quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Vereda da Poesia = 72 =


Trova de Curitiba/PR

WALNEIDE FAGUNDES DE S. GUEDES

A tua ausência é o refrão
de uma tristeza sem fim,
onde o tempo ao dizer não,
permite à dor dizer sim.
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Poema de Portugal

ANTÓNIO BOTTO
Freguesia de Concavada/Concelho de Abrantes (1897 – 1959) Rio de Janeiro/RJ

Anda vem...

Anda vem..., porque te negas,
Carne morena, toda perfume?
Porque te calas,
Porque esmoreces,
Boca vermelha --- rosa de lume?

Se a luz do dia
Te cobre de pejo,
Esperemos a noite presos num beijo.

Dá-me o infinito gozo
De contigo adormecer
Devagarinho, sentindo
O aroma e o calor
Da tua carne, meu amor!

E ouve, mancebo alado:
Entrega-te, sê contente!
--- Nem todo o prazer
Tem vileza ou tem pecado!

Anda, vem!... Dá-me o teu corpo
Em troca dos meus desejos...
Tenho saudades da vida!
Tenho sede dos teus beijos! 
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Trova Paulista

GUILHERME DE ALMEIDA
(Guilherme de Andrade de Almeida)
Campinas/SP (1890 – 1969) São Paulo/SP

Tudo muda, tudo passa,
neste mundo de ilusão:
Vai para o céu a fumaça,
fica na terra o carvão.
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Sonetilho Pentassilábico do Rio de Janeiro/RJ

JORGE DAS NEVES

 Sonetilho escrevo,
componho com afinco,
e se errar não devo
no erro ponho trinco.

 Componho com enlevo
em versos de cinco
e jamais me atrevo
com telha de zinco.

 Meu telhado é forte,
tenho muita sorte,
nessa construção.

 Vate tarimbado,
cuido do telhado
e da fundação.
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Trova Premiada em Nova Friburgo/RJ, 2008

ÉLBEA PRISCILA S. DE SOUZA
Piquete/SP, 1942 – 2023, Caçapava/SP

A escolha do par perfeito,
farei nesta… em qualquer vida,
ao resgatar de outro peito,
minha metade perdida!
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Poema de Vila Velha/ES

APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA

Ponto pacífico

Os gritos
ferem os ouvidos
Mas o silêncio,
ao contrário,
Abranda o coração
estraçalhado.
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Trova Popular

Ninguém deve, neste mundo,
de alheias desgraças rir.
Quando o sol troveja, o raio
não faz ponto onde cair...
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Soneto de Sorocaba/SP

DOROTHY JANSSON MORETTI
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Sobre as nuvens

Na lida ingrata e rude do vaquejo,
no carrascal inóspito e ardente,
manda uma prece o pobre sertanejo
a um Deus que há muito lhe parece ausente.

Nos seus olhos vermelhos, o desejo
de que uma chuva, mesmo impersistente,
venha molhar, com dúlcido bafejo,
seu chão gretado de um sol inclemente.

Ao dedilhar simplório do violeiro,
chora a toada monótona o vaqueiro,
na noite sem espera e sem promessa.

E quando sobre as nuvens paira a prece,
quando a esperança já quase fenece…
um raio, o espaço, rútilo, atravessa.
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Trova do Rio de Janeiro/RJ

LUIZ POETA
Luiz Gilberto de Barros

Na lousa de um tempo ausente:
silêncio!... as letras a giz
pairam no olhar de um docente…
discente... rindo... feliz.
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Poema de Goiás

CORA CORALINA
(Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas)
Cidade de Goiás/GO (1889 – 1985) Goiânia/GO+

Assim eu vejo a vida

A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.
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Trova Humorística de São Paulo/SP

THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

Na escada, a aposta suicida
dos genros, no arranha-céu:
- Leva, quem perde a corrida,
a sogra... como troféu!
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Soneto de São Fidélis/RJ

ANTONIO MANOEL ABREU SARDERNBERG

Aurora Desbotada

Desperta a aurora fria e desbotada,
Em mais um dia que precede o fim,
E essa minha alma frágil e tão cansada,
Já não suporta a dor que dói em mim.

A noite avança, rompe a madrugada,
Eu já não sinto o aroma do jasmim
Que andava no meu quarto e na sacada
E perfumava todo o meu jardim.

Dia morto... noite morta... tudo é nada...
Viver só por viver não me consola
Se a aurora só é bela colorida.

Sinto que irei sem ti nessa jornada,
E a suportar a angústia que me assola,
Prefiro não viver - isso não é vida!
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Trova de Bandeirantes/PR

LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DE CARLI

Os tropeços nas subidas,
entraves da caminhada,
fortalecem muitas vidas
para a reta de chegada.
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Spina de São Paulo/SP

CARLA BUENO OLIVEIRA

Encontrei você

Imenso em mim
todo esse amor
sempre irei enaltecer.

A porção minha que faltava
outra metade de mim encontrei
amor verdadeiro a cada amanhecer.
Felicidade estar sempre com você
privilégio somente a você pertencer.
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Trova de Campinas/SP

ARTHUR THOMAZ

Ah! Meu amor, quem me dera
voltar ao nosso cantinho.
Tão pequeno que ele era...
cabia tanto carinho!
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Soneto de Campo Grande/MS

RUBÊNIO MARCELO

A cruz de um adeus

Já é madrugada. Eu estou pela rua…
Na trilha dourada dos olhos da lua.
No meu desvario, na minha tristeza,
Ainda aprecio os dons da Natureza.

E assim, sem destino, tal qual vagalumes,
Aos entes sagrados faço queixumes.
Ao longe, o clarão dos astros em prumo…
E o meu coração errante, sem rumo.

A brisa vadia soprando com jeito…
E uma agonia tomando meu peito.
Estrelas cadentes brincando no céu…

E eu, decadente, pervagando ao léu.
Cometas pulsando pertinho de Deus…
E eu carregando a tal cruz de um adeus!
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Trova Premiada em Caicó/RN, 2014

DÁGUIMA VERÔNICA 
(Santa Juliana/MG)

No emaranhado das linhas,
pelo avesso desta lida,
descobri, nas entrelinhas,
Deus bordando o chão da vida.
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Poema de Curitiba/PR

PAULO LEMINSKI
(1944 – 1989)

Poetas Velhos 

Bom dia, poetas velhos.
Me deixem na boca
o gosto dos versos
mais fortes que não farei.

Dia vai vir que os saiba
tão bem que vos cite
como quem tê-los
um tanto feito também,
acredite.
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Trova de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

Amai-vos, e as derradeiras 
muralhas hão de cair. 
– Havendo amor, as barreiras 
não têm razão de existir! 
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Pantum de São José dos Campos/SP

MIFORI
(Maria Inez Fontes Rico)

Navegando contra o vento 

Navegando contra o vento
sem levar mercadoria,
o seu barco sonolento
bordejava em agonia.

Sem levar mercadoria
num mar bravio e revolto
bordejava em agonia
um dos barcos, leve e solto.

Num mar bravio e revolto
num balanço tempestuoso
um dos barcos, leve e solto,
seguiu trajeto tortuoso.

Num balanço tempestuoso
naquele dia cinzento
seguiu trajeto tortuoso
Navegando contra o vento.
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Trova de Santos/SP

CAROLINA RAMOS

Embora sozinha eu siga
e sigas também a sós,
dentro do amor que nos liga
não há distância entre nós!
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Hino de Cascavel/PR

Cascavel, cidade hospitaleira
Tu és fonte rica de labor
Do quadrante oeste és a primeira
Te amamos com todo o fervor

Tua história é bela e fascinante
Que o passado nos faz sempre reviver
Feitos heroicos de um grande bandeirante
Que criou-te e feliz te fez crescer

Tua beleza imponente tem vida
És a sombra que acolhe o forasteiro
Ganhas bênçãos pelas mãos da Aparecida
Portas abertas a todo brasileiro

No horizonte d 'oeste estrela fulgurante
Tua gente tão nobre de amor varonil
És crescente progresso a todo instante
És o mais lindo pedacinho do Brasil
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Trova de Fortaleza/CE

FRANCISCO JOSÉ PESSOA
1949 – 2020

Dos artigos que componho
nas minhas noites sozinhas,
fazes parte do meu sonho
abraçada às entrelinhas.
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Poema do Rio de Janeiro/RJ

CLÁUDIA BELCHIOR

Minha escultura

É ela a minha escultura
E nela acredito com dedos de sonhos
E com a doçura de como me fez a minha mãe.
Nela acredito íntima e interior
Com olhos profundos
Capaz de entender a alegria e a dor da humanidade.
Nela acredito forte e frágil
E me encanto com seus movimentos
Caminhar apesar de tudo
Mulher, gueixa e poeta.
E é esta argila: rosa, vermelha e azul
A responsável por fazer sempre um novo planeta. 
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Trova de São Paulo/SP

SOLANGE COLOMBARA

Por horas, sempre brindando
ao tempo, a cada momento
vivido, vou caminhando,
celebrando um sentimento.
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Fábula em Versos da França

JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

O corvo e a raposa

É fama que estava o corvo
Sobre uma árvore pousado,
E que no sôfrego bico
Tinha um queijo atravessado.

Pelo faro àquele sítio
Veio a raposa matreira,
A qual, pouco mais ou menos,
Lhe falou desta maneira:

«Bons dias, meu lindo corvo;
És glória desta espessura;
És outra fênix, se acaso
Tens a voz como a figura!»

A tais palavras o corvo
Com louca, estranha afoiteza,
Por mostrar que é bom solfista
Abre o bico, e solta a presa.

Lança-lhe a mestra o gadanho*,
E diz: «Meu amigo, aprende
Como vive o lisonjeiro
À custa de quem o atende.

Esta lição vale um queijo,
Tem destas para teu uso.»
Rosna então consigo o corvo,
Envergonhado e confuso:

Velhaca! Deixou-me em branco,
Fui tolo em fiar-me dela;
Mas este logro me livra
De cair noutra esparrela.»
(tradução: Bocage)
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* Gadanho = garra.

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