PALAVRA
Perdi-te sem nunca te saber
envelhecemos os sons
cansada de maus usos
embarcou para terras velozes
não soubemos cochichar
nos abraços que ardiam
por inventarmos alguém
para sabermos perder
perdi-te vontade de falar
nesta cadência muda
“FOI NUM ADEUS…”
Foi num adeus que mais te amei
nas nossas mãos as cores cantaram
numa harmonia de saudades futuras
nos quereres contorcidos em ondas quentes
onde o lenço imaginado corria pelo vento
nas ruas da nossa cidade encantada
só de palavras e afeições longas
olhávamos as folhas em silêncio
por tanto querermos os toques
em arrepios de ternuras
lânguida corri pelo teu corpo
por nada nele deixar de querer
fiquei embevecida com o teu canto
por infinitos tempos das nossas peles
“SONHO”
Escuta este sonho não é para ti
ele pertence-me
não desisto do meu medo
da minha alegria
da minha amargura
de querer que acabe a realidade
tudo me cansa
tão profundamente
quando me querem invadir
nos meus sonhos
mesmo não os conhecendo
E por vezes quero que me deixem
ver o mundo
mandar a realidade tomar banho
mudar de cheiro
deixar de me perseguir
nesta angústia de nada poder
e ao mesmo tempo saber
que tanto posso
Sonho nas noites
de dias sem tempo
acordada ou mesmo a dormir
sempre num parque
de cores caídas
nesta nossa casa
tão nossa
mas os sonhos
alguns são só meus
-
DO OUTRO LADO DO VIDRO
Pela janela, um rubor de nuvem,
alguém sem articulação, rabisca,
do outro lado do vidro, lá em baixo
observo-o como quem não entende
Sinto falta de mais árvores
a calçada tem um dono
que não gosta das folhas
e o rapaz rabisca como quem marca
um território fictício
AS MÃOS
ardes em febre de eletricidade
por esconderes almas
de ti e por ti desenho
contigo aprendi a desejar
o que só dentro de mim existe
as palavras crescem,
em teus dedos amáveis
para depois esquecermos
o silêncio triste
TENS SIDO
Tens sido um ás nessa de protocolos
acho que me contagiei
Vales pelos sorrisos provocados
pelas tuas e pelas minhas palavras
não de entrelinhas, sem linhas mesmo
cada palavra escrita
talvez não fossem nunca ditas
Vales pelas provocações
dos conhecimentos de mundos
onde o convencional perde lugar
mas está presente
Vales pelo pedaço de coração
que roubastes
sem saber onde o colocar
anda no firmamento
Vales assim nesta amizade
que sem tempo vive
sem lugar cresce
com carinho segue
Vales pela liberdade
de conhecer e não concordar
Vales pela diferença
num mar de águas comuns
Valho por assim sentir,
mesmo assim saber dizer-te
sem medos demasiados
mas com a vida pulsando
neste mundo tão torto
Oiço is a beautiful day
de bem com os meus sentimentos
saberás dizer-me mais de ti sem protocolos
Fontes:
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