Primavera em Porto Alegre
Dentre as estações do ano, principalmente aqui no sul, onde são mais definidas, é a que traz amenidades, prenunciando o próximo verão de sol ou de chuva, mas também de águas salgadas e areia, aos que se dirigem às praias, tão convidativas nos meses de dezembro, janeiro, fevereiro e março. Nesse período, os que têm condições de fazê-lo, vão ao litoral, nem que seja por quinze dias, a fim de refazer-se um pouco da estafa adquirida no dia-a-dia.
Outrossim, representa também a quadra da vida, quando se está na adolescência, tão decantada pelos poetas, tais como Casimiro de Abreu e Pe. Antônio Tomás que nos deixou o soneto inesquecível:
“CONTRASTES”
“Quando partimos, no verdor dos anos,
da vida pela estrada florescente,
as esperanças vão conosco à frente
e vão ficando atrás os desenganos.
Rindo e cantando, céleres e ufanos,
vamos marchando descuidosamente...
Eis que chega a velhice de repente,
desfazendo ilusões, matando enganos.
Então nós enxergamos claramente
como a existência é rápida e falaz,
e vemos que sucede exatamente
o contrário dos tempos de rapaz:
- os desenganos vão conosco à frente,
e as esperanças vão ficando atrás.”
Isto me leva a meditar num passado recente, porque a vida é efêmera, e não faz muito navegava nessa fase, percorrida sem grandes lances aventureiros.
Conservo ainda enraizados aqueles devaneios que me assaltavam o pensamento na juventude pacata e laboriosa. Sempre lutando por dias melhores, desde a infância, consegui algum progresso relativo, o que me leva a acreditar no estudo e no trabalho.
E muitas vezes me surpreendo ao deparar com acontecimentos já presenciados outrora, que pareciam sepultados na tumba do tempo, mas que surgem avivados qual uma brasa encoberta pelas cinzas. São as reminiscências que nos fazem, enfim, reviver alguns momentos mais representativos ao longo de nossa caminhada pelo mundo. Aos treze anos de idade, quando praticava datilografia, cujo ensino me era ministrado por uma freira, numa sala da escola em que concluía o curso primário, há mais de quarenta anos, havia um piano no qual algumas meninas aprendiam a tocar. De uma delas recordo bem; as outras me parecem névoas que se dissiparam. Embora minha paixão pela música, meu dever era a datilografia e não o piano. Hoje só me resta dizer:
“Parece que foi ontem !” São os desígnios da existência...
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Poeta e cronista
Publicado em 29 de setembro de 1999 - no Diário de Canoas.
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