sábado, 22 de março de 2014

Antonio Brás Constante (E tudo começou no braço...)

Na vida é sempre interessante tentarmos transformar limões em limonada, ou pelo menos em uma boa caipirinha. Neste caso, o limão foi à fisioterapia que iniciei no braço esquerdo (mais uma doença em minha coleção particular), transformada no texto que você está começando a ler agora.

Para se tratar de um braço com tendinite, um bom lugar é em uma clínica de fisioterapia. Um local parecido com uma academia de ginástica, pois conta com apetrechos para prática de exercícios, mas que dividem espaço com estranhos equipamentos eletrônicos. Outra diferença é que ao invés de instrutores vestidos em roupas esportivas, encontramos ali atendentes usando jalecos brancos. Para minha sorte, fui atendido por gente simpática e competente, como a jovem fisioterapeuta Berta e de seu fiel escudeiro e auxiliar Luciano. Eram eles que decidiam em qual máquina os pacientes deveriam padecer primeiro (para mim “padecer” significava ficar preso aos tais equipamentos, com os olhos livres para ler todas as revistas que eu pudesse arrebanhar da sala de espera).

De todas as máquinas utilizadas em meu tratamento, a que tinha mais botões, mais fios ligados ao meu braço (que era antes lambuzado com gel), e que demorava mais tempo presa ao corpo (uns vinte minutos), era uma belezinha chamada TNS. Sendo a única que demonstrava surtir algum efeito positivo, pois causava algo parecido com um formigamento (sem a necessidade de colocar o braço num formigueiro). Tal benefício suscitou à vontade de utilizá-la de uma forma mais prolongada. Um aparelho assim em casa poderia ser melhor do que muita aspirina. Bastaria deixá-lo ligado ao braço lesionado, posicionar uma caixa de isopor cheio de cervejas ao alcance do outro braço, adicionar a este cenário um confortável sofá, uma almofada e uma televisão, e o tratamento ficaria perfeito.

Para por essa ideia em prática, o primeiro passo foi verificar com a turma da fisioterapia se aquilo era viável. Mas, para minha tristeza, a explicação dada foi de que o aparelho não curava nada, atuando somente no combate a dor. Na verdade, eram os outros aparelhos (que eu tanto desprezei), que traziam melhorias ao problema.

Pensei em argumentar, que se talvez utilizássemos algum tipo inovador de catalisador misturado ao gel, como por exemplo, o pó das tais pedras de criptonita descobertas recentemente, o TNS não poderia surtir efeitos mais milagrosos (lembro que no seriado SMALLVILLE, isto sempre dava certo). Caso isso acontecesse, ele poderia ser empregado em várias enfermidades, tais como a diarréia, a caspa, a gripe, o mau-olhado, a urucubaca entre outras moléstias que existem por aí. Quem sabe até atuar na cura de uma das maiores doenças da humanidade, a corrupção.

Mas preferi não arriscar este tipo de ideia. Afinal, pior do que ter uma dor no braço, é acabar sendo forçado a começar um outro tipo de tratamento, algo somente realizado em locais especiais, também conhecidos como clínicas psiquiátricas.

Fonte:
http://www.recantodasletras.com.br/humor/547350

Dáguima Collection [Trova 1]


Paulo Setúbal (O Príncipe de Nassau)

- Às armas!

A guarda do Palácio de Friburgo acudiu prestes ao grito da sentinela. Soou um toque áspero de clarim. Rufaram as caixas com estrépito. Os soldados holandeses, com os chapelões de plumas, bateram forte as alabardas no chão: Maurício de Nassau, o Príncipe magnífico, surgiu no pórtico do palácio. Sua Alteza, como de costume, saía para o passeio da tarde.

Fora, no pátio, os cavalos estavam prontos. Estrembon, pajem e camareiro, precipitou-se a segurar as rédeas do alazão. Era o cavalo mais belo de Pernambuco, o mais árdego dentre os trinta que o Príncipe tinha habitualmente nas cavalariças.

Maurício, desempenado e ágil, galgou a sela. Carlos Tourlon, Capitão da Guarda, também montou. Seguiram-se duas ordenanças. O Governador de Pernambuco trotou galhardamente para a Cidade Maurícia.

Nassau, naquela tarde, estava radioso. Alegria radiosa, dessas que sacodem a gente, embriagava a sua alma de soldado. É que nessa manhã, ribombando, por entre fragorosas surriadas de mosqueteiros, entrou barra a dentro uma nau louçã, muito garrida, com grandes embandeirados no velame. Vinha da Bahia. Vinha comissionada especialmente pelo Vice-Rei do Brasil, o mui alto e poderoso Senhor Marquês de Montalvão, para trazer a Maurício, numa embaixada de gala, esta nova alvoroçante: Portugal, vencendo a Espanha, proclamara enfim a sua independência. E D. João, Duque de Bragança, fora aclamado rei sob o nome de D. João IV.

Tão alta era a notícia, tão faustosa, que o Príncipe ouvindo-a, arrancou do dedo um anel opulento, onde faiscava baga imensa, dando-o de alvíssaras ao piloto João Lopes, o mensageiro afortunado.

Essa brusca reviravolta política significava, de fato, imediato paradeiro às lutas do Brasil. Era a paz entre Holanda e Portugal. Mais do que a paz: era a aliança forçada entre os dois países para combaterem a Espanha, agora inimigo comum.

Nesse dia, além da nova assim emocionante, havia ainda, para afestoar o coração do Príncipe, certo recado de Montalvão, vindo pela segunda vez, recado secreto, muito confidencial, que significava o triunfo mais envaidecedor do guerreiro político.

Montalvão, ao assumir o governo na Bahia, isso há meses já, houvera feito velejar dois emissários para a Cidade Maurícia. Um fora João Martins Ferreira; outro, Pedro de Arenas. Trouxeram ambos a Nassau, com insufladoras cortesanices, um alto bastão de ouro maciço, cravejado de muita pedraria de preço. Com esse regalo, primor de fidalguia, chegara também, entre fechados sigilos, aquele misterioso recado, recado secreto, muito confidencial, que lisonjeara fundo o orgulho do Príncipe...

Naquele dia, com a embaixada que descera no porto, Montalvão repetira o recado. Que recado era aquele? Ninguém sabia. Mas, o certo é que, naquela tarde, com o coração pálpite, Maurício partiu, entre toques e rufes, para o passeio de costume.

Atravessou o vasto parque de Friburgo, onde frondejavam setecentas palmeiras. Meteu-se pela Cidade Maurícia. Cortou a Praça dos Coqueiros. Desembocou na Ponte do Recife.

Os moradores de Maurícia eram holandeses e judeus. Ao ouvirem o pateado dos cavalos, aqueles homens de língua estranha, muito ruivos, vestidos com gibões de saragoça, corriam atarantados às portas das casas,
desbarreteando-se à passagem do séquito.

Ao pé da ponte, junto à correnteza do Capiberibe, ficava a taberna do velho Snider. Um magote de flamengos, com o taberneiro à frente, vermelhos e desordenados, copos na mão, saiu à rua tumultuosamente, a bradar com efusão:

- Viva o nosso Príncipe!

Maurício sorriu. Do alto da sela, com um gesto condescendente, agradeceu
aos berradores. Novos vivas, grande alarido.

Nassau atravessou por entre aquele bando fremente. Ao entrar na ponte, virou-se para o Capitão da Guarda:

- Não parece que estão borrachos, Carlos Tourlon?

- Tontos de vinho devem andar eles, Príncipe! Hoje, foi dia de festa na taberna de Snider...

- Festa? redargüiu Maurício admirado; festa? E por qual razão, Carlos de Tourlon?

- Vossa Alteza não sabe? Por um motivo grave, tornou o capitão: é que os escabinos decidiram a demanda que Snider pôs contra Manuel Felipe, aquele lavrador de canas. Vossa Alteza não se lembra? Aquela demanda por causa do macho gateado que esteve na pastaria de João Fernandes Vieira.

- Ah! Lembro-me muito bem. E então?

- Snider ganhou a querela. Foi Manuel Filipe condenado a pagar o preço do macho e as custas: setecentos e muitos florins!

- Feia coisa, exclamou Maurício, franzindo o sobrolho. Pesada injustiça! Foi uma decisão má dos escabinos...

A comentarem o caso, num trote manso, os cavaleiros atravessaram a ponte. Entraram cm Recife, a cidade velha. Tudo aí eram portugueses e mamelucos. A essa hora, nesse afogueado cair da tarde, os escravos do senhorio rico, uns chatos negrões de Angola, dentro de suas pantalonas de tela de Flandres, passavam aos bandos, carregando água doce, gotejantes, com enormes cacimbas à cabeça. Índios mansos, tapuias e potíguaras, voltavam dos engenhos e das lavouras, as foices roçadeiras ao ombro, o ar suarento de cansaço.

O Príncipe tocou pela cidadezinha. Cortou-a de ponta a ponta. Depois, sem dizer palavra, enveredou rumo da praia. Pôs-se a trotar vagarosamente pela areia branca. Todos seguiam-no, calados. De repente, num cômoro Maurício de Nassau estacou o ginete. Aí, diante dos seus olhos, estendia-se, largo e belo, um panorama surpreendente.

Que maravilha! Ao longe, muito ao longe, no fundo do horizonte, um grande sol, fulvo e sangrento, atufava-se em chamas como um incêndio. E grossas brochadas de luz, brochadas quentes e uivantes, zebravam de listrões assanhados aquele céu candente dos trópicos.

Maurício de Nassau, embevecido, virou-se para a banda do mar. E soltou pela vastidão das águas um olhar feliz e vitorioso.

Ali estava a seus pés, corcovado de vagas, o férvido oceano espumarento, que os Estados a custo subjugaram. Ali estava, arrepiada em morros, a  imensa terra brasileira, seis ásperas capitanias, inchadas de muito gentio emplumado, que ele, Maurício, com a sua espada, acabava de conquistar galhardamente, debaixo da saraivada das flechas e do estrondo dos pelouros.

Fora lá, nessas águas e nessas terras, que se derramara tanta vez, aos gorgolões, o sangue batavo! Fora lá pelas angras do sul, na Bahia de Todos os Santos, que um dia, pela primeira vez, arribaram por estas bandas, com as flâmulas vermelhas panejando nos mastaréus, as grandes naus côncavas de Jacob Willekens. Fora lá, naquelas mesmas abras, que também fundeara um dia, calada e inútil, a frota assustadiça de Hendrickzoon.

E fora aqui, diante dos seus olhos, nas águas crespas do Arrecife, que aportara enfim, garbosamente, por entre os roncos do canhoneio, a armada triunfadora de Loneq: fora aqui que desembarcaram, nas suas pinaças bojudas, os soldados que ganharam para a Holanda a terra nova.

Quanto sangue jorrado! Quanta desesperada luta! Mas hoje - e o olhar do Príncipe corria ufano os longes do horizonte - mas hoje, por esse infinito além, por esse costão selvagem que o mar lambia, espumejando, tremulavam afinal, nos fortins e no velame dos patachos, as cores dos Estados! E era agora daqui, destes brasis longínquos, que partiam para os depósitos de Amsterdam, inundando-os, aqueles brutos galeões prenhes de açúcar macho; aqueles veleiros de garbosa mastreama, largos e sólidos, abarrotados de pau-brasil de tinta; aquelas fundas barcaças que zarpavam túrgidas de tabacos e de papagaios. Era daqui da terra nova, que ele, Maurício, mandara à pátria, todos os anos trezentos mil florins de décimas, setecentos mil de pensões, afora os dois milhões de lucros na venda dos engenhos e quase seiscentos belos caravelões aprisionados.

A política do Príncipe, desde o início do governo, fora a política de conciliação. Era de ver-se os frutos dela! Que prodígio!

Lá em baixo, na ilha de Antônio Vaz, florescia, nova, os telhados ainda vermelhos, aquela famosa Cidade Maurícia, o assombro da época, com o seu belo Palácio de Friburgo, com as pontes de rijo tabuado, as grossas fortalezas, roqueiras, as ruelas pitorescamente ensombradas de árvores e regadas de águas cantantes. Depois, em frente dela, o Recife; aquele Recife antigo, tradicional, onde os velhos homens da terra tinham as suas moradas alterosas de boa taipa, os tratantes judeus as suas escuras lojas de moeda e de mercância.

Lá estava, à sombra dos falcões de bronze dos fortes, a casa de pedra de João Blaar, o sangrento general de Holanda. Rente dela, com as portas de rótula, a casinha de Frei Manuel do Salvador, o cura jeitoso e politicão, reinol de muitas letras e de muitas lábias. Além, toda de madeira pintada, como em Flandres, a chácara de Gilberto Van Dirth, flamengo apelintrado, um dos três do Conselho Político. Depois, entre coqueiros, o casarão de Gaspar Dias Ferreira, tremendo velhaco, rabulejador e patoteiro, o mais querido dos amigos do Príncipe. E não era só. Lá se viam pela cidade, chatas, nuas de enfeites, as moradas de todos os principais do país: a de João Fernandes Vieira, altíssima personagem da terra, mercante afortunado e rico; a de Antônio Bezerra, velho moedor de canas, pessoa de grandes teres e de grande vida; a de Antônio Cavalcanti, sombrio inimigo de João Fernandes, homem emproado, imensamente ensoberbecido do seu sangue e da sua linhagem; a de Sebastião de Carvalho, lavrador de pau-de-tinta, sujeito estranho, de poucas falas, devotado parceiro dos holandeses...

Maurício, da praia, contemplava, orgulhoso, o panorama soberbo. Com um sorriso, o coração inflado, não pôde reprimir-se:

Como isto é belo, Carlos Tourlon! Como é formosa esta terra! É a mais formosa terra do mundo...

A tarde caíra. Tarde abafada, tarde languescedora, tropical. Ao longe, no porto, as naus adormentavam-se tranqüilas, numa doce quietude, como pássaros enormes pousados à flor das águas. Apenas uma pinaça, velas abertas, balouçava-se agitada, com muita escravaria correndo dentro dela. O Príncipe notou aquele açodamento. E apontando para o barco:

- É o patacho de Israel Voss?

- É, Príncipe. Ainda está a carregar. Veleja amanhã cedo para Cabedelo. Vai nele Segismundo Starke, levando os barris de pólvora que Vossa Alteza manda à Paraíba.

- É verdade atalhou Maurício. Elias Erckmann está com munição escassa. E é preciso não descuidar! Henrique Dias e Camarão andam por aí de emboscada em emboscada. É preciso ter cautela...

Nassau esporeou o alazão. Virou as rédeas. Os do séquito acompanharam-no.

Tombara uma serenidade empolgante. Andavam rumores estranhos pelo ar. Branquejavam o azul, de vez em quando, asas de gaivota. Tiniam pios. Prodigioso cair de tarde...

Os cavaleiros marchavam em silencio. Entraram de novo pelas ruas do Recife. Atravessaram a ponte. De súbito, ao penetrar na Cidade Maurícia, a comitiva topou de chofre com Frei Manuel do Salvador (1).

O religioso, metido na sua loba poeirenta, chapéu negro de aba larga, lá se ia pela estrada, cismarento, montado num burrinho filosófico. Nassau, ao vê-lo, gritou logo num alvoroço:

- Olá, Frei Manuel! Viva! Então Vosmecê ai a caminhar tão pachorrento. Num burrico desses! Aonde vai Vosmecê assim, meu padre, nessa cavalgadura tão derreada?

Frei Manuel desbarreteou-se e, sorrindo com jovialidade, retrucou:

- Deus o salve e guarde, Príncipe! Mas não mofe Vossa Alteza assim do meu rocim. Estou que Vossa Alteza, nas suas cavalariças, com os seus trinta cavalos, não tem alimária mais segura. Aquilo é sempre assim, sempre neste passo, sem corcovos. nem bufos, mas sempre a carregar onde me apraz. Ainda agora, como Vossa Alteza vê, sigo eu para o engenho de João Fernandes Vieira. Vou dar dois dedos de prosa com o velho amigo.

- Vosmecê vai ao Engenho de Várzea? tornou Maurício. Pois é favor, Frei Manuel, dizer a João Fernandes que anda muito arredio. Não há quem mais o veja cá por Maurícia! Que é que sucedeu? Será que João Fernandes, depois que apalavrou o casamento das cunhadas com os filhos de Antônio Cavalcanti, se tornou bicho de toca? Ora... valha-nos Deus! Pois diga-lhe, padre, que deixe de casmurrice e que apareça. Quero felicitá-lo por esse gosto.

- Direi, Príncipe. Direi a João Fernandes que venha logo à Cidade Maurícia; e mais ainda, isto sim, que venha sentar-se à mesa do seu amigo, o Príncipe de Nassau, a fim de bebericarem juntos uma botelha daquele vinho encorpado de Holanda, que há nas cubas de Friburgo.

- Isso, Frei Manuel! Diga-lhe isso, tal e qual!

E rindo-se, rindo-se a bom rir, Maurício despediu-se folgazonamente:

- Adeus, frei; boa jornada e boa pressa!

Caíra a noite. Os cavaleiros tocaram apressados. Na casa de pedra de João Blaar, andava rumoroso borborinho. Havia dentro muitas luzes. Largo vozerio de gente. Maurício de Nassau, ao passar, espantou-se com tanta bulha:

- Que é aquilo, Carlos Tourlon? Hoje também há festa em casa de João Blaar?

- Festa, sim, Príncipe; e festa grande! É que estão lá a brindar o ajuste do casamento de Segismundo Starke com Carlota Haringue. Segismundo parte amanhã, no patacho de Israel Voss, a levar os barris de pólvora para Cabedelo. Por isso a festa dos esponsais é hoje; o casamento fica para a volta.

Maurício olhou o Capitão, com surpresa. Os seus olhos fuzilaram, interrogativos. E depois de uma pausa:

- Carlota vai casar-se com Segismundo?

- Vai, Príncipe.

- E Rodrigo, inquiriu Maurício; e Rodrigo, o afilhado de André Vidal de Negreiros?

- Esse, naturalmente, ficará a espera de outra, tornou Carlos Tourlon; desta vez foi Segismundo quem pescou a truta.

- Bela rapariga, em verdade, exclamou Nassau; é a mais bela de todas as que eu tenho visto no Brasil! Nem sei de outra que se lhe compare...

Tinham chegado a Friburgo. Soaram de novo os clarins. Rufaram os tambores. Os soldados bateram forte as alabardas no chão. Maurício saltou da sela. E virando-se para o Capitão:

- Vosmecê deseja ir à festa de João Blaar, Carlos Tourlon?

- Se Vossa Alteza consentir, Príncipe.

- Pois vá. Hoje não careço mais de Vosmecê.

Arremessando as rédeas ao pajem, João Maurício de Nassau, o mui poderoso Príncipe, galgou as escadarias do Palácio de Friburgo.

 Fonte:
http://biblio.com.br/conteudo/paulosetubal/principedenassau.htm

Machado de Assis (A Segunda Vida)

Monsenhor Caldas interrompeu a narração do desconhecido: — Dá licença? é só um instante. Levantou-se, foi ao interior da casa, chamou o preto velho que o servia, e disse-lhe em voz baixa: — João, vai ali à estação de urbanos, fala da minha parte ao comandante, e pede-lhe que venha cá com um ou dois homens, para livrar-me de um sujeito doido. Anda, vai depressa.

E, voltando à sala: — Pronto, disse ele; podemos continuar.

— Como ia dizendo a Vossa Reverendíssima, morri no dia vinte de março de 1860, às cinco horas e quarenta e três minutos da manhã. Tinha então sessenta e oito anos de idade. Minha alma voou pelo espaço, até perder a terra de vista, deixando muito abaixo a lua, as estrelas e o sol; penetrou finalmente num espaço em que não havia mais nada, e era clareado tão-somente por uma luz difusa. Continuei a subir, e comecei a ver um pontinho mais luminoso ao longe, muito longe. O ponto cresceu, fez-se sol. Fui por ali dentro, sem arder, porque as almas são incombustíveis. A sua pegou fogo alguma vez? — Não, senhor.

— São incombustíveis. Fui subindo, subindo; na distância de quarenta mil léguas, ouvi uma deliciosa música, e logo que cheguei a cinco mil léguas, desceu um enxame de almas, que me levaram num palanquim feito de éter e plumas. Entrei daí a pouco no novo sol, que é o planeta dos virtuosos da terra. Não sou poeta, monsenhor; não ouso descrever-lhe as magnificências daquela estância divina. Poeta que fosse, não poderia, usando a linguagem humana, transmitir-lhe a emoção da grandeza, do deslumbramento, da felicidade, os êxtases, as melodias, os arrojos de luz e cores, uma coisa indefinível e incompreensível. Só vendo. Lá dentro é que soube que completava mais um milheiro de almas; tal era o motivo das festas extraordinárias que me fizeram, e que duraram dois séculos, ou, pelas nossas contas, quarenta e oito horas. Afinal, concluídas as festas, convidaram-me a tornar à terra para cumprir uma vida nova; era o privilégio de cada alma que completava um milheiro. Respondi agradecendo e recusando, mas não havia recusar.

Era uma lei eterna. A única liberdade que me deram foi a escolha do veículo; podia nascer príncipe ou condutor de ônibus. Que fazer? Que faria Vossa Reverendíssima no meu lugar? — Não posso saber; depende...

— Tem razão; depende das circunstâncias. Mas imagine que as minhas eram tais que não me davam gosto a tornar cá. Fui vítima da inexperiência, monsenhor, tive uma velhice ruim, por essa razão. Então lembrou-me que sempre ouvira dizer a meu pai e outras pessoas mais velhas, quando viam algum rapaz: — "Quem me dera aquela idade, sabendo o que sei hoje!" Lembrou-me isto, e declarei que me era indiferente nascer mendigo ou potentado, com a condição de nascer experiente. Não imagina o riso universal com que me ouviram. Jó, que ali preside a província dos pacientes, disse-me que um tal desejo era disparate; mas eu teimei e venci. Daí a pouco escorreguei no espaço: gastei nove meses a atravessá-lo até cair nos braços de uma ama de leite, e chamei-me José Maria. Vossa Reverendíssima é Romualdo, não? — Sim, senhor; Romualdo de Sousa Caldas.

— Será parente do padre Sousa Caldas? — Não, senhor.

— Bom poeta o padre Caldas. Poesia é um dom; eu nunca pude compor uma décima. Mas, vamos ao que importa. Conto-lhe primeiro o que me sucedeu; depois lhe direi o que desejo de Vossa Reverendíssima. Entretanto, se me permitisse ir fumando...

Monsenhor Caldas fez um gesto de assentimento, sem perder de vista a bengala que José Maria conservava atravessada sobre as pernas. Este preparou vagarosamente um cigarro. Era um homem de trinta e poucos anos, pálido, com um olhar ora mole e apagado, ora inquieto e centelhante. Apareceu ali, tinha o padre acabado de almoçar, e pediu-lhe uma entrevista para negócio grave e urgente. Monsenhor fê-lo entrar e sentar-se; no fim de dez minutos, viu que estava com um lunático. Perdoava-lhe a incoerência das ideias ou o assombroso das invenções; pode ser até que lhe servissem de estudo. Mas o desconhecido teve um assomo de raiva, que meteu medo ao pacato clérigo. Que podiam fazer ele e o preto, ambos velhos, contra qualquer agressão de um homem forte e louco? Enquanto esperava o auxilio policial, monsenhor Caldas desfazia-se em sorrisos e assentimentos de cabeça, espantava-se com ele, alegrava-se com ele, política útil com os loucos, as mulheres e os potentados. José Maria acendeu finalmente o cigarro, e continuou: — Renasci em cinco de janeiro de 1861. Não lhe digo nada da nova meninice, porque aí a experiência teve só uma forma instintiva. Mamava pouco; chorava o menos que podia para não apanhar pancada. Comecei a andar tarde, por medo de cair, e daí me ficou uma tal ou qual fraqueza nas pernas. Correr e rolar, trepar nas árvores, saltar paredões, trocar murros, coisas tão úteis, nada disso fiz, por medo de contusão e sangue. Para falar com franqueza, tive uma infância aborrecida, e a escola não o foi menos. Chamavam-me tolo e moleirão. Realmente, eu vivia fugindo de tudo. Creia que durante esse tempo não escorreguei, mas também não corria nunca. Palavra, foi um tempo de aborrecimento; e, comparando as cabeças quebradas de outro tempo com o tédio de hoje, antes as cabeças quebradas. Cresci; fiz-me rapaz, entrei no período dos amores... Não se assuste; serei casto, como a primeira ceia. Vossa Reverendíssima sabe o que é uma ceia de rapazes e mulheres? — Como quer que saiba?...

— Tinha dezenove anos, continuou José Maria, e não imagina o espanto dos meus amigos, quando me declarei pronto a ir a uma tal ceia... Ninguém esperava tal coisa de um rapaz tão cauteloso, que fugia de tudo, dos sonos atrasados, dos sonos excessivos, de andar sozinho a horas mortas, que vivia, por assim dizer, às apalpadelas. Fui à ceia; era no Jardim Botânico, obra esplêndida. Comidas, vinhos, luzes, flores, alegria dos rapazes, os olhos das damas, e, por cima de tudo, um apetite de vinte anos. Há de crer que não comi nada? A lembrança de três indigestões apanhadas quarenta anos antes, na primeira vida, fez-me recuar. Menti dizendo que estava indisposto. Uma das damas veio sentar-se à minha direita, para curar-me; outra levantou-se também, e veio para a minha esquerda, com o mesmo fim.

Você cura de um lado, eu curo do outro, disseram elas. Eram lépidas, frescas, astuciosas, e tinham fama de devorar o coração e a vida dos rapazes. Confesso-lhe que fiquei com medo e retraí-me. Elas fizeram tudo, tudo; mas em vão. Vim de lá de manhã, apaixonado por ambas, sem nenhuma delas, e caindo de fome. Que lhe parece? concluiu José Maria pondo as mãos nos joelhos, e arqueando os braços para fora.

— Com efeito...

— Não lhe digo mais nada; Vossa Reverendíssima adivinhará o resto. A minha segunda vida é assim uma mocidade expansiva e impetuosa, enfreada por uma experiência virtual e tradicional. Vivo como Eurico, atado ao próprio cadáver... Não, a comparação não é boa. Como lhe parece que vivo? — Sou pouco imaginoso. Suponho que vive assim como um pássaro, batendo as asas e amarrado pelos pés...

— Justamente. Pouco imaginoso? Achou a fórmula; é isso mesmo. Um pássaro, um grande pássaro, batendo as asas, assim...

José Maria ergueu-se, agitando os braços, à maneira de asas. Ao erguer-se, caiu-lhe a bengala no chão; mas ele não deu por ela. Continuou a agitar os braços, em pé, defronte do padre, e a dizer que era isso mesmo, um pássaro, um grande pássaro... De cada vez que batia os braços nas coxas, levantava os calcanhares, dando ao corpo uma cadência de movimentos, e conservava os pés unidos, para mostrar que os tinha amarrados. Monsenhor aprovava de cabeça; ao mesmo tempo afiava as orelhas para ver se ouvia passos na escada.

Tudo silêncio. Só lhe chegavam os rumores de fora: — carros e carroças que desciam, quitandeiras apregoando legumes, e um piano da vizinhança. José Maria sentou-se finalmente, depois de apanhar a bengala, e continuou nestes termos: — Um pássaro, um grande pássaro. Para ver quanto é feliz a comparação, basta a aventura que me traz aqui, um caso de consciência, uma paixão, uma mulher, uma viúva, D. Clemência. Tem vinte e seis anos, uns olhos que não acabam mais, não digo no tamanho, mas na expressão, e duas pinceladas de buço, que lhe completam a fisionomia. É filha de um professor jubilado. Os vestidos pretos ficam-lhe tão bem que eu às vezes digo-lhe rindo que ela não enviuvou senão para andar de luto. Caçoadas! Conhecemo-nos há um ano, em casa de um fazendeiro de Cantagalo. Saímos namorados um do outro. Já sei o que me vai perguntar: por que é que não nos casamos, sendo ambos livres...

— Sim, senhor.

— Mas, homem de Deus! é essa justamente a matéria da minha aventura. Somos livres, gostamos um do outro, e não nos casamos: tal é a situação tenebrosa que venho expor a Vossa Reverendíssima, e que a sua teologia ou o que quer que seja, explicará, se puder. Voltamos para a Corte namorados. Clemência morava com o velho pai, e um irmão empregado no comércio; relacionei-me com ambos, e comecei a frequentar a casa, em Matacavalos. Olhos, apertos de mão, palavras soltas, outras ligadas, uma frase, duas frases, e estávamos amados e confessados. Uma noite, no patamar da escada, trocamos o primeiro beijo... Perdoe estas coisas, monsenhor; faça de conta que me está ouvindo de confissão.

Nem eu lhe digo isto senão para acrescentar que saí dali tonto, desvairado, com a imagem de Clemência na cabeça e o sabor do beijo na boca. Errei cerca de duas horas, planejando uma vida única; determinei pedir-lhe a mão no fim da semana, e casar daí a um mês.

Cheguei às derradeiras minúcias, cheguei a redigir e ornar de cabeça as cartas de participação. Entrei em casa depois de meia-noite, e toda essa fantasmagoria voou, como as mutações à vista nas antigas peças de teatro. Veja se adivinha como.

— Não alcanço...

— Considerei, no momento de despir o colete, que o amor podia acabar depressa; tem-se visto algumas vezes. Ao descalçar as botas, lembrou-me coisa pior: — podia ficar o fastio. Concluí a toalete de dormir, acendi um cigarro, e, reclinado no canapé, pensei que o costume, a convivência, podia salvar tudo; mas, logo depois adverti que as duas índoles podiam ser incompatíveis; e que fazer com duas índoles incompatíveis e inseparáveis? Mas, enfim, dei de barato tudo isso, porque a paixão era grande, violenta; considerei-me casado, com uma linda criancinha... Uma? duas, seis, oito; podiam vir oito, podiam vir dez; algumas aleijadas. Também podia vir uma crise, duas crises, falta de dinheiro, penúria, doenças; podia vir alguma dessas afeições espúrias que perturbam a paz doméstica...

Considerei tudo e concluí que o melhor era não casar. O que não lhe posso contar é o meu desespero; faltam-me expressões para lhe pintar o que padeci nessa noite... Deixa-me fumar outro cigarro? Não esperou resposta, fez o cigarro, e acendeu-o. Monsenhor não podia deixar de admirar-lhe a bela cabeça, no meio do desalinho próprio do estado; ao mesmo tempo notou que ele falava em termos polidos, e, que apesar dos rompantes mórbidos, tinha maneiras.

Quem diabo podia ser esse homem? José Maria continuou a história, dizendo que deixou de ir à casa de Clemência, durante seis dias, mas não resistiu às cartas e às lágrimas. No fim de uma semana correu para lá, e confessou-lhe tudo, tudo. Ela ouviu-o com muito interesse, e quis saber o que era preciso para acabar com tantas cismas, que prova de amor queria que ela lhe desse. — A resposta de José Maria foi uma pergunta.

— Está disposta a fazer-me um grande sacrifício? disse-lhe eu. Clemência jurou que sim. "Pois bem, rompa com tudo, família e sociedade; venha morar comigo; casamo-nos depois desse noviciado." Compreendo que Vossa Reverendíssima arregale os olhos. Os dela encheram-se de lágrimas; mas, apesar de humilhada, aceitou tudo. Vamos; confesse que sou um monstro.

— Não, senhor...

— Como não? Sou um monstro. Clemência veio para minha casa, e não imagina as festas com que a recebi. "Deixo tudo, disse-me ela; você é para mim o universo." Eu beijei-lhe os pés, beijei-lhe os tacões dos sapatos. Não imagina o meu contentamento. No dia seguinte, recebi uma carta tarjada de preto; era a notícia da morte de um tio meu, em Santana do Livramento, deixando-me vinte mil contos. Fiquei fulminado. "Entendo, disse a Clemência, você sacrificou tudo, porque tinha notícia da herança." Desta vez, Clemência não chorou, pegou em si e saiu. Fui atrás dela, envergonhado, pedi-lhe perdão; ela resistiu.

Um dia, dois dias, três dias, foi tudo vão; Clemência não cedia nada, não falava sequer.

Então declarei-lhe que me mataria; comprei um revólver, fui ter com ela, e apresentei-lho: é este.

Monsenhor Caldas empalideceu. José Maria mostrou-lhe o revólver, durante alguns segundos, tornou a metê-lo na algibeira, e continuou: — Cheguei a dar um tiro. Ela, assustada, desarmou-me e perdoou-me. Ajustamos precipitar o casamento, e, pela minha parte, impus uma condição: doar os vinte mil contos à Biblioteca Nacional. Clemência atirou-se-me aos braços, e aprovou-me com um beijo. Dei os vinte mil contos. Há de ter lido nos jornais... Três semanas depois casamo-nos. Vossa Reverendíssima respira como quem chegou ao fim. Qual! Agora é que chegamos ao trágico. O que posso fazer é abreviar umas particularidades e suprimir outras; restrinjo-me a Clemência. Não lhe falo de outras emoções truncadas, que são todas as minhas, abortos de prazer, planos que se esgarçam no ar, nem das ilusões de saia rota, nem do tal pássaro...

plás... plás... plás...

E, de um salto, José Maria ficou outra vez de pé, agitando os braços, e dando ao corpo uma cadência. Monsenhor Caldas começou a suar frio. No fim de alguns segundos, José Maria parou, sentou-se, e reatou a narração, agora mais difusa, mais derramada, evidentemente mais delirante. Contava os sustos em que vivia, desgostos e desconfianças.

Não podia comer um figo às dentadas, como outrora; o receio do bicho diminuía-lhe o sabor. Não cria nas caras alegres da gente que ia pela rua: preocupações, desejos, ódios, tristezas, outras coisas, iam dissimuladas por umas três quartas partes delas. Vivia a temer um filho cego ou surdo-mudo, ou tuberculoso, ou assassino, etc. Não conseguia dar um jantar que não ficasse triste logo depois da sopa, pela ideia de que uma palavra sua, um gesto da mulher, qualquer falta de serviço podia sugerir o epigrama digestivo, na rua, debaixo de um lampião. A experiência dera-lhe o terror de ser empulhado. Confessava ao padre que, realmente, não tinha até agora lucrado nada; ao contrário, perdera até, porque fora levado ao sangue... Ia contar-lhe o caso do sangue. Na véspera, deitara-se cedo, e sonhou... Com quem pensava o padre que ele sonhou? — Não atino...

— Sonhei que o Diabo lia-me o Evangelho. Chegando ao ponto em que Jesus fala dos lírios do campo, o Diabo colheu alguns e deu-mos. "Toma, disse-me ele; são os lírios da Escritura; segundo ouviste, nem Salomão em toda a pompa, pode ombrear com eles.

Salomão é a sapiência. E sabes o que são estes lírios, José? São os teus vinte anos." Fitei-os encantado; eram lindos como não imagina. O Diabo pegou deles, cheirou-os e disse-me que os cheirasse também. Não lhe digo nada; no momento de os chegar ao nariz, vi sair de dentro um réptil fedorento e torpe, dei um grito, e arrojei para longe as flores. Então, o Diabo, escancarando uma formidável gargalhada: "José Maria, são os teus vinte anos." Era uma gargalhada assim: — cá, cá, cá, cá, cá...

José Maria ria à solta, ria de um modo estridente e diabólico. De repente, parou; levantou-se, e contou que, tão depressa abriu os olhos, como viu a mulher diante dele aflita e desgrenhada. Os olhos de Clemência eram doces, mas ele disse-lhe que os olhos doces também fazem mal. Ela arrojou-se-lhe aos pés... Neste ponto a fisionomia de José Maria estava tão transtornada que o padre, também de pé, começou a recuar, trêmulo e pálido.

"Não, miserável! não! tu não me fugirás!" bradava José Maria investindo para ele. Tinha os olhos esbugalhados, as têmporas latejantes; o padre ia recuando... recuando... Pela escada acima ouvia-se um rumor de espadas e de pés.

Fonte:
www.dominiopublico.gov.br

Anna Ribeiro (Cristais Poéticos)

COLETÂNEA VERSOS LIVRES

                            Vida
Na tortuosa estrada
Os sonhos ficaram ,
Na encruzilhada.

                          Tempo...
Lá no horizonte,
O sol deitou com a lua,
A rua escureceu!

                         Desilusão!
Do Amor- Perfeito
Abelha colheu mel,
Do zangão amargo fel!

                        Saudade
No embarque de ilusões!
O barquinho de papel,
Em poças d'agua...

                       Sonhos
Noite sem luar,
Ilumina meus sonhos
O vagalume no ar!

                      Inverno
Frio no amanhecer
Bem-te-vi cantando,
Vento, natureza despertando

                     Alegria
Céu anil de verão,
Andorinhas em sinfonia,
Revoando em verdes prados.

                      Ais...
Na face rugas,
sempre em ilusões,
Assim padeceu o Ancião

ALÉM...

Das palavras trancadas
Sinto-me na contramão
No silêncio desta ponte
Adormecem meus sentimentos.

SAUDADES DO ONTEM

Em tempo infinito...
Anseios e sentimentos
Na pose estudada
Vidas registradas,

Olhares revelados,
De tempos decorridos
Então... mudou-se

Rumos e destinos.
Apenas no sépia
A alma resiste!

SEDE DE AMAR

Voando nas asas da lembrança
Em metáforas...
Versos e ilusões!
Nas razões do ser e do viver

Em linhas as melodias em frases.
Mesmo que em paginas amareladas,
No repassar folha por folha.
Do segredo... Ficou a saudade!

SEGREDOS

Neste poetar,
Sentimentos de um tempo.
Coração persiste!
...Se na alma ausência,

Dos versos enlaçados,
Lembranças entrelaçando solidão.
Despertando saudade!
... Não digo teu nome.

Fica no desejo...
Da boca, o beijo roubado.

ENTRELINHAS

Mesmo espaço
Gosto do agora
O tempo todo
Tudo dentro do hoje

Algo sobre
Estar
Ficar
Olhar de novo...

Descobrindo, mudanças...
Tu e eu... mesmo tempo

CAMINHOS...

Da lucidez vazia?!...
Sou como sou.
Não sou Dolores,
Na estrada da vida
Sou filha das Dores.
O que sinto!
Não conto.
O que penso!
Não Digo
Da traição...
Fingi esquecer.
Do que não soube...
Faço de conta que não entendi.
Afinal;
Dentro de minha alma...
Depende;
Como você me vê

SENTIR

                  Madrugada coração em trapos
                      Uma lágrima no cetim!
                      Céu ,lampejam as faiscas

                          Ardente tremor
                   Na vidraça olhos vidrados!
                        Desaba sentimentos

                  Raios... Claros como o sentir;

                          Da tua despedida.

ACARICIANDO A SAUDADE

Livre em pensamentos...
Já disse em outras linhas
Minha poesia ri!

Por vezes até gargalha!
...Refazendo a alma
Hoje busco silencio!

Não tenho tristeza.

Apenas agrada-me ficar na saudade.

Fonte:
http://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=78831

A Poesia (História e a Poesia em Portugal)

Pesquisa de Carlos Leite Ribeiro (Marinha Grande/Portugal), do Portal CEN

A poesia, ou gênero lírico, ou lírica é uma das sete artes tradicionais, pela qual a linguagem humana é utilizada com fins estéticos, ou seja, ela retrata algo que tudo pode acontecer dependendo da imaginação do autor como a do leitor. "Poesia, segundo o modo de falar comum, quer dizer duas coisas. A arte, que a ensina, e a obra feita com a arte; a arte é a poesia, a obra poema, o poeta o artífice." O sentido da mensagem poética também pode ser importante (principalmente se o poema for em louvor de algo ou alguém, ou o contrário: também existe poesia satírica), ainda que seja a forma estética a definir um texto como poético. A poesia compreende aspectos metafísicos (no sentido de sua imaterialidade) e da possibilidade de esses elementos transcenderem ao mundo fático. Esse é o terreno que compete verdadeiramente ao poeta.

Num contexto mais alargado, a poesia aparece também identificada com a própria arte, o que tem razão de ser já que qualquer arte é, também, uma forma de linguagem (ainda que, não necessariamente, verbal).

História

A poesia como uma forma de arte pode ser anterior à escrita. Muitas obras antigas, desde os vedas indianos (1700-1200 a.C.) e os Gathas de Zoroastro (1200-900 aC), até a Odisseia (800 - 675 a.C.), parecem ter sido compostas em forma poética para ajudar a memorização e a transmissão oral nas sociedades pré-históricas e antigas. A poesia aparece entre os primeiros registros da maioria das culturas letradas, com fragmentos poéticos encontrados em antigos monolitos, pedras rúnicas e estelas.

O poema épico mais antigo sobrevivente é a Epopeia de Gilgamesh, originado no terceiro milênio a.C. na Suméria (na Mesopotâmia, atual Iraque), que foi escrito em escrita cuneiforme em tabletes de argila e, posteriormente, papiro. Outras antigas poesias épicas incluem os épicos gregos Ilíada e Odisseia, os livros iranianos antigos Gathas Avesta e Yasna, o épico nacional romano Eneida, de Virgílio, e os épicos indianos Ramayana e Mahabharata.

Os esforços dos pensadores antigos em determinar o que faz a poesia uma forma distinta, e o que distingue a poesia boa da má, resultou na "poética", o estudo da estética da poesia. Algumas sociedades antigas, como a chinesa através do Shi Jing, um dos Cinco Clássicos do confucionismo, desenvolveu cânones de obras poéticas que tinham ritual bem como importância estética.

Mais recentemente, estudiosos têm se esforçado para encontrar uma definição que possa abranger diferenças formais tão grandes como aquelas entre The Canterbury Tales de Geoffrey Chaucer e Oku no Hosomichi de Matsuo Basho, bem como as diferenças no contexto que abrangem a poesia religiosa Tanakh, poesia romântica e rap.

O contexto pode ser essencial para a poética e para o desenvolvimento do gênero e da forma poética. Poesias que registram os eventos históricos em termos épicos, como Gilgamesh ou o Shahnameh, de Ferdusi, serão necessariamente longas e narrativas, enquanto a poesia usada para propósitos litúrgicos (hinos, salmos, suras e hadiths) é suscetível de ter um tom de inspiração, enquanto que elegia e tragédia são destinadas a invocar respostas emocionais profundas. Outros contextos incluem cantos gregorianos, o discurso formal ou diplomático, retórica e invectiva políticas, cantigas de roda alegres e versos fantásticos, e até mesmo textos médicos.

O historiador polonês de estética Wladyslaw Tatarkiewicz, em um trabalho acadêmico sobre "O Conceito de Poesia", traça a evolução do que são na verdade dois conceitos de poesia. Tatarkiewicz assinala que o termo é aplicado a duas coisas distintas que, como o poeta Paul Valéry observou, "em um certo ponto encontram união. [...] A poesia é uma arte baseada na linguagem. Mas a poesia também tem um significado mais geral [...] que é difícil de definir, porque é menos determinado: a poesia expressa um certo estado da mente.

Gêneros poéticos


Permitem uma classificação dos poemas conforme suas características. Por exemplo, o poema épico é, geralmente, narrativo, de longa extensão, eloquente, abordando temas como a guerra ou outras situações extremas.
 
Dentro do gênero épico, destaca-se a epopéia. Já o poema lírico pode ser muito curto, podendo querer apenas retratar um momento, um flash da vida, um instante emocional. Poesia é a expressão de um sentimento, como por exemplo o amor. Vários poemas falam de amor. O poema, é o seu sentimento expressado em belas palavras, palavras que tocam a alma. Poesia é diferente de poema. o Poema é a forma que se está escrito e a poesia é o que dá a emoção ao texto.

Licença poética

A poesia pode fazer uso da chamada licença poética, que é a permissão para extrapolar o uso da norma culta da língua, tomando a liberdade necessária para recorrer a recursos como o uso de palavras de baixo-calão, desvios da norma ortográfica que se aproximam mais da linguagem falada ou a utilização de figuras de estilo como a hipérbole ou outras que assumem o caráter "fingidor" da poesia, de acordo com a conhecida fórmula de Fernando Pessoa ("O poeta é um fingidor").
 
A matéria-prima do poeta é a palavra e, assim como o escultor extrai a forma de um bloco, o escritor tem toda a liberdade para manipular as palavras, mesmo que isso implique romper com as normas tradicionais da gramática.

Limitar a poética às tradições de uma língua é não reconhecer, também, a volatilidade das falas.

Poesia de Portugal

A poesia portuguesa tem raízes recuadas, ainda antes da afirmação da nacionalidade.

Poesia arábica em território nacional


Entre os árabes, enquanto estes povoavam o território que mais tarde viria a ser Portugal, encontramos um punhado de poetas de grande valor, o que era constante, aliás, na civilização islâmica da altura, muito dedicada à poesia. Al-Mu'tamid (rei do Taifa de Sevilha), Ibn Bassam (em Santarém, na altura chamada Xantarim), Ibn'Amar e Ibn Harbun (de Silves) são alguns exemplos.

Poesia na idade média cristã

Com a Reconquista Cristã e a fundação da nacionalidade, inicia-se a época da poesia galaico-portuguesa. As cantigas de amigo; as cantigas de amor e as cantigas de escárnio e maldizer, foram compiladas em antologias da época, manuscritas, a que se deu o nome de Cancioneiros. Podemos fazer referência a alguns dos mais importantes:

Cancioneiro da Ajuda - Compilado em Portugal no final do século XIII ou no princípio do século XIV.

Cancioneiro da Vaticana - Compilado em Itália no fim do século XV ou no princípio do século XVI.

Cancioneiro Colocci-Brancutti ou Cancioneiro da Biblioteca Nacional - Compilado em Itália no fim do século XV ou no princípio do século XVI.

O trovadores e jograis (feminino: jogralesas) cultivaram ainda outros gêneros poéticos, como as tenções, as cantigas de seguir, as cantigas de vilão, as pastorelas, os prantos, os descordos, os lais.

Existe uma época da história desta poesia, considerada como uma idade de ouro, que compreende um período afonsino (de 1240 a 1280), com os reinados de Afonso X de Castela (autor das Cantigas de Santa Maria) e de Afonso III de Portugal. Segue-se o período dionisíaco, com o reinado de D. Dinis (filho de Afonso III). O seu filho bastardo, Dom Pedro, Conde de Barcelos (que morre em 1354), autor de algumas cantigas que encerram um período de florescimento poético.

A poesia galego-portuguesa passa, então, por um período de decadência, desde fins do século XIV e ao longo do século XV. Forma-se uma escola castelhano-portuguesa (escrevendo-se nos dois idiomas emergentes). Será Garcia de Resende a efetuar a compilação desta produção poética no seu Cancioneiro Geral, em 1516.

A par desta poesia lírica, outros jograis divulgavam as gestas, poemas de cariz épico e hagiográfico, muitas vezes utilizadas como fontes de informação para os cronistas da época. Alguns estudiosos desta manifestação cultural, como António José Saraiva, Lindley Cintra e Diego Catalán acreditam que terá existido um poema épico, cantado pelos jograis, onde se narrariam os feitos de D. Afonso Henriques. Transmitido oralmente, parece ter servido de mote para cronistas portugueses e castelhanos, que a transformaram e prosa (a forma poética tem também a função de tornar mais fácil de memorizar os longos relatos). O Romanceiro português alia o épico ao lírico nos seus romances bastante diversificados. O alaúde era um instrumento muito usado na época.

Renascimento


Os poetas portugueses representados no Cancioneiro de Garcia de Resende demonstram algum conhecimento de outras poéticas: Dante Alighieri, Petrarca, Juan de Mena, Marquês de Santillana, além de autores do classicismo romano.

Gil Vicente e Francisco de Sá de Miranda marcam, na poesia, o início do Renascimento em Portugal, onde também se destaca António Ferreira.

Luís Vaz de Camões é, contudo, o vulto maior da poesia portuguesa. Os Lusíadas, 1572 é o poema nacional por excelência. Não se deve, porém, esquecer a sua poesia lírica, a todos os níveis incomparável, reunida nas Rimas, postumamente, em 1595.

É com Camões que se faz, também, a nível de estilo e conteúdo, passagem para o Maneirismo, de uma poesia melancólica e de profundo questionamento existencial que já se verifica em Camões (onde a temática do exílio, na sua lírica, e a crítica aos aspectos menos heróicos de Portugal, como o "gosto d'hua austera, apagada e vil tristeza", n'Os Lusíadas, já faz entrever). Diogo Bernardes, Vasco Mouzinho de Quevedo, Baltasar Estaço, D. Manuel de Portugal, Sá de Miranda e Francisco Rodrigues Lobo são alguns dos nomes mais importantes deste período que irá desembocar no Barroco.
 
Luis de Góngora, na Espanha, a par com Francisco de Quevedo, é o modelo a imitar, no que diz respeito à poesia Barroca. Os poetas portugueses da altura, como Jerónimo Baía, Barbosa Bacelar e D. Tomás de Noronha (entre muitos anônimos), sem o mesmo brilho dos mestres espanhóis, glosam, então, num virtuosismo formal intrincado, os temas da Morte, e da inconstância da Sorte e da Fortuna, transmitindo um sentimento que marcava, também, a religião na Península Ibérica, na altura.

Como reação ao Barroco, seguindo o lema Inutilia truncat (cortar o inútil) o Neoclassicismo, inspirado nos modelos gregos e latinos (e no próprio Renascimento), inicia-se com Pedro António Correia Garção (pseudônimo arcádico: Córidon Erimanteu), na segunda metade do século XVII. A Arcádia Lusitana vai ser o movimento poético mais importante desta época até à primeira metade do século XIX, reunindo os nomes de Francisco Manuel do Nascimento (mais conhecido pelo pseudônimo arcádico Filinto Elísio), Manuel Maria Barbosa Du Bocage, Francisco Joaquim Bingre, Marquesa de Alorna, José Anastácio da Cunha, José Agostinho de Macedo, Nicolau Tolentino de Almeida, António Dinis da Cruz e Silva, entre outros.

O século do Romantismo


O século XIX trouxe consigo alguns dos maiores vultos da poesia portuguesa. Ainda que não tivesse sido pródigo na quantidade, este foi o século de Almeida Garrett, Antero de Quental, Gomes Leal, António Nobre, João de Deus, Cesário Verde, Guerra Junqueiro…

O século XX, no entanto, é, segundo as palavras de um dos grandes poetas contemporâneos (Eugénio de Andrade), o século de ouro da poesia portuguesa.

A quantidade e qualidade é, realmente, assombrosa. Destacam-se Florbela Espanca, Teixeira de Pascoais, Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros, Camilo Pessanha, António Botto, Afonso Duarte, Irene Lisboa, Edmundo de Bettencourt, Vitorino Nemésio, José Régio, Saúl Dias, António Gedeão, Miguel Torga, Sophia de Mello Breyner Andresen, Jorge de Sena, Carlos de Oliveira, Natália Correia, Mário Cesariny, Alexandre O'Neill, António Ramos Rosa, Albano Martins, David Mourão-Ferreira, António Manuel Couto Viana, Alberto de Lacerda, António Maria Lisboa, Fernando Echevarria, Rui Knopfli, Ruy Belo, João Pedro Grabato Dias, António Osório, Liberto Cruz, José Carlos Ary dos Santos, Manuel Alegre, Fernando Assis Pacheco, Luiza Neto Jorge, Vasco Graça Moura, João Miguel Fernandes Jorge, Joaquim Manuel de Magalhães, António Franco Alexandre, Carlos Eurico da Costa, Nuno Júdice, Al Berto, Luís Filipe Castro Mendes, Adília Lopes, Ana Hatherly, Herberto Helder, Luís Miguel Nava, António Franco Alexandre, Daniel Faria , Casimiro de Brito, Gastão Cruz, Pedro Sena-Lino, José Carlos González, Natercia Freire.
====================
continua… A poesia no Brasil

Pedro Du Bois (Navegando nos Versos) 2

OUTONO
 

A bailarina
para o passo
estanca o corpo
                 diáfano
esconde o sorriso
               radiante

estar ali por instantes

               triste
     bailarina
  parada

sua a dor da descoberta
sua a intenção revelada
sua a vontade primeira

 descalça as sapatilhas
                           e as joga fora
sem cumprimentar ninguém
                                  vai embora.

DESCONHECER

Do que não conheço:
             a distância rítmica com que as lembranças
             se iludem em imagens e fotografias
             de altos prédios de faz de conta e o transatlântico
    dobra outro cabo
                        há desesperança em seu apito
                  frêmito e fremido em espadas divinas
          arestas mal aparadas
          e eu aqui
                    parado confesso e conto
não os reconheço vizinhos e parentes
sei que suas faces obscurecem e branqueiam
enquanto atrás das vidraças quando passo
no trajeto com o livro embaixo do braço
                           no banco da praça leio
                     as palavras que por lá brincam e conversam

desconheço:
            ordens e comandos
                                pois avesso ao começo
                        em viagens enjoo a chegada
                        não carrego malas
                                                 e chapéus
                                                        nem bengalas
                                                 (apenas) levo o que livro.

VIAGEM

Espaço
         tempo
espaçonave

      aqui
     e lá
agora

o corpo com que viaja
traz a imagem
                  do lado de fora

escuro
tempo
a nave

silêncio
dentro e fora
                estática.

HORAS

São horas tantas
passadas
nas músicas repetidas
aos gritos
no bar da esquina

no barulho irritante
dos móveis arrastados
no andar de cima

são tantas horas
insones
a olhar você
dormindo
com as mãos espalmadas
em abrigo
do rosto descansado
de quem sonha

horas tantas são
esperadas
como se o milagre
pudesse as multiplicar
no meu tanto faz.

VÍRUS

O vírus vive (morre) onde ataca. Destaca
a fragilidade aberta ao contato. Vivencia
o ato da disputa: o revés não o aniquila.
Feito paciente no horário determinado.
O corpo não permite ao vírus a entrada.
Cede no cansaço de anos de batalha.
O vírus permanece na oportunidade.

MISTÉRIO
 

Sobre o mistério de eu ter vindo
no longo serpentear do caminho
ignaro e ignoto homem
                         eu sozinho
refeito em paisagens borradas
pelos olhos anteriores
                         eu distraído
esquecido de ser paragem
no horizonte

            nas tênues - poucas -
luzes
     eu trazido
em oferenda e oferta de carinhos
ensimesmado nos castigos
                              eu parido
em primavera longínqua e esquecida
de uma casa sob a rua
                               eu surgido
no minuto terço
                      eu nascido

não explicam as razões
                                  eu estando
nem dizem que o amor esconde
 o canto
em cantigas antigas
                            eu espanto
                     esperta criança
                                          eu corrido
que aguarda nas noites
                                 eu sofrido
a explicação do mistério e a finalidade
de ter vindo
  e ter estado
                 eu aqui.

VIDA

No zumbido
a zombaria
dos garotos
acompanha
a passagem

a raiva transforma
a reação em nada
e o corpo apressa
o passo

o zumbido ecoa
nos ouvidos
a vida escoa
em passos

os garotos
ficam para trás.

ESQUECER

Cada vez revejo
o olvido

no ouvido permanece
o domingo no zumbido
do coro religioso

cada vez refaço
o olvido

em mim se renovam
expostas palavras
que descortinam
o canto dolente
da língua materna

cada vez recomeço
o olvido.

PAIXÃO

a paixão devora olhos e corações
de épocas e sentidos com que
passamos horas e dias frios
para chegarmos a esse tempo
e encontrarmos o vazio
de não havermos encontrado
a pronúncia exata das palavras
na maneira certa de dizer
estamos aqui e a paixão
permanece em nossos olhos
embaçados em lágrimas
de reconhecimento
como naquelas horas
e como serão em futuros
tempos de mãos entrelaçadas

chegamos sem esquecer e sobrecarregamos
a memória e as lembranças com as imagens
nas músicas em altos sons
       e perguntas presas
    em gargantas curtas
   de desejos e secura

a nossa história recortada em quadros
passados lentamente entre as lentes
dos óculos que usamos e nos servimos
para enxergamos o que não vimos cedo

estávamos cegos em blindagens jovens
e tínhamos a certeza de que as incertezas
seriam dos caminhos as trilhas e as armadilhas
que não nos pegariam na passagem

essa paixão extravasa a hora
fôssemos pessoas espiando
o lado de fora de cada um
meros espantalhos em hastes
de empregos e desesperanças
de que tudo termine logo após
o instante em que os corpos
se desencontrem

somos mais que paixões ardentes
dos dentes cravados das serpentes
ávidos pelo fim da história.

Fonte: 
O Autor

António de Assis Junior (O Segredo da Morta)

Artigo de Paula Alves Calzolari, sob o título "O Segredo da morta: um roman-feuilleton angolano"
 ================
Nossa exposição tem por objetivo discutir a relevância de se tomar por texto de base de O Segredo da Morta, do angolano António de Assis Júnior, sua primeira edição. Vindo à luz como folhetim no jornal A Vanguarda, em 1929, a obra ganha sua edição em livro através d’A Lusitânia, em 1935, e das Edições 70, em 1979. A informação de que os periódicos constituíram desde cedo e por muito tempo uma das poucas fontes possíveis de publicação na África de Língua Portuguesa vem reforçar a importância de se atentar para o veículo original, apesar do não acesso aos números d’A Vanguarda em que se veiculou a narrativa. O Segredo da Morta constitui, o que confirmam os estudiosos das Literaturas Africanas, um marco no panorama literário desse país. Escrito num período de quase não literatura (1910 – 1940), o romance de Assis Júnior inaugura na ficção um olhar diverso do da literatura dita colonialista, que vigorava até então.

Este trabalho tem por objetivo discutir a relevância de se tomar por texto de base de O Segredo da Morta (1) , de António de Assis Júnior, sua primeira edição. Vindo à luz sob a forma de folhetim no jornal A Vanguarda, em 1929, OSM ganha sua edição em livro através d’A Lusitânia, em 1935, e das Edições 70, em 1979.

A informação de que os periódicos constituíram desde cedo e por muito tempo uma das poucas fontes possíveis de publicação na África de Língua Portuguesa vem reforçar a importância de se atentar para o veículo original, apesar do não acesso aos números d’A Vanguarda em que se veiculou a narrativa. Dispomos apenas de sua segunda edição em livro, visto que a primeira2 também não nos foi acessível. Ao que parece, infelizmente, tanto um quanto o outro se perderam em meio ao confuso e sangrento contexto histórico de Angola.

Mas, se por um lado, tais obstáculos se nos afiguram, dificultando a empresa, por outro, nos dão a certeza da necessidade do mesmo e de sua urgência. OSM constitui, o que confirmam os estudiosos das Literaturas Africanas, um marco no panorama literário desse país. Escrito num período de quase não literatura (1910 – 1940), o romance de Assis Júnior inaugura na ficção um olhar diverso do da literatura dita colonialista, que vigorava até então.

À preocupação do autor em preservar as tradições de seu país soma-se a qualidade do texto, uma obra de mistério meticulosamente arquitetada, que transpõe para a escrita um imaginário calcado na oralidade, como bem observa Laura Padilha.

E, talvez, o mais interessante, um romance de costumes angolenses que se quer preservar por meio de um folhetim. Se a compilação em livro não procedesse, tais costumes se restringiriam aos contemporâneos de Assis Júnior, não cumprindo assim seu objetivo, ao que parece, maior. E, mesmo se a idéia da reedição já existisse, ou se a estória já estivesse pronta no papel, não tendo, portanto, sido escrita aos poucos, de acordo com a demanda do jornal, fatos que não podemos comprovar, a forma primeira como a obra chegaria a público permaneceria como folhetim, o que, de qualquer modo, inevitavelmente, orientaria os passos da estória, estratégias e posicionamentos do autor.

Considerar a origem folhetinesca de OSM pode clarear muitas questões bem como desfazer alguns mal entendidos, como a acusação de complacente a que foi submetido o autor, por atenuar a violência contra os escravos no texto.

A introdução do ensino liceal em Angola, como sabemos, data de 1919, distando da publicação de OSM – em folhetim – apenas dez anos. O índice de analfabetismo, conseqüentemente, era, como ainda é, alarmante. Sendo
assim, o público leitor da narrativa de Assis Júnior era formado pelos angolanos que estudaram em Lisboa, filhos da pequena burguesia surgida em 1820, retratada em OSM, isto é, a intelectualidade do país, além de estrangeiros e descendentes dos colonos.

Não devemos, contudo, nos esquecer das rodas de leitura dos folhetins, freqüentes no Brasil, por exemplo. Ora, os angolanos, que já cultivavam tal hábito para a troca de missossos e outras estórias orais, muito provavelmente fizeram o mesmo em relação às narrativas publicadas em partes.

O próprio Assis Júnior em sua Advertência, mais exatamente na página 32 da edição por nós utilizada, afirma:

“Este livro é para ser lido por todos aqueles, pretos e brancos, que mais decididamente se interessem pelo conhecimento das coisas da terra.” Os que trabalham de sol a sol, como escravos, e passam fome não dispõem de tempo para se interessar pelo estudo das “coisas da terra”. Assim, o próprio Assis Júnior já nos indica o alvo de sua escrita.

Desse modo, a “complacência” do autor em relação às formas de violência sofridas pelos escravos pode ser facilmente explicada. Os leitores de OSM se restringiam, em grande parte, à classe burguesa, à classe dos intelectuais que enchiam as páginas dos periódicos da época, assinando artigos, resenhas e poemas e, que é representada por seus antepassados na narrativa. O romance sai em 1929, a estória abarca o período de 1872 à 1900.

Muniz Sodré, em livro dedicado ao estudo do “bestseller”, afirma que a palavra entretenimento deve necessariamente associar-se à idéia de folhetim. Para entreter, divertir seus leitores, Assis Júnior se vale de uma série de pistas que devem ser percorridas para que se decifre, no fim, o segredo que guarda a morta, mesclando relatos dramáticos na justa medida com outros engraçados. Também não podemos nos esquecer que a repressão colonial e o conseqüente fechamento de jornais certamente pesaram na escrita do que ia na folha impresso.

Ainda assim, o autor aborda a febre espanhola e a pneumonia que vitimaram dezenas de luandenses, doenças, conforme sabemos, não provocadas pela burguesia como os maus tratos aos escravos:

Com efeito, logo após o armistício, grassou na capital, a seguir à “espanhola” e à “pneumônica”, uma epidemia que ceifou uma grande parte da gente nativa. Ana Cristóvão dera o alarme, perecendo subitamente de doença indeterminada, mas que a gente da terra explicava a seu modo. Seguiram-se-lhe as que a tocaram – lavaram e vestiram – e a estas, outras,
formando uma cadeia que crescia em proporção matemática.

(...) A mortandade era relativamente grande. O que então circulou entre as famílias, as faltas que se encontraram e as causas que se atribuíram a tais efeitos, não cabe no âmbito deste livro. A verdade é que, não assentando este facto no campo da fantasia, as opiniões dividiram-se e a corrente cresceu conforme a crença de cada um ou de cada grupo, mais ou menos avivada consoante o berço da sua educação. (OSM, p. 275-276)

A inserção na intriga maior de microepisódios que movimentam a estória, tornando-a sempre interessante, renovada para o leitor, é outra estratégia bastante comum às narrativas-folhetinescas.

No caso do texto em estudo, a presença dessas tramas dialoga ainda com o desvendar progressivo do segredo proposto no epíteto do romance, o segredo de Ximinha Belchior ou Ximinha Reis, instigando num crescente a curiosidade do leitor.

Alguns ou vários mistérios fazem o tecido narrativo. Para desvendar o maior deles, o segredo da morta, há que decifrar outros (entrelaçados ou subsidiários) até desemaranhar-se o principal. (Santilli, 1985, p. 13)

A narrativa propriamente dita tem início no capítulo II, Uma Sombra, quando nos deparamos com a doida dos Cahoios, Ximinha Cangalanga, a andar pelas ruas do Dondo. O capítulo termina com um convite do narrador aos leitores para que ouçam o que tem a dizer Maria de Castro a respeito de como a personagem chegou à loucura.

A partir de então, travamos contato com a estória principal que guarda o romance, o verdadeiro segredo da morta, por meio da narração de Maria de Castro. O leitor é, primeiramente, conduzido ao velório e ao enterro de Ximinha Belchior, tendo em seguida a oportunidade de observar os ritos que os acompanham, o que se dá nos capítulos III, IV e V, respectivamente, R.I.P, O Óbito e Olhos invisíveis. No final desse último capítulo, o narrador nos chama a atenção para a extrema dedicação da personagem Kapaxi (3) à falecida, e nos promete a sua estória também. No capítulo VI, Kapaxi, a promessa do narrador é cumprida.

No capítulo VII, Em viagem, outras personagens comentam entre si casos semelhantes àquele que acabaram de assistir, a saber, o nascimento de Kapaxi, fruto de uma gravidez de hebu (gestação prolongada por anos sem crescimento aparente da barriga). A gruta da aparição de Cristo nos é apresentada, assim como a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, a Muxima (coração) dos angolanos. Até mesmo uma lenda, a lenda de Kaboka, é contada por um dos passageiros (notar que tal narração vem entre aspas) como uma estória menor dentro da estória (história) de Kapaxi.

Assim segue a narrativa, repleta de microepisódios, alguns, inclusive, constituídos de sonhos reveladores de mortes seguidos das mortes propriamente ditas, como a do sobrinho de D. Clara, e casos ímpares como o da queima dos panos no capítulo XXII, Remember, quando a morta começa a castigar os que lhe faltaram com o respeito em vida e, principalmente, na doença. Passagens como essa conferem o tom exato de mistério à narrativa.

O Segredo da Morta, vai, portanto, sendo aos poucos revelado ao leitor. As trapaças, as infrações cometidas por personagens como Ximinha Cangalanga, Eduardo e outros são reveladas no decorrer do romance e, posteriormente, punidas com doenças e mortes por Ximinha Belchior. De alguns castigos, inclusive, só saberemos o motivo muitas páginas adiante. É, por exemplo, o caso da troca dos panos mencionado no capítulo XXIII, que tem como título o nome do livro, e se relaciona ao leilão dos bens da morta:

Foram os seus bens à praça no tribunal poucos dias depois do seu falecimento, por se não poderem conservar... Quis possuir dela uma recordação, e comprei em leilão esta cama e o colchão (...). Tudo o mais se vendeu, para se guardar o dinheiro; e coisas houve que, na verdade, ela nunca podia ter possuído. Fechei eu as malas e entre os panos que ficaram não havia daqueles, ordinários e velhos, que apareceram em leilão como sendo seus. Quem seria o autor da troca? (OSM, p. 246)

Somente três capítulos adiante, o leitor saberá quem foram os responsáveis pela troca dos panos de Ximinha, quando o narrador comunica o falecimento das personagens Kuabate, Tuturi e Capuxa, mortes, que até então, para quem lê a estória, são despropositadas.

Como podemos perceber, o narrador principal de OSM comanda a urdidura da intriga, ordenando, inclusive, os discursos dos demais narradores, de maneira a manter o interesse do leitor. Assim, uma pergunta lançada em determinada parte do texto só será respondida mais adiante, quando novas questões já tiverem sido propostas.

Santilli sublinha a correspondência entre esse progressivo desvendar de mistérios e o caráter das adivinhas tão presente no imaginário de oratura angolano, idéia reforçada por Laura Padilha ao situar a narrativa de Assis Júnior entre o missosso e a maka, isto é, entre as estórias tradicionais de ficção e as histórias reputadas verdadeiras.

Dentre as duas, a ensaísta realça a idéia da maka como dominante, visto que o narrador todo o tempo busca demonstrar no texto a sua suposta veracidade. Outra característica comum ao texto e oriunda da publicação original é o famoso “corte”, momento em que a narrativa é interrompida e em que se assinala uma “deixa” ou “gancho” para a sua continuação. Marlise Meyer e Vera Santos Dias explicam que no folhetim, “o corte é tudo. Praticamente todos os recursos folhetinescos estão relacionados a ele” (Averbuck, 1984, p. 50). O “corte” que finaliza a publicação de um determinado dia geralmente corresponde ao fim de um capítulo, embora nem sempre seja possível ao folhetinista retomar a narrativa da maneira que lhe parece mais conveniente. O que dita as regras é o espaço disponível no jornal e a narrativa ali está apenas para ajudar a vendê-lo.

Mas o folhetinista, não nos esqueçamos, é, além de romancista, um exímio equilibrista, e tem de o ser para encaixar os fragmentos de seu texto no espaço que lhe cabe no jornal, e ainda manter aceso o interesse do público nas peripécias de suas personagens.

Dos vinte e seis capítulos do romance, além do Epílogo, seis se findam com promessas explícitas de novidades para a (suposta) publicação do exemplar a seguir.

São eles os capítulos II, V, VIII, XIII, XXI e XXIII. O capítulo II, intitulado Uma sombra, por exemplo, é fechado pelo narrador principal com um convite ao leitor para que junto a ele, colocando-se, portanto, numa posição passiva, escute a estória que tem a narrar a personagem Maria de Castro. A presença da doida dos Cahoios, isto é, de Ximinha Cangalanga, faz com que ela se lembre de acontecimentos que presenciou e que podem explicar as condições psíquicas a que chegaram a ex-discípula de Ximinha Belchior. É essa a estória que ela tem a nos contar. E o narrador, antes de passar-lhe a palavra, faz o convite aos leitores:

A conversa continuou, de mansinho, entre a Maria de Castro e sua amiga, que a escutava em silêncio religioso, assentadas junto à porta e alheias a tudo que as cercava. Eram três horas da tarde. O sol declinava sombreando consideravelmente o terreno em frente. Ouçamo-la também... (OSM, p.53)

Assim, o capítulo seguinte é aberto com um novo relato, do qual o leitor toma conhecimento por meio da voz da nova narradora ou da “contadora oral”, nas palavras de Laura Padilha, uma vez que “estamos diante daquela cena tão comum quando o missosso se instaura no círculo de ouvintes.” (Padilha, 1995, p. 78)

Da mesma forma, os demais capítulos dirigem a trama, muitas vezes, aparentemente nada somando de significativo ao enredo. Entretanto, quando não fornecem pistas para o desvendar do segredo proposto, apresentam o intuito de entreter o leitor ou de viabilizar um novo painel de costumes.

É o caso, por exemplo, da conclusão do capítulo VIII, Negra visão:

(...) não resistimos à tentação, como também a ela não resistiu a contadora, de fazermos aqui um breve esboço dos homens e das idéias desses tempos. (OSM, p. 103)

Tais linhas antecedem o capítulo IX, Tempos idos, no qual encontramos a estória do avô de Kapaxi, o comerciante Manuel Antônio Pires, “o homem mais rico da terra” (p.105), recuando ainda mais no tempo. Torna-se aqui lícito lembrar que esse episódio é também utilizado por Assis Júnior para tecer comentários críticos acerca do modo de aquisição de fortuna dos comerciantes, do caráter da gente do governo, etc. Sempre, é claro, por intermédio do(s) narrador(es).

A transcrição do término dos capítulos XIII – Gato por lebre, XXI – O funeral e XXIII – O segredo da morta, respectivamente, não nos deixa dúvida sobre a capacidade de que é dotada uma conclusão de capítulo no referente a direção da trama e, sobretudo, da manutenção do público, corroborando o exposto até então.

Esperem pela pancada – disse lá consigo. (p.153)

E o mais que se seguiu sabemo-lo já. (p.233)

– Quis Tuturi observar, após o enterro, os preceitos da terra, fechando as janelas e guardando o leito durante muitos dias. Mas não pôde realizar o intento, pelo facto que vamos assistir no capítulo seguinte. (p. 251)


Quanto aos capítulos que não apresentam o famoso “gancho” no final, que não adiam nenhuma novidade, por assim dizer, grande parte termina com o desenlace de uma pequena intriga, que vinha se desdobrando até então. O final do capítulo VI, Kapaxi, por exemplo, trata do nascimento da menina, desenlace aguardado por todo o percurso da microtrama iniciada no mesmo capítulo. Nos últimos parágrafos do capítulo XI, por sua vez, temos a conclusão do encontro fatal anunciado em seu epíteto, o falecimento de D. Clara. Já o capítulo XIII, O Pacto, se fecha com a troca de fotografias entre Kapaxi e Ximinha Belchior, o selar do pacto de que trata o título, a amizade entre as duas personagens.

Enfim, procuramos demonstrar ao longo de nossa explanação a suma importância de se considerar o veículo primeiro pelo qual a trama chega a público. Esse cuidado, além de evitar conclusões precipitadas e equivocadas, nos conduz ao entendimento de uma série de recursos estilísticos empregados pelo autor, tornando-nos mais habilitados a apreciações acerca da obra em sua gênese e recepção.

BIBLIOGRAFIA
ASSIS JÚNIOR, António de. O Segredo da morta. 2ª ed. Lisboa: Ed. 70; Ed. da UEA, 1979.
CHATELAIN, Héli. Contos populares de Angola. Lisboa: Agência do Ultramar, 1964.
CHAVES, Rita. Assis Jr.: A Opção pelo gênero. In: A formação do romance angolano. São Paulo: Bartira, 1999. (Coleção Via Atlântica, nº1)
ERVEDOSA, Carlos. Roteiro da literatura angolana. 2ª ed. Lisboa: Ed. 70, 1979.
MARGARIDO, Alfredo. As Classes sociais em “O Segredo da Morta”. In: Estudos sobre literaturas das nações africanas de língua portuguesa. Lisboa: A Regra do Jogo, 1980.
MEYER, Marlise & DIAS, Vera Santos. Página virada, descartada, de meu folhetim. In: AVERBUCK, Ligia (org.). Literatura em tempo de cultura de massa. São Paulo: Nobel, 1984.
MEYER, Marlise. Folhetim: uma história. São Paulo: Cia. das Letras, 1996.
RIESMAN, David. As tradições oral e escrita. In: CARPENTER, Edmund & McLUHAN, Marshall. (org.). Revolução na comunicação. Tradução de Álvaro Cabral. 4ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, [s.d.].
SANTILLI, Maria Aparecida. Estórias africanas: História & Antologia. São Paulo: Ática, 1985. (Série Fundamentos)
SODRÉ, Muniz. Best-seller: a literatura de mercado. São Paulo: Ática, 1985. (Série Princípios)
––––––. Literatura de massa: formação e sentido. In: –––. Teoria da literatura de massa. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1978.
THOMAZ, Wilcimar Silva. Um Jeito de não morrer: percursos da narrativa angolana. Rio de Janeiro: Faculdade da Letras, UFF, 1995. (Dissertação de Mestrado em Literatura Portuguesa, mimeografada).

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Notas
(1) Toda vez que nos referirmos a O Segredo da Morta, a partir daqui, usaremos a sigla OSM.
(2) A primeira edição de OSM em livro saiu em 1934/35 pela Ed. A Lusitânia. Quanto ao ano certo de tal publicação divergem os ensaístas. Henrigue Guerra, no prefácio  para a segunda edição do livro, bem como Mário Antònio, afirmam ter sido a obra publicada em 1934. Outros como Maria Aparecida Santilli acreditam que a obra tenha sido publicada em 1935. Manuel Ferreira, por seu turno, em Literaturas Africanas de expressão portuguesa, apresenta uma data diferente: 1936.
(3) Kapaxi ou Capaxi, as duas formas aparecem no texto. Preferimos a primeira porque é a forma em kimbundo para o nome, além de nomear o capítulo que narra a origem da personagem em questão.

Fonte:
www.filologia.org.br/vijonafil/atas/o_segredo_da_morta.pdf

Antologia Poética do Jovem Escritor I

IZAQUE DE JESUS HUHN
8º ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual Dr. Waldemar Neves da Rocha

E se?

E se o clima esquenta
E se o João Inundar,
Se um furacão passear,
Ou se um terremoto agitar,
Se o canarinho não acasalar
E o São Francisco secar
Se a fome não passar,
Se a seca não cessar,
Se a garoa aumentar,
Oh, meu Deus! Enfim,
Se nada mais tiver fim
Se a natureza não mais resistir
E se entregar pro fim?
Enfim... Assim, que fim!
Confiarei em quem o regresso
Do desequilíbrio progresso?
Natureza! Que Deus esteve a abençoar,
Tem esperançoso dom de se preservar!

JOÃO VITOR ANTUNES LAGO
9º ano do Ensino Fundamental da Escola Particular Santo Agostinho

Coração verde

Que falta sinto
Daquele pedaço de terra
Onde colhia meus frutos
E que hoje se encerra.

Que falta sinto
Daquele doce aroma
Que vinha das flores
E inspirava amores.

Que falta sinto
Das límpidas águas do mar
Do verde das florestas
E dos pássaros nelas a cantar.

Que falta sinto
Das maravilhas criadas
Das belezas habitadas
Criaturas animadas.

Hoje só me resta saudade
E minha felicidade
Deságua em pranto
Nessa triste realidade.

IANDRA HANDERI
8º ano do Ensino Fundamental da Escola Particular Santo Agostinho

Natureza

Deus na sua criação,
Nos deu a natureza.
Pôs toda a sua imaginação,
Na sua obra, sua grandeza.

Um presente de amor,
Que todos vão admirar.
Paisagens com tanto esplendor,
Só Deus pôde nos dar.

A água, a terra, os rios e os oceanos,
Pedem socorro a essa realidade.
Que não destrua os seres humanos,
As matas, o solo, por maldade.

Se todos dessem sua colaboração,
Estaríamos sempre contentes.
Acabaria a poluição,
Protegendo o meio ambiente.

O Grande Criador do Universo,
Deu–nos tanta beleza.
Não sejam tão perversos,
Destruindo a mãe natureza.

LAURA MELLO DE TASSIS
6º ano do Ensino Fundamental da Escola Particular Pequeno Príncipe

Um tempo distante...

Que saudade que tenho
Dos tempos floridos,
Das águas azuis,
De mil paraísos.

Que saudade que tenho
De deitar num mar de rosas,
De olhar para o céu,
E ver borboletas glamorosas.

Vejo nuvens no céu,
Vejo peixes no mar,
Velo flores se abrindo,
Vejo o sol a brilhar.

Tudo isso em um sonho
Em que não quero acordar.
A fauna, a flor,
Um sonho colorido
Que não se realizará.

Será?

LUIZ AUGUSTO MEIRELES BRAGA
9º ano do Ensino Fundamental da Escola Particular Santo Agostinho

Súplica

Tão amados habitantes,
O choro que engoli
Não posso mais conter
Por isso escrevo esta carta.

Pedindo–lhes para que possa viver.
Criaram–me para ser sua morada
Iluminada pelo sol e lua
Não quero que minhas terras se diluam
Em meio a eterna penumbra.

Conto–lhes uma história de horror
Vejo–me em meio ao ardor
O fogo me queimou
Sou a mãe natureza
E o homem me exterminou.

Deus acaba com minha dor!
Meus filhos destroem com rancor
Um ambiente que cuidei com amor.
Suplico!
Escutem–me!
Ajudem–me a viver!

Fonte:
3a. Antologia Jovem Escritor. Academia de Letras de Teófilo Ottoni.
Participação dos estudantes do ensino fundamental, médio e superior classificados no 3º Prêmio Jovem Escritor promovido, em 2013, pela Academia de Letras de Teófilo Otoni, União Estudantil de Teófilo Otoni e o Movimento Pró Rio Todos os Santos e Mucuri.

X Prêmio Barueri de Literatura (Resultado Final)

As inscrições para o Prêmio Barueri de Literatura tiveram início em agosto. Desde então, milhares de poetas, poetisas e contistas da cidade, da região e do país encaminharam seus trabalhos. Tudo foi avaliado por uma comissão julgadora formada por especialistas na área.

A comissão julgadora é formada por Frederico Barbosa, professor de Literatura, organizador de oficinas de criação poética e crítica literária, autor de nove livros de poesias, além de diversas antologias e obras didáticas; Joaquim Maria Botelho, presidente da União Brasileira de Escritores. Jornalista há 30 anos, comandou equipes na revista Manchete, TV Globo, TV Bandeirantes e jornal Vale Paraibano, e Cláudio Willer, poeta, ensaísta e tradutor, ligado à criação literária mais rebelde, ao surrealismo e a geração beat, também responsável pela presidência do júri.

Premiação

A premiação se deu ao primeiro lugar na categoria Infanto-Juvenil (conto e poesia) com troféu e R$ 1,5 mil. O primeiro lugar na categoria Autores Acima de 18 anos (conto e poesia) recebeu troféu e R$ 1 mil. O primeiro lugar para Autores Não Residentes em Barueri (conto e poesia) também recebeu troféu e R$ 1 mil. Os demais receberam Menção Honrosa pela participação. Veja a lista dos vencedores:

POESIA – RESIDENTE

1º – Antônio Aparecido Batista
Entre termos e palavras

2º – Paulo Ricardo Morais Silveira Junior
Sonoro sono

3º – Wesley Rodrigues Moreira
Depois do Exílio

POESIA – RESIDENTE INFANTO JUVENIL

1º – Alicia Nunes Esteves
Sinto o mundo

2º – Rafaela Ramos Vieira
Simplesmente

3º – Ana Cristina dos Santos
O poeta

MENÇÃO HONROSA PELA PARTICIPAÇÃO – POESIA RESIDENTE

Elisabeth da Costa Silva
Êxtase

Neyde Correa da Silva
Sonhos

Vinicius Silveira de Almeida
Que trabalho me dá

Anderson Kleiton de Souza Moreira
Ponto ao infinito

POESIA – NÃO RESIDENTE

1º – Marcio Davie Claudino da Cruz
As segundas coisas
(Curitiba-PR)

2º – Sergio Bernardo
Ser em construção
(Nova Friburgo-RJ)

3º – Rômulo Cesar Lapenda R. Melo
Réquien a uma rosa fria
(Recife-PE)

MENÇÃO HONROSA PELA PARTICIPAÇÃO


Alessandra A. Dias Aguiar
Aroma de infância
(Osasco-SP)

Elias Araujo
Destinos e respostas
(Américo Brasiliense-SP)

Carlos Alberto Assis Cavalcanti
Mudança de rota
(Arco Verde-PE)

Eliana Ruiz Jimenez
Infinito
(Balneário Camboriú-SC)

Ana Beatriz Matias da Silva
É ele
(Carapicuíba-SP)

André Telucazu Kondo
Caminhos
(Jundiaí-SP)

Maria Ap. S. Coquemala
Solidariedade (Itararé-SP)

CATEGORIA CONTO – RESIDENTES INFANTO JUVENIL

1º – Everton M. Bernardes
A sombra de John Wayne

2º – Kaique Martins Ferreira Saldanha
Contos da Augusta

3º – Kaique Kestelic França
Náufrago

CATEGORIA CONTO RESIDENTES

1º – José Roberto Luccas
Renascença

2º – Cristiane Lorena Silva dos Santos
A paisagem

3º – Berenice Sebastiana de Souza
Conquista

MENÇÃO HONROSA PELA PARTICIPAÇÃO


Nicoly Malachize
A cidade misteriosa

Aline Oliveira Pereira
Seus olhos mel esverdeados

Caio Felipe Camacho dos Santos
O portal

Rodrigo Aparecido Franco Pereira
Cidadão

CATEGORIA CONTO – NÃO RESIDENTE

1º – Roberto Marcio Pimenta
Receita de Pão
(Serra-ES)

2º – Roberto Klotz
Sombra Feminina
(Brasília-DF)

3º – Gilberto Garcia da Silva
O Ator
(Praia Grande-SP)

MENÇÃO HONROSA PELA PARTICIPAÇÃO


Talita Corrêa Machado de Mendonça
Quando ela morrer…
(São Roque-SP)

Vania Maria Menezes de Figueiredo
Um violino atrás do armário
(Campinas-SP)

Janaina Mourão Freire
A aliança colorida
(Brasília-DF)

Lina Z. de Paula
A flor da realidade
(Curitiba-PR)

Raimundo Nonato Albuquerque Silveira
Tensão
(Fortaleza-CE)

Rui Werneck de Capistrano
Lição Diária
(Curitiba-PR)

Helani Magalhães Pimentel
Destino
(Brasília-DF)

Fonte:
http://baruericultura.wordpress.com/2013/12/09/ganhadores-do-premio-barueri-de-literatura-sao-premiados/