Sempre gostei de ler. Desde criança lia tudo o que me caía sob os olhos. Concluído o grupo escolar, antes de ir para o seminário, trabalhei dois meses no Bazar Temer. No meio da infinidade de artigos à venda, descobri alguns livros de aventuras, que assanharam a minha curiosidade. Mais de uma vez o bom Temer, pai da nossa pediatra Elen Nemer, teve a paciência de me explicar que ali eu era funcionário para atender clientes, não leitor de obras de uma biblioteca. Naquela época ninguém fazia restrição ao criterioso emprego de crianças. Era pedagógica forma de inculcar o valor do trabalho, sem o qual nenhuma grandeza, inclusive financeira, se constrói. Na entrada da imponente sede do seu banco, na Cidade de Deus, bairro de Osasco (SP), o lendário Amador Aguiar, fundador do Bradesco, fez erguer a estátua de um burro de carga, sob a qual mandou escrever: “Só o trabalho produz riqueza”. Pena que hoje muitos desejem que a riqueza lhes caia do céu no colo. De preferência, sem que façam esforço algum.
Criado no meio do cafezal, na antiga Alta Araraquarense do interior paulista, era inevitável que eu sofresse com a chegada das ferramentas de conhecimento e comunicação deste mercante universo de hoje. As pessoas da minha idade o progresso atropelou sem pedir licença nem dar chance de adaptação. Não adianta; continuo fiel ao livro impresso. Sendo bom, a espessura dele não me assusta. Agora mesmo, estou lendo um de 633 páginas. Nem cheguei ao meio. Ir até o fim vai me custar um tempão, mas será uma alegria.
Da fartura de ferramentas e aplicativos que nossa garotada comanda brincando consegui aprender dois ou três nomes. Blog e Facebook, por exemplo. Mas não tenho nenhum. Não adianta. Logo aparecerão outros. Não dou conta de acompanhar. Se não me entendo com os existentes, imagine com novos! Li não sei onde que o Twitter é preferido pelos jovens; o LinkedIn, pelos mais velhos, e o Facebook, por ambos. Mas redes sociais aparecem e somem como bolhas de sabão. O Orkut ainda existe? E para que servem Instagram, Flickr, MySpace, iTunes, Tumblr, Badoo… e sei lá quantos palavrões esquisitos?
Amigos generosos postam textos meus em seus blogs. Sinto-me envaidecido. Blog é um espaço curioso: pertence a todos e não pertence a ninguém. Cada um pode meter lá a sua colher, desde que o dono do blog concorde. Alguns, sob a capa do anonimato ou do pseudônimo, desancam adversários reais ou imaginários. Já passei por isso. É o risco de quem se dispõe a dizer o que pensa.
Sobre a minha crônica da semana passada, este blog estampou um comentário emitido por alguém que me deve dedicar especial consideração. Bem maior, com certeza, da que eu mereço. A respeito de pessoas que se beneficiam do meu serviço de padre, informou-me ele: “São as mesmas que debocham de seus comentários que remetem à sua infância e origem pobre”. Não duvido. Admito que ele esteja falando do que teve ocasião de comprovar.
Ligue não, amigo. Não vale a pena. Quando me tornei padre, eu sabia que ia colher, vida afora, mais deboche que admiração. Ao completar 47 anos de ministério – justamente hoje; coincidência, não? – já tenho o couro curtido. Aplauso ou zombaria, pouco importa. Uma pancada a mais ou a menos não vai fazer diferença.
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