MARIA LUIZA WALENDOWSKY
Fecho os meus olhos e sinto
a alma inundada de luz.
É Deus presente ao destino
nessa fé que me conduz!
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Poema de Vila Velha/ES
APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Prisioneiro
Você me seduz à liberdade.
A liberdade
é o remédio da alma,
a felicidade
que acalma...
Cada momento
é um querer novo,
um sentir diferente,
um eterno
encantamento.
Estar com você
é rodopiar
no carrossel da vida,
fugindo do presente
em desabalada
corrida.
Você me seduz
à saudade.
A saudade
é o bálsamo
do coração,
o remédio
que cura
a solidão...
Por isso,
estar com você
é como despencar
de uma montanha russa,
em extremo gesto
de loucura
e incontrolável sensação.
Você me seduz
ao amor...
O amor é
o bem mais perfeito
que o Criador concebeu
e colocou
aqui no meu peito...
Assim,
estar com você
é como se jogar
de um prédio alto,
sem medo,
sem amarras,
num voo cego:
a verdadeira
viagem sem fim...
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Trova de São José dos Campos/SP
NADIR GIOVANELLI
Eu vejo o tempo passar,
recordo os anos dourados,
mil bailes para dançar,
e os sonhos realizados!
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Soneto Inglês de Curitiba/PR
MÁRIO A. J. ZAMATARO
Depois de tudo
Depois do verso, o reverso.
Depois do amor, essa dor.
Depois do imerso, o disperso.
Mas tenho a flor de compor!
E do reverso, outro verso.
E dessa dor, meu amor.
Disperso o resto onde imerso
usei compor desta flor.
Reviravoltas em série
hão de cumprir o destino;
hão de espalhar desatino,
em pleno sol de intempérie.
E só depois disso tudo
hei de saber se me iludo.
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Trova Premiada em São Paulo/SP, 2003
ARITA DAMASCENO PETTENÁ
Campinas/SP
Esta lágrima que brota
dentro da alma tão ferida,
é pingo de água sem rota,
perdido no chão da vida.
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Poema do Rio de Janeiro/RJ
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Itabira do Mato Dentro/MG (1902 – 1987) Rio de Janeiro/RJ
Aula de Português
A linguagem
na ponta da língua
tão fácil de falar
e de entender. A linguagem
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que ela quer dizer?
Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
e vai desmatando
o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, equipáticas,
atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.
Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a prima.
O português são dois; o outro, mistério.
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Trova Popular
Triste durmo, triste acordo,
triste torno a amanhecer.
Pra mim tudo é tristeza,
serei triste até morrer.
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Olhos infantis
Quando o olhar de uma criança denuncia
O abandono, a solidão e o sofrimento,
Torna-se inútil transformar esse momento
Num sentimento que alguém chame de poesia.
Quando o amor passa a ser só filosofia,
À revelia do que sinta um coração,
Por ironia, há quem nem dê muita atenção
A esse olhar que tem a dor por moradia.
Mas no instante em que eu me torno esse menino
Há nos meus olhos, esse olhar tão pequenino,
Que apesar da dor, conserva a esperança
De que o mundo tenha olhos infantis
E que se alguém pensa em tornar alguém feliz,
Veja o que diz o coração de uma criança.
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Trova de Santos/SP
NAIR LOPES RODRIGUES
Nunca deixe que a fumaça
cubra o sol da sua vida,
ria sempre e faça graça
torne a lida divertida!...
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Poema de Belo Horizonte/MG
CLEVANE PESSOA
Fogo e serragem
Às vezes, sinto-me sem vontade
de tudo e de nada.
Amorfa,
moldo-me aos moldes
dos desejos alheios.
A dor, camuflada.
Os gemidos, sufocados.
Agonizo, molhada:
serragem
Às vezes,
embaixo de cinzas,
crepito, aqueço-me,
e em labaredas, refaço a luz
antiga,
subitamente.
Ardo,
em cadeia,
acendo tudo mais
que há por perto.
Incendeio, fogo em jogo
lúdico, atroz...
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Trova Humorística de São Paulo/SP
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
Se alguém de "menina" o chama,
se ofende o nenê Raul
que, tirando o seu pijama,
mostra o... sapatinho azul!
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ
MANUEL BANDEIRA
Recife/PE (1886 – 1968) Rio de Janeiro/RJ
Voz de fora
Como da copa verde uma folha caída
Treme e deriva à flor do arroio fugidio,
Deixa-te assim também derivar pela vida,
Que é como um largo, ondeante e misterioso rio...
Até que te surpreenda a carne dolorida
Aquela sensação final de eterno frio,
Abre-te à luz do sol que à alegria convida,
E enche-te de canções, ó coração vazio!
A asa do vento esflora as camélias e as rosas.
Toda a paisagem canta. E das moitas cheirosas
O aroma dos mirtais sobe nos céus escampos.
Vai beber o pleno ar... E enquanto lá repousas,
Esquece as mágoas vãs na poesia dos campos
E deixa transfundir-te, alma, na alma das cousas...
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Trova de Nova Friburgo/RJ
JOANA D’ARC DA VEIGA
Brilha o sol, depois de posto,
se os dedos de uma criança,
vão reacendendo o meu rosto
com afagos de esperança.
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Poema de Curitiba/PR
PAULO WALBACH PRESTES
1945 – 2021
A Ampulheta
O hoje é o agora presente no tempo...
Que escorre fatal entre os dedos da vida.
É sutil como a alma, fugaz como o vento,
E veloz e lento como a triste partida...
O amanhã; esperança e futuro do tempo,
que demora ou apressa a sua chegada;
Transparente ou difuso no encadeamento,
Auspicioso ou negro, tal a luz apagada...
O sino que toca, afugenta o dia...
Levando-o do ontem à posteridade
Pela noite que invade na pura magia,
deixando pra gente a doída saudade...
Funde-se tudo na eternidade,
e não apenas na onírica poesia...
A fina areia silenciosa invade
Na cápsula inversa: eterna liturgia.
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Trova de Campo Mourão/PR
JOSÉ FELDMAN
Saudade... é igual à tristeza
de quem, ao partir num trem,
na estação deixa a incerteza
e, no lenço...o amor de alguém!
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Dobradinha Poética (trova e soneto) de Bandeirantes/PR
LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DECARLI
Se nada ganhas...
Não deves desanimar
ante uma escura jornada,
pois poderás vislumbrar
uma luz no fim da estrada!…
Se a trajetória é feita só de espera,
se recusaste a dor da despedida,
se o despontar do inverno te exaspera,
se a primavera não é mais florida...
Se o vendaval, cortante, ainda impera,
se a tempestade insiste, intrometida,
se sob teus pés abriu-se uma cratera,
se a solidão marcou a tua vida...
Se o céu, acima, está sempre nublado,
se a terra, em volta, é o caos indesejado,
se o sofrimento veio a ti, desnudo...
Caminha firme, sem desesperança,
vai renovando em ti calma e confiança.
— Se o ganho é nada, teu querer é tudo!...
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Trova Premiada em São Paulo/SP, 2003
REINALDO STERCKELE
Santo André/SP
Absorto, na noite calma,
envolto em leve torpor,
sinto irrequieta minha alma
vagando em sonhos de amor.
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Poema de Catanduva/SP
ÓGUI LOURENÇO MAURI
A voz do vento
Nesta solidão, pude enfim perceber
Que a distância alimenta meu pensamento.
Sei também que é ela que dá voz ao vento
Quando ele vem forte em meu rosto bater.
Eu sei que é tua voz que o vento conduz,
Traz teu perfume e, de teus olhos, a luz;
Eólica injeção de amor pro meu ser.
Esta brisa sonora que tem teu cheiro,
Toque afrodisíaco, que revigora;
Teu calor chega e a meu tato se incorpora,
Eu sinto ao vento teu corpo por inteiro...
Quando o sopro soa forte em meus ouvidos,
Mais o amor por ti desperta em meus sentidos,
Num quadro de excitação já rotineiro.
Um amor aerívoro, de abstinência,
Em que procuro teus olhos mas não vejo,
Não posso te abraçar no auge do desejo,
Preciso de uma reversão de emergência...
Apesar do vento que me liga a ti,
Pede meu coração tua presença aqui...
E que seja para sempre, com urgência!
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Trova de Maringá/PR
A. A. DE ASSIS
Ah, quantos lindos castelos
põe a vida em nossa mão,
lembrando os sonhos mais belos
que temos no coração!
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Soneto de Ilhavo/Portugal
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Tudo o que sou é como se nada fosse
(Maria da Glória Oliveira Cardoso in "O Meu Vestido Cor de Rosa", p. 68)
“Tudo o que sou é como se nada fosse”
Neste eterno correr de tantos anos
E com ritos banais, de tão profanos
Cremos fazer da vida um limão doce.
Uma vontade louca é que nos trouxe
Fome de sermos mais do que uns humanos
Mas por serem mortais e tão mundanos
A glória desses sonhos acabou-se.
Mergulho na insondável vacuidade
Que me esvai como atroz enfermidade
E eu sofro-a, venenosa como cobra.
É tão pequeno e pobre o meu viver
Que no dia final, quando eu morrer
Tudo de mim se acaba e nada sobra.
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Trova Humorística de Belo Horizonte/MG
PAULO EMÍLIO PINTO
Conselheiro Lafaiete, 1906 – ????, Belo Horizonte/MG
Sempre que o Dr. Clemente
fazia uma operação,
o coveiro, previdente,
ficava de prontidão!
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Hino de Campina Grande/PB
Venturosa Campina querida,
Ó cidade que amo e venero!
O teu povo o progresso expande,
És na terra o bem que mais quero!
O teu céu sempre azul cor de anil,
Tuas serras de verde vestidas
Salpicadas com o ouro do sol,
Ou com a hóstia dos brancos luares!
Eterno poema
De amor à beleza,
Ó recanto abençoado do Brasil!
Onde o Cruzeiro do Sul resplandece.
Capital do trabalho e da paz!
Oficina de ilustres varões,
Canaã de leais forasteiros,
És memória de índios valentes.
E singelos e alegres tropeiros!
Tua glória revive, Campina,
Na imagem dos homens audazes,
Aguerridos heróis de legendas
Que marcaram as tuas fronteiras!
Eterno poema
De amor à beleza,
Ó recanto abençoado do Brasil!
Onde o Cruzeiro do Sul resplandece,
Capital do trabalho e da paz!
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Trova de São Paulo/SP
SARA MARIANI KANTER
Saudade, circo às escuras,
onde um palhaço, a ilusão,
faz trejeitos e mesuras
para o nada e a solidão.
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Poema de Cachoeira do Sul/RS
JAQUELINE MACHADO
Anjo de uma asa só
Amor próprio é mais do que importante,
é essencial.
Só não podemos confundir amor próprio
com total autossuficiência.
Ninguém é autossuficiente.
Acreditar nisso
é acreditar na maior mentira da vida.
Somos todos anjos de uma asa só.
E precisamos do outro para poder voar...
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Trova de Paraisópolis/MG
SÔNIA MARIA DE FARIA
Invejo, querida, a lua
que invade a tua janela
e te beija quase nua...
Ah! Morro de ciúmes dela.
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Fábula em Versos da França
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris
O Sol e as rãs
Do rei dos astros proteção, socorros
Tinham do lodo as filhas.
Nem guerras, nem pobreza,
Nem mil outros desastres
Perto nem longe à tal nação chegavam;
Nação, que em mil lameiros,
Seus poderes blasona*.
As rainhas dos charcos... (Das rãs falo;
Que custa às coisas dar honroso nome?)
Contra o seu benfeitor conluios tramam,
Fazem-se insuportáveis.
A imprudência, com o orgulho, e o esquecimento
Dos benefícios — filhos da aura próspera —
Impeliram os brados
Desse bando importuno.
Ninguém dormia em paz. Se dessem crédito
Ao que elas murmuravam, já teriam
Aos grandes, aos pequenos rebelado,
Com os seus gritos, contra o olho do universo.
O Sol, ao que diziam,
Ia dar cabo de tudo;
«Importa armar-se, e presto
Levantar grosso exército.»
Mal dava um passo o Sol, já despediam
Grasnantes embaixadas.
A crê-las, todo o mundo
E a máquina redonda
Rodam sobre interesses
De quatro pífios charcos.
Dura ainda hoje essa queixa temerária.
Calar-se as rãs, não murmurarem tanto,
Contudo, lhes cumpria:
Que lhe fará sentir o Sol, se ele se agasta:
E mui bem poderia arrepender-se
A aquática república.
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* blasona = ostenta.
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