domingo, 9 de setembro de 2012

Olivaldo Junior (A Flor, a Vaidade e os Vagalumes)

À noite, os poetas mortos me visitam, e eu fico mais vivo.
Olivaldo Junior


Era uma vez uma flor que se achava a mais bela de todas as flores do mundo. Não era uma rosa, sequer flor-de-lis, era uma flor sem estirpe. Mas se achava mesmo a melhor, sem páreo nenhum nos solos da vida. A vida, para flor tão vaidosa, era uma brisa constante, sem chance de enraizamento. A flor e a vaidade não fazem par. O par das flores deve ser a humildade, com sua parte obediente, sempre a servir-nos.

Foi que um dia passou um homem e colheu aquela flor tão sem jeito. Desesperada, pois sabia que morreria poucas horas depois, tentou agarrar-se ao caule enquanto algumas formiguinhas se esforçavam por desprendê-la depressa, cravando os “dentinhos” na haste. Uma alegre borboleta, bem vermelha, acenava para a flor, coitada, distante das outras, no meio daquela estrada onde passavam muitos viajantes.

Socada no embornal de um caipira, a pobre e vaidosa flor, talvez uma flor-do-campo, não sei, pôs-se a verter a seiva mais triste de que era dona. O homem, um lavrador a mais nessa Terra, pensava no quanto a esposa o beijaria quando dele recebesse o presentinho que havia colhido à margem da estrada. O mundo é mesmo mágico. Aquele homem, com a flor no embornal de estopa, sobre o cavalo de sela mais nobre do sítio, sentiu que alguma coisa se mexia no saquinho em que pusera a flor. Não queria parar, mas foi forçado pela situação. Fazia o sol das seis e pouco da tarde.

O lavrador, num gesto abrupto, mexia no embornal e logo sentira um leve choque na ponta dos dedos. Assustado, como quem faz “arte”, deixou cair o embornal e, de dentro dele, uma porção de vagalumes ganhara o ar, voara longe, para o céu. As outras flores da estrada, sem nada entenderem, alvoroçaram-se todas, e uma delas desprendeu tanto aroma que ficou conhecida como dama da noite, de tão cheirosa que esteve. O pobre homem, ainda espantado, montou num átimo e saiu logo a galope.

Ainda se veem, nas noites da mata, no meio do mato, a réstia de flores vaidosas que se chamam vagalumes. Você sabia dessa? O gesto vaidoso de uma simples florzinha fez nascer a quimera de luzinhas que voam, vagalumes, luz-esperança.

Moji Guaçu, SP, trinta de agosto de 2012.
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