Em uma antiga tirinha de jornal do personagem “Capitão Douglas”, criado pelo cartunista Laerte, um sargento chegava gritando: “Capitão! Capitão! Descobrimos quem são os inimigos”, “quem são?” O Capitão perguntava, e o sargento lhe respondia: “Os inimigos somos nós”.
Quando eu vejo uma lei como esta sobre a proibição de termos estrangeiros lembro da tirinha, e falo para mim mesmo (eu converso muito comigo mesmo) enquanto tomamos café (eu e eu, ou seja, nós), afinal seriam os estrangeirismos tão pérfidos a ponto de ser necessário criarmos leis para proibi-los? Vamos proibir apenas o uso dos termos em inglês? Mas, o que exatamente pode ser considerado como algo nacionalmente puro?
Talvez devêssemos levar essa proibição ao extremo, elevando-a também para música, literatura, gastronomia, etc. Ou seja, nada de feijoada, que apesar de dizerem que é tipicamente brasileira tem a maioria de seus ingredientes (senão todos) vindos de fora, os porcos, por exemplo, de acordo com as lendas e com a Wikipédia, só chegaram ao Brasil em 1532. Nada de pão francês (ou qualquer outro tipo de pão), nada de macarrão, ou de lasanha, vamos comer apenas comidas oriundas do Brasil, em um cardápio basicamente constituído de alguns tipos de peixes, frutas, raízes e insetos. Provavelmente teremos que trocar a carne de gado pela de capivara, mas vai ser um sacrifício pelo bem maior da nação.
Nada de futebol ou outros esportes importados. Adotaríamos a peteca como esporte nacional (e talvez o jogo de taco), promovendo até campeonatos mundiais de peteca. O futsal seria rechaçado pela sua similaridade com o futebol de campo que foi introduzido no Brasil através dos ingleses. Até as religiões em sua totalidade seriam proibidas.
As músicas que contivessem qualquer termo de origem estrangeira seriam proibidas, e para provar que a lei estaria sendo severamente cumprida, seriam incluídas inclusive as expressões que viessem do latim, grego ou qualquer outra língua que não fosse nativa. Provavelmente acabariam criando e gastando milhões em um referendo para confirmar com a população se o próprio português seria autorizado, ou se teríamos que reaprender os antigos dialetos indígenas. Todas essas regras valeriam também para literatura.
O vestuário seria outra peça a sofrer reprimendas, e salvo a tanguinha feita de folhas e alguns tipos de peles, todo resto do vestuário seria sumariamente proibido. Passaríamos então a andar tão pelados quanto as nossas contas bancárias. Acho que seria interessante proibir também qualquer tipo de ferramenta, equipamento ou medicamente que não fosse genuinamente nacional. Inclusive pesquisas, descobertas, obras de arte e demais colaborações feitas por pessoas de outras etnias que vivessem aqui seriam vetadas por não serem de brasileiros legítimos (aliás, após exames de DNA descobririam que nenhum brasileiro é biologicamente legitimo, por temos nosso sangue mesclado ao de vários outros povos do mundo).
Utilizar veículos como carros e motos? Nem pensar. Aliás, nem sequer carroças puxadas por cavalos poderiam ser permitidas, já que não existiam cavalos por aqui antes do descobrimento, e o uso desses animais estrangeiros não seria aceito.
Enfim, com tanta coisa importante para se preocupar e gastar o seu tempo onerosamente caro, poderiam parar de desperdiçar energia com besteiras. Aliás, perder tempo com leis esdrúxulas é que deveria ser sumariamente proibido.
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