataventos

Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.

Hoje, dos meu cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.

Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arrancar a luz sagrada!

Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!

Fontes:
Textos enviados pelo Autor
Imagem = Mundo dos Gifs

JB Xavier (A Última Dança)


The Jet Blacks ao fundo tocavam “Tema para Jovens Enamorados”, e deslizávamos pela pista improvisada como dançarinos de um balé irresistível. Finalmente, depois de décadas, terminávamos nossa dança há tanto iniciada, nos verdes anos de nossa juventude. Foi preciso que nossos caminhos se desencontrassem, foi preciso que seguíssemos cada qual nossos rumos. Mas meu coração nunca a esqueceu, e ela nunca esqueceu o meu...

Depois, um dia, quando o destino cansou de brincar conosco, quando ela já não era mais que uma linda pintura na parede do meu passado, assim, repentinamente, de novo a encontrei...E vinha pela vida com muitos sorrisos e algumas feridas e eu, com muitas feridas e alguns sorrisos...Então, ela me disse.

“Alô! Está a passeio?”.

Voltei-me e a vi ao meu lado. Foi como se um raio tivesse caído sobre mim, e seu clarão me cegado completamente. Quase desfaleci de felicidade ao vê-la, ainda bela, e ao ouvir a voz maviosa que por tantos anos ecoou em meu coração.

Sem conseguir organizar o turbilhão em que se transformaram minhas idéias, respondi como um autômato:

“Eu... moro aqui!”.

Seguiu-se um momento mágico de reencontro alucinante, onde, parados ali, no hall do hotel, sem ousar nos tocarmos, desfilavam por nossos olhos, num ritmo frenético, a angústia de toda uma vida de espera. O mundo desapareceu ao nosso redor, e o grande turbilhão misturou todos os sons, transformado-os num incompreensível torvelinho de vozes e ondas do mar.

Sua voz ficou a latejar em meus ouvidos na eternidade que duraram aqueles segundos preciosos. Uma fraqueza espalhou-se sorrateiramente pelo meu corpo e tive que me apoiar no balcão enquanto minhas têmporas ameaçavam explodir. Então, a suave música de sua voz deu-me a certeza de que eu delirava em plena luz do dia.

“Estamos a passeio. Partimos amanhã cedo. Este lugar é maravilhoso”.

Deus! Por quantos anos esperei por esse encontro, até vir morar nesse lugar isolado, onde minha saudade pode livremente passear pelos campos da imaginação. Foi preciso que nossas vidas voltassem a ficar vazias, para que nossos caminhos de novo se encontrassem.

“Conheces esse senhor?” Perguntou o homem que se aproximou e passou o braço por sobre seus ombros,

“Não, eu só estava pedindo algumas informações”.

Pude sentir em minha própria alma o esforço que ela fez para dizer isso, e vi a tristeza imensa que havia em seu olhar, a despeito do maravilhoso sorriso que tentava encobri-lo. Compreendi que ela era prisioneira de seu destino.

De volta ao meu apartamento, à beira do oceano, às margens da fímbria da floresta, numa solidão que jamais supunha existir, escolhi a música com a qual pela última vez dançáramos, e, quando os primeiros acordes encheram o ar de saudade, fui até a sacada onde meu coração finalmente se rendeu, explodindo meu peito em soluços incontroláveis. Minhas lágrimas puderam livremente juntar-se às águas do mar...

E assim a noite foi descendo sobre o mundo. Não sei por quanto tempo fiquei olhando sem foco as faíscas que o sol esculpia nas ondas...Efêmeras e vazias como minha própria vida.

Então seu perfume novamente inebriou-me a alma, e mãos angelicais pousaram suavemente sobre meus ombros. Quando me voltei, ela me olhava com seus olhos maravilhosamente ingênuos, que o tempo não conseguira corromper.

Ela estava ali, diante de mim, como em meus sonhos mais alucinados, sonhos que me perseguiram através de toda a minha vida.Nem a percebi entrar...Estava descalça como eu, e, sem dizer palavra, roçou seus lábios nos meus num dulcíssimo beijo do mais puro devaneio.

Os acordes da música maravilhosa nos envolveram e ela, tomando-me em seus braços levou-me numa dança calma e ondulante onde parecíamos flutuar...

“Nossa primeira... e última dança” murmurou ela docemente num sussurro quase inaudível, na voz que eu tanto me esforçara para que o tempo não apagasse.

“Deus atendeu às minhas súplicas e permitiu que eu te visse uma última vez”.

Seu perfume banhava-me a alma e brisas de saudade invadiam-me em ondas de ansiedade, na tentativa de parar o tempo e resgatar toda a felicidade não vivida, todas as lágrimas derramadas, todas a noites de silenciosa agonia, enquanto meus pés descalços deslizavam pelo carvalho liso do assoalho.

Ao longe, através dos grandes janelões envidraçados, o oceano debruçava-se numa tarde preguiçosa e avermelhada, como a render homenagem ao nosso desesperado reencontro. Ausente da dor voraz que consumia nossos corações, uma gaivota pousou curiosa no parapeito tosco da sacada, de onde observava, enlevada, nosso último bailado.

Para os lados do nascente, mares de densas e verdes florestas ondulavam sob a brisa da tarde, despedindo-se do dia, rendendo sua homenagem aos últimos raios do sol. Sombras mágicas avançavam sobre a mata, e os cumes das montanhas próximas apontavam algumas estrelas que já cintilavam num céu violeta, borrado aqui e ali pelo vermelho do poente.

Eu a segurava pela cintura como se segura uma fina porcelana rara, quase sem a tocar, e podia sentir seus leves movimentos sob minhas mãos angustiadas. Então, como eu sempre desejara, o tempo cessou de fluir. Havia somente nós dois, nesta dança há tanto sonhada.

Aproximamos nossos corações...Tínhamos tanto a nos dizer, e nos dissemos tudo, através do silêncio que transbordava de nossas almas...

Minutos, foi tudo o que precisamos para viver nossa eternidade, e nela permanecemos abraçados, olhos nos olhos, conscientes de que escrevíamos o último capítulo de um livro inacabado.

Assim, por instantes, enganamos o próprio tempo. Depois lentamente, a música chegou ao fim...E na intensidade de um olhar esfuziante, no desespero de mãos que se distanciam para sempre, nas vibrações de almas desesperadamente carentes, ela se foi, deslizando, ainda a girar, e quando a porta se fechou sobre minha vida, The Jet Blacks recomeçaram...Blue Star...e ainda na emoção de te-la em meus braços, recomecei a dançar...

Fontes:
JB Xavier
Imagem = Mundo dos Gifs

José Tavares de Lima (Vozes do Coração) Parte IV


A brisa quando se lança
pelos campos a correr,
até parece criança
brincando de se esconder

A torre da ermida ao longe,
entre sombra e solidão,
lembra a figura de um monge
numa infinita oração!

Buscando um jeito suave
de superar nossas crises,
o meu deslize mais grave
foi perdoar teus deslizes!

Chora a mulher desolada,
ao ver que o mar traiçoeiro
trouxe de volta a jangada,
mas não trouxe o jangadeiro!

Eu não sei de solidão
que se compare à de quem
não guardou no coração
uma saudade de alguém.

Louvo a mão que, resoluta,
com arte digna de espanto,
transforma a madeira bruta
na doce imagem de um santo!

Mesmo chorando ou sorrindo,
em cada olhar de criança
descubro um sol claro e lindo
com o brilho da esperança !...

Não creio mais no que dizes,
e perdoar-te não vou...
Foram tantos teus deslizes
que o meu perdão se cansou !

Não me empolga a fantasia
de amores fúteis, devassos...
O amor que eu tanto queria
já encontrei nos teus braços!

Não regressas... Triste aceito
cumprir a pena severa
desta espera que em meu peito
é mais angústia que espera! ...

Não sou perfeito, mas creio
que entre as pessoas da terra,
censura o deslize alheio
justamente quem mais erra

Não te julgues tão segura
depois que foste e voltaste...
Pois teu regresso não cura
a mágoa que me deixaste!

No constante perde-e-ganha
deste viver peregrino,
há sempre uma força estranha
movendo o nosso destino

No purgatório do mundo
penei... mas pude encontrar
um céu sereno e profundo
quando vi o teu olhar!

Nos aparências não creias...
Existem rios no mundo
de águas escuras e feias
que têm tesouros no fundo! ...

O amor que é paixão, que é febre,
põe, com a sua magia,
na pobreza de um casebre
a riqueza do alegria!

Os povos irão se unir
sem que a guerra os amedronte,
quando o mundo construir
menos muralha e.... mais ponte!

Para enfeitar minha vida
não quis um amor-perfeito...
Agora a flor preterida
virou saudade em meu peito!

Partiste... De tal maneira
chorei ante o desencanto,
que o orvalho da noite inteira
foi bem menor que o meu pranto! ...

Perdido nos descaminhos,
sem ter onde desaguar,
sou um rio de carinhos
à procura do seu mar!

Pobre barraco de morro!...
Quando a chuva a terra invade,
és um grito de socorro
perdido na tempestade!

Pobre do meu coração! ...
Por mais que o enganes e pises,
na cegueira da paixão
não enxerga os teus deslizes!

Pode ser que desagrade
a muitos meu parecer;
mas é melhor ter saudade
do que saudade não ter!

Procura na inglória trilha
manter firme o teu comando,
que a derrota nunca humilha
quando se perde lutando

Procura vento, nas noites
invernosas e sem lua,
diminuir teus açoites
contra os que dormem na rua !

Quando a tristeza me invade
e a tua falta lamento,
escuto a voz da saudade
na sinfonia do vento!

Quando nem tudo são rosas
num mundo escasso de fé,
eu louvo as mãos caridosas
que os caídos põem de pé!

Rio, nas águas serenas
que vais levando em teu leito
leva também essas penas
que tanto afligem meu peito!

Se a solidão tem um preço,
eu pago o dobro por certo,
porque até quando adormeço
sonho que estou num deserto...

Se em meu rumo há sombra adiante
a lamentar não me ponho...
Prossigo perseverante
na conquista do meu sonho!

Sei que nem tudo é bonança
entre nós... Mas, por favor,
não plantes desconfiança
na terra do nosso amor...

Sob um luar feito em prata,
sem ela, triste, sem sono,
faço a minha serenata
pelas ruas do abandono!

Vinha bela e sorridente,
e a brisa por cortesia,
ia varrendo na frente
a estrada que ela seguia!

Fonte:
Colaboração de Darlene A. A. Silva
LIMA, José Tavares de. Vozes do Coração.

Monteiro Lobato (Caçadas de Pedrinho) VI – Aparece uma nova menina


De noite houve discussão das hipóteses que poderiam dar-se no dia seguinte. Dona Benta disse:

— Concordo que, se estivermos sobre pernas de pau, as onças não poderão apanhar-nos. Mas depois? E se elas resolverem ficar por aqui até que nos cansemos e sejamos forçados a descer?

Era uma hipótese bastante provável, que não havia ocorrido a Pedrinho. Sim; se as onças ficassem por lá, como era?

— Hão de cansar-se e ir-se embora — sugeriu Narizinho. — Quando a fome apertar, não fica nenhuma aqui.

— E se se revezarem? — lembrou Dona Benta. — E se, enquanto a metade das onças for caçar, a outra metade ficar montando guarda?

Pedrinho não soube responder, nem Narizinho, nem o Visconde. Ficaram todos de nariz caído, pensando nessa terrível hipótese. Quem respondeu foi a Emília, que andava toda misteriosa, piscando cavorteiramente, como quem tem no bolso a solução dum grande problema.

— Não tenham medo de coisa nenhuma — disse ela, por fim. — Arranjei umas granadas de mão, ótimas para espantar onças.

— Granadas de mão? — repetiu Pedrinho franzindo a testa. — Que história é essa, Emília?

— Uma surpresa. Preparei as granadas com a ajuda dos meus besouros. Fiz cinco, número suficiente para espantar até cem onças.

— E onde estão?

— No telhado.

— Por que no telhado?

— Botei-as lá para estarem ao meu alcance na hora em que as onças aparecerem e nós estivermos sobre as pernas de pau. Também botei lá pão com manteiga, um guarda-chuva e mais coisas. Pode nos apertar a fome, pode chover...

Narizinho estava intrigadíssima com o negócio das granadas.

— Explique isso melhor, Emília. Que granadas são essas?

— Nada posso dizer. É segredo. Só adiantarei que são de cera e do tamanho de laranjas-baianas.

Granadas de cera, do tamanho de laranjas-baianas! Ou a boneca estava de miolo mole... ou... Em todo o caso, como a Emília era uma danadinha capaz de tudo, os meninos e as velhas sossegaram um pouco mais.

A razão de Tia Nastácia haver desistido das pernas de pau era que não acreditava muito no tal assalto das onças. “Isso há de ser imaginação dessas crianças”, refletia de si para si. “Os diabretes vivem com a cabeça quente e inventam coisas para atormentar os mais velhos. Não acredito.”

Dona Benta igualmente não acreditou — no princípio. Depois, lembrando-se de outras coisas inda mais espantosas que já tinham acontecido, achou melhor acreditar.

— Qual nada, sinhá! — insistiu a negra. — Onde já se viu onça andar em bando a atacar casa de gente? Estou com setenta anos e nunca ouvi falar de semelhante coisa.

— Nem eu. Mas lembre-se, Nastácia, que também nunca vimos contar de nenhuma boneca que falasse, nem de nenhum visconde de sabugo que agisse tal qual uma gentinha — e aí estão a Emília e o Visconde de Sabugosa.

— Lá isso é — resmungou a preta, pendurando o beiço.

— Se isso é, como vai você arranjar-se amanhã, se as onças vierem mesmo e nos atacarem aqui?

— Como vou me arranjar? — repetiu Tia Nastácia, cocando a cabeça. — Não sei. Francamente não sei. Na hora veremos...

Ela continuava com a esperança de que o tal ataque das cinqüenta onças não passasse duma “pulha” de Pedrinho para meter medo aos “mais velhos”.

Foram dormir. Cada qual sonhou pelo menos com uma onça. Emília, porém, teve sonhos cor-de-rosa, a avaliar-se pelos sorrisos que animaram seu rostinho durante a noite inteira. É que estava sonhando com as suas famosas granadas de cera...

Pela madrugada alguém bateu na porta da rua — toque, toque, toque... Pedrinho pulou da cama, assustado. “Seriam já as onças?” Os outros também se ergueram, inclusive Dona Benta e Tia Nastácia. Reuniram-se todos na sala de jantar, à escuta.

Nova batida — toque, toque, toque...

— Parece batida de nó de dedo — sussurrou Narizinho.

— Onça não bate assim.

Pé ante pé, a menina aproximou-se da porta e espiou pelo buraco da fechadura. Não viu onça nenhuma. Em vez disso viu... outra menina!

— Uma menina! — exclamou Narizinho, batendo palmas.

— Assim do meu tamanho, lindinha! Quem sabe se não é Capinha Vermelha?... Abro ou não a porta, vovó?

— Pois se é uma menina, abra. Veja primeiro se não vem algum lobo atrás, como aquele que acompanhou Capinha.

Narizinho espiou de novo e não viu lobo nenhum. Em vista disso, abriu. Uma menina muito desembaraçada, da mesma idade que ela, entrou.

— Boa madrugada para vocês todos! Boa madrugada, Dona Benta! Boa madrugada, Tia Nastácia!

A menina conhecia a todos da casa e, no entanto, não era conhecida de nenhum dali. Quem seria?

— Quem é você, menina? — perguntou Dona Benta, meio desconfiada.

— Não me conhecem? — tornou a desconhecidazinha com todo o espevitamento. — Pois sou a Cléu...

Foi uma alegria geral. Não havia ali quem não conhecesse de nome a famosa Cléu, que falava pelo rádio e de vez em quando escrevia cartas a Narizinho, dando idéias de novas aventuras.

— Viva, viva a Cléu! — exclamaram todos, numa grande alegria.

— Pois é — disse a menina sentando-se sobre a mesa — cá estou para conhecê-los pessoalmente. Desde que li as primeiras aventuras de Narizinho, fiquei doida por entrar para o bando. Moro em São Paulo, uma cidade muito desenxabida, com um viaduto muito feio e gente apressada, passeando pelas ruas. Enjoei do tal São Paulo e vim morar aqui. Fiquem certos duma coisa: o único lugar interessante que há no Brasil é este sítio de Dona Benta.

Todos mostraram-se contentíssimos. Dona Benta, entretanto, disse:

— Mas veio em má ocasião, Cléu. Imagine que justamente hoje o sítio vai ser atacado por um exército de onças e irarás e cachorros-do-mato.

— Ótimo! — respondeu a menina. — Um dos meus sonhos sempre foi ser atacada por um exército de onças e irarás e cachorros-do-mato, de modo que adivinhei vindo em momento tão propício...

— Ché... — exclamou lá consigo Tia Nastácia. — Agora é que o sítio pega fogo mesmo. Menina de “propícios”... Credo!

O dia estava clareando e, como as onças podiam chegar dum momento para outro, Pedrinho tratou de ensinar a Cléu o uso das pernas de pau, explicando-lhe que fora esse o meio que descobrira para se defenderem do ataque.

Tia Nastácia foi para a cozinha acender o fogo para o café. Estava de olho parado, pensando, pensando...

— A Cléu aqui! — murmurava ela, olhando para o fogo. — Ché…
––––––––––––-
continua ... VII – O assalto das onças
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Caçadas de Pedrinho/Hans Staden. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. III. Digitalização e Revisão: Arlindo_San

Ialmar Pio Schneider (Aconteceu na 1a. Bienal)


Quando da realização do evento da 1ª BIENAL que ocorreu em Porto Alegre - RS, de 2 de outubro a 30 de novembro de 1997, compareceram pessoas de muitas cidades do estado, do país e do exterior, a fim de apreciar as obras de artes plásticas expostas em vários locais da capital gaúcha. Foram muitos os dias de intensa atividade artística, em que até um ônibus especial ficava à disposição dos interessados, em frente ao Mercado Público, de onde partia transportando-os aos diversos lugares da exposição. Nessa ocasião alguns flertes floresceram e houve romances que frutificaram. É o caso da história abaixo e de outras tantas que não foram registradas, como de fato geralmente só ia acontecer nesses momentos em que se misturam a realidade com a fantasia.

Despertara-lhe a curiosidade de saber quem era aquela mulher que avistara em certa tarde na Exposição da Bienal. Aparentava beirar os trinta anos e era morena clara. Tinha um corpo bem feito, torneado, e caminhava com certa esbeltez, olhando os quadros, admirando-os. Parecia andar solta dentro de um vestido de seda que a abrigava, deixando-a, assim, muito atraente. Olhava-a, de vez em quando, disfarçadamente, e ela parecia, mais ou menos, corresponder-lhe com discrição. E o flerte prosseguia inconseqüente, até que Menandro, criando coragem, aproximou-se dela, vencendo a timidez , e disse-lhe:

- Interessantes estes quadros... Estás apreciando?

- É... realmente, são muito sugestivos - respondeu-lhe Lívia.

- És daqui mesmo de Porto Alegre?

- Não, sou de Caxias do Sul. E tu?

- Eu sou de Passo Fundo e estou passeando por aqui. Vim ontem. Mas, vamos tomar alguma coisa no barzinho?

- Pois não; podemos ir.

Saíram e foram caminhando, a conversar, pela rua Sete de Setembro e entraram na lancheria em frente à Praça Montevidéu, no largo da Prefeitura Municipal. Pediram refrigerantes e foram bebendo-os, enquanto escutavam a música ambiental.

- O que vais fazer hoje à noite?

- Não sei ainda... mas talvez volte a Caxias.

- Se eu te convidar, aceitas?

- Depende para o que seja.

- Vamos assistir ao filme “Navalha na Carne”, com a Vera Fischer. Está passando ali no cinema Vitória.

Ela concordou e após lancharem dirigiram-se ao cinema. Tinham muito que conversar ainda, pois ambos não se conheciam e vieram de cidades diferentes. Menandro pensava que tudo se encaminhava bem e Lívia da mesma forma. É bem provável que nascera aí um amor à primeira vista para preencher o vazio da existência de duas pessoas solitárias que se encontraram casualmente.

Fontes:
Texto enviado pelo autor
Imagem = http://bonecosanimados.blogs.sapo.pt/

Carlos Ventura (Lançamento de “O Verdadeiro Paraíso”)


"...Um texto começa a partir das energias que captamos do cosmo.
Energia esta que esta contida na força da Mulher.
Nos seus movimentos,
Em seus momentos.
Um poema é isso movimento, momentos, nuances.
Lances que só vê e sente quem esta atento ao jogo,
Ao vento.
Que percorre maliciosamente o vestido da bela dona.
Que despretensiosa caminha sem dar bola para nada e enche de poesia a calçada.
O poema é ela, eu apenas o interpreto como vedor dos seus deliciosos movimentos e gestos.
E esta interação que liga o poeta ao poema transforma a despretensiosa moça em musa,
Em tema..."
("Ela o Poema", por Carlos Ventura)

Leia o novo livro de Carlos Ventura, ( O Verdadeiro Paraiso )
( Contos, Poemas, Pensamentos, Frases e muito mais...)

Escrito para tocar a Mulher e provocar os os Homens a observa-la com mais poesia e paixao.

Sucesso de vendas em sua segunda ediçao.

Pedidos: producaocarlosventtura@gmail.com

Fonte:
Poetas del Mundo

Cerlos Lúcio Gontijo (Filtro)


O amor é extrato da paixão que fica!
(Carlos Lúcio Gontijo)

Umedece o barro de que sou feito
Encharca-me com o suor de teu peito
Estou afeito e pronto
Assim meio tonto de amor
Aceito o que vier e for
Depois de desmanchado em lama
Leva-me aguado para a cama
Apura-me no filtro dos lençóis
Pesca-me com os anzóis do coração
Desfia fio a fio a minha paixão
Dá-me uma forma nova
Prova-me que o amor transforma!

Fontes:
Poetas del Mundo
Imagem = http://www.relacionamentos.net

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 248)


Uma Trova Nacional

A lágrima comovida,
que vem de dentro de nós,
é uma palavra sofrida
que chega aos olhos sem voz.
–HEGEL PONTES/MG–

Uma Trova Potiguar

No meu semblante tristonho,
Uma lágrima escorrega
Quando a estrela do meu sonho
Se some na noite cega!
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–

Uma Trova Premiada

2001 - Nova Friburgo/RJ
Tema: DETALHE - 1º Lugar

Meu perdão foi em tributo
a uma lágrima suspensa:
- um detalhe diminuto,
mas, que fez a diferença...
–DARLY O. BARROS/SP–

Uma Trova de Ademar

Da bebida fiquei farto,
bebendo, perdi quem amo;
hoje bebo no meu quarto
as lágrimas que eu derramo.
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Dizem que a lágrima nasce
do fundo do coração...
Ah! se a lágrima falasse,
que doce consolação!
–BELMIRO BRAGA/MG–

Simplesmente Poesia

–HILDA PERSIANI/PR–
Lágrimas

Quem nunca uma lágrima verteu,
Seja de tristeza ou seja de alegria,
Em qual face uma lágrima não correu?
Todas as faces ela umedeceu um dia.

Quantas rolaram por amor desfeito,
Outras rolaram por amor traído...
Quantas ficaram retidas dentro do peito...
Outras tantas tremularam sem ter caido.

Incolor, límpida e transparente,
Às vezes até mesmo sem razão,
Escorrem pela face docemente
Ou rolam em suspiro pelo coração.

Mas quando se chega na terceira idade,
As lágrimas que banham nosso rosto,
Ou são causadas por algum desgosto
Ou deslizam como caricia, de saudade!...

Estrofe do Dia

Não pensei chorar tanto desse jeito.
Meu açude de lágrimas sangrou;
abri todas comportas do meu peito,
e o velho coração não segurou.
O grande temporal veio depois
quando eu vi que o amor entre nós dois;
se afogou no mar com os abrolhos;
esta dor foi demais, não suportei,
chorei tanto por ti que já sequei
a cacimba de prantos dos meus olhos.
–ADEMAR MACEDO/RN–

Soneto do Dia

–MIGUEL RUSSOWSKY/SC–
Solidão

Maio. Minha tristeza avisa ser outono...
Poucas nuvens no céu... Uma rima vadia,
começa a solfejar pela casa vazia,
tentando afugentar os recados do sono.

Envelhecer me dói... ( mas antes não doía )
Meus sonetos de amor – cães magrelos sem dono –
se põem a reclamar que os deixei no abandono.
Folhas caem, devagar,na tarde azul e fria.

Domingo sem ninguém, de novo o mesmo tema
querendo constituir-se em núcleo do poema...
(Falo com meus botões, os botões tem bom senso )

O silêncio parece um anseio que chora...
Aprender a ser só, se aprende, mas demora...
Uma lágrima só... não faz peso num lenço.


Fontes:
Textos enviados pelo Autor
Imagem = Mundo dos Sonhos

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 247)


Uma Trova Nacional

No dizer de loura é burra,
esse assunto não me atinge,
pois nesse jogo de empurra,
quem não é loura... se tinge!!!
–Elisabeth Souza Cruz/RJ–

Uma Trova Potiguar

Um cinquentão desposou
uma fogosa gatinha,
mas, perdeu pro Ricardão,
a gata e tudo que tinha!
-Francisco Macedo/RN-

Uma Trova Premiada

2006 - Pitangui/MG
Tema: REZA - M/H.

Contra a reza persistente
da carola que ele aguenta,
deita doses de aguardente
em seu frasco... de água-benta!
–João Freire Filho/RJ–

Uma Trova de Ademar

A bebida é uma desgraça,
nem mesmo o céu me socorre;
pois quando eu bebo cachaça
meu santo fica de porre.
–Ademar Macedo/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Deixe o copo de bebida,
dizia a mãe de Maneco.
Em respeito à falecida,
ele bebe no caneco.
–Hildemar de Araújo/BA–

Simplesmente Poesia

MOTE:
Não posso vencer a morte,
mas irei de má vontade.

GLOSA:
Mesmo que eu pareça forte
como um touro premiado,
serei um dia enterrado,
não posso vencer a morte;
do Rio Grande do Norte
levarei muita saudade...
Promessas de eternidade
me fazem crer noutra luz.
Eu sei que é pra ver Jesus,
mas irei de má vontade.
–José Lucas de Barros/RN–

Estrofe do Dia

Eu sou a folha perversa da urtiga
despontando no vaso sanitário,
querosene na mão de incendiário
solitária mexendo na barriga;
sou machado afiado numa briga
sou o chifre levado por romeu,
sou Menguele com raiva de judeu
sou o tiro certeiro do arpão;
sou a aids injetada num machão
que morre garantindo que “não deu”!
Jessier Quirino/PB–

Soneto do Dia

–Alberto de Oliveira/RJ–
TALENTO E ORELHAS

E inda há quem creia que é talento aquilo!
Aquele dedo erguido e falar lento,
aquele olhar como de sonolento,
e o todo acacial, grave e tranqüilo...

Talento! mas, então, também no Nilo
força é dizer que havia esse talento,
quando o "gesto impudico" em meigo acento
frisou da Vênus, quero crer, do Milo!

Para esvurmá-la, como a vis bostelas,
nas mãos do meu amigo, o "Saca-muelas",
as mensagens do Acácio, um dia empurro;

e ele há de vos mostrar, claro e evidente,
que quem tais coisas faz é, certamente,
um néscio, um tolo, um parvo, um zote, um burro!

Fonte:
Textos enviados pelo Autor