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sábado, 3 de dezembro de 2011

II Seminário Internacional de Crítica Literária


Seminário discute tensões da crítica literária contemporânea

Ficção versus realidade, tradução, exposição midiática e obras multimídia serão parte dos debates

II Seminário Internacional de Crítica Literária

quarta 7 a sexta 9 de dezembro

A crítica literária atual se depara com um cenário novo e desafiador. Como lidar com as interações entre autor e exposição midiática intensa, produção literária e intercâmbio cultural, literatura e hibridismo artístico? Qual o sentido da crítica nos dias de hoje? De 7 a 9 de dezembro, o II Seminário Internacional de Crítica Literária explora essas questões, na sede do Itaú Cultural, em São Paulo.

Participam do evento intelectuais e críticos brasileiros e estrangeiros como Marjorie Perloff (Estados Unidos), Marisa Lajolo (Brasil), João Cezar de Castro Rocha (Brasil), David Toscana (México), Berthold Zilly (Alemanha), Luiz Costa Lima (Brasil) e Mario Perniola (Itália), além de outros escritores, teóricos, tradutores e filósofos, de várias nacionalidades e linhas de pensamento.

São 8 convidados internacionais e 11 nacionais. Os debates têm curadoria da escritora, professora e pesquisadora Maria Esther Maciel e da consultora e produtora cultural Selma Caetano. A mediação será realizada por 6 especialistas brasileiros.

entrada franca - ingresso distribuído com meia hora de antecedência
reserva para grupos: itaucultural@comunicacaodirigida.com.br

quarta 7

17h30 O Papel da Crítica no Jogo entre Realidade e Ficção

com David Toscana (México) e José Castello (Brasil)

A literatura não tem compromisso algum com a explicação, mas, sim, com a invenção. Os escritores já não se iludem: a literatura não é, e nunca foi, um espelho capaz de refletir, com nitidez e perfeição, o mundo real. Em que medida, no complexo, veloz e fragmentado século XXI, a literatura ainda pode – se é que um dia conseguiu fazer isso – dar conta da realidade?

20h A Crítica Biográfica e os Desafios da Ficção

com Italo Moriconi (Brasil), Leonor Arfuch (Argentina) e Marisa Lajolo (Brasil)
mediação Regina Zilberman

A valorização midiática da figura do escritor, aliada à profusão editorial de obras biográficas e autobiográficas, tem exigido da crítica contemporânea um reposicionamento diante das complexas relações entre vida e literatura, autor e obra, realidade e ficção. Que estratégias de abordagem têm sido usadas pela crítica no trato dessas questões? Até que ponto a vida de um autor serve como referência para a leitura de uma obra?

quinta 8

15h A Tradução como Crítica

com Berthold Zilly (Alemanha), Márcio Seligmann-Silva (Brasil) e Paulo Henriques Britto (Brasil)
mediação Marcelo Tápia

Tradução, crítica e criação são práticas interligadas. O ato de traduzir implica um diálogo crítico-criativo com outras culturas e com a própria tradição literária, interferindo também, de forma incisiva, no próprio fluxo da produção literária do presente. Em que medida, nesse movimento, a tradução reinventa também seus próprios conceitos e mecanismos de leitura? O que define a força crítica do trabalho de tradução?

17h30 A Crítica de Poesia em Tempos Digitais

com André Vallias (Brasil), Eduardo Sterzi (Brasil) e Marjorie Perloff (Estados Unidos) |
mediação Lourival Holanda

O advento de novos suportes digitais tem possibilitado o surgimento de expressões poéticas cada vez mais híbridas, mediadas por diferentes relações entre texto, imagem, interatividade e vários recursos multimídia. Como a crítica de poesia tem lidado com essas mudanças? Em que medida ela tem criado novos procedimentos e fundamentos de abordagem e reflexão para lidar com as linguagens poéticas do mundo digital?

20h A Crítica Literária como Intercâmbio Cultural

com Antonio Gonçalves Filho (Brasil), João Cezar de Castro Rocha (Brasil) e Martín Kohan (Argentina) |
mediação Luiz Ruffato

A crítica quase sempre desempenhou o papel de avalizadora da produção literária e, assim, serviu como parâmetro principal do intercâmbio cultural entre os países. Em tempos de rápida circulação de informações, a crítica literária ainda tem espaço para desempenhar esse papel? Se não, quais são os novos mecanismos disponíveis e quais as consequências da substituição da crítica literária por eles?

sexta 9

17h30 Crítica Literária Hoje: Impasses e Desafios

com Joan Ramon Resina (Estados Unidos), Josefina Ludmer (Argentina) e Luiz Costa Lima (Brasil) |
mediação Sérgio Alcides

Os equívocos em torno da palavra crítica: se não é um gênero literário, o que pode ser? O crítico é um "juiz da arte", um mediador que facilita o acesso do público ou alguém que exerce uma reflexão sistemática sobre a obra literária? Qual é a validade da crítica hoje? Quais são seus grandes desafios e impasses?

20h Crítica e Interdisciplinaridade

com Aurora Bernardini (Brasil) e Mario Perniola (Itália) |
mediação Ivan Marques

O entrecruzamento de diversos saberes e campos disciplinares tornou-se uma das linhas de força do cenário crítico contemporâneo. Como a crítica literária tem lidado com essa flexibilização de fronteiras, abrindo-se ao diálogo e às interseções com outras formas de conhecimento, como a filosofia, os estudos culturais, a sociologia e a política? E até que ponto a prática da interdisciplinaridade tem redimensionado o papel da crítica literária hoje?

Itaú Cultural – Sala Itaú Cultural (247 lugares) | Avenida Paulista 149 – Paraíso [próximo à Estação Brigadeiro do Metrô]

informações: 11 2168 1777

Fonte:
Itaú Cultural

domingo, 24 de janeiro de 2010

Universidade de Passo Fundo/RS (Projeto Livro do Mês - 2010)


Realizado desde 2006, o Projeto Livro do Mês, em parceria com a Prefeitura Municipal de Passo Fundo, Editoras dos autores presentes, SESC Passo Fundo e escolas públicas e particulares de Passo Fundo e região

Agendamento da participação de alunos e professores nos seminários, favor entrar em contato pelo telefone (54) 3316-8148 (Mundo da Leitura).

SEMINÁRIOS

Março
24, 25 e 26/03

O barbeiro e o judeu da prestação contra o sargento da motocicleta
Joel Rufino dos Santos
Editora Moderna

24/03 – Letras
25/03 – SME – SESC
26/03 – SESC (escolas públicas e particulares)

Abril
27, 28 e 29/04

Um livro de horas
Emily Dickinson (Ângela Lago)
Editora Scipione

27/04 – Letras
28/04 – SME - SESC
29/04 – SESC (escolas públicas e particulares)

Maio
26, 27 e 28/05
Kina, a surfista
Toni Brandão
Editora Melhoramentos

26/05 – Letras
27/05 – SME – SESC
28/05 – SESC (escolas públicas e particulares)

Junho
21, 22 e 23/06

De carona, com Nitro
Luis Dill
Editora Artes e Ofícios

21/06- Letras
22/06 - SME – SESC
23/06 - SESC (escolas públicas e particulares)

Agosto
30, 31 e 01/09

Cidades dos deitados
Heloísa Prieto
Edições Sesc SP / Editora Cosac Naify

30/08 – Letras
31/08 - SME – SESC
01/09 - SESC (escolas públicas e particulares)

Setembro
22, 23 e 24/09

Enigmas de Huasao: uma história peruana
Luciana Savaget
Editora Global

22/09 – Letras
23/09 - SME – SESC
24/09 - (escolas públicas e particulares)

Outubro
27, 28 e 29/10

Alma de fogo: um epsódio imaginado de Álvares de Azevedo
Mario Teixeira
Editora Ática

27/10 – Letras
28/10 - SME – SESC
29/10 - (escolas públicas e particulares)

Novembro
18 e 19/11

Dá pra acreditar?
Luís Pescetti SM

18/11 – Letras
19/11 - SME – SESC

Fonte:
Colaboração da Universidade de Passo Fundo

quinta-feira, 23 de julho de 2009

X Seminário de Estudos Literários (UNESP – São José do Rio Preto/SP)

Poéticas do Contemporâneo: diálogos e escrituras

Edição Comemorativa dos 30 Anos do Programa

13,14 e 15 de outubro de 2009.

O X SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS é uma realização já tradicional do Programa de Pós-Graduação em Letras do IBILCE/UNESP e tem como objetivo fomentar a discussão dos aspectos críticos e metodológicos dos projetos em desenvolvimento em nível de Mestrado e Doutorado, colaborando para a reflexão, por parte dos pós-graduandos, dos caminhos de pesquisa e dos diálogos pertinentes entre seus projetos e dos demais colegas.

O evento dirige-se a docentes, mestres, doutores, pós-graduandos e demais interessados que desenvolvem pesquisa em literatura, independente das linhas em que atuam em seus programas de origem.

A décima edição do evento, que ocorrerá nas dependências do IBILCE/UNESP, prevê em sua programação cinco conferências, sete mesas debatedoras, oito sessões de comunicação e uma sessão de painéis.

As conferências serão ministradas por pesquisadores e poetas com significativa produção artística e intelectual, que privilegiarão, como objeto de suas conferências, as várias manifestações da literatura contemporânea.

As sessões de comunicação, divididas nas Linhas de Pesquisa do Programa destinam-se aos trabalhos de Pós-Graduação – mestrado e doutorado – em estágio avançado de pesquisa, com conclusões parciais ou definitivas.

As mesas debatedoras formadas por docentes convidados compreendem a análise e o debate dos projetos de pesquisa de alunos de Pós-Graduação em Letras, níveis de mestrado e doutorado, em estágio inicial de desenvolvimento.

A sessão de painéis configura-se em espaço reservado a alunos de Graduação, para apresentação de trabalhos provenientes de Iniciação Científica.

PROGRAMAÇÃO

Dia 13 de outubro de 2009

08h00 Entrega de material e últimas inscrições

09h00 Abertura Oficial

09h30 Café

10h00 CONFERÊNCIA 1: Possibilidades e impasses da ficção brasileira contemporânea - Profa. Dra. Beatriz Resende (UFRJ)

14h00 MESAS DEBATEDORAS 1 e 2

16h00 Café

16h30 CONFERÊNCIA 2: Literatura e ética: o foco na alteridade - Profa. Dra. Lilian Jacoto (USP)

18h30 PAINÉIS

Dia 14 de outubro de 2009

8h00 SESSÕES DE COMUNICAÇÃO

9h30 Café

10h00 CONFERÊNCIA 3: Da teoria como vanguarda tardia Prof. Dr. Fábio Akcelrud Durão (UNICAMP)

14h00 MESAS DEBATEDORAS 3 e 4

16h00 CAFÉ

16h30 CONFERÊNCIA 4: A multiplicidade da poesia brasileira no contexto pós-utópico Poeta e Prof. Marcelo Tápia Fernandes (Diretor da Casa Guilherme de Almeida - SP)

18h30 Coquetel e Lançamento de livros

Dia 15 de outubro de 2009

8h00 SESSÕES DE COMUNICAÇÃO

9h30 Café

10h CONFERÊNCIA 5: Corpo e memória na lírica contemporânea: a poesia de Fabrício Corsaletti - Profa. Dra. Elaine Cintra (UFU)

14h00 MESAS DEBATEDORAS 5 e 6

16h Café

16h30 Assembléia geral


DATAS IMPORTANTES

De 07/07/09 a 14/08/09
Submissão de projetos para mesas debatedoras e resumos para comunicações e painéis.

Em 01/09/09
Divulgação de aceite das propostas.

De 01/09 a 19/09/09
Período de inscrições (com apresentação de trabalho).

Modalidades de participação:
Para qualquer modalidade de participação a taxa de inscrição é de R$20,00.

apresentação de projeto em mesa debatedora
(exclusiva para ingressantes do Programa de Pós-Graduação em Letras)

apresentação em sessão de comunicação
(exclusiva para alunos de pós-graduação, com pesquisa em andamento)

apresentação de painel
(exclusiva para alunos de graduação)

De 01/09 a 13/10/09

Período inscrições para ouvintes.

Para qualquer modalidade de participação a taxa de inscrição é de R$20,00.

Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas – IBILCE/UNESP
Rua Cristóvão Colombo, 2265
São José do Rio Preto – SP
15054-000

Informações: www.eventos.ibilce.unesp.br/sel

REALIZAÇÃO:
Programa de Pós-Graduação em Letras
IBILCE/UNESP
Fonte:
Comissão Organizadora

sábado, 17 de maio de 2008

II Seminário Nacional de Língua e Literatura

Tema: Teoria e Ensino - Escrita e Identidade

Descrição:
- Integrar os cursos de graduação e pós-graduação em Letras;
- Promover o diálogo dos cursos de graduação e pós-graduação em Letras com outras IES;
- Propiciar atividade de formação continuada para alunos e profissionais da área de Letras e afins.

PROGRAMAÇÃO

Local: auditório do IFCH
Dia 29 de maio de 2008 – Quinta-feira
13h às 14h – Entrega de materiais
14h – abertura oficial
14h30min às 17h30min – conferência de abertura – Prof. Drª Laura Padilha – UFF.
19h30min às 22h30min - Mesa-redonda “Escrita e Identidade: as interfaces entre lingüística e literatura” - Prof. Drª Rita Schmidt (UFRGS) e Profª Drª Márcia Cristina Correa (UFSM)

Dia 30 de maio de 2008 – Sexta-feira
8h às 11h30min – Conferência de encerramento – Profª Drª Maria José Coracini – UNICAMP.
11h30min - Apresentação Artística (Bando de Letras)
14h às 16h – Sessão de comunicações I
16h30min às 18h30min – Sessão de comunicações II
19h30min às 22h30min – Sessão de comunicações III
INSCRIÇÕES

Investimento
R$ 40,00 para os participantes em geral
R$ 70,00 para os participantes com apresentação de comunicação

As inscrições sem apresentação de comunicações se estenderão até o dia do início do evento, respeitadas as vagas disponíveis.

Responsável: Prof. Drª Evandra Grigoletto
E-mail para contato: g.evandra@terra.com.br

UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
Campus I -Km 171 -BR 285, Bairro São José, C. Postal 611
CEP 99001-970 Passo Fundo-RS
PABX (54) 33168100 ; Fax Geral (54) 3316-8125
IFCH: Fone/Fax (54) 3316-8380 / 3316-8331 -Email: ifch@upf.br

Fonte:
Boletim Eletrônico das Jornadas Literárias n. 56.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Ligia Simoneli (A influência da imigração italiana na Literatura Brasileira)

O objetivo principal desta comunicação é levantar a questão de como a imigração italiana é tratada na Literatura Brasileira e sua respectiva influência, baseando o estudo da temática nas obras: Brás, Bexiga e Barra Funda, de António de Alcântara Machado. O Quatrilho, de José Clemente Pozenato e Anarquistas, Graças a Deus de Zélia Gattai.

Primeiramente, é imprescindível um esclarecimento do contexto histórico durante a imigração no Brasil e suas causas, com maior enfoque à imigração italiana nas regiões de maior influência, onde as obras citadas foram ambientadas. Partindo das causas da imigração e posteriormente para a imigração italiana no estado de São Paulo e Rio Grande do Sul.

Durante o século XIX o Brasil tem um período de grande expansão cafeeira no Sudeste, pelo grande consumo dos E.U.A. e Europa e com a crise dos produtores asiáticos os preços mantêm-se em alta. Em 1850, D. Pedro II proíbe o tráfico africano, e, em 1888 a princesa Isabel cede as pressões inglesas e assina a abolição. A solução encontrada é a atração de imigrantes estrangeiros, com o apoio oficial. (Almanaque Abril: 1998, 34).

Além da preocupação de obter mão-de-obra existia o interesse de povoar o sul do Brasil, evitando o risco de alguma invasão, atrair população branca oprimindo os negros e mestiços que eram obrigados a concorrer com os trabalhadores imigrantes em regime de parceria, recebendo por produção ou como assalariados. (Almanaque Abril: 1998, 92).

No século XX, países como Alemanha e Itália, em pleno desenvolvimento do capitalismo, geravam um excedente populacional sem terra e sem trabalho, provocando uma tensão social. A emergência da indústria e desarticulação do trabalho industrial contribuíram para a expulsão da população, juntamente com o processo de unificação de alguns países, conflitos civis aumentavam o número de camponeses arruinados. Através de propagandas de incentivo à imigração milhares de imigrantes foram atraídos para o Brasil, enfrentando viagens marítimas em porões de navios cargueiros, encontraram uma realidade muito diferente no país de destino. Os imigrantes italianos chegaram ao Brasil com pequenas quotas em 1836, 1847, 1852 e 1853, crescendo expressivamente a partir de 1877, tornando-se o segundo principal contingente estrangeiro, depois dos portugueses (Diégues Júnior: 1972, 107). Alguns rumam para lavouras de café em São Paulo, com o intuito de tornarem-se independentes ou, na maioria das vezes, irem para a cidade para trabalhar em indústrias. No Rio Grande do Sul, os imigrantes italianos chegaram a partir de 1875, em situação de desvantagem perante a imigração alemã, que chegaram 50 anos antes (Pesavento: 1985, 50).

Nas primeiras décadas do século XX, com a consolidação da República de inspiração positivista o Brasil revezava paulistas e mineiros no poder com a política café-com-leite. Neste início de século, ao lado dos imigrantes espanhóis, os italianos tem grande influência nos grupos anarco-sindicalistas nas áreas industriais de São Paulo e Rio Grande do Sul, participando na massa operária, a frente de greves sangrentas reinvidicando seus direitos e mais tarde obtendo a Legislação Trabalhista, esta influência é enfraquecida com a presença de grupos menos reinvidicadores e a repressão política, que culmina com a proibição da entrada dos imigrantes em 1932 (Bastilde: 1973, 201-2) e (Pesavento: 1985, 80-2).

A etnologia brasileira sempre centrada no estudo do índio, no início deste século também dirige suas atenções ao elemento branco, principalmente os grupos entrados com a imigração e a existência ou não de assimilação por determinado grupo em outro (Diégues Júnior: 1972, 14-24), passando para o campo literário, durante o período Romântico o índio é a grande fonte de inspiração como forma de acentuar o nacionalismo, já no Realismo as atenções são voltadas para os problemas político-sociais e grupos marginalizados, como o negro, mas é apenas no pré-modernismo que o tema da imigração é tratado com Graça Aranha em Canaã, retratando as primeiras experiências da imigração alemã no estado do Espírito Santo, através de dois personagens centrais, Milkau o imigrante que acredita na “Canaã” e Lentz voltado para a superioridade de sua raça sem adaptar-se a realidade brasileira. Segundo Alfredo Bosi:

“(...) E o contraste entre o racismo e o universalismo, entre a “lei da força” e a “lei do amor” que polariza ideologicamente, em Canaã, as atitudes do imigrante europeu diante da sua nova morada." (in Nicola: 1998, 265).

Brás, Bexiga e Barra Funda.

Em 1927, o cronista e contista António de Alcântara Machado, com a publicação desta obra composta por onze contos, trata do tema da imigração italiana e a primeira geração de ítalo-brasileiros em ascensão na capital paulista. Aristocrata e de família tradicional paulista, mesmo não participando da Semana de Arte Moderna de 1922, este escritor da primeira geração moderna sob seu estilo impressionista, irônico, utilizando uma linguagem “macarrônica” mistura do português com o italiano, baseado nas crônicas de Juó Bananére retratando a comédia diária e os dramas dos imigrantes italianos dos três bairros – título, transmite a “xenofobia” das famílias tradicionais paulistas perante os imigrantes italianos na década de 20 modificando a paisagem e trazendo seus costumes, buscando a ascensão social, mesmo com a procura de neutralidade expressa no Artigo de fundo:

“(...) Este livro não nasceu livro: nasceu jornal. Estes contos não nasceram contos: nasceram notícias. E este prefácio portanto também não nasceu prefácio: nasceu artigo de fundo” (Alcântara Machado: 1997, 27).

A ascensão social do imigrante é retratada nos contos: A sociedade, Armazém progresso. A busca de assimilação da cultura brasileira pelo imigrante, em: Nacionalidade e Tiro de guerra nº. 35. A família numerosa e miserável, em Lisetta. É a primeira vez em nossa literatura, que a imigração italiana é tratada, mesmo sobre o ponto de vista de um aristocrata brasileiro da época, de uma forma caricatural, como fizera em suas crônicas Juó Bananére (Alexandre Ribeiro Marcondes Machado) da luta, dos costumes destes imigrantes, transmitindo a reação das famílias tradicionais brasileiras perante a imigração italiana.

Anarquistas, Graças a Deus

Em 1979, a escritora ítalo-brasileira publica esta obra em que faz uma rememoração de episódios de sua infância e adolescência, agora o tema da imigração italiana é tratado sob a visão de uma filha de imigrantes italianos na capital paulista iniciando a narrativa em 1910. Baseada em fatos verídicos, a saga da família de seus pais nos transmite a imigração italiana e a realidade vivida pelos imigrantes, desde a saída do país de origem até sua estabilidade na capital, nos episódios: Seu Ernesto conta uma história, A Colônia Cecília, Dr. Giovanni C. Gárdias, Começo da viagem, Serviço de imigração e saúde, Bandeira Vermelha e Preta e Fim da Colônia Cecília retratam a propaganda de atração de imigrantes feita na Itália, as péssimas condições de viagem, a realidade brasileira sob a visão e realidade do imigrante estrangeiro. Já em suas narrações Zélia Gattai retrata a primeira geração de ítalo-brasileiros surgindo à procura de ascensão social e busca de assimilação da cultura brasileira como são evidentes nos episódios que envolvem discussões entre Wanda e Ernesto sobre o quadro anarquista, Angelina e suas filhas que criticam os costumes e a linguagem da mãe. As lutas anarquistas e socialistas e as repressões políticas que os imigrantes sofriam são retratadas nos episódios: Vizinhança Nova e estado novo, imigração italiana, as classes laboriosas, conde Fróla. A confusão de identidade nacional é presente nas falas de Angelina, uma mistura de porturês com dialeto da região italiana de onde sua família provinha.

A escritora faz um paralelo entre a saga de imigrantes italianos, sua chegada no Brasil no século XIX e a primeira geração de ítalo-brasileiros em São Paulo no início da industrialização, sob uma visão realista de uma filha de imigrantes mostrando a imigração e a realidade encontrada pelos imigrantes.

O Quatrilho

Em 1985, o escritor ítalo-brasileiro José Clemente Pozenato publica este romance com a trama principal o desvario amoroso de dois casais jovens de imigrantes italianos, mostrando a vida rude, difícil e o poder da religião sobre os imigrantes no ambiente rural.

A história se passa em Caxias do Sul – RS no período de 1908 à 1930. Na colônia de Santa Corona, Angelo Gardoine casa com Teresa, prima de Pierina, casada com Massimo Boschini. Em serões na casa de parentes Teresa e Massimo se apaixonam. Com o nascimento de Rosa (filha de Angelo e Teresa) Angelo volta a colônia e propõe sociedade à Massimo na compra de uma propriedade em San Giuseppe, mesmo com o preço exorbitante fazem negócio com Batiston. Os dois casais passam a morar na única casa, enquanto Massimo constrói o moinho, Angelo é responsável pela lavoura. Massimo e Teresa tornam-se amantes e três meses depois fogem com Rosa. Pierina permanece com seus dois filhos e Angelo na casa, dispostos a continuar os negócios, com o tempo o casal passa a viverm em concubinato. Pierina grávida é o alvo dos preconceitos moralistas de Padre Gentile, com o desentendimento com Angelo, Gentile manipula os habitantes da colônia para ignorar o casal e seus negócios, levando Angelo a continuar trabalhando em outras cidades. Pierina enfrenta Padre Gentile durante uma missa. Passados vinte anos o mesmo padre aparece na casa do casal, agora com nove filhos e situação abastada, “redimindo-se” de seus preconceitos. Teresa envia uma carta à padre Giobbe e sua mãe com sua fotografia com Massimo e seus três filhos, em São Paulo.

Importante observar nesta obra, a reafirmação das raízes da colonização italiana no Rio Grande do Sul feita pelo escritor, procurando retratar a realidade sofrida pelo imigrante italiano no Brasil e no ambiente rural, sob a visão do imigrante. Nas reflexões de Angelo, relata a fuga do imigrante de seu país de origem e situação de miséria, e chegada em um país ainda “jovem”. Nesta obra, a linguagem também é recheada de expressões em dialeto vêneto e não em italiano oficial como faz António de Alcântara Machado na fala de seus personagens, considerando que entre a maioria dos imigrantes italianos predominavam o dialeto regional usado inclusive pelos analfabetos no país de origem. A dificuldade de aprender a nova língua encontrada pelo imigrante e o medo de assim ser trapaceados por negociantes brasileiros é mostrado no episódio que Angelo encontra dois fazendeiros brasileiros afirmando sua dificuldade de entendê-los em português (cap. 2 – Segunda Contagem) . A caracterização das personagens é muito interessante abrangendo temas sobre a religião, o casamento, a submissão da mulher, a repressão ideológica. Os padres Giobbe e Gentile demonstram a hipocrisia e o moralismo clerical. Giobbe é o imigrante que para fugir da miséria ingressou no seminário e questiona em suas reflexões o moralismo ensinado pela igreja e a realidade dos colonos. Gentile é o religioso hipócrita e manipulador. Angelo é o imigrante em busca de ascensão no meio rural. Pierina mulher rude, submissa alvo de preconceitos por viver em concubinato. Teresa é a mulher que não encontra amor no casamento mas na traição. Scariot o anarquista marginalizado que contesta a exploração e submissão dos colonos, a manipulação da Igreja.

Pozenato e Zélia Gattai representam a geração de ítalo-brasileiros em busca de suas raízes retratando com realismo o lado do imigrante italiano na imigração, sua saga, sofrimento fuga da miséria, sua contribuição dada ao novo país sem reduzir a história de um povo e sua imigração à sátira de seus costumes trazendo uma visão esteriotipada, ou como o enfoque norte-americano que traz obras transportadas ao cinema que pouco se trata da contribuição dos imigrantes italianos reduzindo a Comunidade italiana naquele país a máfia, caracterizando como um povo desprovido de valores éticos e morais, oprimido e marginalizando um povo e sua imigração.

Portanto, a influência da imigração italiana na Literatura Brasileira é caracterizada basicamente em dois momentos. O primeiro, marcado pela reação das famílias tradicionais brasileiras perante o imigrante italiano em seu processo de adaptação, sua dualidade de nacionalidade transformando a paisagem e a etnia brasileira nas primeiras décadas o século XX, retratada pela obra Brás, Bexiga e Barra Funda do contista António de Alcântara Machado sob uma visão caricatural de um aristocrata da época. O segundo é caracterizado pela nova geração de ítalo-brasileiros e seus descendentes em busca de suas raízes, identidade cultural mostrando a imigração sob a visão e vivência dos imigrantes italianos, sua história, sua saga, suas contribuições ao desenvolvimento do país em que se estabeleceu retratada pelos escritores ítalo-brasileiros José Clemente Pozenato em O Quatrilho e Zélia Gattai em Anarquistas, Graças a Deus, sem esquecer das repressões políticas e a marginalização feita pela aristocracia brasileira aos imigrantes, não muito diferente daquela sofrida pelos negros e índios no Brasil.

Fonte:
Extraído de
Ligia Simoneli
A influência da imigração italiana na Literatura Brasileira

Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão – FECILCAM
XIII Seminário do CELLIP (Centro de Estudos Linguísticos e Literários do Paraná) 21-23 out 1999 - Campo Mourão. Maringá: Depto.de Letras da UEM, 2000 (Org. Thomas Bonnici)
(CD-Rom)

P.S. Com o intuito de preservar os direitos autorais da autora, as referências bibliográficas foram propositalmente retiradas, o que não afeta em hipótese alguma a veracidade e importância do documento.

Gercina Isaura da Costa Bezerra (Considerações sobre o Material de Leitura)

A leitura enquanto exercício da cidadania exige um leitor crítico que, além de construir a significação global do texto, seja capaz de transpor os limites do texto incorporando-o reflexivamente aos seus conhecimentos para melhor compreender a realidade que o cerca. Uma sociedade realmente democrática, preocupada com a superação das diferenças sociais, certamente estaria comprometida com a formação desse leitor. Mas essa responsabilidade tem cabido à escola, como se ela sozinha fosse capaz de executar essa tarefa. O mais grave é que dentro do espaço escolar, o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita parece caber apenas ao professor de língua materna. Não é raro a cobrança da proficiência dos alunos nessas habilidades por parte dos professores das demais disciplinas. São também inúmeros os estudos e as análises dos textos veiculados nas aulas de língua portuguesa. Exagerando, temos a impressão de que as atividades de leitura e escrita só acontecem nas aulas de língua materna. Certamente isso não é verdade. Temos conhecimento de análise de textos didáticos das demais disciplinas, mas ao que parece, a grosso modo, essas análises estão voltadas para a adequação das definições e conceitos, bem como para as ideologias e preconceitos presentes nos textos.

Nossa prática tem nos mostrado, que o desconhecimento dos processos de leitura pelos professores de outras disciplinas, os leva a selecionar textos que dificultam a compreensão dos alunos, levando-os a decorar conceitos sem entendê-los.

Assim, esse trabalho objetiva demonstrar que a escolha inadequada do material de leitura pode comprometer sua compreensão. Devido ao reduzido espaço, selecionamos apenas o capítulo 6 do livro “Os seres vivos” para exemplificar algumas dessas inadequações. A razão de tal escolha deveu-se ao fato de ser um texto tradicionalmente adotado na sexta série e a dificuldade que os alunos apresentaram para compreendê-lo.

O título do capítulo é “A biodiversidade da terra”, a expectativa despertada seria para um texto que tratasse da variedade de formas de vida do planeta, bem como de seus habitats, comunidades e ecossistemas formados pelos organismos. Além disso, seria possível incluir considerações sobre seu potencial econômico e sua importância social, cultural, ecológica etc. Mas o capítulo trata mesmo é da classificação dos seres vivos, que na diagramação do texto aparece como um subitem. Assim, se o leitor iniciante (Nesse texto denominamos leitor iniciante aquele indivíduo que ainda está desenvolvendo suas estratégias de leitura. Ao leitor que ainda não é proficiente) tiver um idéia do que seja biodiversidade terá sua expectativa de leitura fustrada, por outro lado, se desconhecer a palavra acabará por associá-la a classificação dos seres, podemos afirmar que o título se constitui numa pista falsa para a compreensão do texto.

Textos mais longos têm além do tópico principal, outros subtópicos de unidades menores como o parágrafo. O tópico e os subtópicos constituem uma estrutura em que uns se subordinam aos outros, todo esse sistema deve ser facilmente percebido pelo leitor, pois a percepção da relação e da hierarquia que se estabelece entre eles é um componente essencial da compreensão textual. No texto analisado falta uma explicitação geral e objetiva dessa hierarquia, a presença excessiva de figuras, títulos e itens entrecortando o texto, prejudica o seu fluxo e dificulta a percepção do mesmo como um texto único, uma vez que sua articulação encontra-se fragmentada. Um exemplo disso é o trecho em que os autores explicam o que é gênero e como vários gêneros constituem uma família temos a intercalação de um subtópico com sete parágrafos, e que se constitui numa informação secundária (“O nome científico dos seres vivos é escrito em latim”) que poderia estar diluída no corpo do texto sem desviar a atenção do leitor do seu assunto principal. Por isso não fica claro para o leitor que a classificação é feita a partir de sucessivos agrupamentos até formar um conjunto maior, segundo o critério de características semelhantes. Esses são apenas alguns exemplos das inadequações que encontramos no texto.

Há professores que, desconhecendo os processos de desenvolvimento da leitura e seus mecanismos, esperam do aluno do segundo ciclo uma eficiência leitora que ainda está em processo. Ler é mais que decifrar, a decodificação é apenas um primeiro estágio da leitura eficiente. Não se pode alcançar a um comportamento praticando um hábito contrário a ele. Decifrar obriga a ter um comportamento diante da escrita que é o oposto daquele indispensável para um bom leitor. A escrita é uma linguagem para os olhos e não para os ouvidos; ler não é traduzir o escrito em oral para chegar a compreensão. A capacidade de compreender supõe a possibilidade de antecipar, no caso da leitura, a decifração impede a antecipação, ou a dificulta, no melhor dos casos.

A leitura consiste numa busca de índices mínimos e não na investigação total dos signos escritos. Um bom leitor compreende um texto em um tempo mínimo, sem se preocupar com cada uma das palavras do texto. Isso porque o sentido de uma frase não é a soma dos sentidos das palavras que a compõe, mas é determinado pelo texto e pelo contexto, nos quais estão inseridas. Da mesma forma que, a percepção isolada dos elementos que compõe uma paisagem impedem a visão global da mesma, a decifração não leva a compreensão do texto porque não se concentra na percepção do todo.

Essa percepção não se restringe ao registro passivo de estímulos exteriores, mas resulta de uma reorganização da estrutura do conhecimento, diante de um novo estímulo. Assim, a percepção é uma aprendizagem que depende das experiências anteriores daquele que aprende, isso é importante a medida em que dirige nossa atenção para o papel das vivências do aprendiz e de suas experiências de vida.

Dessa forma, podemos dizer que a leitura resulta da interação entre as informações visuais que estão no texto, e as informações não visuais que se constituem das experiências anteriores armazenadas na memória do leitor.

Nesse sentido, o papel de todo professor, seja de que nível for, não se resume a transmitir conhecimento, seu papel é o de instrumentalizar o aluno de forma a dar-lhe condições de ampliar o seu entendimento da realidade que o cerca, tornando-o capaz de atuar nessa realidade. Sendo o texto principal fonte de veiculação do conhecimento, e instrumento de trabalho daqueles que ensinam, faz-se necessário que estejamos comprometidos com a formação desse leitor crítico, propiciando ao aluno condições para tal.

Ao selecionar ou ao produzir um texto para trabalhar com os alunos, o professor ou o autor do manual deve considerar que a compreensão de um texto não depende apenas da competência lingüística do aluno, mas também das condições que o texto oferece, a observação de alguns aspectos, na seleção do texto, podem contribuir para que o aluno desenvolva suas estratégias de leitura.

O texto é o elemento simples da comunicação escrita, pois é a sua organização de conjunto que, por si mesma, contém o significado; e a comunicação escrita diz respeito ao relacionamento intertextual. Assim, o leitor iniciante deve confrontar-se com textos completos, que funcionem como tal e que se remetam uns aos outros, pois sendo unidade mínima da escrita, é também a entrada mais fácil para o sentido ancorado no contexto no qual esse texto funciona.

Desde o início, deve-se apresentar textos significativos utilizados em situações concretas de comunicação, centrados nos interesses e necessidades daquele que aprende, enfim autênticos.

Muitas vezes, acreditando estar “facilitando” a aprendizagem, a maioria os manuais costumam utilizar uma linguagem artificial, tentando dar ao texto escrito características da linguagem oral. No texto analisado por exemplo, na página 46 encontramos:

“Aquilo que você fez com os animais representados no quadro, os cientistas fizeram com todos os seres vivos da natureza, mas usando outros critérios.”

Acontece que o aluno não fez absolutamente nada no referido quadro, porque já estava feito. Isso era necessário para se garantir o uso de critérios que atenderiam às intenções dos autores. Não há possibilidade de no texto escrito se estabelecer uma interação imediata, salvo no contexto da internet. O problema está no fato dos autores tentarem dar ao texto escrito características da linguagem oral, o que causa confusões com relação aos referenciais principalmente. Os parágrafos também são substituídos por itens, descaracterizando a estrutura do texto, havendo inclusive supressão de elementos coesivos que garantiriam uma legibilidade maior do texto. O uso da ilustração como bengala, pode até ser que em alguns casos auxilie na compreensão, mas no caso do texto analisado podemos afirmar que as imagens foram mal utilizadas. Essas inadequações, codificam um discurso artificial, perdido entre a linguagem oral e a linguagem escrita, não favorecendo ao aluno a utilização do seu conhecimento prévio, nem o auxilia no conhecimento sobre como ler.

Para facilitar a aprendizagem não é necessário descaracterizar o texto, pode-se alcançar essa “facilitação” por meio de uma seleção gradual e criteriosa, observando além da autenticidade e da relevância, a estrutura formal do texto.

É assim que, FULGÊNCIO et LIBERATO (1992: 37), apontam a identificação do tópico de um texto como indispensável para a compreensão do mesmo. O que as autoras definem como tópico discursivo é o assunto principal do texto, por isso afirmam que, a dificuldade de identificar o tópico de um texto compromete a sua legibilidade. Isso acontece porque é essa identificação que estabelece o quadro de referência, a partir do qual o leitor passa a criar expectativas que guiam a sua interpretação, auxiliando-o inclusive a desfazer possíveis ambigüidades. As autoras acreditam que o aparecimento do tópico na primeira sentença, ou ainda, a referência reiterada a um mesmo elemento, podem facilitar a identificação de tópicos. De acordo com as autoras,

“os lingüistas têm chamado atenção para a estrita correlação - (...) - entre ser tópico e ocupar uma posição inicial. Essa correlação parece natural: é de se esperar que a ordem das palavras enunciadas reflita a ordem em que seus correspondentes psicológicos (seus referentes) se organizam no processo cognitivo.” (FULGÊNCIO et LIBERATO, 1992: 29).

Elas também demonstram por meio de exemplos, que a má sinalização ou a representação inadequada do tópico compromete a legibilidade dos textos. Assim, aquele que escreve ou seleciona material de leitura para o leitor-aprendiz, deve preocupar-se em oferecer textos nos quais a identificação do tópico não se constitua numa dificuldade.

Para as autoras, um outro aspecto importante da organização textual é a paragrafação. Baseando-se nas teorias de REHFELD, consideram que a divisão do texto em parágrafos funciona para o leitor como uma pista sinalizadora da estruturação do texto; pois “o leitor desenvolve uma estratégia de processamento que o leva a prever, nos pontos onde há mudança de parágrafo,(...), uma quebra na uniformidade de um bloco de texto, e o início conseqüentemente de uma nova unidade.”(Id. ibid., p.56).

A compreensão do texto é facilitada à medida em que a divisão dos parágrafos corresponda às expectativas do leitor e vá de encontro às suas estratégias de leitura. Dessa forma, a organização dos parágrafos deve funcionar como um elemento que revela a estruturação semântica, formal e discursiva do texto, evidenciando as unidades em torno das quais se organiza.

A teoria da paragrafação pode parecer, a princípio, que não atinja diretamente o leitor iniciante, mas apresenta implicações importantes com relação a aprendizagem da estratégia da paragrafação. Pois, se uma paragrafação adequada facilita a leitura no caso de leitores eficientes, por outro lado, ela possibilita ao leitor inexperiente a dedução das bases da organização dos parágrafos, levando-o a internalizar essa estratégia. Assim, uma forma de levar o aluno a adquiri-la, é colocá-lo em contato com textos que apresentem uma divisão de parágrafos que reflita a estruturação semântica, formal e discursiva do texto, de modo que evidencie as unidades em torno das quais é constituído.

Além desses aspectos, FULGÊNCIO et LIBERATO, apoiadas nos estudos de CHAFE, chamam atenção para a necessidade de se oferecer ao leitor iniciante, textos que possuam um equilíbrio entre informações dadas e novas. As autoras consideram informação dada, àquela que o emissor presume que esteja presente na mente do receptor no momento da comunicação; e informação nova, àquela que o emissor presume que está introduzindo na mente do receptor no momento da comunicação. O equilíbrio entre esses dois elementos é que possibilita a progressão do texto, garantindo sua compreensibilidade. Um texto só com informações dadas torna-se redundante e circular, por outro lado, um texto só com informações novas também torna-se incompreensivo, pois o processo de compreensão depende de um conhecimento anterior para que as informações novas sejam processadas. É a progressão resultante do equilíbrio desses dois tipos de informação, que garante a coerência do texto, por isso o professor deve considerar esse aspecto ao selecionar ou ao produzir textos para seus alunos.

CONCLUSÃO:

A análise exaustiva do texto não foi nosso objetivo aqui, muito menos pretendemos esgotar todos os aspectos que podem auxiliar o leitor no desenvolvimento da compreensão. Foi nosso desejo despertar a atenção daqueles que ensinam para a importância de avaliar técnica e criticamente o material com o qual se está trabalhando, isso porque muitas vezes é esse fator que está dificultando a aprendizagem de nossos alunos. Para melhor auxiliar nossos alunos a desenvolver suas estratégias de leitura, é necessário que àquele que o orienta tenha conhecimento e reflita sobre as condições necessárias para promover este processo. Uma consideração importante e que pode fazer diferença é a sensibilidade do professor com relação ao conhecimento prévio e interesses dos alunos, a maneira utilizada para envolvê-los no planejamento e seleção do material de leitura, considerando o grau de motivação desses.

Relacionamos aqui, alguns itens que consideramos importantes para facilitar a legibilidade do texto:

- Os professores devem propiciar condições para que o aluno desenvolva estratégias de leitura que viabilizem a compreensão textual;

- Deve-se elaborar materiais de leitura que facilitem a aquisição de estratégias por parte dos alunos, enfatizando as pistas fornecidas pelo texto de forma relevante;

- Os educadores devem levar em consideração o conhecimento prévio dos alunos, a partir do qual se estabelece a formulação de hipóteses.

São inúmeras as sugestões que caberiam aqui no intuito de tornar nosso aluno um leitor mais proficiente. O importante é ter em mente que ler exige que haja interação entre autor/texto/leitor; no caso de haver deficiência em algum destes elementos, a compreensão textual não se efetuará.

Enfim, foi nossa principal intenção neste artigo chamar a atenção para o fato de que quando o material de leitura oferece pistas inadequadas ou ineficientes seu entendimento estará comprometido.

Fonte:
Gercina Isaura da Costa Bezerra (Mestrado UNESP)
Considerações sobre o Material de Leitura

XIII Seminário do CELLIP (Centro de Estudos Linguísticos e Literários do Paranpa) 21-23 out 1999 - Campo Mourão . Maringá: Depto. de Letras da UEM, 2000 - Org. Thomas Bonnici (CD-Rom)

P.S. Com o intuito de preservar os direitos autorais da autora, as referências bibliográficas foram propositalmente retiradas, o que não afeta em hipótese alguma a veracidade e importância do documento.

Margarida da Silveira Corsi (Do Romance ao Palco, do Palco ao Romance: uma reflexão a ser feita)

Este trabalho faz parte de nossa pesquisa de mestrado que trata da reversibilidade ocorrida nas obras de Alexandre Dumas Fils (La dame aux Camélias, do romance para peça) e de José de Alencar (da peça As asas de um anjo para o romance Lucíola), e é uma tentativa de conceituação da reversibilidade, prática bastante comum no século XIX.

Este problema, sempre nos veio à mente como uma difícil missão, pois, quando nos deparamos com a confecção de suas possíveis respostas, descobrimos a importância de alguns pré-requisitos para essa conceituação. Para afirmarmos exatamente o que é reversibilidade, precisamos saber, em primeiro lugar, quando ocorreu, que razões levaram os autores a praticá-la e qual é o seu contexto histórico-literário. Tendo em vista estes questionamentos, começaremos, então, por buscar tais dados na historiografia literária e por visualizar um período em que os autores europeus e brasileiros, buscando ganhar espaço no meio literário, dividiam-se entre mais de um gênero; prática que, acreditamos, ter dado origem à reversibilidade.

Durante o século XIX, essa prática dos autores dividirem suas atividades criadoras entre gêneros literários diferentes, trabalhando em princípio com aquele que lhes assegurasse um sucesso ou reconhecimento imediato, para em seguida dedicar-se àquele ao qual direcionavam seu talento e preferência, tornou-se comum durante o período de ascensão do teatro e da prosa ficcional, na França. Assim, muitos autores que se destacaram na historiografia literária com o cultivo de um gênero literário específico, começaram suas carreiras com outro ou dividindo seu tempo entre dois gêneros literários diferentes.

No Brasil, essa divisão de talento entre dois gêneros é tão comum quanto na França, no entanto, a primeira opção dos autores brasileiros é pela produção dramatúrgica o que se dá em função da rápida ascensão que o teatro podia lhes proporcionar e de um espírito renovador que intuía a recriação da dramaturgia nacional.

Esse interesse dos autores brasileiros pelo teatro intensificou-se ainda mais após de 1855 com a inauguração do Teatro Ginásio Dramático que, inspirado no Théâtre Gymnase Dramatique de Paris, inovara o teatro brasileiro, dando um grande salto para o aprimoramento da nossa dramaturgia, introduzindo na corte o teatro realista francês que passaria a ser o estilo escolhido pelos grandes escritores do teatro nacional. É o que confirma João Roberto Faria ao dizer que “ A 12 de abril de 1855, no pequeno teatro de 256 lugares, rebatizado com o nome de Teatro Ginásio Dramático - inspirado certamente no Gymnase Dramatique de Paris -, a nova empresa inaugurou seus trabalhos, sem saber que dava o primeiro passo de uma importante renovação teatral, que logo se cristalizaria.” E acrescenta que “O Ginásio não só introduziu a nova escola francesa (realista) entre nós como despertou o interesse de uma jovem geração de intelectuais para o gênero dramático” Como podemos perceber através das palavras de João Roberto Faria, a abertura do Teatro Ginásio Dramático é um dos passos mais significativos para impulsionar uma vasta produção teatral no país e, por conseqüência para estimular nossos autores a produzirem para o teatro, sobretudo aqueles que se iniciavam na arte literária.

Nesse momento, muitos de nossos autores buscaram na dramaturgia uma maneira mais fácil e rápida para ascender-se no meio literário, por isso, muitos deles que preferiam a prosa de ficção ou a poesia trabalharam conjuntamente dois gêneros (dramaturgia e prosa ficcional). Dentre os autores brasileiros que buscavam sobressair como escritores, produzindo textos para o teatro, estão Joaquim Manuel de Macedo, José de Alencar e Machado de Assis, que foram atraídos pela possibilidade de destacar-se enquanto autor de uma comédia ou de uma tragédia encenada no teatro dramático do Rio de Janeiro. Essa atração dos escritores pelo texto teatral fez da arte dramática um dos gêneros prediletos do Romantismo brasileiro. Nesse período, era natural que “todo escritor, fosse qual fosse a sua vocação, tentasse adquirir no teatro o seu certificado de proficiência ficcional. Escrever romances era facultativo. Escrever peças praticamente obrigatório”.

Diferentemente dos autores brasileiros, os franceses tiveram desde o início a opção de escrever tanto para a dramaturgia quanto para a prosa de ficção, pois os dois gêneros estavam no auge de popularidade no contexto francês do início do século XIX, enquanto no Brasil o romance dava seus primeiros passos e o teatro buscava reerguer-se. Isso porque “a palavra romantismo, na França, aplica-se a toda uma época, mais exatamente, a todas as obras escritas dentro dela e que se inspiraram no espírito do século novo, traduzindo suas exigências” O Romantismo francês foi uma época de gênios e de obras-primas, nas artes da poesia, do romance e do teatro; portanto, uma época de vastas produções em todos os gêneros literários. Foi também um período de afirmação do valor literário, de mudanças progressivas na cultura, na sociedade e, por conseqüência, na dramaturgia e na prosa de ficção.

Assim, tanto a dramaturgia quanto a prosa ficcional eram sinônimo de trampolim para a conquista de um espaço na sociedade intelectual da França do século XIX. No entanto, houve épocas de predileção por um ou outro gênero. Durante o início do Romantismo, ou melhor num período que podemos chamar de pré-romantismo, era muito interessante para os literatos investirem na tragédia, a qual era muito incentivada pelo imperador. Depois do surgimento do drama romântico, o próprio público incentivou o cultivo de peças centradas na liberdade de expressão e na valorização dos conceitos burgueses. Entre 1840 e 1850, o folhetim perdurou como o gênero almejado por todo escritor. Entretanto, apesar da existência de momentos mais interessantes para um ou outro gênero, a dramaturgia e a prosa ficcional sempre foram gêneros bem estruturados na França e, por isso, eram sinônimo de grande expressão literária perante os autores renomados e aqueles que desejavam alcançar o sucesso por meio da literatura.

Data-se de 1827 (prefácio de Cromwell) e de 1830 (Hernani) a brutal irrupção do teatro romântico”. É, principalmente, nesse momento que a dramaturgia ganha novos rumos, pois o novo público, associado ao desejo de inovação dos gêneros literários, faz surgir uma nova forma de produção teatral, não mais centrada nos moldes clássicos, mas em busca de modernidade. Assim, “Os novos senhores do país freqüentavam o teatro: lacaios enriquecidos, fornecedores do exército, beneficiários da agiotagem ou da especulação sobre os bens nacionais, burgueses promovidos a altos cargos” os quais não apreciavam o teatro clássico, ao modelo de Corneille ou Racine, e davam mais atenção aos melodramas que pareciam mais convenientes para um público iletrado que desejava divertir-se.

Os dramas de Victor Hugo, Vigny e Alexandre Dumas Père, as tragédias de Delavigne e as comédias de Escribe marcaram um momento de evolução do teatro francês e predominaram durante um bom tempo nos teatros parisienses. As fases diferentes porque passou o teatro francês do início do século XIX testemunham a ascensão de muitos autores e de muitos estilos dramáticos. Foram a tragédia, o drama, as peças da école du bon sens, as comédias de costumes, o teatro de variedades, os vaudevilles e por fim o teatro realista, todos surgidos em decorrência de um desejo de inovação e de afirmação do talento de seus autores.

Paralelamente ao desenvolvimento da arte dramática, no início do século XIX, a prosa de ficção também sofreu transformações importantes para o seu aprimoramento enquanto forma literária. Popularizou-se através dos folhetins, a partir de 1840(É importante esclarecer que, segundo Marlyse Meyer, o folhetim surgiu em 1836, mas popularizou-se a partir de 1840), e ganhou novas formas com o romance social, o romance histórico, o romance negro. Depois de sua inserção nos periódicos, passa a ser uma das formas mais populares da representação literária francesa, levando aos periódicos escritores já renomados no teatro e também aqueles que buscavam alcançar a fama através das tiras fatiadas.

Mas, apesar da dupla possibilidade de produção que os autores franceses tiveram, os motivos que os levaram, no início de suas carreiras, à produção dramatúrgica não diferem daqueles dos autores brasileiros, pois ambos desejavam uma ascensão mais rápida e, como o teatro era uma maneira de o autor apresentar-se diretamente ao público, eles procuravam mostrar seus talentos nos palcos dos grandes teatros parisienses para depois partirem para a produção romanesca e, em, muitos casos, como o de Balzac e de Dumas Père, dirigirem-se depois de renomados para a publicação em folhetins que, além da glória, eram vantajosos financeiramente.

Assim, essa busca de afirmação e reconhecimento no meio literário fez grandes autores do contexto francês dividirem seu tempo de criação entre os dois gêneros literários mais reconhecidos e apreciados pelo público da época: dramaturgia e prosa de ficção. Victor Hugo (1802-1885), apesar de durante algum tempo de sua carreira ter se dedicado à poesia e de ter sido um grande poeta, dividiu grande parte de seu tempo de criação entre a dramaturgia e a prosa de ficcional.

E, de acordo com Jean Gaumier “o teatro projetava sua glória recente e o romance contribuía para desenvolvê-la entre o grande público” Alexandre Dumas Père (1802-1870) também iniciou sua carreira escrevendo mais de um tipo de texto, eram versos, comédias e dramas, e, depois de já ser reconhecido pelo pelo público, perferiu a prosa de ficção e passou a publicar em folhetins. É o que afirma Jean-François Josselin: “On connaît les mensurations impressionnantes de l’oeuvre de Dumas - plus gigantesque que celle de ses contemporains Balzac et Hugo: trois cents volumes au moins repartis entre le théâtre, le roman (surtout), les contes, les nouvelles, les traités, e bien sûr les memoires.” Honoré de Balzac (1799-1850), apesar de ser conhecido quase que exclusivamente como romancista, também começou sua carreira dividindo seu poder criador entre a dramaturgia e a prosa de ficção. Escreveu no início o drama Cromwell e o romance Sténie, mas, apesar de ter buscado o sucesso imediato no teatro, mostrou-se, desde o princípio mais propenso à prosa de ficção do que à dramaturgia, por isso sua passagem pelo teatro foi rápida e pouco fecunda em relação à sua produção romanesca. Alexandre Dumas Fils (1824-1895), seguindo os passos do pai, dividiu-se desde o princípio de sua carreira entre a dramaturgia e a prosa de ficção.

Em 1846, publicou Aventures des quatre femmes et d’un Perroquet e levou ao palco a peça Le bijou de la reine. Nos primeiros anos teve intensa produção de romance, sem nunca ter abandonado a dramaturgia. Mas foi somente a partir da encenação de La Dame aux Camélias que passou a dedicar-se mais às produções teatrais em detrimento da prosa de ficção. Sua obra compõe-se de 30 peças e 15 romances. A dedicação simultânea a esses dois gêneros fez com Dumas adaptasse seu texto escrito em princípio em prosa de ficção para o teatro. Composto e publicado em 1848, o romance La Dame aux Camélias obteve, desde o início, um grande sucesso com o público leitor e, depois de adaptado ao teatro, em 1852, foi aclamado pelo público parisiense, por sua inovação e pelo cunho realista que apresentavam suas cenas. Como vemos, essa experiência de Dumas foi positiva para o público e para a crítica que já haviam apreciado o romance e que terminaram por consagrar a peça como chef-d’oeuvre de um novo estilo dramatúrgico: o teatro realista francês.

Dentre os “romancistas-teatrólogos” ou “teatrólogos-romancistas” brasileiros, Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882) é quem mais obteve sucesso com a dramaturgia. Escreveu durante seu tempo de dedicação ao teatro 15 peças de teor e estilos variados, são comédias farsescas, dramas românticos, uma burleta, um drama sacro, uma comédia realista e um drama realista. A dedicação paralela entre o drama e o romance não impediu que o autor de Luxo e Vaidade e de A Moreninha fosse apreciado, durante o Romantismo, tanto por ser um autor iniciador da prosa de ficção no Brasil quanto por seu bom desempenho na dramaturgia. Machado de Assis (1839-1908), depois de dar os primeiros passos de sua carreira, escrevendo resenhas críticas e algumas poesias, também dedicou-se algum tempo ao teatro. Neste período, escreveu 12 peças, dentre as quais está Forcas Caudinas, que fora mais tarde transformada no conto Linha Reta, Linha Curva.

Da leitura de seus textos teatrais Quintino Bocaiúva dissera: “São para serem lidos e não representados”. A prova disso é que, ao efetuar a reversibilidade de sua peça para conto, o autor precisou apenas modificar a estrutura do texto, passando do discurso direto para o indireto e dando voz a um narrador já perspicaz que conhece as personagens interiormente. Alencar (1829-1877), assim como Macedo e Machado, também dividiu seu poder criador entre o teatro e a prosa de ficção, e apesar de ter iniciado sua carreira publicando três folhetins de sucesso, decidiu dedicar-se, por algum tempo, ao teatro em detrimento da prosa ficcional. Esta escolha inicial, feita em função da importância que a dramaturgia tinha na época e do desejo de Alencar de contribuir para o aprimoramento e para a afirmação do teatro realista no Brasil, não foi em vão, pois, durante algum tempo, sobretudo depois da inauguração do teatro Ginásio Dramático do Rio de Janeiro, a dramaturgia realista brasileira, baseada na nova estética teatral francesa, ganhou espaço, pouco a pouco, nos palcos cariocas.

Alencar só retornou à ficção romanesca depois do fracasso de O Crédito, em 1857, e da proibição de sua peça As Asas de um anjo, em 1858. Depois de decepcionar-se com o teatro, retomou a prosa ficcional, quando publicou o romance Lucíola em 1864, o qual apresentava o mesmo tema da peça As Asas de um anjo. Daí em diante, apesar de não abandonar por completo a produção teatral, passa a dedicar-se muito mais à produção de romances. Pode-se dizer que o tempo que Alencar trabalhou com a dramaturgia não foi somente importante por sua contribuição à renovação teatral brasileira, mas também porque a partir de sua experiência teatral, valorizou a estrutura de seus romances, atribuindo-lhes elementos característicos da dramaturgia. Além dessa influência interna nos textos, Alencar, assim como Dumas Fils, fez uso da reversibilidade, quando transformou sua peça As Asas de um anjo no romance Lucíola. O resultado dessa adaptação foi um romance bem trabalhado e que respondia às expectativas do público-ledor e da crítica moralista que havia rejeitado a peça em função de sua temática e das cenas realistas que apresentava.

É interessante acrescentar que, no momento da reversibilidade, a opção dos autores que se dedicaram às duas modalidades narrativas acaba direcionando-se para o gênero de sua preferência, ao qual demonstra possuir mais aptidão e talento, sobretudo, quando isso significa ter mais oportunidade de afirmação pessoal no meio literário. Essa predileção pela modalidade a que os autores acreditavam ter mais predileção pode ter contribuído para a opção de Dumas Fils e de Alencar para a transformação de seus textos iniciais, pois, coincidentemente, os dois autores transformaram seus textos originais em gêneros diferentes que atestavam suas preferências por um determinado gênero. Dumas partiu do romance para o teatro e Alencar do teatro para o romance. Escolhas que podem ter sido impulsionadas pelas vantagens que cada modalidade podia oferecer ao escritor, no dado momento de sua produção ou de sua transformação.

Dumas escreveu e publicou seu romance num momento em que a prosa de ficção estava no auge de sua produção no contexto literário francês, durante o advento do folhetim (É preciso esclarecer que Dumas publicou seu romance em volumes, mas não deixou de ser favorecido pelo advento do folhetim que impulsionou toda a prosa ficcional desse momento), e sua peça foi ao palco num momento de decadência, ou melhor, de proibição da inserção do romance nos jornais, quando o teatro mostrava-se como a melhor forma de ascensão para o literato, e Alencar escreveu sua peça-teatral, em 1857, exatamente quando o teatro brasileiro se reerguia e transformou-a em romance no momento mais culminante da prosa de ficção nacional.

Os dois autores, além do amor pela produção teatral ou romanesca, tiveram senso de oportunismo, escrevendo suas obras nos gêneros que acreditavam ser os mais adequados para o primeiro momento e as transformaram também quando era mais coerente para alcançarem o apoio do público e da crítica, sem é claro deixar de considerar suas preferências.

Diríamos, então, que a reversibilidade, além de transformação, adaptação e conversão de um texto em outro, é decorrência de uma prática que intuía a realização pessoal do autor e que testemunhava sua capacidade de criação, pois, para tanto, era preciso que ele estivesse apto a usar de sua pena criadora tanto para a produção dramática quanto para a ficcional. É, além de tudo isso, prova de que a arte literária pode manifestar-se da maneira que for mais conveniente ao escritor, desde que continue sendo uma forma de representação social que diverte e instrui sem deixar de atender aos desejos da sociedade que representa ou que intenta agradar. Assim, a transformação de um romance em uma peça-teatral ou de uma peça-teatral em romance testemunha o desejo do autor de atender às preferências do público-leitor ou dos espectadores.

Ao executar a reversibilidade, esse autor, além de apresentar o texto no gênero narrativo de preferência do seu receptor atual, retira os elementos que lhes são desagradáveis e insere outros de sua preferência, tornando-o mais agradável ao público e à crítica. Dessa forma, a reversibilidade é positiva tanto para o público-receptor quanto para o literato, uma vez que este ganha com a conquista de novos leitores ou espectadores e aquele com o prazer que sente ao ler um texto ou ao ver uma peça que respeite seus limites morais ou sociais.

Fonte:
Margarida da Silveira Corsi (mestrado-UNESP-Assis)
Do Romance ao Palco, do Palco ao Romance: uma reflexão a ser feita
XIII Seminário do CELLIP (Centro de Estudos Linguísticos e Literários do Paranpa) 21-23 out 1999 - Campo Mourão
Maringá: Depto. de Letras da UEM, 2000 - Org. Thomas Bonnici (CD-Rom)

P.S. Com o intuito de preservar os direitos autorais da autora, as referências bibliográficas foram propositalmente retiradas, o que não afeta em hipótese alguma a veracidade e importância do documento.