domingo, 16 de setembro de 2012

Olympio Coutinho / MG (Histórias de trova) Capítulo I - Doce pássaro da juventude

Comecei a fazer trovas muito cedo, inspirado em uma trova apresentada em sala de aula de Português e atribuída a Alexandre Dumas:

“São as rosas que florescem,
são os espinhos que picam,
mas são as rosas que caem,
são os espinhos que ficam”.


Era em Ubá, em 1958, e foi colocada no quadro negro pelo professor Francisco De Fillipo visando nos exercitar em análise sintática. A trova chamou minha atenção e resolvi tentar fazê-las. Não foi muito difícil: eu tinha 18 anos, andava apaixonado e estávamos na entrada dos que, mais tarde, seriam chamados “os anos dourados”: a ânsia pela liberdade e a gostosa sensação que ela proporciona estavam soltas no mundo – e também no Brasil. Comprei, sem qualquer referência, alguns livros de trovas, rabiscava algumas em um diário que mantinha (e que tenho até hoje - uma delícia para ler agora!) e elas foram saindo.

Ubá, no início dos anos 60, os anos dourados, era uma cidade pequena, quase todos se conheciam e o que um e outro faziam todos ficavam rapidamente sabendo. Aconteceu comigo, que fiquei conhecido como poeta e trovador. Escrevia trovas nos jornais locais: Folha do Povo e Cidade de Ubá, e, uma vez, recebi um encargo de um amigo de então e amigo até hoje: Honório Joaquim Carneiro. Nascera sua filha Helena e ele pediu-me uma trova em sua homenagem. Fiz:

“Vi a alegria nascendo
em meio aos meus desencantos,
foi quando, filha, nasceste:
Helena dos meus encantos”.


Em sua coluna na Folha do Povo, Honório publicou a trova com um exagerado título: “A Trova do Século”. De outra vez, ao ser cobrado por alguns conhecidos que pediam, ironicamente: “Ô, poeta, faz uma quadrinha aí!”, afastei-me, mas voltei logo e declamei:

“Deus me livre dos amigos,
eu peço aos Céus de mãos postas,
depois que vi que os “amigos”
falam de mim pelas costas”.


A primeira namorada também ganhou trovas de amor, mas cito uma humorística nascida ao me olhar no espelho, antes de um encontro, e perceber-me “banguela”, devido à perda na piscina de um pivô, por sinal fruto de negligência minha:

“Só porque perdi um dente
ela deixou-me na mão;
ficou o espaço vazio
na boca e no coração”.


(Um parênteses: por volta de 1980, a calvície fazendo de minha cabeça um “aeroporto de piolhos”, a trova ganhou nova versão:

“Só porque fiquei careca
ela deixou-me na mão;
sinto frio na cabeça
e também no coração.”


Mas, de volta a 1960, o romance foi desfeito e a dor de cotovelo levou-me a fazer trovas assim:

“Hoje em dia pouco resta
do nosso amor, que passou;
tristes restos de uma festa,
depois que a festa acabou”.


Depois, vieram as fofocas e as trovas mudaram de tom:

“Afirmas que recebeste
o que nunca lhe escrevi;
gostaria de reler
esta carta que não li!”.


Mas, as duas seguintes é que mais deram o que falar (lembrando que estávamos em 1960 e a cidade era mineira e do interior):

“Não tenhas, Maria, medo
se o nosso amor teve fim,
o nosso grande segredo
eu guardo só para mim”


e

“Eu tenho, Maria, medo,
que, em tuas horas vazias,
tu contes nosso segredo
às minhas outras Marias.”


Mais tarde, outra Maria entrou em minha vida, ensejando trovas mais líricas:

“Felicidade, Eleninha,
me deste a definição
ao pousar sua mãozinha
ternamente em minha mão”.


Em 1961, já mais amadurecido em relação ao “fazer trovas”, dediquei-lhe outra, que dizia assim:

“Eram alegres meus olhos
e tristes eram os teus;
por serem tristes teus olhos
ficaram tristes os meus”.


Mais tarde, em 1965, esta trova foi enviada para concorrer aos I Jogos Florais da Comunidade Lusíada, promovido pelo Elos Clube, em São Paulo, e, entre as três vencedoras, era o única de um brasileiro – os outros dois vencedores eram portugueses.

Continua…

Fonte:
O Autor

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