WALNEIDE FAGUNDES DE S. GUEDES
A tua ausência é o refrão
de uma tristeza sem fim,
onde o tempo ao dizer não,
permite à dor dizer sim.
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Poema de Portugal
ANTÓNIO BOTTO
Freguesia de Concavada/Concelho de Abrantes (1897 – 1959) Rio de Janeiro/RJ
Anda vem...
Anda vem..., porque te negas,
Carne morena, toda perfume?
Porque te calas,
Porque esmoreces,
Boca vermelha --- rosa de lume?
Se a luz do dia
Te cobre de pejo,
Esperemos a noite presos num beijo.
Dá-me o infinito gozo
De contigo adormecer
Devagarinho, sentindo
O aroma e o calor
Da tua carne, meu amor!
E ouve, mancebo alado:
Entrega-te, sê contente!
--- Nem todo o prazer
Tem vileza ou tem pecado!
Anda, vem!... Dá-me o teu corpo
Em troca dos meus desejos...
Tenho saudades da vida!
Tenho sede dos teus beijos!
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Trova Paulista
GUILHERME DE ALMEIDA
(Guilherme de Andrade de Almeida)
Campinas/SP (1890 – 1969) São Paulo/SP
Tudo muda, tudo passa,
neste mundo de ilusão:
Vai para o céu a fumaça,
fica na terra o carvão.
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Sonetilho Pentassilábico do Rio de Janeiro/RJ
JORGE DAS NEVES
Sonetilho escrevo,
componho com afinco,
e se errar não devo
no erro ponho trinco.
Componho com enlevo
em versos de cinco
e jamais me atrevo
com telha de zinco.
Meu telhado é forte,
tenho muita sorte,
nessa construção.
Vate tarimbado,
cuido do telhado
e da fundação.
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Trova Premiada em Nova Friburgo/RJ, 2008
ÉLBEA PRISCILA S. DE SOUZA
Piquete/SP, 1942 – 2023, Caçapava/SP
A escolha do par perfeito,
farei nesta… em qualquer vida,
ao resgatar de outro peito,
minha metade perdida!
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Poema de Vila Velha/ES
APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Ponto pacífico
Os gritos
ferem os ouvidos
Mas o silêncio,
ao contrário,
Abranda o coração
estraçalhado.
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Trova Popular
Ninguém deve, neste mundo,
de alheias desgraças rir.
Quando o sol troveja, o raio
não faz ponto onde cair...
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Soneto de Sorocaba/SP
DOROTHY JANSSON MORETTI
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP
Sobre as nuvens
Na lida ingrata e rude do vaquejo,
no carrascal inóspito e ardente,
manda uma prece o pobre sertanejo
a um Deus que há muito lhe parece ausente.
Nos seus olhos vermelhos, o desejo
de que uma chuva, mesmo impersistente,
venha molhar, com dúlcido bafejo,
seu chão gretado de um sol inclemente.
Ao dedilhar simplório do violeiro,
chora a toada monótona o vaqueiro,
na noite sem espera e sem promessa.
E quando sobre as nuvens paira a prece,
quando a esperança já quase fenece…
um raio, o espaço, rútilo, atravessa.
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Trova do Rio de Janeiro/RJ
LUIZ POETA
Luiz Gilberto de Barros
Na lousa de um tempo ausente:
silêncio!... as letras a giz
pairam no olhar de um docente…
discente... rindo... feliz.
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Poema de Goiás
CORA CORALINA
(Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas)
Cidade de Goiás/GO (1889 – 1985) Goiânia/GO+
Assim eu vejo a vida
A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.
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Trova Humorística de São Paulo/SP
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
Na escada, a aposta suicida
dos genros, no arranha-céu:
- Leva, quem perde a corrida,
a sogra... como troféu!
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Soneto de São Fidélis/RJ
ANTONIO MANOEL ABREU SARDERNBERG
Aurora Desbotada
Desperta a aurora fria e desbotada,
Em mais um dia que precede o fim,
E essa minha alma frágil e tão cansada,
Já não suporta a dor que dói em mim.
A noite avança, rompe a madrugada,
Eu já não sinto o aroma do jasmim
Que andava no meu quarto e na sacada
E perfumava todo o meu jardim.
Dia morto... noite morta... tudo é nada...
Viver só por viver não me consola
Se a aurora só é bela colorida.
Sinto que irei sem ti nessa jornada,
E a suportar a angústia que me assola,
Prefiro não viver - isso não é vida!
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Trova de Bandeirantes/PR
LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DE CARLI
Os tropeços nas subidas,
entraves da caminhada,
fortalecem muitas vidas
para a reta de chegada.
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Spina de São Paulo/SP
CARLA BUENO OLIVEIRA
Encontrei você
Imenso em mim
todo esse amor
sempre irei enaltecer.
A porção minha que faltava
outra metade de mim encontrei
amor verdadeiro a cada amanhecer.
Felicidade estar sempre com você
privilégio somente a você pertencer.
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Trova de Campinas/SP
ARTHUR THOMAZ
Ah! Meu amor, quem me dera
voltar ao nosso cantinho.
Tão pequeno que ele era...
cabia tanto carinho!
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Soneto de Campo Grande/MS
RUBÊNIO MARCELO
A cruz de um adeus
Já é madrugada. Eu estou pela rua…
Na trilha dourada dos olhos da lua.
No meu desvario, na minha tristeza,
Ainda aprecio os dons da Natureza.
E assim, sem destino, tal qual vagalumes,
Aos entes sagrados faço queixumes.
Ao longe, o clarão dos astros em prumo…
E o meu coração errante, sem rumo.
A brisa vadia soprando com jeito…
E uma agonia tomando meu peito.
Estrelas cadentes brincando no céu…
E eu, decadente, pervagando ao léu.
Cometas pulsando pertinho de Deus…
E eu carregando a tal cruz de um adeus!
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Trova Premiada em Caicó/RN, 2014
DÁGUIMA VERÔNICA
(Santa Juliana/MG)
No emaranhado das linhas,
pelo avesso desta lida,
descobri, nas entrelinhas,
Deus bordando o chão da vida.
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Poema de Curitiba/PR
PAULO LEMINSKI
(1944 – 1989)
Poetas Velhos
Bom dia, poetas velhos.
Me deixem na boca
o gosto dos versos
mais fortes que não farei.
Dia vai vir que os saiba
tão bem que vos cite
como quem tê-los
um tanto feito também,
acredite.
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Trova de Maringá/PR
A. A. DE ASSIS
Amai-vos, e as derradeiras
muralhas hão de cair.
– Havendo amor, as barreiras
não têm razão de existir!
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Pantum de São José dos Campos/SP
MIFORI
(Maria Inez Fontes Rico)
Navegando contra o vento
Navegando contra o vento
sem levar mercadoria,
o seu barco sonolento
bordejava em agonia.
Sem levar mercadoria
num mar bravio e revolto
bordejava em agonia
um dos barcos, leve e solto.
Num mar bravio e revolto
num balanço tempestuoso
um dos barcos, leve e solto,
seguiu trajeto tortuoso.
Num balanço tempestuoso
naquele dia cinzento
seguiu trajeto tortuoso
Navegando contra o vento.
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Trova de Santos/SP
CAROLINA RAMOS
Embora sozinha eu siga
e sigas também a sós,
dentro do amor que nos liga
não há distância entre nós!
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Hino de Cascavel/PR
Cascavel, cidade hospitaleira
Tu és fonte rica de labor
Do quadrante oeste és a primeira
Te amamos com todo o fervor
Tua história é bela e fascinante
Que o passado nos faz sempre reviver
Feitos heroicos de um grande bandeirante
Que criou-te e feliz te fez crescer
Tua beleza imponente tem vida
És a sombra que acolhe o forasteiro
Ganhas bênçãos pelas mãos da Aparecida
Portas abertas a todo brasileiro
No horizonte d 'oeste estrela fulgurante
Tua gente tão nobre de amor varonil
És crescente progresso a todo instante
És o mais lindo pedacinho do Brasil
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Trova de Fortaleza/CE
FRANCISCO JOSÉ PESSOA
1949 – 2020
Dos artigos que componho
nas minhas noites sozinhas,
fazes parte do meu sonho
abraçada às entrelinhas.
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Poema do Rio de Janeiro/RJ
CLÁUDIA BELCHIOR
Minha escultura
É ela a minha escultura
E nela acredito com dedos de sonhos
E com a doçura de como me fez a minha mãe.
Nela acredito íntima e interior
Com olhos profundos
Capaz de entender a alegria e a dor da humanidade.
Nela acredito forte e frágil
E me encanto com seus movimentos
Caminhar apesar de tudo
Mulher, gueixa e poeta.
E é esta argila: rosa, vermelha e azul
A responsável por fazer sempre um novo planeta.
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Trova de São Paulo/SP
SOLANGE COLOMBARA
Por horas, sempre brindando
ao tempo, a cada momento
vivido, vou caminhando,
celebrando um sentimento.
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Fábula em Versos da França
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris
O corvo e a raposa
É fama que estava o corvo
Sobre uma árvore pousado,
E que no sôfrego bico
Tinha um queijo atravessado.
Pelo faro àquele sítio
Veio a raposa matreira,
A qual, pouco mais ou menos,
Lhe falou desta maneira:
«Bons dias, meu lindo corvo;
És glória desta espessura;
És outra fênix, se acaso
Tens a voz como a figura!»
A tais palavras o corvo
Com louca, estranha afoiteza,
Por mostrar que é bom solfista
Abre o bico, e solta a presa.
Lança-lhe a mestra o gadanho*,
E diz: «Meu amigo, aprende
Como vive o lisonjeiro
À custa de quem o atende.
Esta lição vale um queijo,
Tem destas para teu uso.»
Rosna então consigo o corvo,
Envergonhado e confuso:
Velhaca! Deixou-me em branco,
Fui tolo em fiar-me dela;
Mas este logro me livra
De cair noutra esparrela.»
(tradução: Bocage)
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* Gadanho = garra.
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