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sábado, 29 de setembro de 2012
Mário Quintana (Arte Poética)
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Trova 230 - A. A. de Assis (PR)
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Folclore Portugues ( A Lenda "Aninha-a-Pastora")
Conta a lenda que há muito tempo, talvez no tempo dos afonsinhos, apareceu no vale do Jamor uma pastorinha com o seu rebanho. Ninguém sabia donde ela viera, mas também a ninguém interessava saber. E a pastora por ali ficou, achando o local propício para si e para as suas ovelhas.
Todas as manhãs pela alba banhava-se a pastora na ribeira que atravessava o vale, límpida e cantante. Depois, o resto do dia, entretinha-se ora cantando, ora correndo atrás dos borregos. Por vezes, quedava-se horas a fio olhando o ramejar das árvores ou observando os pardais a construir os ninhos ou a alimentar as crias.
No Inverno, quando o tempo custava mais a suportar, a pastora alapava-se com o rebanho sob as fragas, esperando que a chuva passasse, agarrada às suas ovelhas preferidas para manter algum calor.
Assim passava o tempo a pastorinha que um dia chegou ao vale do Jamor com um rebanho de ovelhas.
Certo dia, porém, passou por ali um cavaleiro - que alguns dizem que era o rei - em vistosa cavalgada, acompanhado de alguns moços de armas que com ele iam montear no vale. Os olhos do cavaleiro deram subitamente com os da pequena pastora, que, encostada a uma árvore, bebia tranquilamente uma gamela de leite. Surpreendido com a inesperada visão, o cavaleiro exclamou:
- Meu Deus, como será possível que tal beleza exista assim perdida neste vale?!
E, encantado, o cavaleiro tentou saber da pastora tudo quanto lhe dizia respeito:
- Onde vives, pastora? - perguntou o cavaleiro.
- Por aí, senhor.
- Na aldeia, queres tu dizer?
- Não. Vivo aqui, no vale, com estas poucas ovelhas.
- A quem pertence o rebanho, pastora?
- Ninguém, meu senhor. Encontrei-o no caminho e seguiu-me até aqui.
- Não vais querer que eu acredite nessa história, mulher?! Diz a verdade!
- Senhor, esta é a verdade, acreditai!
O velho aio do cavaleiro, que ouvia a conversa, inquieto com o que parecia simples de mais, interveio:
- Tende cuidado, meu amo. A pastora mais parece o demónio a tentar-vos!
A rir, o cavaleiro respondeu-lhe:
- Ora, velho aio! Se o demónio fosse tão belo como esta mulher, fácil lhe seria tentar o mundo! Deixai-vos disso!. ..
Pois, meu amo, vamos ver se o que digo não é verdade!
E virando-se para a pastora, que tremia, perguntou:
- Onde está a tua família, rapariga?
- Não tenho ninguém.
- Como te chamas?
- Não sei, nunca ninguém me chamou ..
- E as ovelhas, encontraste-as!
- É verdade, senhor.
Pois vede, meu amo, se tudo isto não é muito estranho!.. Por mim, acho que deveis ter cuidado!
- Ora, velho medroso! Que há de estranho numa pastora que vive sozinha e não tem família. Depois .. é tão bonita!
Enquanto dizia isto, o cavaleiro olhava a pastora, sentindo crescer em si uma ternura magoada e dolorida por haver quem fosse obrigado a viver em tal solidão. E num repente, como quem sente uma necessidade súbita e insuportável de suprir os desamores da vida, o cavaleiro disse suavemente à pastora:
- A partir de hoje nunca mais viverás só! Vou levar-te para a corte!
- Não quero sair daqui, senhor! - murmurou perentória a rapariga.
Pois então, virei eu viver contigo! Mandarei construir uma casa para ti e um redil para as ovelhas.
E, virando-se para os acompanhantes, ordenou:
- Senhores, trazei vestidos e joias, mandai vir pedreiros e artífices que quero uma casa aqui! E tu - acrescentando, virando-se para um deles - tu que sabes vestir e pentear, aninha a pastora!
Sem mais uma réplica, obedeceram os companheiros ao cavaleiro - ou seria rei? No vale do Jamor cresceu uma casa onde viveu o cavaleiro com a pastora que mandara aninhar. E à volta dessa casa surgiu, pouco a pouco, uma povoação que durante muito tempo se chamou Aninha-a-Pastora.
Hoje, passaram-se os anos, esqueceu-se a lenda, e Aninha-a-Pastora chama-se Linda-a-Pastora.
Fonte:
Lendas Portuguesas da Terra e do Mar, Fernanda Frazão, disponível em Estudio Raposa
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Portugal
Constança Lucas (Poemas)
PALAVRA
Perdi-te sem nunca te saber
envelhecemos os sons
cansada de maus usos
embarcou para terras velozes
não soubemos cochichar
nos abraços que ardiam
por inventarmos alguém
para sabermos perder
perdi-te vontade de falar
nesta cadência muda
“FOI NUM ADEUS…”
Foi num adeus que mais te amei
nas nossas mãos as cores cantaram
numa harmonia de saudades futuras
nos quereres contorcidos em ondas quentes
onde o lenço imaginado corria pelo vento
nas ruas da nossa cidade encantada
só de palavras e afeições longas
olhávamos as folhas em silêncio
por tanto querermos os toques
em arrepios de ternuras
lânguida corri pelo teu corpo
por nada nele deixar de querer
fiquei embevecida com o teu canto
por infinitos tempos das nossas peles
“SONHO”
Escuta este sonho não é para ti
ele pertence-me
não desisto do meu medo
da minha alegria
da minha amargura
de querer que acabe a realidade
tudo me cansa
tão profundamente
quando me querem invadir
nos meus sonhos
mesmo não os conhecendo
E por vezes quero que me deixem
ver o mundo
mandar a realidade tomar banho
mudar de cheiro
deixar de me perseguir
nesta angústia de nada poder
e ao mesmo tempo saber
que tanto posso
Sonho nas noites
de dias sem tempo
acordada ou mesmo a dormir
sempre num parque
de cores caídas
nesta nossa casa
tão nossa
mas os sonhos
alguns são só meus
-
DO OUTRO LADO DO VIDRO
Pela janela, um rubor de nuvem,
alguém sem articulação, rabisca,
do outro lado do vidro, lá em baixo
observo-o como quem não entende
Sinto falta de mais árvores
a calçada tem um dono
que não gosta das folhas
e o rapaz rabisca como quem marca
um território fictício
AS MÃOS
ardes em febre de eletricidade
por esconderes almas
de ti e por ti desenho
contigo aprendi a desejar
o que só dentro de mim existe
as palavras crescem,
em teus dedos amáveis
para depois esquecermos
o silêncio triste
TENS SIDO
Tens sido um ás nessa de protocolos
acho que me contagiei
Vales pelos sorrisos provocados
pelas tuas e pelas minhas palavras
não de entrelinhas, sem linhas mesmo
cada palavra escrita
talvez não fossem nunca ditas
Vales pelas provocações
dos conhecimentos de mundos
onde o convencional perde lugar
mas está presente
Vales pelo pedaço de coração
que roubastes
sem saber onde o colocar
anda no firmamento
Vales assim nesta amizade
que sem tempo vive
sem lugar cresce
com carinho segue
Vales pela liberdade
de conhecer e não concordar
Vales pela diferença
num mar de águas comuns
Valho por assim sentir,
mesmo assim saber dizer-te
sem medos demasiados
mas com a vida pulsando
neste mundo tão torto
Oiço is a beautiful day
de bem com os meus sentimentos
saberás dizer-me mais de ti sem protocolos
Fontes:
Constança Lucas (1960)
Constança Lucas nasceu em Coimbra, em 1960 e cursou até o colegial em Portugal.
Passou a viver em São Paulo no fim da década de setenta, onde fez Licenciatura Plena em Artes Plásticas na FAAP - Fundação Armando Alvares Penteado e Mestrado em Poéticas Visuais - Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo - USP , Pós-Graduação em Artes na ECA - Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo - USP
Fez diversos cursos de artes plásticas, literatura, fotografia e de história da arte, em museus e instituições culturais.
Viveu em Lisboa de 1988 a 1992, onde realizou algumas exposições de pintura e desenho, coletivas e individuais.
Também desenvolveu a pintura em azulejos e trabalhos na área de artes gráficas.
Tem participado de várias exposições coletivas desde o início da década de oitenta em diferentes países (Portugal, Espanha, Bélgica, Checoslováquia, França, Hungria, Itália, Japão, Argentina, Alemanha, Austrália e Brasil). Realizou diversas exposições individuais em Portugal e no Brasil.
É autora de inúmeros desenhos publicados em jornais, revistas e livros.
Atualmente vive e trabalha em São Paulo. Desenvolve o seu trabalho em pintura, desenho, gravura, aguarela e infografia.
Fonte:
http://www.netsaber.com.br/biografias/ver_biografia_c_4895.html
Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 682)
Uma Trova de Ademar
Uma Trova Nacional
Matuto filosofante
vendo filme que arrepia:
- E esse era o inferno de “dante”...
Imagine o de hoje em dia!...
–Dorothy Jonsson Moretti/SP–
Uma Trova Potiguar
Senhor Cornélio, com medo
das balbúrdias do apagão,
chegou em casa mais cedo
nos rastros do Ricardão.
–Djalma Mota/RN–
Uma Trova Premiada
1996 - Pouso Alegre/MG
Tema - VERÃO – Venc.
"Não conto mais com você!..."
- Diz a mulher, lá da sala.
"Se no verão não se vê,
no inverno, então, nem se fala !..."
- Rodolpho Abbud/RJ
...E Suas Trovas Ficaram
Com “fome zero”... zerado;
a fome em mim fez um fosso,
que o intestino delgado
tá quase engolindo o grosso.
–Francisco Macedo/RN–
U m a P o e s i a
Um candidato a prefeito
falando aos aduladores
distante dos eleitores:
vamos ganhar esse pleito!
Sou cidadão de conceito,
só eu levo essa parada;
porem o que mais me agrada
nesta tremenda disputa,
é ter um ano de luta
e quatro sem fazer nada.
–Vicente Gonçalves/PB–
Soneto do Dia
MEU ORGULHO.
–Pedro Torquato Maciel/SP–
Muito cedo morreu, infelizmente,
o grande Rui, o mestre consagrado,
a quem prestei auxílio eficiente
na sua profissão de advogado.
No escritório, à Rua do Senado,
nós dois a trabalhar conjuntamente,
íamos dando conta do recado,
a contento, aliás, de toda gente.
Obedecendo às normas do Direito,
o meu trabalho, rápido, perfeito,
em pouco tempo lá ficou notório.
Tanto assim que, no meio de doutores,
não poucas vezes mereci louvores
por ter varrido bem o escritório!
Jorge Amado (A Bola e o Goleiro)
O futebol era uma das paixões de Jorge Amado. E esse amor rendeu um belo livro infantil, “A bola e o goleiro”, escrito em 1984. O romance fala sobre Fura-Redes, a bola que era a alegria dos artilheiros. Com ela, os jogadores faziam gols sensacionais e inesquecíveis. Os locutores também ficavam enlouquecidos ao narrarem seu percurso. A habilidade para balançar a rede deu-lhe vários apelidos, tais como Esfera Mágica, Goleadora Genial, Pelota Invencível e Redonda Infernal.
Totalmente imparcial, Fura-Redes não privilegiava nenhum time. Queria apenas proporcionar gols e mais gols. Jamais permitia um zero a zero nas partidas que participava. Até que conheceu o goleiro Bilô-Bilô, também conhecido como Cerca-Frangos, Mão Podre, engolidor de francos. Nem precisa dizer que era o desastre do desastre entre os goleiros. Contudo, o inesperado aconteceu. Ao ver Bilô-Bilô com sua camisa cor de caramelo, Fura-Redes se apaixonou. Perdidamente. Tudo o que queria era alinhar-se nos braços do seu amado. A partir daí, por mais que continuasse atuando da mesma forma, Bilô-Bilô não viu mais nenhuma bola entrar no “arco” que guardava. Defendia todas as jogadas. Todos os lances iam direto para suas mãos. Passou a ser chamado de Pega-Tudo e virou celebridade internacional.
Mas chega o dia em que o Rei do Futebol vai tentar seu milésimo gol. E quem entrará em campo junto com o time do melhor jogador do mundo? Bilô-Bilô e Fura-Redes, com certeza. O que será que vai acontecer? O livro foi publicado também em Portugal e ganhou versões em inglês, francês e alemão. A primeira edição, que é a que eu tenho (capa abaixo), traz ilustrações de Aldemir Martins. Boa história, com final que representa a inocência infantil.
–––––-
Vou contar a quem a queira ouvir a história da bola Fura-Redes e do goleiro Bilô-Bilô, o Cerca-Frango, uma historinha para ninguém botar defeito, breve e louca como a vida.
O destino das bolas de futebol é fazer gols e a bola Fura-Redes, como o nome indica, era a maior especialista do país na quantidade e na qualidade dos tentos assinalados. Gols olímpicos, e de efeito, de folha-seca, de letra, de bicicleta, de placa, incomparáveis.
Por isso mesmo tornou-se conhecida e aclamada como Esfera Mágica, Goleadora Genial, Pelota Invencível e Redonda Infernal, pelos locutores enlouquecidos ao microfone, quando a viam atravessar o campo, de passe em passe, de finta em finta, para marcar mais um tento sensacional. A bola Fura-Redes era o pavor dos goleiros, a paixão dos pontas-de-lança e dos comandantes de ataque, a bem-amada da torcida. Nascera para cruzar o arco, bater-se alegre contra as redes, provocar o grito de guerra e de vitória da galera.
Lustrosa, leve e atrevida, a mais redonda das pelotas, apesar de muito jovem, logo se tornou popularíssima devido ao número de tentos já marcados, cerca de seiscentos; muitos em cada partida. Vários para a equipe A e vários para a equipe Z,pois Fura-Redes mantinha-se absolutamente imparcial quando se exibia no gramado.
Marcava gols para as duas equipes, não protegia qualquer delas, era correta e justa. Assinalaria maior número de tentos o time que mais procurasse o ataque, buscando encurralar o adversário. Com ela, os artilheiros não erravam os chutes, não desperdiçavam bolas nas traves. Mas, sendo igualmente bondosa, dotava de um coração de ouro, Fura-Redes tampouco deixava a outra esquadra em jejum: pelo menos um golzinho de consolação ela lhe concedia antes que o juiz trilasse o apito, dando o desafio por terminado.
Fura-Redes fora proclamada inimiga número um do zero no placar. Os resultados das partidas que jogava davam conta da impressionante vocação da Redondinha para o gol. Redondinha, carinhoso apelido que lhe dera o Rei do Futebol. Escores sempre altos: cinco a quatro, sete a seis, seis a seis. Ou bem violentas goleadas: seis a dois, oito a três, cinco a um, quando se fazia evidente a diferença de qualidade entre os dois clubes, o campeão, dono do gramado, e o adversário, um timinho qualquer, de última categoria.
Atingira Fura-Redes o ponto mais alto de sua brilhantíssima carreira: falava-se nela para ser a bola oficial da próxima Copa do Mundo. Os principais artilheiros dos grandes clubes, os maiores pontas-de-lança do país morriam de amores por ela, todos queriam ser seus favoritos para alcançar o recorde mundial de gols. Mas a heroína dos gramados não revelava preferência por nenhum deles. Partia em direção ao arco tanto do pé do maior dos craques, Rei do Futebol, quanto da chuteira de um perna-de-pau qualquer até então desconhecido. Para ela todos eram iguais, servia-se deles para buscar o gol e desatar a vibração do povo nos estádios a cada tento que marcava, todos dignos de placa. Fura-Redes jamais se apaixonara.
Um dia, porém, como sucede com todas as criaturas, Fura-Redes se apaixonou e logo por quem! Em lugar de se apaixonar por um artilheiro, por um centro-avante, um ponta-de-lança, entregou seu coração a um goleiro, ao último dos goleiros, a Bilô-Bilô Mão Podre, engolidor de frangos.
O goleiro Bilô-Bilô iniciara sua carreira de goleiro sendo saudado em campo com diversos apelidos, cada qual – como direi? – mais caloroso: Cerca-Frango, Mão-Furada, Mão-Podre, Rei-do-Galinheiro e outros nomes ainda mais feios que eu não reproduzo aqui por ser esta historinha dedicada ao público infanto-juvenil. Pois bem: Bilô-Bilô transformou-se no aplaudido, no popularíssimo Pega-Tudo, o Tranca-Gol, o Aranha, o Maior de Todos.
Dizem ter sido a camisa de caramelo usada por Cerca-Frango a causa da paixão de Fura-Redes. Quando o avistou no arco daquele time fuleiro que ainda não ganhara nenhuma partida no campeonato, que recebera goleada sobre goleada, Fura-Redes perdeu a cabeça, não teve olhos para ninguém. Apenas iniciada a partida, ao ser chutada com violência para o arco, foi aninhar-se nos braços do Rei-do-Galinheiro. Pela primeira vez na vida, Cerca-Frango viu-se ovacionado num estádio.
Fura-Redes continuou a fazer gols sensacionais nos demais goleiros, um gol atrás do outro. Mas quando entrava em campo a esquadra em cujo arco Pega-Tudo se exibia, era aquela glória. O arqueiro adversário engolindo bola sobre bola, enquanto Pega-Tudo recolhia a pelota de mil maneiras diferentes, em defesas nunca vistas antes. Outra coisa não desejava Fura-Redes além de aninhar-se nos braços de seu namorado.
Para não faltar com a verdade, devo dizer que Bilô-Bilô mantinha-se igualzinho, não mudara: continuava sem saber se posicionar entre as traves, não saía do arco no momento certo, faltava-lhe visão do gol, enfim, prosseguia péssimo. Apenas defendia tudo, absolutamente tudo.
Cerca-Frango cercava a bola por um lado, ela estava no outro, a galera gritava GO-o-o-ol! E, de repente, na hora agá, o que se via? Via-se a bola encaixada nas mãos de Pega-Tudo, apertada contra o coração do goleiro, nos braços de Bilô-Bilô, sossegadinha, feliz da vida. Em lugar de um novo gol de Fura-Redes, a torcida saudava mais uma portentosa defesa de Pega-Tudo.
Durante um tempo mais ou menos longo, Fura-Redes e Tranca-Redes, ex-Cerca-Frango, dominaram os estádios brasileiros, empolgando multidões nas festas de tentos maravilhosos e de defesas deslumbrantes. Ocupavam as manchetes dos jornais, as telas das televisões e dos cinemas, obrigavam os locutores a criarem expressões novas, ainda mais grandiloqüentes, aumentativos colossais para descrever os feitos da Bola e do Goleiro.
Depois de varar as redes, aumentando o placar da surra humilhante aplicada na equipe adversária, a Redondinha vinha redondinha, acolher-se nos braços de Bilô-Bilô, aconchegar-se em seu peito. Por mais de uma vez aconteceu Tranca-Redes beijar Fura- Redes e então, no estádio, o numeroso público delirava.
Parecia um milagre e assim era: milagre de amor não tem explicação, não necessita.
Um dia os jornais, as rádios, as cadeias de televisão anunciaram para o Brasil e para o mundo inteiro que o Rei do Futebol havia faturado o gol novecentos e noventa e nove e se preparava para varar o gol número mil, notícia empolgante e alvissareira. Jamais outro artilheiro realizara tal façanha, metera mil gols nas redes adversárias.
Movimentaram-se os goleiros do Brasil e de todos os países, todos queriam a honra e a glória de engolir o gol número mil do Rei. Vieram telegramas propondo famosos quípers estrangeiros mas os brasileiros protestaram com razão: tinha de ser um goleiro nacional.
Caberia a Bilô-Bilô aquele feito supremo: cercar o frango no milésimo gol do craque sem igual, pois cumprindo calendário do campeonato entraram em campo ou melhor adentraram o gramado – em embate tão importante não se entra em campo, adentra-se o gramado – a equipe do Rei e aquela cujo arco era guardado por Bilô-Bilô.
Evidentemente a bola escolhida para o desafio não podia ser outra senão a famosa Fura-Redes, a quem o rei, como se sabe, galanteava dizendo-lhe “Redondinha, minha querida, minha formosa namorada”.
Ainda hoje muita gente não acredita no que aconteceu em campo naquela tarde de sol com milhares de bandeiras desfraldadas no estádio onde mais de duzentas mil pessoas se comprimiam, gritando e aplaudindo. O time do Rei do Futebol, que devia ganhar de goleada, apanhou uma surra de criar bicho. Fura-Redes pintou e bordou e quando faltavam alguns segundos para a partida terminar, o escore subia a cinco a zero contra a equipe do Rei.
Nos últimos segundos, porém, quando o público, decepcionado por não ter assistido ao gol número mil, começava a deixar o estádio,o juiz marcou um pênalti contra o time de Bilô-Bilô, pênalti que ninguém tinha cometido. Roubo claro e evidente, foi no entanto aplaudidíssimo pois ia possibilitar que aquele imenso público visse e comemorasse o milésimo gol do Rei: mais do que ninguém, vibrou o nosso conhecido Cerca-Frango pronto para cercar o frango real e o engolir inteiro.
Colocou-se a bola Fura-Redes na marca do pênalti, um silêncio enorme cobriu o estádio. O Rei do Futebol tomou distância para dar ainda mais força ao chute potentíssimo, indefensável e fazer um límpido gol de placa. Postou-se no arco Bilô-Bilô envergando a vistosa camisa cor de caramelo, nos lábios um riso de contentamento, pronto para não fazer a defesa, para engolir o frango cru, com penas e tudo. Aliás nem se postou no centro do arco como era sua obrigação, ficou encostado na trave direita, do lado de fora, deixando o espaço livre para que Fura-Redes nele penetrasse. Ninguém protestou, todos entenderam o gesto do arqueiro: iria se imortalizar ao receber aquele gol.
Correu o Rei, chutou com a máxima violência a meia altura diante do arco vazio. Duzentas e quatro mil trezentas e dezoito pessoas, sem contar os jornalistas, os cartolas e os penetras, viram Fura-Redes ser atirada com potente e certeiro chute do Rei do Futebol contra o desguarnecido arco de Bilô-Bilô.
Puseram-se todos de pé no estádio, preparados para aplaudir, até o fim do dia e pelo resto da semana, o gol número mil do Rei do Futebol. Viram então Fura-Redes dar meia-volta no ar, desviar-se antes de cruzar o arco, dirigindo-se, dengosa, para onde estava Bilô-Bilô vestido com a camisa cor de caramelo: queria aninhar-se em seus braços.
Mudou Cerca-Frango de posição, fugindo rápido para o outro lado, Fura-Redes fez o mesmo, a buscá-lo. Assim ficaram os dois durante alguns minutos, um tempo enorme, correndo em frente às traves, de uma a outra, até que, desesperado, Bilô-Bilô disparou campo afora deixando o arco à disposição da bola. Mas Fura-Redes partiu atrás de seu goleiro e o perseguiu até que o alcançou diante do arco adversário e em seu peito se aninhou redondinha e amorosa.
Assim terminou a carreira futebolística da bola Fura-Redes e a do goleiro Cerca-Frango que foi o pior e o melhor de todos os goleiros. O que fizeram depois? Ora, o que fizeram! Se casaram e viveram felizes para sempre.
Bahia,janeiro de 1984.
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Resumo.
Folclore Portugues (A Moura do Castelo de Tavira)
A noite de S. João é, como toda a gente sabe, noite de mouras encantadas. Segundo uma antiga tradição, vinda do tempo longínquo da conquista do Algarve, há em Tavira uma moura que, à meia-noite da noite de S. João, aparece nas ameias do castelo chorando a sua triste sina de encantada.
Quem sabe não será essa moura a filha de Aben-Fabila, o célebre governador de Tavira, que no dia da tomada do castelo se não encontrou nem entre os vivos, nem entre os mortos? Alguns dizem mesmo que naquele momento que se seguiu ao terrível combate, Aben-Fabila, súbdito do grande Almansor, desapareceu para poder encantar a sua filha querida no Alcácer, esperando, mais tarde, tornar vitorioso ao seu castelo e desencantar a mourinha. Porém, a verdade é que nem D. Paio Peres Correia, nem ninguém em todo o Algarve, voltou a pôr os olhos no bravo Aben-Fabila.
A tradição conta-nos esta lenda, como muitas outras, em verso, e por isso vou recitá-la tal como a cantam:
Meia noite além ressoa
Cerca das ribas do mar
Meia noite já é dada
E o povo ainda a folgar.
Em meio de tal folguedo
Todos quedam sem falar
Olhos voltam ao castelo
Para ver, para avistar
A linda moura encantada
Que era triste a suspirar.
- Quem se atreve, ai quem se atreve
Ir ao castelo e trepar
Para vencer o encanto
Que tanto sabe encantar?
- Ninguém há que a tal se atreva
Não há quem em mouros fiar
Quem lá fosse a tais desoras
Para só desencantar
Grande risco assim correra
De não mais de lá voltar.
Ai que linda formosura
Quem a pudera salvar!
O alvor dos seus vestidos
Tem mais brilho que o luar
Doces, tão doces suspiros
Onde ouvi-los suspirar ... ?
Assim um bom cavaleiro
Só se estava a delatar
Em amor lhe ardia o peito
Em desejos seu olhar.
Três horas eram passadas
Neste continuo anceiar
Cavaleiro de armas brancas
Nunca soube arreceiar
Invoca a linda mourinha
Mas não ouve o seu falar
Nada importa a D. Ramiro
Mais que a moura conquistar
Vai subir por muro acima
Sente os pés a resvalar
Ai que era passada a hora
De a poder desencantar! ..
Já lá vinha a estrela d'alva
Com seus brilhos a raiar
No mais alto do castelo
Já mal se via alvejar
A fina branca roupagem
Da linda filha de Agar.
Ao romper do claro dia
Para mais bem se pasmar
Sobre o castelo uma nuvem
Era apenas a pairar
Jurava o povo, jurava
E teimava em afirmar
Que dentro daquela nuvem
Vira a donzela entrar.
D. Ramiro d'enraívado
De não poder-lhe chegar
Dali parte e contra os mouros
Grande briga vai armar,
Por fim ganha um bom castelo
Mas. .. sem moura para amar.
Fonte:
Lendas Portuguesas da Terra e do Mar, Fernanda Frazão, disponível em Estudio Raposa
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Contos e Lendas do Mundo,
Portugal
Varal do Brasil (Convite para Participação no Salão Internacional do Livro de Genebra 2013)
Aos amigos do Varal,
O VARAL DO BRASIL estará presente com um stand de 12m2 no prestigiado Salão Internacional do Livro de Genebra de 1º a 5 de maio de 2013.
Estão abertas quinze vagas para sessões de autógrafo e trinta e cinco vagas para exposição de livros. Todas as vagas serão preenchidas mediante pagamento de participação cooperativa.
As pessoas interessadas deverão escrever para o
e-mail varaldobrasil@gmail.com solicitando mais informações.
Adiantamos que as associadas da REBRA e os associados da LITERARTE, assim como os participantes regulares da revista VARAL DO BRASIL, receberão descontos especiais para suas participações.
Sempre com você,
Jacqueline Aisenman
Editora-Chefe
Varal do Brasil
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Notícas em tempo,
participação
Clevane Pessoa (Lançamento de Lírios sem Delírios)
O livro, de Clevane Pessoa, foi editado pela Editora aBrace, em Montevidéu, Uruguai, que represento aqui em Belo Horizonte-Mg-Brasil.
Foi lançado nos III Juegos Florales do aBrace, pelos editores, que também o lançaram na Feira do Livro, em Brasília
A contracapa é de Marco Llobus-poeta e editor, da Rede catitu de Cultura, em Belo Horizonte, MG-Brasil, a cujo texto intitulou "Biografando uma borboleta", onde escreve:
"(...) Uma borboleta que paira sobre os atônitos , e seu encanto reverbera para além do tempo (...) escritora, editora, artista visual, conselheira, mãe e filha- tessitura de seda e bandeira da paz".
O poeta e seu editor uruguaio Roberto Bianchi, assim abre o prefácio:
"Con abierto margen de asombro -producto de su irreverente forma de plantear los textos -leemos ese libro de Clevane Pessoa .(...) .Ningun tema se le niega o se le oculta, el deseo, el tiempo ido, los hilos de las formas, que tan bien consigue asociar con sus dibujos alegóricos que aconpañan los textos."(...)
E Nina Reis, a outra diretora do aBrace , poeta e antologista de consistência, assim apresenta a autora e seu feitio poético :
"Não esquivar, não disfarçar, não ocultar".(..)Clevane Pessoa, uma mulher plural feminino, indiscutivelmente uma intérprete dos sentimentos ,porta aberta e solidária, e ademais incentivadora dos jovens que incursionam no mundo das letras e das artes" (...)
"No código das palavras ditas ou das caladas
a verdade do Outro, as suas mentiras,
e até mesmo nossos próprios intentos,
nossas verdadeiras motivações ! "(...)
(Clevane Pessoa, in Incoerências e Contrastes)
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sexta-feira, 28 de setembro de 2012
Mario Quintana (A Arte de Ler)
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Universos Di Versos
Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 681)
Uma Trova do Ademar
De maneira indefinida,
por amar e querer bem;
vou dividir minha vida
com a vida de outro alguém!
–Ademar Macedo/RN–
Uma Trova Nacional
O prazo que nós tivemos
para o nosso amor viver,
foi pouco. Nos esquecemos
antes do prazo vencer!
–Gislaine Canales/SC–
Uma Trova Potiguar
Janela do meu encanto,
de alcance manso e profundo...
À noite, levas meu pranto;
de manhã traze meu mundo.
–Mara Melinni/RN–
Uma Trova Premiada
2007 > Ribeirão Preto/SP
Tema > LIVRO > 2º Lugar
Faça do livro a oração
e da palavra o alimento,
o livro não nega o pão
que o sábio quer por sustento.
–Rita Mourão/SP–
...E Suas Trovas Ficaram
A amizade verdadeira
é infinita como o espaço
mas se estreita e cabe, inteira,
nos limites de um abraço.
–Waldir Neves/RJ–
U m a P o e s i a
Das coisas que Deus criou
a que tem maior beleza
é a vasta natureza
que ao mundo todo enfeitou.
E nela Deus colocou
um sertão que é meu e seu
e que agora até nos deu
inspiração para o tema:
o sertão é um poema
que a natureza escreveu.
–Tarcísio Fernandes/RN–
Soneto do Dia
A DESPEDIDA.
–Divenei Boseli/SP–
O amor parece eterno enquanto dura,
por força da paixão que, sendo chama,
incendiando a carne, crema a cama!
No café da manhã se faz candura...
E a dois vai, no verão, rolar na grama,
na várzea, no curral, e a mais impura
das camas de motel lhes assegura
o encanto inenarrável de quem ama...
O amor constrói, corrompe, danifica
por força da paixão: queima e não fica
para curar sequer uma ferida...
Partir? Chorando ou rindo? Tanto faz...
Dizer adeus ou não?... Tudo é falaz!
Cruel e verdadeira é a despedida...
quinta-feira, 27 de setembro de 2012
Mário Quintana (Destino Atroz)
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Olga Agulhon (Gente de Minha Terra)
CONHECIMENTO
Estamos todos enganados!
Pensamos que podemos enxergar...
Mas pela ilusão fomos picados.
Vivemos no escuro!
Sabemos pouco do passado,
só pensamos no futuro
e não vivemos nada do presente.
QUASE REBELDIA
Chega de versos melosos, caudalosos,
que acompanham os momentos
de desatino.
Rompi com o destino!
Mesmo os momentos amorosos
serão mais curtos e secos.
Navegarei mares incertos,
não terei medo de becos escuros,
de passar por grandes apuros
ou atravessar longos desertos.
Chega de versos saudosos, lamentosos,
que acompanham os momentos
de solidão.
Rompi com a emoção!
Os punhais serão mais racionais
e os romances serão mais mortais.
Enquanto viverem, os amores serão rasos
como raízes em vasos;
suas marcas serão superficiais
e jamais exalarão perfumes florais.
Os versos serão brancos e secos
como os vinhos e a noite fria,
que é estéril e nada cria.
Mas a criação, criatura ingrata
na folha esculpida,
desata a forma da vida
e revolta-se contra o criador,
chorando pelas entrelinhas
sob o ritmo romântico
das marchinhas.
Os versos saem cheios de amor provinciano
e abdicam da oportunidade
de tornarem-se poesia.
Para o criador,
nada de fotografia!
Talvez num outro dia
dê resultado a euforia
de sua quase rebeldia.
UM HOMEM POETA
Mergulhado em tristeza e solidão,
um homem escreve.
Versos ritmados? Não!
Escreve sobre seus dias,
contando horas vazias.
Escreve, com movimentos lentos,
palavras que tentam definir sentimentos.
É um poeta!
não porque escreve,
querendo escolher a palavra e a alegoria,
mas porque sonha,
perdido em ilusões e melancolia.
Um homem chora.
Chora por sua vida dura,
querendo esquecer uma amargura.
Chora como todo amante,
que já sofreu o bastante.
É um poeta!
Não porque escreve,
querendo escolher a palavra e os pontos,
mas porque ama,
perdido em solidão e desencontros.
Por isso escreve,
com o coração pequenininho,
querendo seu ninho.
Escreve porque está sozinho
e só o papel lhe dá carinho.
A PALAVRA É A SEMENTE
A palavra é a semente.
Cata grão, cata grão, cata não.
O sábio escolhe
e protege o grão
antes de levá-lo ao chão
e só planta com o coração.
Da semente impura, não
germinará o trigo-pão;
e depois de lançada,
ela não torna à mão.
A palavra é a semente.
Junta grão, junta grão, junta não.
O sábio separa o joio do trigo bom
e não semeia na escuridão;
o faz no branco do papel cartão,
retirando uma a uma
as ervas daninhas, que estragam a plantação.
AMOR PERDIDO
O coração fica magoado
quando relembra o passado.
Folha negra, virada;
fica o avesso.
Folha seca, levada;
fica o movimento,
o barulho do vento.
ESTRAGOS DE UMA TEMPESTADE DE AMOR
Uma enxurrada
de lágrimas
arrasou as margens
do meu coração.
Suas águas vermelhas
extravasaram
e inundaram –
como violenta tempestade –
todo o meu ser,
que não resistiu.
Corpo e alma sucumbiram
diante dos estragos.
Toda a estrutura desabou.
O que restou?
Não sei.
As perdas foram grandes,
irreparáveis.
Reconstruir?
Não sei se vale a pena.
Talvez demore
uma vida inteira.
RIDÍCULA
a Fernando Pessoa
Quando deixar de escrever cartas de amor,
deixarei de ser ridícula,
serei amarga.
Quando deixar de chorar por amor,
deixarei de ser ridícula,
serei seca.
Quando deixar de pedir seu amor,
deixarei de ser ridícula,
serei outra.
Quando aprender a fazer versos,
deixarei de ser ridícula,
serei Pessoa.
UM HOMEM SEM UM SONHO
Um homem que não sonha!
É como aquela velha cegonha,
que, embora livre,
voa pelo mundo
sem fugir do inverno,
sem chegar ao alto,
sem conquistar os céus.
Sem saber para onde ir,
sem saber o que buscar,
vai para onde é enviada,
com um destino já traçado
e uma carga predeterminada.
Sem tecer sua própria teia,
cansa de voar a vida alheia
e espera a tempestade trazer os ventos
que apagam os rabiscos de lamentos
que sempre carrega consigo
e, não tendo feito um grande amigo,
só ousa revelar às areias incertas
de praias tão desertas
como a vida,
que não tenta viver.
Fonte:
Olga Agulhon. O Tempo. Maringá: Midiograf, 2003.
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