sábado, 3 de agosto de 2024

Therezinha Dieguez Brisolla (Trov’ Humor) 35

 

Renato Frata (O homem do saco)

Num dia dos meus cinco anos, estando sobre a cadeira olhando a rua, o tal "homem do saco" passou e acenou para mim. 

Era um velho arcado e de barba grande, maltrapilho, roupas surradas, sapatos desbeiçados, que levava às costas um saco vazio, para ser enchido com meninos desobedientes, no dizer de
minha mãe.

Com os pés sobre o assento, tremi me encolhendo, tomado de uma batedeira que me fez agarrar no espaldar. O pavor entrou nos meus olhos, o que me fez descer e, sem nada falar, me enfiar entre as pernas dela, enrolando-me na sua saia.

O homem do saco existia.

Ela não mentira.

Ele passara bem à nossa porta...

E acenara, sinal que poderia me enfiar no seu saco.

Percebendo meu estado, ela alisou-me o cocuruto, deu-me dois tapinhas e me mandou brincar. Havia trabalho a fazer, mas foi tão grande o medo que, para onde eu olhava, via-o a me espreitar, sorrindo com dentes amarelos em meio aos pelos sujos do longo bigode e barba.

Passaram-se dias sem que voltasse a subir na cadeira até que aquela sensação de medo se amainasse, quando alguém bateu palmas e ela foi atender.

Curioso, grudei nos seus calcanhares... e que decepção! O velho, do lado de fora, abria o portão.

Um uivado, quase mugido, escorreu-me da garganta eriçando-me a pele e cabelos em agonia.

Ele me viu, riu e acenou, depois, calmamente, sentou-se na soleira.

Pedia comida e água.

O medo era tanto que não senti o xixi escorrer, mas lembro de ter deixado um rastro molhado no assoalho e, se minha mãe quisesse cumprir as ameaças que fazia pela minha impertinência em querer brincar na rua, era a hora de me fazer virar miolo de saco de estopa.

Ele, preocupado com meu choro, pôs os pés na sala e, sem saber motivo, afagou, com seus dedos retorcidos, minha cabeça.

Não eram dedos, mas garras cortantes, instante que minha mãe, deixando suas tarefas, me socorreu tomando-me rapidamente no colo e ordenando que ele permanecesse sentado e aguardasse.

Na cozinha foi um upa me pôr no chão para poder encher de comida o prato a ele destinado, até que, com a reserva de forças que as mães sempre têm, um safanão me colocou trêmulo aos seus pés.

A proximidade ao fogão não era permitida, mas dessa vez ela, sabendo da minha angústia, consentiu que ficasse perto das panelas quentes. 

Tomou da moringa, de um prato bem feito e me olhou com olhos felinos que disseram que aquela era sua vingança à minha teimosia.

O medo afugentou-me por bom tempo da janela e das malcriações, fica a lição:

"Quando não se aprende com o amor, a dor aproveita e ensina."

Fonte> Renato Benvindo Frata. Fragmentos. SP: Scortecci, 2022. Enviado pelo autor

Vereda da Poesia = 74 =


Trova de Belo Horizonte/MG

ALYDIO C. SILVA 

Este alguém que no passado
fez-se Musa em minha lira,
vive em peito guardado
e as minhas trovas inspira.
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Poema de Bula/Guiné-Bissau

JULIÃO SOARES SOUSA

Cantos do Meu País

Canto as mãos que foram escravas
nas galés
corpos acorrentados a chicote
nas américas

Canto cantos tristes
do meu País
cansado de esperar
a chuva que tarde a chegar

Canto a Pátria moribunda
que abandonou a luta
calou seus gritos
mas não domou suas esperanças

Canto as horas amargas
de silêncio profundo
cantos que vêm da raiz
de outro mundo
estes grilhões que ainda detêm
a marcha do meu País
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Trova Potiguar 

ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/RN (1951 – 2013) Natal/RN

Cheia de brilho e de encantos,
loucamente apaixonada,
a lua faz chover prantos
nos olhos da madrugada.
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Soneto de Nova Friburgo/RJ

OTÁVIO VENTURELLI

Ressonância

Há uma impotência enorme no vazio
que me rodeia o coração magoado,
já nem mais ao silêncio eu desafio,
embarguei minha voz, fiquei calado.

Igual à correnteza que há no rio
meu pensamento passa acelerado,
não tenho mais como encontrar o fio
de um novelo de amor embaralhado.

Hoje meus dias vou passando-os triste,
sem saber com certeza se ainda existe
um pouco de nós dois dentro de nós,

mas quando as vozes ao redor se calam,
nos meus silêncios as saudades falam
com as vozes iguais à tua voz…
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Trova Premiada na Academia Brasileira de Trova/1991

CAROLINA RAMOS
Santos/SP

Queres vencer? - Pensa bem
e não dês passos a esmo,
ninguém pode ser alguém
sem conquistar a si mesmo.
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Poema de Vila Velha/ES

APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA

Intrusa

Quando falta amor
Em casa,
A solidão entra
De mansinho,
Por debaixo da porta.
Sem dizer a que veio.
Toma posse do nosso coração
E nos definha, pouco a pouco,
Nas garras frias do desamor.
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Trova Popular

Inda que meu pai me mate,
minha mãe me tire a vida,
minha palavra está dada,
minha alma está prometida.
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ

RITA MOUTINHO
Maria Rita Rodrigo Octavio Moutinho

Soneto do equinócio adiado

Hoje o silêncio corta o fio do equador
e incomunicáveis os polos orbitam
desgarrados da esfera terrestre. O calor
e a ardência tropical, mudos, se gelificam.

No equinócio, dia e noite — assim como o amor —
se equivalem e por isso se presentificam
o equilíbrio, a medida-anel do cobertor
e do corpo gelado quando se unificam.

Estamos na distância e no incomunicável
por motivos que nem os astros nos explicam.
Medo? Será o medo que faz dissociável

a junção dos amantes que se estigmatizam?
A nódoa do pecado no imo é implacável.
E, súbito, equinócio e harmonia se adiam.
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Trova do Rio de Janeiro/RJ

LUIZ POETA
Luiz Gilberto de Barros

A vida segue seu curso
e o curso decide a vida;
quem tem o mesmo discurso,
nunca tem a voz ouvida.
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Poema de Vitória/ES

BERNARDO TRANCOSO

O disfarce

Cobre a máscara
O jeito verdadeiro que tens.
Quando estás próxima a mim,
Veste-a e finge ser um falso alguém.
Teu cheiro mostra-me o teu disfarce.
É por modéstia?
Temes não me agradar, pois,
Por inteiro, sendo honesta.
Mas, mesmo que eu
Deteste-a ao ver quem és,
De fato,
Vou primeiro partir por tua mentira
Ante a moléstia.
Se existe algum problema,
Algum motivo prá enganação,
Permite-me ajudá-la agora,
Antes que eu pense
Estar errado ao te amar.
Já tem sido inofensivo - não mais -
Meu coração que, hoje, te fala
Em forma de um soneto
Disfarçado.
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Trova premiada em Santos/SP, 2014

JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR

Cada livro, nova história...
Cada folha, novo ardor...
e, no final, a vitória
se for enredo de amor!
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ

HERMES FONTES
Hermes Floro Bartolomeu Martins de Araújo Fontes
Buquim/SE, 1888 – 1930, Rio de Janeiro/RJ

A odisseia do verso

Vieram da fonte sensitiva e casta
do Coração: filtraram-se em requinte,
nos centros cerebrais: são versos... basta.
É estrofá-los em luz, por conseguinte.

É escrevê-los em fogo, em tom que os pinte,
voz que os declame... E a língua mal se arrasta!
E a pena extrai-lhes a expressão seguinte
que os fixa nos papéis da minha pasta...

Levamos o impressor, a publicá-los.
Lá se vão os meus versos... E eu sucumbo,
ao despedir-me da alma, entre ais e abalos...

E, ante a máquina, agora, o olhar descerro:
— vejo o meu Sonho transformado em chumbo!...
— vejo a minha Arte reduzida a ferro!...
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Trova de Bandeirantes/PR

LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DE CARLI

O detalhe de estar só
aguça o meu pensamento...
Vivo sem de mim ter dó;
- compor trova é doce alento!
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Spina de Capanema/PR

CLEUSA PIOVESAN

Razões além de mim

Escrevo, sinto, preciso
arejar minhas ideias...
Partilhar as emoções.

Não há dia para sonhar
mundos fora de mim. É 
ser, estar, ter, ver razões
pra existir, ir além, sorver,
amar, ter ar nos pulmões!
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Trova de Campinas/SP

ARTHUR THOMAZ

Veja os mistérios que existem
contidos em um olhar.
Às vezes eles persistem...
outros, somem num piscar.
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Soneto de Bragança Paulista/SP

LÓLA PRATA
Maria de Lourdes Prata Garcia

Soneto-comentário sobre "São Francisco e o rouxinol", de Martins Fontes

Um rouxinol cantava”... é o primeiro verso
do encantador soneto de Martins Fontes
em cujo clássico teor eu me alicerço
para a louvação de seus vastos horizontes.

Cativa a todos a singela narrativa
do elo musical da ave com São Francisco
que no assobio alegre, imita a patativa
como se numa vitrola, emperrasse o disco.

Mas o santo cansa-se... o pássaro segue...
e o praiano bardo se descongestiona,
pondo no papel até que o dom descarregue

todo o amor dedicado ao humilde frade...
depois, relendo o poema, se emociona
e vê que pra versos nasceu, eis a verdade!
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Trova Premiada em São Paulo/2013

ROBERTO TCHEPELENTYKY
São Paulo/SP

Na despedida, o teu lenço
deixou o meu com “revolta”!
Nem viu, num adeus intenso...
que o meu...acenava: Volta!!!
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Poema de Fortaleza/CE

VICÊNCIA JAGUARIBE

Correndo com a liberdade

Correndo na calçada
Como quem não quer nada
Lá vem o Zezé
Na ponta do pé.

Atrás do Zezé
Com cara de índio
Corre o Mané.
Pra onde estão indo?

Vendo correrem os dois
Corre também a Verinha
Que tem cara de arroz
Mas é muito boazinha.

Levantando do meio-fio
Pedro segue os vadios.
E o João, sem o pé de feijão,
Quase entra na contramão.

A Lúcia, a Ana e a Teresa,
Quando tornam da surpresa,
Entram no rolo sem saber
Por que estão a correr.

Os curiosos perguntam
O motivo ou a razão
De tamanha confusão
De tanta criança junta.

Será que aqueles meninos
Correm de boi desenfreado?
Fogem de dentes caninos
Por eles desafiados?

Invadiram o pomar
Do afobado seu Oscar?
Ou mexeram no jardim
Do coitado seu Joaquim?

Os meninos diligentes
Só desejam, simplesmente,
Desfrutar a liberdade
Que lhes permite a idade.
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Trova de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

Coceirinha furibunda, 
coça embaixo, coça em cima... 
Quando coça na cacunda, 
sinto cócegas... na rima!
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Escada de Trovas de São Paulo /SP

FILEMON MARTINS
(Filemon Francisco Martins)

Sertão

NO TOPO:
"No Sertão é tanta paz
Que eu chego a ouvir, da soleira,
O esforço que o vento faz
Tentando abrira porteira".
José Ouverney
Pindamonhangaba/SP

SUBINDO:
"Tentando abrir a porteira"
que prende meus velhos sonhos,
ouço a saudade matreira
falando em dias risonhos.

"O esforço que o vento faz"
farfalhando no telhado
dá-me a sensação de paz
que ficou !á no passado.

"Que eu chego a ouvir, da soleira,"
uma canção de ternura
que a brisa sopra, ligeira,
tangendo a doce ventura,

"No Sertão é tanta paz"
e a vida para, intrigante,
que o coração é capaz
de sorrir, mesmo distante.
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Trova Humorística de São Mateus do Sul/PR

GERSON CÉSAR SOUZA

Vendo as listras do pijama
que vestia Dorotéia,
seu genro, bêbado, exclama:
- A zebra engoliu a véia!!!
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Hino de Fênix/PR

I
Nos braços do Ivaí caudaloso
Que ergue forte e varonil
Ó Fênix meu torrão formoso
Terra rica e tão gentil

II
Vila Rica do Espírito Santo
Testemunha os autores da história
Esta plaga que eu amo tanto
E hei de ver eternamente em tom de glória

III
És Fênix, amada
Orgulho dos filhos teus
Nasceste predestinada
E abençoada por Deus

IV
Minha Fênix, pujante
Outra mais linda não há
És celeiro alvissonante
Do querido Paraná

V
Há de ter alguém no Norte
Qual majestoso pinheiro
Do povo ao Brasil forte
No labor é o primeiro

VI
Minha Fênix, pujante
Outra mais linda não há
És celeiro alvissonante
Do querido Paraná

VII
Aos heroicos pioneiros
Que ascendiam o sucesso
Nosso afeto verdadeiro
Pela glória e o progresso

VIII
Minha Fênix, pujante
Outra mais linda não há
És celeiro alvissonante
Do querido Paraná
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Trova de Ponta Grossa/PR

MARIA HELENA OLIVEIRA COSTA

Encanto?... Nenhum se iguala
ao que Deus faz suceder,
quando a semente se instala,
dando vida a um novo ser!
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Poema do Rio de Janeiro/RJ

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Itabira/MG, 1902 - 1987, Rio de Janeiro/RJ

Poema de sete faces

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é serio, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
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Trova de Cruz Alta/RS

IVAN SOARES SCHETTERT

Todos os anjos que cantam
da natureza, a beleza,
são trovadores que plantam
sementes de realeza!
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Fábula em Versos da França

JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

O bêbado e sua mulher

Nem medo nem vergonha contrariam
A natural tendência.
O conto que se segue
Tem, neste caso, a marca da evidência.

Um devoto de Baco arruinava-se
Por causa da goela;
De força andava baldo, e de pecúnia...
Nem sombras na escarcela.

Um dia em que perdera a tramontana
Bebendo a bom beber,
Numa espécie de tumba
Fê-lo a esposa meter.

Quando ele, enfim, saiu da raposeira,
Viu todos os sinais que indicam morte,
A lâmpada, a mortalha... «Ó Deus, que é isto?...
Fiz viúva a consorte?»

Esta, em trajos de parca disfarçada,
Do marido se abeira:
«Quem és?» — «Eu sou da lúgubre morada
A eterna despenseira.

Dou de comer à farta aos que repouso
No reino escuro tem».
E o marido a bradar muito aguçoso:
«E que beber, não vem?»
(tradução: E. A. Vidal)

Recordando Velhas Canções (Odeon)


Compositores: Ernesto Nazareth e Vinicius de Moraes

Ai quem me dera
O meu chorinho há tanto tempo abandonado
E a melancolia que eu sentia
quando ouvia
ele fazer tanto chorado

Ai nem me lembro tanto, tanto
Todo encanto de um passado
Que era lindo, era triste, era bom
Igualzinho ao chorinho chamado Odeon

Terçando flauta e cavaquinho
Meu chorinho se desata
Tirando a canção do violão nesse bordão
Que me dá vida, que me mata
É só carinho, meu chorinho
Quando pega e chega assim, devagarzinho...
Meia luz, meia voz, meio tom
Meu chorinho chamado Odeon

Ah, vem depressa
Chorinho querido, vem
Mostra da graça que o choro sentido tem
Quanto tempo passou, quanta coisa mudou
Já ninguém chora mais por ninguém

Ah, quem diria que um dia, chorinho meu
Você viria com a graça que o amor lhe deu
Pra dizer não faz mal
Tanto faz, tanto fez
Eu voltei pra chorar por vocês

Chora bastante, meu chorinho
Teu chorinho de saudade
Diz ao bandolim pra não tocar tão lindo assim
Porque parece até maldade
Ai meu chorinho, eu só queria
Transformar em realidade a poesia
Ai que lindo, ai que triste, ai que bom
De um chorinho chamado Odeon

Chorinho antigo, chorinho amigo
Eu até hoje ainda persigo essa ilusão
Essa saudade que vai comigo
Que até parece aquela prece de sai só do coração
Se eu pudesse recordar e ser criança
Se eu pudesse renovar minha esperança
Se eu pudesse relembrar como se dança
Esse chorinho que hoje em dia ninguém sabe mais

Chora bastante, meu chorinho
Teu chorinho de saudade
Diz ao bandolim pra não tocar tão lindo assim
Porque parece até maldade
Ai meu chorinho, eu só queria
Transformar em realidade a poesia
Ai que lindo, ai que triste, ai que bom
De um chorinho chamado Odeon
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A Saudade e a Melancolia em 'Odeon' de Ernesto Nazareth
A música 'Odeon' de Ernesto Nazareth é uma ode ao chorinho, um gênero musical brasileiro que combina elementos de música popular e erudita. A letra expressa uma profunda saudade e melancolia, sentimentos que são intrínsecos ao chorinho. A canção começa com um desejo nostálgico de reviver o chorinho abandonado e a melancolia que ele trazia. A menção ao passado, descrito como 'lindo, triste e bom', reforça a dualidade de emoções que o chorinho evoca.

A letra também destaca a importância dos instrumentos musicais típicos do chorinho, como a flauta, o cavaquinho e o violão. Esses instrumentos são personificados, quase como se tivessem vida própria, e são responsáveis por desatar as emoções do narrador. A música é descrita como um carinho, algo que dá vida e ao mesmo tempo mata, mostrando a intensidade emocional que o chorinho pode provocar. A meia luz, meia voz e meio tom criam uma atmosfera íntima e introspectiva, onde o chorinho chamado 'Odeon' se manifesta.

A canção também aborda a passagem do tempo e as mudanças que ele traz. O narrador lamenta que 'já ninguém chora mais por ninguém', sugerindo uma perda de sensibilidade e conexão emocional na sociedade moderna. No entanto, o chorinho retorna com a graça que o amor lhe deu, para dizer que não faz mal, que tanto faz. Essa resignação é um consolo, uma aceitação da realidade. A saudade e a ilusão de reviver o passado são temas recorrentes, e o desejo de transformar a poesia em realidade é uma expressão do anseio por um tempo que não volta mais. A música termina com um apelo ao chorinho para chorar bastante, pois sua beleza é quase uma maldade, e um desejo de transformar a poesia em realidade, encapsulando a beleza, a tristeza e a bondade do chorinho chamado 'Odeon'.

Ernesto Nazareth ouviu os sons que vinham da rua, tocados por nossos músicos populares, e os levou para o piano, dando-lhes roupagem requintada. Sua obra se situa, assim, na fronteira do popular com o erudito, transitando à vontade pelas duas áreas. Em nada destoa se interpretada por um concertista, como Arthur Moreira Lima, ou um chorão como Jacó do Bandolim.

O espírito do choro estará sempre presente, estilizado nas teclas do primeiro ou voltando às origens nas cordas do segundo. E é esse espírito, essa síntese da própria música de choro, que marca a série de seus quase cem tangos-brasileiros, à qual pertence "Odeon". Obra-prima no gênero, este tango é apenas mais uma das inúmeras peças de Nazareth em que "melodia, harmonia e ritmo se entrosam de maneira quase espontânea, com refinamento de expressão", como opina o pianista-musicólogo Aloysio de Alencar Pinto.

"Odeon" é dedicado à empresa Zambelli & Cia., dona do cinema homenageado no título, onde o autor tocou na sala de espera. Localizado na Avenida Rio Branco 137, possuía duas salas de projeção e considerado um dos "mais chiques cinematógrafos do Rio de Janeiro".
Fontes:

Estante de Livros (“Romance dos Três Reinos”, de Luo Guanzhong)

Livro escrito por Luo Guanzhong no século XIV, é um romance histórico chinês baseado em eventos dos anos turbulentos próximos do fim da Dinastia Han e da era dos Três Reinos da China, começando em 169 e terminando com a reunificação do reino em 280. A história (em parte, histórica; em parte, lendária; em parte, mítica) romantiza e dramatiza a vida dos senhores feudais (e seus apoiadores) que tentaram substituir a declinante dinastia Han ou restaurá-la. Embora a novela possua centenas de personagens, o seu foco são os três blocos de poder que emergiram com o fim da dinastia Han, e que constituiriam os estados de Cao Wei, Shu Han e Wu Oriental. A novela descreve as intrigas e batalhas entre os três estados em busca da supremacia ao longo de quase cem anos.

É aclamado como um dos Quatro Grandes Romances Clássicos da literatura chinesa, com um total de 800 000 palavras, quase mil personagens, a maioria históricos, em 120 capítulos. Está entre as mais aclamadas obras de literatura da China, e a sua influência literária na China foi comparada aos trabalhos de Shakespeare em relação à literatura inglesa. É a mais lida novela histórica do período final da China imperial e da China contemporânea.

Mitos a respeito da era dos Três Reinos já existiam como tradição oral antes das compilações escritas. Com seu foco na história dos hanes, as histórias cresceram em popularidade durante o reinado dos imperadores mongóis da dinastia Yuan. Durante a posterior dinastia Ming, o interesse em peças de teatro e novelas resultou em ainda maior difusão das histórias entre o povo.

O primeiro trabalho escrito que combinou essas histórias foi Sanguozhi (literalmente: "História dos registros dos Três Reinos"), publicado em algum ponto entre 1321 e 1323. Esta versão combinou temas de lenda, magia e moralidade que atraíam as pessoas comuns, que não tinham conhecimento de chinês literário. Elementos de reencarnação e carma faziam parte dessa versão da história.

O Romance dos Três Reinos é, tradicionalmente, atribuído a Luo Guanzhong, um dramaturgo que viveu em um período entre 1315 e 1400 (final da dinastia Yuan e início da dinastia Ming). Ele era conhecido por compilar peças de teatro comuns na dinastia Yuan. Foi impresso pela primeira vez em 1522 como Sanguozhi Tongsu Yanyi, numa edição que teve um prefácio talvez falso de 1494. O texto pode ter circulado antes de ambas as datas através de manuscritos. De qualquer forma, tenha o livro sido escrito numa data anterior ou posterior, tenha sido Luo Guanzhong o autor ou não, o autor fez uso de registros históricos disponíveis, incluindo os "Registros dos Três Reinos" compilados por Chen Shou, que cobrem eventos desde a Revolta dos Turbantes Amarelos em 184 até a unificação dos Três Reinos sob a dinastia Jin em 280. A novela também inclui materiais poéticos da época da dinastia Tang, óperas da época da dinastia Yuan e interpretações pessoais de elementos como virtude e legitimidade. O autor combinou seu conhecimento histórico com seu dom de contar histórias e conseguiu criar uma rica variedade de personagens.

Muitas versões do Sanguozhi expandido existem hoje. A versão de Luo Guanzhong em 24 volumes, é conservada hoje na Biblioteca de Xangai na China, na Biblioteca Central de Tenri no Japão, e em várias outras bibliotecas importantes. Várias recensões de dez, doze e vinte volumes da obra de Luo Guanzhou, confeccionadas entre 1522 e 1690, também são conservadas em várias bibliotecas pelo mundo. Entretanto, o texto padrão conhecido pela maioria das pessoas é uma recensão de Mao Lun e seu filho Mao Zonggang.

Na década de 1660, durante o reinado do imperador Kangxi, da dinastia Qing, Mao Lun e Mao Zonggang editaram significativamente o texto, encaixando-o em 120 capítulos, e abreviando o título para Sanguozhi Yanyi. O texto foi reduzido de 900 000 para 750 000 caracteres; foi feita significativa edição para melhorar o fluxo da narrativa; o uso de poemas de terceiros foi reduzido, e foi alterado seu formato tradicional de versos para um formato menor; e a maioria das passagens que louvavam os conselheiros e generais de Cao Cao foi removida.

As famosas linhas de abertura da novela, "o império, há muito tempo dividido, precisa ser reunificado; há muito tempo unido, precisa ser dividido. Sempre foi assim" que há muito tempo se pensavam fazer parte da introdução e da filosofia cíclica de Luo, foram, na verdade, adicionadas pelos Maos na sua substancialmente revisada edição de 1679. Nenhuma das edições anteriores continha essa frase. Mao também adicionou o poema "Os imortais do rio", de Yang Shen, como o famoso poema introdutório (que começa com "As águas jorrantes do Rio Yangtzé se derramam e desaparecem no leste") da novela. As edições iniciais também gastam menos tempo com o processo de divisão, o qual elas acham doloroso, e gastam muito mais tempo com o processo de reunificação e a luta dos heróis que se sacrificam por ele.

SINOPSE
Uma das maiores conquistas de "Romance dos três reinos" é a extrema complexidade de suas histórias e personagens. A novela contém numerosas subtramas.

Nos anos finais da dinastia Han do Leste, eunucos traiçoeiros e oficiais malfeitores enganaram o imperador e perseguiram os oficiais honestos. O governo, gradualmente, se tornou extremamente corrupto em todos os seus níveis, levando à ampla deterioração do império Han. Durante o reinado do imperador Lingdi, a Revolta dos Turbantes Amarelos eclodiu, sob a liderança de Zhang Jiao. A rebelião foi suprimida incompletamente pelas forças imperiais lideradas pelo general He Jin. Com a morte do imperador Lingdi, He Jin instalou o jovem Shao no trono e assumiu o controle do governo central. Os Dez Eunucos, um grupo de influentes eunucos da corte, temendo que He Jin estivesse se tornando muito poderoso, o atraíram para o palácio e o assassinaram. Em vingança, os apoiadores de He Jin invadiram o palácio e mataram indiscriminadamente qualquer pessoa que se parecesse com um eunuco. No caos que se seguiu, Shao e seu mais jovem meio-irmão Xiandi desapareceram do palácio.

O imperador e o príncipe desaparecidos foram encontrados por soldados do chefe militar Dong Zhuo, que adquiriu o controle sobre a capital imperial, Luoyang, sob o pretexto de proteger o imperador. Em seguida, Dong Zhuo depôs o imperador Shao e o substituiu pelo príncipe de Chenliu (imperador Xian), que era apenas um governante títere sob seu controle. Dong Zhuo monopolizou o poder estatal, perseguiu seus inimigos políticos e oprimiu o povo a troco de ganho pessoal. Houve dois atentados contra sua vida: o primeiro por um oficial militar, Wu Fu, que falhou e sofreu uma morte horrível; o segundo por Cao Cao, que falhou e teve de fugir.

Cao Cao fugiu de Luoyang, retornou a sua cidade natal e enviou vários editos falsos convocando oficiais regionais e chefes militares a marchar contra Dong Zhuo. Sob a liderança de Yuan Shao, dezoito chefes militares formaram um exército de coalizão e lançaram uma campanha punitiva contra Dong Zhuo. Este se sentiu ameaçado após perder as batalhas do Passo de Sishui e do Passo de Hulao. Dong Zhuo evacuou Luoyang e transferiu a capital para Changan. Ele forçou os residentes de Luoyang a acompanhá-lo e ateou fogo à cidade. A coalizão acabou por se fragmentar devido a falta de liderança e interesses conflitantes entre seus membros. Enquanto isso, em Changan, Dong Zhuo foi traído e assassinado por seu filho adotivo Lü Bu por causa de uma disputa acerca da serva Diaochan, o que era parte de uma intriga orquestrada pelo ministro Wang Yun.

Enquanto isso, o império Han já se desintegrava em uma guerra civil, com os chefes militares disputando território e poder. Sun Jian encontrou o selo imperial nas ruínas de Luoyang e o guardou secretamente consigo. Yuan Shao e Gongsun Zan estavam em guerra no norte enquanto Sun Jian e Liu Biao combatiam no sul. Outros como Cao Cao e Liu Bei, que não tinham inicialmente títulos ou terras, foram gradualmente formando seus próprios exércitos e assumindo o controle de territórios.

Durante esses tempos de revolta, Cao Cao salvou o imperador Xian das forças remanescentes de Dong Zhuo, estabeleceu a nova capital imperial em Xu e se tornou o novo líder do governo central. Ele derrotou chefes militares rivais como Lü Bu, Yuan Shu e Zhang Xiu em uma série de guerras na China central antes de conseguir uma vitória decisiva contra Yuan Shao na batalha de Guandu. Através dessas conquistas, Cao Cao uniu o centro e o norte da China sob seu comando. Os territórios que ele conquistou serviriam de base para a criação do estado de Cao Wei no futuro.

Enquanto isso, uma emboscada tirou a vida de Sun Jian na batalha de Xiangyang contra Liu Biao. Seu filho mais velho, Sun Ce, entregou o selo imperial como um tributo ao novo pretendente, Yuan Shu, em troca de reforços. Sun Ce assegurou, a si próprio, um estado nas ricas terras fluviais de Jiangdong, na região de Wu, onde o estado de Wu Oriental viria a ser fundado posteriormente. Tragicamente, Sun Ce também morreu no auge de sua carreira, devido ao pavor gerado por seu encontro com o fantasma de Yu Ji, um respeitado mago que ele havia acusado falsamente de heresia e matado por ciúme. Entretanto, Sun Quan, seu irmão mais jovem e sucessor, provou ser um governante capaz e carismático. Com a assistência de Zhou Yu, Zhang Zhao e outros, Sun Quan inspirou talentos ocultos como Lu Su a servi-lo, acumulou poder militar e manteve a estabilidade em Jiangdong.

Liu Bei e seus irmãos de juramento Guan Yu e Zhang Fei juraram lealdade ao império Han no Juramento do Jardim de Pêssegos, e prometeram fazer o melhor pelo povo. Entretanto, suas ambições não foram cumpridas pois eles não receberam a devida recompensa por ter ajudado a suprimir a Rebelião dos Turbantes Amarelos e por ter participado da campanha contra Dong Zhuo. Depois que Liu Bei sucedeu a Tao Qian como governador da província de Xu, ele ofereceu abrigo a Lü Bu, que acabara de ser derrotado por Cao Cao. Entretanto, Lü Bu traiu seu anfitrião, assumiu o controle da província e atacou Liu Bei. Liu Bei juntou suas forças com as de Cao Cao e derrotou Lü Bu na batalha de Xiapi. Liu Bei, então, seguiu Cao Cao de volta à capital imperial Xu, onde o imperador Xian o honrou como seu "Tio Imperial". Quando Cao Cao deu sinais de que queria usurpar o trono, o imperador Xian escreveu um decreto secreto em sangue a seu sogro Dong Cheng e o ordenou se livrar de Cao. Secretamente, Dong Cheng contactou Liu Bei e outros e eles planejaram matar Cao Cao. No entanto, o plano foi descoberto e Cao Cao mandou prender Dong Cheng e os outros, bem como suas famílias, e os executou.

Liu Bei já havia deixado a capital imperial quando o plano foi descoberto. Ele retirou o controle da província de Xu das mãos de Che Zhou, o novo governador que havia sido indicado por Cao Cao. Em retaliação, Cao Cao atacou a província de Xu e derrotou Liu Bei, forçando-o a se abrigar sob a proteção de Yuan Shao por um certo tempo. Eventualmente, Liu Bei deixou Yuan Shao e estabeleceu uma nova base no condado de Runan, onde ele foi derrotado por Cao Cao novamente. Ele recuou para o sul, para a província de Jing, onde ficou sob a proteção do governador Liu Biao. Liu Biao deu, a Liu Bei, a responsabilidade de administrar o condado de Xinye. Nesse condado, Liu Bei visitou Zhuge Liang três vezes, e o recrutou como conselheiro. Também preparou seus homens para o combate contra as forças de Cao Cao.

Em seguida à sua unificação do centro e do norte da China, Cao Cao, tendo sido apontado grão-chanceler pelo imperador Xian, liderou suas forças numa campanha sulista para eliminar Liu Bei e Sun Quan. Embora Liu Bei conseguisse repelir dois ataques de Cao Cao em Xinye, ele foi eventualmente obrigado a fugir devido ao poder avassalador do inimigo. Ele liderou seus seguidores e os civis num êxodo ainda mais para o sul, até alcançar a prefeitura de Jiangxia.

Liu Bei enviou Zhuge Liang para se encontrar com Sun Quan e discutir a formação de uma aliança contra Cao Cao. Sun Quan concordou com a aliança e colocou Zhou Yu no comando de seu exército em preparação para a guerra contra Cao Cao. Zhuge Liang permaneceu temporariamente no território de Wu para ajudar Zhou Yu. Este, no entanto, acho que Zhuge poderia se tornar uma ameaça a Sun Quan no futuro e tentou matá-lo em algumas ocasiões, mas sempre acabou falhando e foi forçado a cooperar com ele. As forças de Sun e Liu conseguiram uma vitória decisiva sobre Cao Cao na Batalha dos Penhascos Vermelhos.

Após a vitória, Sun Quan e Liu Bei começaram a competir pelo controle do sul da província de Jing. Liu foi vitorioso e assumiu o controle dos territórios do general de Cao Cao, Cao Ren. Sun Quan, descontente por não ganhar nada, enviou mensageiros a Liu Bei pedindo que "devolvesse" os territórios para ele, mas Liu Bei dispensou os mensageiros, cada vez com uma desculpa diferente. Sun Quan, no entanto, não estava disposto a ceder, e decidiu seguir o plano de Zhou Yu de enganar Liu Bei, fazendo com que este viesse ao território de Sun Quan e desposasse a irmã deste, Sun Shangxiang. Ele, então, tornaria, Liu Bei, refém, e exigiria, em troca da libertação deste, a posse da província de Jing. Entretanto, o plano falhou e o casal recém-formado voltou são e salvo para a província de Jing. Mais tarde, Zhou Yu morreu de frustração depois que Zhuge Liang repetidamente frustrou seus planos de conquista da província de Jing.

As relações entre Liu Bei e Sun Quan se deterioraram após a morte de Zhou Yu, mas não ao ponto de ambos guerrearem entre si. Seguindo o plano de Zhuge Liang, Liu Bei liderou suas forças na diração oeste, rumo à província de Yi, e assumiu o controle das terras do governador Liu Zhang. Nessa altura, Liu Bei tinha o controle de vastas extensões de terra, desde a província de Yi até o sul da província de Jing. Posteriormente, esses territórios serviriam de base para a fundação do estado de Shu Han. Liu Bei se declarou rei de Hanzhong depois de derrotar Cao Cao na campanha de Hanzhong e conquistar a prefeitura de Hanzhong.

Ao mesmo tempo, o imperador Xian concedeu, a Cao Cao, o título de rei vassalo (rei de Wei), ao passo que Sun Quan era conhecido como duque de Wu. No leste da China, as forças de Cao Cao e Sun Quan se enfrentaram em várias batalhas ao longo do rio Yangtzé, incluindo as batalhas de Hefei e Ruxu, mas nenhum lado conseguiu alcançar uma vantagem significativa sobre o adversário.

Enquanto isso, Sun Quan planejou tomar a província de Jing depois de se cansar das repetidas recusas de Liu Bei em entregar a província. Secretamente, fez as pazes e se aliou a Cao Cao contra Liu Bei. Enquanto Guan Yu, que protegia os territórios de Liu Bei na província de Jing, estava distante atacando Cao Ren na batalha de Fancheng, Sun Quan enviou seu general Lü Meng numa incursão secreta à província de Jing. Guan Yu foi incapaz de capturar Fancheng, então ele recuou. Mas foi, então, pego de surpresa pela invasão de Lü Meng, e constatou que havia perdido o controle da província de Jing. Com a moral do seu exército em queda e as deserções aumentando, Guan Yu e seus homens remanescentes recuaram para Maicheng, onde eles foram encurralados pelas forças de Sun Quan. Em desespero, Guan Yu tentou romper o cerco mas falhou e foi capturado em uma emboscada. Sun Quan o executou depois que Guan Yu se recusou a se render.

Logo após a morte de Guan Yu, Cao Cao morreu vítima de um tumor cerebral em Luoyang. Seu filho e sucessor, Cao Pi, forçou o imperador Xian a abdicar do trono em seu favor, e estabeleceu o estado de Cao Wei para substituir a dinastia Han. Após aproximadamente um ano, Liu Bei se declarou imperador e fundou o estado de Shu Han como uma continuação da dinastia Han. Enquanto Liu Bei planejava vingar Guan Yu, Zhang Fei foi assassinado por seus subordinados enquanto dormia.

Enquanto Liu Bei liderava um grande exército para vingar Guan Yu e retomar a província de Jing, Sun Quan tentava apaziguá-lo oferecendo devolver os territórios sulistas de Jing. As condições de Liu Bei obrigavam-no a aceitar a oferta, mas ele insistiu em vingar seu irmão juramentado. Após algumas vitórias iniciais contra as forças de Sun Quan, uma série de erros estratégicos resultou na derrota estrondosa de Liu Bei na Batalha de Xiaoting/Yiling para as forças lideradas pelo general de Sun Quan, Lu Xun. Inicialmente, Lu Xun perseguiu Liu Bei na retirada deste após sua derrota, mas desistiu da perseguição após ficar preso e ter grande dificuldade para sair do Labirinto de Pedra projetado por Zhuge Liang.

Liu Bei morreu em Baidicheng de doença alguns meses depois. No seu leito de morte, Liu Bei concedeu, a Zhuge Liang, permissão para assumir o trono se seu filho e sucessor, Liu Shan, mostrasse ser um governante incapaz. Zhuge Liang recusou firmemente e jurou permanecer fiel à confiança que Liu Bei tinha depositado nele.

Depois da morte de Liu Bei, Cao Pi induziu muitas forças, incluindo Sun Quan, um general vira-casaca de Shu chamado Meng Da, as tribos Nanman e Qiang, a atacar Shu, em coordenação com um exército de Wei. Entretanto, Zhuge Liang conseguiu fazer os cinco exércitos recuarem sem derramamento de sangue. Ele também enviou Deng Zhi para fazer as pazes com Sun Quan e restaurar a aliança entre Shu e Wu. Então, Zhuge Liang liderou, pessoalmente, uma campanha sulista contra os Nanman, os derrotou sete vezes, e conquistou o apoio do rei Nanman, Meng Huo.

Depois de pacificar o sul, Zhuge Liang liderou o exército de Shu em cinco expedições militares para atacar Wei como parte de sua missão de restaurar a dinastia Han. Entretanto, seus dias estavam contados, pois ele sofria de uma doença crônica e sua condição havia piorado devido ao estresse. Ele morreria da doença na batalha das Planícies de Wuzhang enquanto liderava uma equilibrada batalha contra o general de Wei Sima Yi.

Os longos anos de batalha entre Shu e Wei viram muitas mudanças na família Cao governante de Wei. A influência da família diminuiu após a morte de Cao Rui e o poder acabou indo parar nas mãos do regente Sima Yi e subsequentemente nas mãos de seus filhos Sima Shi e Sima Zhao.

Em Shu, Jiang Wei herdou o patrimônio de Zhuge Liang e voltou a liderar nove campanhas contra Wei por três décadas, mas acabou não conseguindo grande êxito. O imperador de Shu Liu Shan também revelou ser um governante incompetente, que confiava em oficiais corruptos. Gradualmente, Shu declinou sob o reinado de Liu Shan e foi eventualmente conquistado pelas forças de Wei. Jiang Wei tentou restaurar Shu com a ajuda de Zhong Hui, um general de Wei insatisfeito com Sima Zhao, mas seu plano falhou e ambos foram mortos pelos soldados de Wei. Logo após a queda de Shu, Sima Zhao morreu e seu filho, Sima Yan, forçou o último imperador de Wei, Cao Huan, a abdicar em seu favor. Sima Yan, então, estabeleceu a dinastia Jin para substituir o estado de Cao Wei.

Em Wu, havia conflito interno entre os nobres desde a morte de Sun Quan. Os regentes Zhung Ke e Sun Chen tentaram, consecutivamente, usurpar o trono mas foram eventualmente afastados e eliminados em golpes. Embora a estabilidade tenha sido temporariamente restaurada em Wu, o último imperador Wu, Modi, tornou-se um tirano. Wu, o último dos Três Reinos, foi, eventualmente, conquistado pela dinastia Jin. A queda de Wu marcou o fim da quase centenária era de guerra civil conhecida historicamente como período dos Três Reinos.

Algumas cenas não históricas da novela se tornaram bem conhecidas e se tornaram, subsequentemente, parte da cultura da China.

A novela registrou histórias de um monge budista chamado Pujing, que era amigo de Guan Yu. Pujing fez sua primeira aparição durante a árdua jornada de Guan ao cruzar cinco passos e vencer seis generais. Na ocasião, ele alertou Guan sobre um complô para assassiná-lo. Como a novela foi escrita na dinastia Ming, mais de mil anos após os fatos, ela mostra que o budismo já havia se tornado, na época em que a novela foi escrita, um componente importante da corrente dominante da cultura chinesa, ainda que a novela não seja muito precisa do ponto de vista histórico. Luo Guanzhong preservou essas descrições para apoiar seu retrato de Guan como um homem fiel e virtuoso. Desde então, Guan tem sido chamado de "senhor Guan" (Guan Gong).

Adaptações

A história foi recontada em inúmeros formatos, como séries de televisão, mangá e jogos eletrônicos.

Fonte:
Wikipedia. acesso em 03 de agosto de 2024.