domingo, 18 de agosto de 2024

Recordando Velhas Canções (Nada além)

 

(Fox, 1934)

Compositores: Mário Lago e Custódio Mesquita

Nada além
Nada além de uma ilusão
Veja bem
É demais para o meu coração
Acreditando em tudo que o amor
Mentindo sempre diz
Eu vou vivendo assim feliz
Na ilusão de ser feliz
Se o amor
Só nos causa sofrimento e dor
É melhor, bem melhor
A ilusão do amor
Eu não quero e nem peço
Para o meu coração
Nada além
De uma linda ilusão…
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A Doce Ilusão do Amor em 'Nada Além'

A música 'Nada Além', é uma reflexão melancólica sobre o amor e suas desilusões. A letra aborda a ideia de que o amor, muitas vezes, traz mais sofrimento e dor do que felicidade. O eu lírico, ciente das mentiras e enganos que o amor pode trazer, prefere viver na ilusão de ser feliz, ao invés de enfrentar a dura realidade. Essa escolha pela ilusão é uma forma de proteção emocional, uma maneira de evitar o sofrimento que o amor verdadeiro pode causar.

Orlando Silva, conhecido como o 'Cantor das Multidões', foi um dos maiores intérpretes da música popular brasileira nas décadas de 1930 e 1940. Sua voz marcante e interpretação emotiva conferem à canção uma profundidade ainda maior. A letra de 'Nada Além' é simples, mas carregada de significado, refletindo uma visão cínica e resignada do amor. A repetição da palavra 'ilusão' reforça a ideia de que, para o eu lírico, a felicidade verdadeira é inatingível, e a única forma de ser feliz é através de uma ilusão.

A música também pode ser vista como uma crítica à idealização do amor romântico. Ao afirmar que 'é melhor, bem melhor a ilusão do amor', o eu lírico sugere que a busca por um amor perfeito é fútil e que aceitar a ilusão pode ser uma forma mais realista de lidar com os sentimentos. A melodia suave e a interpretação emotiva de Orlando Silva complementam a letra, criando uma atmosfera de resignação e melancolia que ressoa profundamente com o ouvinte.

No dia 09 de julho de 1937, estreava no Teatro Recreio, no Rio de Janeiro, a revista Rumo ao Catete, título que aludia a uma eleição presidencial que Getúlio não deixou acontecer. Além de um elenco de primeira - Araci Cortes, Oscarito, Eva Tudor -, a peça tinha libreto e direção musical de dois grandes compositores, Custódio Mesquita e Mário Lago. Reunindo todos esses valores, "Rumo ao Catete" foi um sucesso, com mais de 300 representações e, de quebra, ainda enriqueceu a música popular com duas belas composições, o fox "Nada Além" e a valsa "Enquanto houver saudade".

Maior sucesso da dupla Lago-Mesquita, "Nada Além" era motivo na peça de um quadro cômico-romântico: um homem de aparência simplória examinava, à porta de uma loja, várias mercadorias que lhe oferecia um vendedor. Vendo que o suposto freguês não se decidia, o vendedor o interpelava: "Afinal, o que deseja o cavalheiro?" ao que o sujeito respondia, cantando: "Nada além, nada além de uma ilusão...".

Apesar de aprovarem a interpretação operística dada no palco pelo tenor Armando Nascimento, os autores achavam que as canções se adaptavam melhor a uma voz popular, como a de Orlando Silva, à época no auge da fama. Então Custódio, sempre vaidoso, usou de um expediente para induzi-lo a gravá-las, sem correr o risco de uma rejeição, convidando-o a assistir a peça. E deu certo, pois ao final da sessão o cantor, entusiasmado, exigiu: "Custódio, me dá agora mesmo as partes de piano dessas músicas que eu quero gravá-las, o mais rápido possível". E assim o fez no início de 38.

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