quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Olympio Coutinho (Histórias de trova) Capítulo II, continuação – Meus Irmãos, os Trovadores

Em 1962, mudei-me para Belo Horizonte, onde trabalhei em banco, fiz cursinho, passei no vestibular e iniciei o curso de Jornalismo. Ainda escrevia diário e fazia trovas. Tão logo instalei-me em Belo Horizonte, cuidei de conhecer os trovadores locais: procurei o Edson Moreira, um dos três irmãos donos da tradicional Livraria Itatiaia, e ele indicou-me o José Valeriano Rodrigues, então presidente da Academia Mineira de Trovas, fundada em 3 de agosto de 1961. Por sinal, mais tarde, o Valeriano seria um dos vencedores dos Jogos Florais de Friburgo, com esta trova: 

“Não anda, só se equilibra;
não fala, só balbucia;
é neste esforço que vibra
a mais humana alegria”.


Fui à sua casa, no bairro Santo Antônio, e, instruído por ele, candidatei-me a uma das vagas: como determinava o regulamento, enviei 50 trovas. Fui aprovado e no dia 28 de novembro de 1962, tomei posse, orgulhosamente na cadeira 11, cujo patrono é o poeta Cassimiro de Abreu.

Vale registrar que eu tinha 22 anos, o que despertou curiosidade na sala, pois os demais membros da Academia eram trovadores com mais de 40 anos – o que me faz pensar na necessidade de disseminarmos mais a trova entre as crianças e os jovens. Hoje, eu que era o mais novo em 1962, sou um dos mais antigos, se não for o mais antigo membro da Casa. Foi quando conheci mais trovadores locais, entre eles o grande Paulo Emílio Pinto, premiado em um dos Jogos Florais de Nova Friburgo (tema “Vida”), com esta pérola:

“Esta engrenagem que é a vida
esmaga a todos sem dó,
e a gente aos poucos, moída
de novo volta a ser pó”.


Em 1966, fui a Nova Friburgo como assistente, pois não conseguira classificação para os III Jogos Florais (tema “Ciúme”). Tinha um irmão, Olymar Affonso, de saudosa memória, que trabalhava lá e morava em uma pensão. Lembro-me, se não me engano, do Durval Mendonça, do Anis Murad, do José Maria Machado de Araújo, do Orlando Brito e, obviamente, do Luiz Otávio e do JG. Lamentavelmente, nada registrei em fotos e do que a memória “fotografou” pouco se reteve.

Ainda em 1966, sempre entusiasmado com o movimento, editei uma segunda edição do“Festival de Trovas”, com capa azul, com muitas das 101 trovas da primeira edição e outras novas. Na abertura, como prefácio, o artigo escrito pelo JG em 1961 sobre minhas trovas e, no final do livro, trechos de outros artigos publicados e cartas recebidas falando da primeira edição do livro. E parei por aí: envolvido com a minha nova vida de repórter de jornal e com as aventuras do exercício da profissão, então romântica, deixei de frequentar a Academia e não procurei a seção mineira da UBT para inscrever-me. Acreditei também que o movimento trovadoresco havia arrefecido e deixei de fazer trovas regularmente. Só em 2008, ao tomar conhecimento de que o movimento estava mais vivo que nunca, principalmente depois de conhecer o falandodetrova, voltei a participar dos concursos, tornei-me associado da UBT e, desde então, ando beliscando umas premiações, mas tenho viajado pouco para voltar a conviver com “meus irmãos, os trovadores” e reviver, com outros, aqueles bons tempos de confraternização e congraçamento.

Continua… Trovas de Olympio Coutinho

Fonte:
O Autor

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