Não se assuste se ouvir alguém dizer que fulano tem um “régulo na panturrilha”. Significará apenas que o tal fulano tem um “reizinho na barriguinha”.
Se os diminutivos em português fossem todos marcados por “inho” ou “zinho”, seria moleza (barquinho, barzinho). O problema é que muitos deles vieram prontos do latim, mantendo a forma erudita; outros chegaram até nós via espanhol, francês, italiano, e alguns nem parecem diminutivos. Por exemplo: é fácil entender que “caixinha” é diminutivo de “caixa”, porém nem todos percebem de imediato que “cápsula” (do latim “capsa” = caixa) é a mesma coisa, isto é, uma “caixinha”.
Assim também acontece com “régulo”, diminutivo erudito de “rei”, e com “panturrilha”, palavra que pedimos emprestada ao espanhol e que em geral é empregada no sentido de “barriga da perna” (daí que os jogadores de futebol frequentemente se queixam de “contratura na panturrilha”). A palavra tem origem no latim “pantex” (= barriga), que virou “panza” em espanhol e “pança” em português. De “pantex” temos também os verbos “empanturrar” e “empanzinar”.
Há muitos outros casos interessantes. Por exemplo: poucos percebem que o “asterisco” (*) é assim chamado por ser uma estrelinha. É um diminutivo do latim “aster” = astro, estrela.
Só os mais antigos se dão conta de que “maçaneta” é um diminutivo de “maçã”. Nos velhos bons tempos as maçanetas das portas tinham o formato de uma maçãzinha.
Desde também os velhos tempos foi sempre comum alguém dar uma gratificação a quem lhe prestasse um pequeno serviço. Dizia-se: “Leve pra molhar a gorja” (tomar uma cachacinha). “Gorjeta” é um diminutivo de “gorja” = “garganta”, “goela”. É uma “gargantinha”.
Já reparou que a “cedilha” (aquele rabinho que vem embaixo do “ç”) na verdade é um pequeno “z”? Pois é... “cedilha” (em espanhol “zedilla”) é um diminutivo da letra grega “zeta”. A função do “z-zinho” (ç) é indicar que aquele “c” tem o som de “tz” (ss).
“Aedes” (latim) é casa, edifício. O diminutivo de “aedes” (édis) é “aedicula” (edícula). Daí o nome daquela pequena casa habitualmente construída no quintal.
“Boca” em latim é “os, oris” (de onde temos a palavra “oral”. “Ósculo” (diminutivo de “os”) é uma pequena boca. Mas em português “ósculo” é sinônimo de “beijo”. Explica-se: quando você vai beijar contrai os lábios, como que formasse uma boquinha...
Na mesma linha, temos numerosos outros diminutivos curiosos: castanhola é uma pequena castanha. Donzela (diminutivo de “dona”) é uma doninha, uma senhorita. Opúsculo (pequena obra literária) é dimunitivo de “opus” = obra. Palito é diminutivo de “palus” = pau (é um pauzinho). Roseta é um diminutivo de rosa. Sarjeta é diminutivo de “sarja” = valeta, escoadouro de águas. Vesícula é diminutivo de “vesica” = bexiga (é uma bexiguinha). Vírgula é diminutivo de “virga” = vara (a vírgula tem a forma de uma varinha). E por hoje ficamos por aqui. Pax.
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(Crônica publicada no Jornal do Povo – 29-8-2024)
Fonte: Texto enviado pelo autor
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