Características literárias.:
A cultura renascentista - patrocinada pelos mecenas burgueses, como os Medici de Florença - vai mudar a imagem que o homem tinha de si mesmo, trazendo os conceitos do Classicismo, Humanismo, Antropocentrismo e do Racionalismo.
Universalismo: os escritores renascentistas passam a valorizar os temas universalistas e racionais. O predomínio da razão exige a expressão de verdades universais, absolutas e eternas, desprezando o individual, o particular e o relativo: a obra deveria valer para todos e não estar voltada apenas aos problemas pessoais do autor. Somente aquilo que é lógico, sentido, palpável, é trabalhado nesse período literário. Não há lugar para abstrações, devaneios ou tudo aquilo que é subjetivo.
Racionalismo: nas obras renascentistas há o primado da razão sobre emoções e sentimentos (ex.: Camões vai definir o amor). O homem renascentista acredita que tudo se explica pela razão e pela ciência.
A natureza também passa a ser valorizada e encarada de forma diferente, como tema de estudo e investigação, para ser utilizada como instrumento do homem. O racionalismo e a preocupação com o homem e a natureza estimulam a pesquisa científica.
Dessa maneira, foi uma época marcada pela libertação do pensamento que culminou com o nascimento da ciência moderna, com grandes avanços na Matemática, Medicina, Astronomia e Física. A Terra deixou de ser o centro do universo, como pregava a Igreja Católica, e o sol passou a figurar no centro do sistema planetário (teoria heliocêntrica).
O Antropocentrismo, por sua vez, colocou o ser humano no centro do universo, como "a medida de todas as coisas". O mundo e as idéias deixaram de girar em torno de Deus (Teocentrismo) e passaram a centrar-se no homem. Há uma exaltação das faculdades e da dignidade do ser humano, com a valorização das capacidades físicas e espirituais do homem, destacando-o como um ser livre, capaz de alcançar a felicidade terrena e de criar seu próprio projeto e vida, permitindo a busca pela fama e pela glória terrena. O homem renascentista já não vive tão angustiado com as questões religiosas quanto o homem medieval.
Paganismo: a mitologia greco-romana passa a ser utilizada como instrumento do Antropocentrismo, visto que tal cultura pagã, anterior ao aparecimento do cristianismo, valorizava o indivíduo, seus feitos heróicos e sua capacidade de dominar e transformar o mundo.
Dessa maneira, o estudo, a tradução, a difusão e a imitação dos modelos artísticos e culturais greco-romanos da Antigüidade foram as bases da renovação cultural e literária do Classicismo. A arte era vista como mimese pelos renascentistas, isto é, imitação (tanto da natureza como dos modelos greco-latinos, considerados como modelo de perfeição). Todavia, cabe ressaltar que isto não significava copiar, e sim recriar. Os autores clássicos mais seguidos no Classicismo foram Homero, Virgílio, Ovídio, dentre outros. Deuses, heróis e personagens da cultura greco-romana foram sendo "incorporados" nas artes dos autores Clássicos.
Outra característica encontrada foi a personificação: atribuição de qualidades humanas a seres não-humanos.
A filosofia de Platão também teve grande influência no período Clássico. O Humanismo tem por base o Neoplatonismo, que exalta os valores humanos e dá nova dimensão ao homem, cujo valor passa a estar no produto de seu próprio esforço e talento. Até o século XV, apenas uma pequena parte de sua obra era conhecida. Em 1481, o humanista italiano Ficino traduziu todos os seus textos para o latim, colocando-o ao alcance dos intelectuais.
Segundo a concepção platônica, existem dois mundos: o Mundo dos Fenômenos (o mundo das sombras e da aparência, percebido através dos sentidos, e por isso mesmo ilusório e confuso, onde nada é estável ou permanente) e o Mundo das Idéias (o mundo da essência, mais elevado, espiritual e eterno, onde está a imutável essência de todas as coisas e acessível somente através da razão). Obviamente a filosofia de Platão também sofreu influências das idéias cristãs que imperavam na época. Com isso, o "Mundo das Idéias", o reino da Verdade absoluta, passou a ser associado ao Céu cristão. De qualquer forma, seu pensamento marcou bastante a vida cultural do Renascimento e sua concepção do amor platônico foi muito difundida: os autores clássicos passaram a buscar um amor elevado, idealizado, espiritualizado e racional, que se aproximava da Verdade Absoluta. Dessa maneira, o amor passou a ser visto de uma forma distante, em que muitas vezes o ser amado não tem conhecimento de sua situação e o desejo é aplacado pelo juízo.
Há uma busca pela clareza de idéias, de exposição, pela harmonia, pela simplicidade e pelo equilíbrio e objetividade na forma literária, ligados à razão e à idéia da imitação. Usa-se uma linguagem sóbria, simples e precisa.
A influência de Platão também se reflete no culto à beleza e à perfeição, visto que o conceito estético ("belo") acaba se confundindo com o conceito ético ("bem").
Outra preocupação constante é a obediência a regras e preceitos estéticos. Os autores precisavam obedecer a regras, principalmente as enunciadas por Aristóteles e Horácio: Ars Poetica (ex.: a tragédia deveria ter uma única ação confinada ao clímax; unidade de tempo: máximo de 24 horas; mesmo cenário). Cabe lembrar que a própria obediência às regras é uma forma de controlar os sentimentos e as emoções através da razão.
A obediência às regras também se traduz no Formalismo: busca da perfeição através da sujeição a normas rígidas de conteúdo e forma. Havia uma busca pelo rigor na métrica e na rima e o uso da ordem inversa, com uma enorme preocupação com a correção gramatical.
Houve a substituição da "medida velha" medieval (redondilhos menor e maior - de 5 e 7 sílabas métricas) pela medida nova, proveniente da Itália: sonetos (versos decassílabos distribuídos em duas quadras e dois tercetos). Essa nova forma de fazer poesia foi chamada de "dolce stil nuovo", ou "doce novo estilo", por Dante (cabe lembrar que a "Divina Comédia" de Dante é considerada o marco da transição da Idade Média para o Renascimento). O soneto foi uma das formas poéticas mais usadas na Era Clássica e suas estrutura segue a lógica aristotélica: tese (1ª estrofe), antítese (2ª) e síntese (3ª e 4ª).
Além de criarem o soneto, os humanistas italianos recuperaram outras formas de inspiração clássica:
écloga: composição geralmente dialogada, em que o poeta idealiza assuntos sobre a vida no campo. Suas personagens são pastores (éclogas pastoris), pescadores (éclogas pisctórias) ou caçadores (éclogas venatórias);
EXEMPLO DE ÉCLOGA
Piscatória
Arde por Galateia, branca e loura
Sereno, pescador pobre, forçado
Dua estrela cruel, que à míngua moura.
Os outros pescadores têm lançado
No Tejo as redes; ele só fazia
Este queixume ao vento descuidado:
- Quando virá, fermosa Ninfa, o dia
Em que te possa dar a conta estreita
Desta doudice triste e vã porfia?
Não vês que me foge a alma e que me enjeita,
Buscando num só riso da tua boca,
Nos teus olhos azuis, mansa colheita?
Se a esse espírito algua mágoa toca,
Se de Amor fica nele ua pegada,
Que te vai, Galateia, nesta troca?
Dar-te-ei minha alma; lá ma tens roubada;
Não ta demandarei; dá-me por ela
Ua só volta de olhos descuidada.
Se muito te parece, e minha estrela
Não consentir ventura tão ditosa,
Dou-te as asas do Amor perdidas nela.
Que mais te posso dar, Ninfa fermosa,
Inda que o mar de oljôfar me cobrira
Toda esta praia leda e graciosa?
Amansam ondas, quebra o vento a ira;
Minha tormenta triste não sossega;
Arde o peito em vão, em vão suspira.
Ao romper de alva anda a névoa cega
Sobre os montes da Arrábida viçosos,
Enquanto a eles a luz do Sol não chega.
Eu vejo aparecer outros fermosos
Raios, que a graça e cor ao céu roubaram;
Ficam meus olhos cegos mais saudosos.
Quantas vezes as ondas se encresparam
Com meus suspiros! Quantas com meu pranto
Se pararam com mágoa e me escutaram!
Se, na força da dor, a voz levanto,
E ao som do remo, que água vai ferindo
Por alta Lua meu cuidado canto,
Os maviosos delfins me estão ouvindo;
A noite sossegada; o mar calado.
Só, Galateia, foges e vás rindo.
Estranhas, porventura, o mar cercado
Da fraca rede, a barca ao vento solta
E um pobre pescador aqui lançado?
Antes que dê no céu o Sol ua volta,
Se pode melhorar minha ventura,
Como acontece aos outros na água envolta.
Igual preço não é da fermosura
Areia de ouro que o rico Tejo espraia,
Mas um amor que para sempre dura.
Vejam teus olhos, bela Ninfa, a praia;
Verás teu nome na mimosa areia.
Nunca sobre ele o mar com fúria saia!
Vento ou ar até agora a não salteia.
Três dias há que escrito aqui o deixou
Amor, guardando-o a toda a força alheia.
Ele com suas mãos mesmo ajudou
A escolher estas conchas, afirmando
Que o Sol para ti só as matizou.
Um ramo te colhi de coral brando;
Antes que o ar lhe desse, parecia
O que eu de tua boca estou cuidando.
Ditoso se o soubesse inda algum dia!
(Luís Vaz de Camões)
continua...
A cultura renascentista - patrocinada pelos mecenas burgueses, como os Medici de Florença - vai mudar a imagem que o homem tinha de si mesmo, trazendo os conceitos do Classicismo, Humanismo, Antropocentrismo e do Racionalismo.
Universalismo: os escritores renascentistas passam a valorizar os temas universalistas e racionais. O predomínio da razão exige a expressão de verdades universais, absolutas e eternas, desprezando o individual, o particular e o relativo: a obra deveria valer para todos e não estar voltada apenas aos problemas pessoais do autor. Somente aquilo que é lógico, sentido, palpável, é trabalhado nesse período literário. Não há lugar para abstrações, devaneios ou tudo aquilo que é subjetivo.
Racionalismo: nas obras renascentistas há o primado da razão sobre emoções e sentimentos (ex.: Camões vai definir o amor). O homem renascentista acredita que tudo se explica pela razão e pela ciência.
A natureza também passa a ser valorizada e encarada de forma diferente, como tema de estudo e investigação, para ser utilizada como instrumento do homem. O racionalismo e a preocupação com o homem e a natureza estimulam a pesquisa científica.
Dessa maneira, foi uma época marcada pela libertação do pensamento que culminou com o nascimento da ciência moderna, com grandes avanços na Matemática, Medicina, Astronomia e Física. A Terra deixou de ser o centro do universo, como pregava a Igreja Católica, e o sol passou a figurar no centro do sistema planetário (teoria heliocêntrica).
O Antropocentrismo, por sua vez, colocou o ser humano no centro do universo, como "a medida de todas as coisas". O mundo e as idéias deixaram de girar em torno de Deus (Teocentrismo) e passaram a centrar-se no homem. Há uma exaltação das faculdades e da dignidade do ser humano, com a valorização das capacidades físicas e espirituais do homem, destacando-o como um ser livre, capaz de alcançar a felicidade terrena e de criar seu próprio projeto e vida, permitindo a busca pela fama e pela glória terrena. O homem renascentista já não vive tão angustiado com as questões religiosas quanto o homem medieval.
Paganismo: a mitologia greco-romana passa a ser utilizada como instrumento do Antropocentrismo, visto que tal cultura pagã, anterior ao aparecimento do cristianismo, valorizava o indivíduo, seus feitos heróicos e sua capacidade de dominar e transformar o mundo.
Dessa maneira, o estudo, a tradução, a difusão e a imitação dos modelos artísticos e culturais greco-romanos da Antigüidade foram as bases da renovação cultural e literária do Classicismo. A arte era vista como mimese pelos renascentistas, isto é, imitação (tanto da natureza como dos modelos greco-latinos, considerados como modelo de perfeição). Todavia, cabe ressaltar que isto não significava copiar, e sim recriar. Os autores clássicos mais seguidos no Classicismo foram Homero, Virgílio, Ovídio, dentre outros. Deuses, heróis e personagens da cultura greco-romana foram sendo "incorporados" nas artes dos autores Clássicos.
Outra característica encontrada foi a personificação: atribuição de qualidades humanas a seres não-humanos.
A filosofia de Platão também teve grande influência no período Clássico. O Humanismo tem por base o Neoplatonismo, que exalta os valores humanos e dá nova dimensão ao homem, cujo valor passa a estar no produto de seu próprio esforço e talento. Até o século XV, apenas uma pequena parte de sua obra era conhecida. Em 1481, o humanista italiano Ficino traduziu todos os seus textos para o latim, colocando-o ao alcance dos intelectuais.
Segundo a concepção platônica, existem dois mundos: o Mundo dos Fenômenos (o mundo das sombras e da aparência, percebido através dos sentidos, e por isso mesmo ilusório e confuso, onde nada é estável ou permanente) e o Mundo das Idéias (o mundo da essência, mais elevado, espiritual e eterno, onde está a imutável essência de todas as coisas e acessível somente através da razão). Obviamente a filosofia de Platão também sofreu influências das idéias cristãs que imperavam na época. Com isso, o "Mundo das Idéias", o reino da Verdade absoluta, passou a ser associado ao Céu cristão. De qualquer forma, seu pensamento marcou bastante a vida cultural do Renascimento e sua concepção do amor platônico foi muito difundida: os autores clássicos passaram a buscar um amor elevado, idealizado, espiritualizado e racional, que se aproximava da Verdade Absoluta. Dessa maneira, o amor passou a ser visto de uma forma distante, em que muitas vezes o ser amado não tem conhecimento de sua situação e o desejo é aplacado pelo juízo.
Há uma busca pela clareza de idéias, de exposição, pela harmonia, pela simplicidade e pelo equilíbrio e objetividade na forma literária, ligados à razão e à idéia da imitação. Usa-se uma linguagem sóbria, simples e precisa.
A influência de Platão também se reflete no culto à beleza e à perfeição, visto que o conceito estético ("belo") acaba se confundindo com o conceito ético ("bem").
Outra preocupação constante é a obediência a regras e preceitos estéticos. Os autores precisavam obedecer a regras, principalmente as enunciadas por Aristóteles e Horácio: Ars Poetica (ex.: a tragédia deveria ter uma única ação confinada ao clímax; unidade de tempo: máximo de 24 horas; mesmo cenário). Cabe lembrar que a própria obediência às regras é uma forma de controlar os sentimentos e as emoções através da razão.
A obediência às regras também se traduz no Formalismo: busca da perfeição através da sujeição a normas rígidas de conteúdo e forma. Havia uma busca pelo rigor na métrica e na rima e o uso da ordem inversa, com uma enorme preocupação com a correção gramatical.
Houve a substituição da "medida velha" medieval (redondilhos menor e maior - de 5 e 7 sílabas métricas) pela medida nova, proveniente da Itália: sonetos (versos decassílabos distribuídos em duas quadras e dois tercetos). Essa nova forma de fazer poesia foi chamada de "dolce stil nuovo", ou "doce novo estilo", por Dante (cabe lembrar que a "Divina Comédia" de Dante é considerada o marco da transição da Idade Média para o Renascimento). O soneto foi uma das formas poéticas mais usadas na Era Clássica e suas estrutura segue a lógica aristotélica: tese (1ª estrofe), antítese (2ª) e síntese (3ª e 4ª).
Além de criarem o soneto, os humanistas italianos recuperaram outras formas de inspiração clássica:
écloga: composição geralmente dialogada, em que o poeta idealiza assuntos sobre a vida no campo. Suas personagens são pastores (éclogas pastoris), pescadores (éclogas pisctórias) ou caçadores (éclogas venatórias);
EXEMPLO DE ÉCLOGA
Piscatória
Arde por Galateia, branca e loura
Sereno, pescador pobre, forçado
Dua estrela cruel, que à míngua moura.
Os outros pescadores têm lançado
No Tejo as redes; ele só fazia
Este queixume ao vento descuidado:
- Quando virá, fermosa Ninfa, o dia
Em que te possa dar a conta estreita
Desta doudice triste e vã porfia?
Não vês que me foge a alma e que me enjeita,
Buscando num só riso da tua boca,
Nos teus olhos azuis, mansa colheita?
Se a esse espírito algua mágoa toca,
Se de Amor fica nele ua pegada,
Que te vai, Galateia, nesta troca?
Dar-te-ei minha alma; lá ma tens roubada;
Não ta demandarei; dá-me por ela
Ua só volta de olhos descuidada.
Se muito te parece, e minha estrela
Não consentir ventura tão ditosa,
Dou-te as asas do Amor perdidas nela.
Que mais te posso dar, Ninfa fermosa,
Inda que o mar de oljôfar me cobrira
Toda esta praia leda e graciosa?
Amansam ondas, quebra o vento a ira;
Minha tormenta triste não sossega;
Arde o peito em vão, em vão suspira.
Ao romper de alva anda a névoa cega
Sobre os montes da Arrábida viçosos,
Enquanto a eles a luz do Sol não chega.
Eu vejo aparecer outros fermosos
Raios, que a graça e cor ao céu roubaram;
Ficam meus olhos cegos mais saudosos.
Quantas vezes as ondas se encresparam
Com meus suspiros! Quantas com meu pranto
Se pararam com mágoa e me escutaram!
Se, na força da dor, a voz levanto,
E ao som do remo, que água vai ferindo
Por alta Lua meu cuidado canto,
Os maviosos delfins me estão ouvindo;
A noite sossegada; o mar calado.
Só, Galateia, foges e vás rindo.
Estranhas, porventura, o mar cercado
Da fraca rede, a barca ao vento solta
E um pobre pescador aqui lançado?
Antes que dê no céu o Sol ua volta,
Se pode melhorar minha ventura,
Como acontece aos outros na água envolta.
Igual preço não é da fermosura
Areia de ouro que o rico Tejo espraia,
Mas um amor que para sempre dura.
Vejam teus olhos, bela Ninfa, a praia;
Verás teu nome na mimosa areia.
Nunca sobre ele o mar com fúria saia!
Vento ou ar até agora a não salteia.
Três dias há que escrito aqui o deixou
Amor, guardando-o a toda a força alheia.
Ele com suas mãos mesmo ajudou
A escolher estas conchas, afirmando
Que o Sol para ti só as matizou.
Um ramo te colhi de coral brando;
Antes que o ar lhe desse, parecia
O que eu de tua boca estou cuidando.
Ditoso se o soubesse inda algum dia!
(Luís Vaz de Camões)
continua...
Fontes:
Garganta da Serpente
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Garganta da Serpente
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