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sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Salomão Sousa (1952)

Salomão Sousa nasceu em 19 de setembro de 1952 em Silvânia (GO).

Mudou-se para Brasília em 6 de janeiro de 1971, residindo no Núcleo Bandeirante desde agosto de 1984.

Jornalista do Poder Executivo, trabalha em assessoramento parlamentar pelo Ministério do Trabalho.

Participou do movimento da Poesia Marginal, no final da década de 70, principalmente com Esbarros.

Nesta época, assim se manifestava Jorge Amado sobre Salomão Sousa: “Um poeta de primeira ordem — original e humano, sensível e consciente. Poesia que não é cera, é chama”.

Manteve sempre uma postura crítica de resistência, não apenas no conteúdo de sua obra, mas também diante do trabalho do poder público e da imprensa no que se refere ao tratamento dispensado à Literatura.

Organizou as antologias Em Canto Cerrado (de poesia) e Conto Candango, com escritores de Brasília.

Entre outras publicações, participa da Antologia da Nova Poesia Brasileira(1992), de Olga Savary; e dA Poesia Goiana do Século XX, de Assis Brasil.

Bibliografia:
A moenda dos Dias, l979;
A Moenda dos Dias/O Susto de Viver, 1980;
Criação de Lodo, 1993; e
Caderno de Desapontamentos, 1994.

Editor do Chuço, zine de resistência contra a má atuação da Imprensa e de registro da correspondência pessoal, inclusive com observações sobre os livros recebidos.

É um dos 47 poetas incluídos no número que a revista portuguesa Anto dedicou em 1998 à literatura brasileira em comemoração aos 500 anos da descoberta do Brasil.

Estoque de relâmpagos, 2002, Prêmio Bolsa Brasília de Produção Literária da Secretaria de Cultura do Governo do Distrito Federal.

Blog do autor: www.safraquebrada.blogspot.com

Fontes:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/distrito_federal/salomao_sousa.html
http://www.jornaldepoesia.jor.br/ssousa.html

domingo, 15 de abril de 2012

II Encontro Nacional de Escritores e Poetas em Caçu (21 e 22 de abril)


Tenho o prazer de convidá-lo para participar das atividades do II Encontro Nacional de Escritores e Poetas em Caçu dias 21 e 22 próximos (sábado e domingo), observando-se a seguinte programação:

I - Sábado, dia 21, às 19 horas:

- Confraternização dos escritores visitantes na Pizzaria Birosk, à Praça Joaquim Rodrigues, ao lado do Colégio Municipal. O fato marcará o décimo aniversário da Alesg-Academia de Letras do Extremo Sudoeste de Goiás;

II - Domingo, dia 22, às 8h:

- Visita e leitura de poemas da Árvore da Poesia do Lago, ao lado do conjunto Arco Iris;

III - Domingo, 22, em seguida à visita à Ávore da Poesia do Lago:

- Deslocamento para o Centro Cultural Rozenda Cândida Guimarães, para a visitação à exposição de artes plásticas (óleo sobre tela e retratos em grafite), obras de artistas cassuenses;

IV - Domingo, em continuidade à visitação à Galeria de Artes, no auditório do Centro Cultural:

- Momento de integração cultural dos participantes de Cassu com os convidados visitantes, incluindo a apresentação de números artísticos musicais e literários;

V - Domingo, 22, às 15h, no auditório do Centro Cultural:

- Solenidade de instalação da Governadoria da Associação Internacional de Poetas Del Mundo em Goiás, com posse da primeira diretoria.

A solenidade será dirigida pela presidente da Associação Internacional de Poetas Del Mundo, Delasnieve Daspet.

Na oportunidade haverá comunicações oficiais de interesse literário aos Poetas Del Mundo e comunidade em geral e serão prestadas algumas homenagens a personalidades benfeitoras da cultura em geral e da literatura em particular;

VI - Domingo, 22, às 18 horas:

- Deslocamento dos escritores e poetas para a cidade de Itarumã, saída do comboio da Praça Bianor Vicente de Souza, de frente para o Banco do Brasil e Câmara Municipal.

Para os escritores que preferirem, haverá um ônibus da Prefeitura de Cassu à disposição para conduzirem os escritores de ida para Itarumã e de regresso para Cassu;

VII - Domingo, dia 22, às 19h, em Itarumã:

- Solenidade de instalação da ALB, com diplomação e posse de novos acadêmicos de cidades goianas e de outros Estados do Brasil, já confirmados Mato Grosso do Sul, São Paulo e Minas Gerais.

- A solenidade será dirigida pelo presidente nacional da ALB, Prof. Dr. Mário Lopes Carabajal;

- Solenidade de instalação da Aloita-Academia de Letras e Ofícios de Itarumã, com diplomação e posse;

- Ao final da solenidade, retorno da Caravana de Cassu;

VIII - Segunda feira, dia 23, às 9h, em Aparecida do Rio Doce:

- Na Câmara Municipal, solenidade de instalação da ALB, com diplomação e posse de acadêmicos de Aparecida do Rio Doce;

- Solenidade de instalação da Aloard-Academia de Letras e Ofícios de Aparecida do Rio Doce.

José Faria Nunes
Presidente Estadual da Academia de Letras do Brasil/ Goiás

domingo, 4 de dezembro de 2011

Gabriel Nascente (1950)


1950
23 de janeiro, nasce em Goiânia, Goiás, Gabriel José Nascente, quarto filho de Antônio Estrela Nascente e de Antônia Barbosa Nascente.

A infância do menino Bié foi literalmente vivida em contato com a rudeza operária da marcenaria do seu pai Tunico Nascente (Seu Tunico), erguida sobre rijos troncos de aroeira, à rua 75, nº 3, defronte à Escola Técnica Federal de Goiás, no antigo Bairro Popular, de Goiânia, onde funcionou ao longo dos anos 50. Ambiente propiciado ao fluxo de operários e estudantes, principalmente, onde o pequeno vate desenvolveu sua infância ao lado dos seus sete irmãos. Antônio Estrela Nascente pertenceu à saga de pioneiros da construção da nova capital goiana.

1956
Matriculado no Instituto Araguaia de Goiânia, aos seis anos de idade, onde fez o jardim da infância e o primário.

1958
Morre, prematuramente, aos 36 anos, seu pai Antônio Estrela Nascente, a 28 de dezembro, vítima da doença de Chagas, deixando numerosa prole (de oito filhos) e esposa na orfandade. A partir daí, com a morte do pai, o cérebro do então garoto se transforma numa caixa de tumulto, buscando aventuras arrojadas à sua tenra idade. Passa a dividir o tempo entre serviços braçais na marcenaria do seu tio José de Paula Nascente, e peraltices esdrúxulas, na infância.

1962
Aos doze anos fabricou, em estrutura de madeira revestida com lâminas de duratex, um submarino, o qual conduziu em carrinho de rolimã até às turvas águas do rio Meia Ponte — cachoeirinha da Usina do Jaó — local onde atirou o submersível às águas, com um colega a bordo: Joãozinho, que anos mais tarde se suicidara com fortes doses de formicida, às margens do córrego João Leite, em pleno matagal. Experiência essa que, por um fio, acabaria em tragédia, caso não aparecesse um pescador, no preciso momento em que o “aparelho” ganhava profundidade, levando ao afogamento seu piloto. O que, felizmente, ele voltou à tona, a salvo. Por causa disso, e também por outras travessuras de rebeldia na adolescência, o Bié da 75, foi alcunhado de cientista louco.

1963
Arquiteta (e lidera) uma fuga para a África, aos 13 anos de idade, comprando uma cartucheira de dois canos, calibre 22; arma que foi experimentada, à plena luz do dia, no brejo do bosque do Botafogo, coberto de folhagens, regos d’água e lama. Projeto que culminou com a prisão de alguns de seus integrantes (todos menores), e a fuga do seu líder, o poeta, para a vizinha cidade de Anápolis, escondido na carroceria de um caminhão, munido apenas de alguns livros escolares, um canivete, uma lanterna e alguns centavos em dinheiro.

1964
Aprovado nos exames de Admissão ao Ginásio Industrial da Escola Técnica Federal de Goiás - ETFG.

1965
Escreve seus primeiros poemas e torna-se companheiro de classe do poeta Aidenor Aires. Um ano mais tarde, o etefegeano reúne material suficiente para sua estréia literária, e publica o livro de poesias Os gatos, em 1966. Por paixão a tão louco projeto, o departamento pedagógico da ETFG o encaminhou ao consultório psiquiátrico do dr. Walter Massi. Diagnóstico: a doença era mesmo a poesia. Inscreve-se numa corrida de bicicleta (categoria adulto) e chega vitorioso ao pódium, aplaudido pela multidão de populares, no dia 24 de outubro, data consagrada ao aniversário de Goiânia. Não percebendo os acenos do fim da competição ciclística, o arrebatado atleta continuou correndo, sem se dar conta de que já era campeão.

1966
Sobe, pela primeira vez, ao palco da Escola Técnica Federal de Goiás e interpreta o poema Nordeste, de sua autoria. Apresentação que lhe rendeu calorosos aplausos. Naquele mesmo ano, vive o papel de vice-bruxo na peça teatral “A bruxinha que era boa”, de Maria Clara Machado, e mergulha na ficção de Franz Kafka, lendo-o apaixonadamente.

1967
11 de janeiro, lançamento do seu primeiro livro de poemas Os gatos, na antiga livraria Bazar Oió, de Goiânia, quando reuniu numerosas autoridades, intelectuais e amigos, autografando mais de uma centena de exemplares. Primeiras leituras da poesia de Augusto dos Anjos, Guerra Junqueira, Antero de Quintal e Edgar Alan Poe. Conhece o professor, poeta e crítico literário Domingos Félix de Souza, o qual, a partir daquele ano, lhe orienta no caminho das letras, ajudando-o pessoalmente a publicar seus livros. Também é deste ano a viagem que o jovem poeta empreendeu sozinho, ao Rio de Janeiro, onde se fez hóspede do renomado poeta brasileiro Moacyr Félix — outro guia intelectual de sua obra poética ao longo dos anos futuros. Com ambos os Félix, sedimentou fidedigna amizade, que perdura. Em dezembro, recebe o diploma de formando do Ginásio Industrial da ETFG.

1968
Entra pela primeira vez na redação de um jornal, o semanário Cinco de Março, onde conhece e trava amizade com o jornalista Batista Custódio e tantos outros da linha de combate às atrocidades militares deflagradas contra a liberdade de imprensa em todo o país, durante o período da recessão imposto pelo Golpe de 64. Naquele ambiente de jornal impresso à base de linotipo, o poeta estreante aprende, na prática, suas primeiras noções de jornalismo. Tenta adaptar para o teatro o texto da novela A metamorfose, de Franz Kafka. Já enturmado à equipe de redatores daquele jornal, ensaia seus primeiros passos de repórter, escrevendo textos e matérias.

1970
Conhece os editores Irmãos Oriente (Taylor e José Modesto, o Zezinho, ambos falecidos) e publica pela Ed. Oriente o livro Reflexões do conflito, poemas em parceria com o poeta Aidenor Aires. Nesse mesmo ano, sai pela Imprensa da Universidade Federal de Goiás, o livro, também de poesias, Menino de rua — composto nas oficinas do jornal Cinco de Março, e impresso com papel cedido pela Ed. Oriente. Em novembro, o poeta Carlos Drummond de Andrade aplaude retumbante, por carta, o aparecimento do livro Reflexões do conflito, onde, segundo ele, encontrou “a marca de uma personalidade poética intensamente mergulhada no drama do mundo contemporâneo”.

1971
Deixa Goiás, numa espécie de auto-exílio, na busca de novas perspectivas para os seus planos de vida transferindo-se para a grande São Paulo em companhia do poeta e jornalista Brasigóis Felício. Ali, após meses de penúria e desempregado, é recebido pelo poeta Menotti Del Picchia, da Academia Brasileira de Letras, que lhe arranja emprego na hoje extinta Livraria Martins Editora; tornando-se amigos. Escreve os poemas de Colméia de anônimos. Nos meses em que viveu (sobreviveu) na paulicéia desvairada, partiu para o corpo a corpo, vendendo pessoalmente seus livros na Feira Hippie da Praça da República bem como em restaurantes, choperias e boates, da populosa capital. Retorna à Goiânia, em caráter de visita, durante os festejos dezembrinos, e decide não mais voltar para São Paulo. Novamente desempregado, refugia-se numa fazenda às margens do rio Claro, no sudoeste goiano, onde se entrega desesperadamente à leitura das obras de Albert Camus.

1972
É publicado pela Editora Oriente, Viola do povo (Cadernos de Poesia I), com patrocínio do Centro dos Professores de Goiás. Obra, inclusive, lançada no Bar do Mercado Central de Goiânia, com pastel e chope para o povo. Meses depois, veio à tona, pela mesma editora, o livro A Escalada Poética de Gabriel Nascente - seleção de estudos sobre a poesia de GN, organizada pelo professor Manuel Jesus de Oliveira. A revista Hispano-Americana, em sua edição de nº 15, publica o poema Reminiscências da terra, de sua autoria, na seção Un Minuto para la Poesia.

1973
Sai, pela Livraria Martins Editora, de SP, capital, o livro Colméia de anônimos, com prefácio de Menotti Del Picchia. É eleito Patrono do Clube de Leitura do Centro de Formação de Professores Primários de Morrinhos-CFPP, pelos bolsistas daquele Centro. Indicado pela Secretaria de Educação e Cultura do Estado para representar Goiás no Primeiro Concurso Nacional de Poesia Falada, em Salvador-BA. E ali, no Teatro Castro Alves, interpreta o poema O dia do julgamento.

1974
Aparece a 1ª edição de Um balde cheio de flores pra Manuela não chorar, pela Editora Oriente. É homenageado pela Prefeitura de Goiânia, com o título de “Personalidade do Ano 74”. O jornal Rio Negro, o diário mais antigo e de maior circulação da Patagônia, General Roca, Argentina, de novembro de 1974, dedica meia página à poesia de Gabriel Nascente, com notas e traduções de Natalio Kisnerman. Conhece o poeta Vinícius de Moraes, em Goiânia, e o acompanha durante três dias, em sua digressão etílico-teatral. Entrevista o romancista Jorge Amado durante as filmagens de um documentário sobre sua obra, no Mercado Modelo de Salvador, cidade baixa. A convite do Cerimonial do Governo do Estado de Pernambuco, visita Recife, e tem como anfitrião o poeta Marcus Accioly. Foi chamado a integrar a comitiva que acompanhou um cônsul japonês, numa caçada de baleias pelos mares do nordeste. “Ora vejam: — noticiou o jornalista José Elias, em sua coluna Comunicações de O Popular, edição de 1º de dezembro de 1974 - nosso menino de rua, às voltas com os problemas existenciais, convocado a participar de aventura tão fantástica como a caça à baleia, em suntuosos barcos japoneses”.

1975
Sai, pela Pd. Araújo - Livaria e Editora Cultura Goiana, o livro Os passageiros, poemas. Atravessa o Mar del Plata em direção a Argentina, onde cumpre missão cultural no Centro de Estudos Brasileiros de Buenos Aires e vê uma seleção de poemas de sua autoria vertidos para o castelhano pelo professor e poeta Dilermando Rocha. Trabalho este que resultou na publicação do livro El llanto de la tierra, 24 anos depois, na cidade de Concepción, no Chile. Em Buenos Aires, o poeta frequenta a sede da Agrupación Gremial de Escritores Argentinos. Sua passagem pela capital portenha foi saudada em versos pelo autor de El agua mansa, Dilermando Rocha. De volta ao Brasil, é recebido pelo poeta Carlos Nejar, em Porto Alegre-RS, e tornam-se amigos. Visita o escritor Érico Veríssimo, em sua casa, para entrevista jornalística. Participa, à convite do professor e poeta Gilberto Mendonça Teles, em agosto, no Rio de Janeiro, da tradicional reunião sabática, do sorvete com bolachas, na biblioteca do escritor Plínio Doyle, onde conhece Carlos Drummond de Andrade, Juscelino Kubitschek, Mário da Silva Brito, Homero Homem, Alfonsus de Guimaraens Filho, dentre outros.

1976
Nasce a 17 de janeiro sua filha Vanessa Rodrigues de Almeida Nascente. Candidata-se à cadeira de número 14 da Academia Goiana de Letras, aos 26 anos, e provoca polêmica entre os intelectuais goianos, na imprensa. Apesar de obter apenas um único voto, tumultuou a candidatura do seu concorrente. É publicado nas páginas 21 e 22 da Antologia, das ediciones Figaro, ano IV, nº 5, de Buenos Aires, como único figurante da poesia brasileira.

1977
Inicia correspondências com o poeta Ronald Cláver, de Belo Horizonte, MG; e com ele publica Exilados do sol — um livreto, em duplex, artesanalmente confeccionado. O jornal O Globo, do Rio de Janeiro, em sua edição de 10 de junho, o chama de “um fenômeno literário”. Também o jornal O Aspep - Órgão da Associação dos Servidores Públicos do Estado da Paraíba, em sua edição de agosto, o trata como “um dos maiores fenômenos poéticos de Goiás”.

1978
Lança, em meio a móveis e eletrodomésticos, o livro A nova poesia em Goiás, antologia dos poetas goianos, editada pela Oriente. Nasce o seu filho Thiago Estrela Nascente. Viaja, em companhia do seu editor José Modesto Oriente, para João Pessoa, na PA, onde recebe da Academia Paraibana de Poesia o título de “Embaixador da Poesia Brasileira”.

1979
A revista Encontros com a Civilização Brasileira, número 13, da Editora Civilização Brasileira S/A, RJ, publica vários poemas seus. Lança a antologia dos poetas bissextos: Colheita (A Voz dos Inéditos), em edição da Unigraf.

1980
Publica, pela Editora Oriente, Pastoral, poemas, com prefácio de Moacyr Félix. É citado por Assis Brasil em O Livro de Ouro da Literatura Brasileira (400 Anos de História Literária), pág. 223, Grupo Ediouro / Editora Tecnoprint S.A., RJ.

1981
Sai, pela Civilização Brasileira - Massao Ohno / Editores, do Rio de Janeiro, Águas da meia ponte, também prefaciado por Moacyr Félix. Volume 48 da Coleção Poesia Hoje. Recebe o Troféu Tiokô, da União Brasileira de Escritores, Secção Goiás, como o autor que mais se destacou na área de literatura no ano de 1980. Entrevista, no Rio de Janeiro, os escritores Pedro Nava, José J. Veiga, Edilberto Coutinho e Moacyr Félix.

1982
Sai, pela Editora Civilização Brasileira S/A, RJ, Chão de espera, (segunda edição do livro Menino de rua, revisto e ampliado), volume 64 da Coleção Poesia Hoje, daquela editora. Conhece Maria D’Lourdes Silveira, com quem celebra união conjugal.

1984
Obtém premiação no I Concurso Nacional de Poesia Vinícius de Moraes para servidor público, e é publicado em antologia do referido certame, pela Editora Nova Fronteira. Recebe, ainda, o Troféu Júri Popular Vinícius de Moraes. Vence o Concurso Literário Cinquentenário de Goiânia, patrocinado pela Prefeitura. Concorre à presidência da União Brasileira de Escritores, liderando a chapa Combate; é derrotado.

1985
Crônica da manhã, poemas, é publicado pela Universidade Católica de Goiás.

1986
Aparece o seu primeiro livro de prosa, Um dia antes de mim, novela, publicado pela Universidade Católica de Goiás.

1987
Lança, pela Editora Líder, Madrugada nos muros, poemas. E ganha, pela segunda vez, o concurso de poesias promovido pela Prefeitura de Goiânia, no transcurso do aniversário da capital goiana. Conhece pessoalmente o líder do Partido Comunista Brasileiro, Luís Carlos Prestes.

1988
Publica Janelas da insônia, poemas, pela Editora O Popular. É eleito por aclamação o primeiro presidente-fundador do Conselho Municipal de Cultura, do qual ainda é membro. À convite do professor Ático Vilas Boas da Mota, empreende viagem à Macaúbas, no sertão da Bahia, onde é homenageado pela Fundação Cultural Professor Mota, ao lado do médico e artista plástico Getúlio P. Araújo. É selecionado pelo VII Prêmio Scortecci de Poesia e publicado na antologia Lauréis, volume IV, da João Scortecci Editora, São Paulo, 1989.

1989
A Editora Líder publica Trono de areia, poemas.

1990
Entrevista o poeta Ferreira Gullar.

1992
A Ediouro S/A, do Rio de Janeiro, publica Sentinelas do efêmero (Entrevistas Literárias). Participa da Antologia da Nova Poesia Brasileira, organizada por Olga Savary, Fundação Rio/Rio Arte, Editora Hipocampo. Distribui cerca de dez mil exemplares do livreto A valsa dos ratos, durante as eleições de 92, quando então disputou uma cadeira de vereador por Goiânia, e perdeu.

1993
A ponta do punhal, poemas, é publicado pelo Cerne/GO.

1994
Candidata-se à presidência da Associação Goiana de Imprensa-AGI, mas não chega a duelar o voto porque sua chapa não obteve registro.

1995
Sai, pela Fundação Cultural Pedro Ludovico / Cerne, Ventania, poemas. É antologiado, simultaneamente, por duas publicações de âmbito nacional: Poesia Sempre, revista semestral de poesia, ano 3, número 5, da Fundação Biblioteca Nacional / Departamento Nacional do Livro; e Sincretismo - A Poesia da Geração 60, com introdução e organização de Pedro Lyra. Fundação Cultural de Fortaleza / Fundação Rio Arte / Editora Topbooks, RJ. Lança, em caráter pioneiro em todo o país, a idéia de se publicar fragmentos de poesia, nas contracapas (parte interna) dos talões de cheques. O Banco do Estado de Goiás S/A aprovou e executou o projeto.

1996
É o primeiro goiano a ganhar o maior prêmio literário de poesia, de todo o país: o Prêmio Cruz e Souza de Literatura, da Fundação Catarinense de Cultura, Santa Catarina, com o livro de poemas A Lira da lida. Por esta premiação o poeta recebeu dez mil reais, mais a publicação da obra. E lança, pela Editora Kelps de Goiânia, Sandálias de pedra, uma incursão poética ao minimalismo.

1997
É premiado pelo concurso literário da Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos, com o livro de poemas Os aventais da púrpura. Recebe 20 salários mínimos, mais a publicação da obra. E lança, pela Editora Kelps, Goiás, meio século de poesia, antologia de poetas goianos. Participa, com substanciosa colaboração, da antologia A poesia goiana no século XX, organizada por Assis Brasil, publicada pela Imago Editora, do Rio de Janeiro.

1998
Pela Editora Kelps, publica mais dois novos títulos: A cova dos leões, romance e O anjo em chamas, poema dramático sobre a vida e a obra de Arthur Rimbaud.

1999
Lança, pela Editora Kelps, A taça derramada, poemas. É publicado, em Concepción, no Chile, o livro El llanto de la tierra (Prantos da Terra), seleção de poemas traduzidos para o castelhano pelo também poeta Dilermando Rocha, do Centro de Estudos Brasileiros de Buenos Aires, na década de 1970. Em edição de Sérgio Ramón Fuentealba e Cecília Zuñiga Sanhuesa. Por iniciativa do ministro Elias Bufaiçal, a Federação do Comércio em Goiás o homenageia, lavrando em monumento de aço escovado um poema de sua autoria. E a Assembléia Legislativa do Estado de Goiás lhe outorga a Comenda Prof. Colemar Natal e Silva, e o Troféu Cora Coralina, pelo seu conjunto de obras.

2000
É aprovado pelo Conselho Editorial do Centro Editorial e Gráfico da Universidade Federal de Goiás-Cegraf, com o livro inédito de poemas Boa-noite, crepúsculo, o qual será publicado pela Coleção Vertentes daquela editora.

Vence o concurso literário da Bolsa de Publicações Cora Coralina, com o livro de poemas O pão selvagem (inédito), promovido anualmente pela Agência Goiana de Cultura Pedro Ludovico Teixeira. Também, neste mesmo ano, vence o concurso literário da Bolsa de Publicações Wilson Cavalcanti Nogueira, da prefeitura municipal de Pires do Rio, GO., com o livro inédito, A Dança do Relâmpago, poemas. "... os poemas de Gabriel Nascente, imprevistos e lucinantes, explodem como brados de protesto e irreverência. Uma espécie de Fernando Pessoa da quadra atômica, não raro pedestrenante demagogo, mas original, ingênuo, espontâneo e sempre artista". Menotti del Picchia, 1973

"Sua poesia continua viva e atuante, e testemunho disto é Pastora, que recebi há pouco, e onde encontro muitas confirmações do seu engenho criador, sempre alerta diante da vida." Carlos Drummond de Andrade, 1980

"Não se trata de um poeta de iniciação tribal. Neste sentido, aliás, é o poeta mais solitário de Goiás ("Eu sou/uma solidão/que anda"). Daí também a sua força produtiva: escreve para si, para a Poesia e para esse além de si que é o povo, na sua mais alta concepção antropológica da poesia". Gilberto Mendonça Teles.

Fontes:
- www.palavrarte.com/equipe/equipe_gnascente.htm
- http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/goias/gabriel_nascente.html

sábado, 12 de novembro de 2011

Yêda Schmaltz (1941 – 2003)


Nasceu em Tigipió (PE) a 8 de novembro de 1941. Recém-nascida foi levada para Goiás, passando a residir em Ipameri (GO), terra do seu pai. Faleceu a 10 de maio de 2003, em Goiânia.

Bacharel em Letras Vernáculas e em Direito. Professora da Universidade Federal de Goiás, Instituto de Artes.

Recebeu inúmeros prêmios e distinções, cabendo destacar o da Associação Paulista de Críticos de Arte, melhor livro de poesia, 1985 (Baco e Anas brasileiras); Remington de prosa e poesia, RJ/1980; Simon Bolivar, Fondi, Itália, 1998; prêmio nacional Itanhangá de poesia/1985; Simon Bolivar, Fondi, Itália, 1998; Hugo de Carvalho Ramos /1973-1975-1985 e 1995; IV Concurso Nacional de Literatura da Fundação Cultural de Goiás/1979; José Décio Filho (GO), 1990; BEG de Literatura (GO), de 1996 e 97; Cora Coralina (GO), 1996, etc.

Yêda, com Cora Coralina, a voz feminina da poesia de Goiás ganhou altura insuspeitável.

Destacou-se igualmente como artista plástica.

Participou da fundação do GEN (Grupo de Escritores Novos).

Bibliografia:
Caminhos de mim (poesia), Goiânia, Escola Técnica Federal de Goiás, 1964;
Tempo de Semear (poesia), Goiânia, Cerne, 1969;
Secreta ária (poesia), Goiânia, Cultura Goiana, 1973;
Poesias e contos bacharéis II (antologia, c/ Teles, J. Mendonça e Jorge, Miguel) Goiânia, Oriente, 1976;
O peixenauta (poesia), 1ª edição, Goiânia, Oriente, 1975; 2ª edição, Goiânia, Anima, 1983;
A alquimia dos nós (poesia), Goiânia, Secretaria da Educação e Cultura, 1979;
Miserere (contos), Rio de Janeiro, Antares,1980;
Os procedimentos da arte (ensaio), Goiânia, UFG, 1983;
Anima mea (seleção de poemas), Goiânia, Anima, 1984;
Baco e Anas brasileiras (poesia), Rio de Janeiro, Achiamé, 1985;
Atalanta (contos), Rio de Janeiro, José Olympio, 1987;
A ti Áthis (poesia), Goiânia, Sec. Cultura e Prefeitura, 1988;
A forma do coração (poesia), Goiânia, Cerne, 1990;
Poesia(antologia poética) , Oficina Literária da Funpel,(xerox), Goiânia,1993;
Prometeu americano (poesia), Goiânia, Kelps, l966;
Ecos (poesia), Goiânia, Kelps, l966; Rayon (poesia), Goiânia, Cerne / Funpel, 1997;
Vrum (poesia), Goiânia, Edição da autora, 1999;
Chuva de ouro (poesia), Goiânia, Cegraf/UFG, 2000;
Urucum e alfenins – Poemas de Goyaz , Goiânia, Cegraf/UFG,2002

O Peixenauta recebeu o Prêmio Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos - Concurso da União Brasileira de Escritores de Prefeitura de Goiânia.

Fontes:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/goias/yeda_schmaltz.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Y%C3%AAda_Schmaltz

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Afonso Félix de Sousa (1925 – 2002)


Afonso Félix de Sousa (Jaraguá/GO, 5 de julho de 1925 - Rio de Janeiro, 7 de setembro de 2002) foi um poeta, cronista, jornalista e tradutor brasileiro.

Aos nove anos se mudou para Pires do Rio (GO), onde seu pai foi exercer o cargo de agente fiscal de rendas estaduais.

Em 1942 publicou os primeiros poemas no jornal Voz Juvenil do Ginásio Anchieta, da cidade de Silvânia, onde estudava. No ano seguinte, mudou-se para Goiânia, onde iniciou sua atividade literária, colaborando em jornais como O Popular e a Folha de Goiaz e na revista Oeste.

Em 1944 matriculou-se no curso de Comércio e Contabilidade do Ateneu Dom Bosco e ingressou, por concurso, no quadro de funcionários do Banco do Brasil. Com outros escritores goianos fundou, em 1946, a Associação Brasileira de Escritores — Seção de Goiás. Um ano depois, transferido para a Direção Geral do Banco do Brasil, mudou-se para o Rio de Janeiro.

Foi contemplado, em 1953, com bolsa de estudos para um curso de especialização em Economia na École Pratique des Hautes Études, da Sorbonne, em Paris. Dois anos depois, terminado o curso, retornou ao Brasil.

Em 1959, casou-se com a poetisa Astrid Cabral, com quem teria cinco filhos.

Mudou-se para Brasília em 1962.

Designado, em 1970, pelo Ministério das Relações Exteriores e pelo Banco do Brasil, serviu como assistente de promoção comercial na Embaixada Brasileira em Beirute por dois anos e meio, regressando ao fim da missão para o Rio de Janeiro.

Em 1975, aposentou-se no Banco do Brasil, onde trabalhou por muitos anos nos setores de câmbio e comércio exterior. Passou a residir em Chicago a partir de 1986.

A estréia em livro foi com O túnel, coletânea de poemas editada pela revista Orfeu, em 1948.

Em 1991, foi agraciado com o Diploma de Mérito de Goianidade, da Associação Goiana de Imprensa.

Afonso Felix e Sousa é um poeta da chamada terceira fase do Modernismo Brasileiro, ao lado de João Cabral de Melo Neto. Estes autores, sem deixar de ser modernos, cultivam uma poesia tradicional na forma e no conteúdo, resgatando uma tradição que as fases anteriores do Modernismo se esforçaram por esquecer. Não é à-toa que a memória é uma das principais fontes de criação desses artistas. Afonso Felix faz uma poesia lúcida, policiada pela razão, despida do subjetivismo exacerbado e do sentimentalismo piegas, resgatando, especialmente o soneto, a balada, o vilancete e a canção, dentre as formas da lírica, ao lado de elementos básicos do épico de fundo social, como se vê em poemas como “A moça de Goiatuba” e “A nau do Comboja”. Poeta-crítico, Afonso Felix faz uma poesia para se ler e refletir. (Humberto Milhomem)

Atividades profissionais

Funcionário concursado do Banco do Brasil, aposentado em 1975;
Jornalista do Diário Carioca;
Adido comercial na Embaixada do Brasil em Beirute.

Atividades literárias

Fundador da Revista Agora;
Fundador da Revista Ensaio;
Fundador da Associação Brasileira de Escritores;
Fundador da Associação Nacional de Escritores.

Livros publicados

O túnel, 1948;
Do sonho e da esfinge, 1950;
O amoroso e a terra, 1953;
O memorial do errante, 1956;
Íntima parábola, 1960;
Caminhos de Belém, 1962;
Do ouro ao urânio, 1969;
Pretérito imperfeito, 1976;
Chão básico & itinerário leste, 1978;
Antologia poética, 1979;
As engrenagens do belo (Coroa de sonetos), 1981;
Rio das almas, 1984;
Quinquagésima hora & horas anteriores, 1987;
À beira do teu corpo, 1990;
Nova antologia poética, 1991;
Chamados e escolhidos, 2001.

Prêmios

Prêmio Olavo Bilac, do Departamento de Cultura da Secretaria de Educação do então Distrito Federal, em 1957, com o livro Íntima parábola;
Prêmio Álvares de Azevedo, da Academia Paulista de Letras, em 1960, com o livro Íntimas parábolas;
Prêmio Tiocô, da União Brasileira de Escritores, seção Goiás, em 1979, com o livro Antologia poética;
Prêmio de poesia do Pen Club do Brasil, em 1981, com a coroa de sonetos As engrenagens do belo;
Troféu Jaburu, do Conselho Estadual de Cultura de Goiás, em 1990, como Personalidade do ano.
Prêmio Nacional de Poesia 2001 da Academia Brasileira de Letras.

Fontes:
Wikipedia
Vestibulendo

terça-feira, 28 de junho de 2011

José Faria Nunes (A Pessoinha)


Borgelândia, cidade histórica dos tempos do império. A rodoviária mais parece cena de filme de terror. Tudo velho e sujo: dependências de administração, guichês e uma lanchonete em cima, com acesso por mal conservadas escadarias. Embaixo, os boxes dos ônibus e estacionamento. Chega ônibus, sai ônibus, menos o que vem da capital. Impaciente, Danilo caminha de um lado para outro. Vai ao bar do outro lado da rua, volta, vai ao banheiro, aos boxes de embarque e desembarque. O ônibus já tem mais de hora de atraso. A passageira que Danilo espera é gente importante, cunhada do senador amigo do prefeito. Danilo tem que fazer das tripas, coração, e esperar. Levá-la para Carneirópolis, pequena cidade a umas duas horas dali. Sendo quem é a passageira, o prefeito jamais permitiria que ela fizesse aquele trajeto de ônibus, chão batido em boa parte da estrada.

Emprego difícil, Danilo reconhece que em suas condições tem que agüentar todo tipo de imposição. Até sujeitar-se, mesmo fora do horário de trabalho, a ficar ali parado, a esperar por alguém de quem apenas sabe o nome.

- Dona Rosenilda – disse o prefeito.

Danilo sabe que foi ele o escolhido para buscar a preciosa encomenda por ser, na equipe de motoristas, o de mais fino trato. Concluiu o ensino médio pelo projeto EJA. Se parece privilégio, para ele é mais castigo. Preferiria estar em casa com a família ou no Bar do Guim jogando uma canastrinha.

Na Prefeitura todos têm horário de chegar e de sair do trabalho. Os motoristas, assim como Danilo, não. Pior! Não recebem horas extras. Reclamar à Justiça do Trabalho? Nem pensar. Vai pra rua e ainda fica queimado. Ninguém mais lhe daria emprego.

- Ufa! Até que enfim! – Exclama Danilo, aliviado com a chegada do ônibus.

O carro, um Santana herdado da administração anterior, desliza suave e rápido pelo asfalto recapeado na véspera das eleições do primeiro domingo de outubro. Ao lado do motorista, a passageira permanece calada, desde a rodoviária. Poucas palavras trocaram.

- O prefeito disse que a senhora se chama Rosenilda.

- Roseni. Pode me chamar Roseni. Acho melhor. E não precisa me chamar “senhora”. Gosto de respeito, mas pode me chamar apenas Roseni.

Fala em tom terminativo e de autoridade. Danilo percebe a conveniência de permanecer calado. Como lhe ensinou o pai, deve-se falar com estranhos apenas quando tiver algo para dizer melhor que o silêncio. Vale a receita do velho.

Mudos, olham para o asfalto à frente descortinando-se pelo farol alto do carro que corta a escuridão. Ao longe, fagulhas de luz acendem fdaíscas de luz no céu. Daqui a pouco serão labaredas, prenúncio de tempestade.

Embora plantações e pastagens estejam necessitando de chuva, Danilo torce para que ela espere que eles cheguem primeiro. No asfalto, a chuva não seria problema. Na estrada de chão, a situação é outra. Há uns trechos críticos. Poderão encravar.

Os raios riscam o céu com mais intensidade e agora mais perto. Os trovões ressoam, como se o seu controlador estivesse nervoso. O motorista imagina o pior, a chuva deve chegar logo. E depois só Deus sabe do que poderá acontecer.

Enquanto a passageira dorme - ou finge dormir – Danilo percebe, pelo retrovisor, a luz alta dos faróis de outro veículo. Ele avança rápido e, em segundos, como um raio ou uma nave espacial, ultrapassa-os e some de vista à frente.

A placa de sinalização anuncia a proximidade da entrada para Carneirópolis. Danilo desacelera o veículo que perde velocidade. Seta para a esquerda, o carro quase parando, adentra-se pela estrada de chão que, na campanha eleitoral, ganhou promessa de asfaltamento pelo governador que se reelegeu.

Agora acordada a passageira ilustre reclama das bacadas:

- O senhor não pode ter mais cuidado?

- Tô fazendo o possível, dona. É que os buracos são grandes e muitos.

Ela fica a resmungar. Danilo finge nada ouvir, até porque nada tem a dizer e nem a ver com aquela situação. Ele mesmo tem suas críticas aos políticos, mas não as exterioriza fora da intimidade dos amigos. Questão mais de prudência e um pouco de respeito e reconhecimento pelo emprego. O mísero emprego que lha garante o aluguel do barraco, água, luz e o alimento para a mulher e três filhos. Lazer? Dinheiro não sobra.

Pela estrada de chão, agora já a alguns quilômetros da rodovia asfaltada, sem mais e sem menos o carro perde força do motor. Danilo reluta mas o motor apaga. E o carro pára.

Em volta o cerrado ermo que ele conhece bem. Estão pertos do cemitério dos heróis da guerra do Paraguai. O cemitério não o incomoda. Se tiver que ter medo, tem dos vivos, não dos mortos. Mortos não voltam para fazer mal a ninguém. Nem mal nem bem. Eles estão na deles, bem ou mal, onde quer que estejam. Danilo até duvida se há outra vida após a morte. Ainda que haja, nada tem a temer. Não faz mal a ninguém, vive em paz com todos. Alguns probleminhas com os credores, mas nada sério. Verdade que matou um homem, porém em legítima defesa. Até o promotor pediu sua absolvição. Ganhou só bolas brancas. Até a família da vítima reconheceu que ele, Danilo, era o menor culpado. Por que, então, se preocupar?

Chave de ignição e pés no acelerador. Nada consegue. Tem que dar um jeito. Ali parado no meio do cerrado é que não podem ficar. Ainda mais com aquela mulher importante, cunhada do senador. O que o prefeito iria dizer? Talvez até pudesse custar-lhe o emprego. Não, o emprego não. Ele não tinha culpa. Fez revisão no carro antes de sair de viagem, tudo nos conformes. E o prefeito iria acreditar nele? O que aquela mulher poderia dizer? Ali parados no cerrado, sem água, sem comida. Não comeram na rodoviária, preferiram ganhar tempo, chegar logo em casa. Sede não vão passar, o córrego está perto. O que não pode é ficar ali no mato sem cachorro.

Pega a lanterna no porta luvas, desce, vai ver o motor. Abre o capô, tudo lhe parece normal. Ainda inclinado sobre o motor, sente um toque em suas costas. Deve ser a passageira querendo lhe dizer algo, talvez pedir um tempinho para fazer xixi. Vira para dar-lhe atenção. Com a luz da lanterna vê em sua frente uma criança com jeito e trejeitos estranhos. A cara, uma mistura de chinês, coreano, japonês e de extra-terrestre. Talvez nada disso. Lembra-se da personagem que ele viu no filme da TV.

Perde a voz e as forças. Sem ação fita aquela pessoinha. Ato contínuo a pessoinha começa a mudar de cor, ganha uma áurea de luz e ele se sente como se adormecesse. Ao retornar-se à consciência, libertando-se da hipnose, percebe estar em um ambiente estranho com máquinas estranhas, pessoas estranhas, fazendo-lhe lembrar um laboratório. As pessoas, algumas como a Pessoinha, outras pareciam pessoas normais e falantes lusófonos. Ele próprio, Danilo, se sente estranho. Roupas diferentes das suas. O corpo, a princípio bambo, aos poucos ganha energia, uma energia que antes desconhecia. Ação do laser vindo de um ponto no teto direto a um botão de seu estranho casaco, mais parecido uma camisola de hospital.

Sente-se bem quando surge novamente a Pessoinha à porta e, com gesto, indica-lhe que o acompanhe. Ele segue a Pessoinha e, sem nada entender. Mal sente os passos. Como em um sonho. Mas convicto de que é real, segue como se em uma onda rumo à praia. Desliza suave, tranqüilo, apenas a mente percebe a transição. Como se levitasse.

Vê-se novamente junto ao carro. Â Pessoinha desapareceu como uma sombra ao chegar a luz. Entra, liga-o. A passageira ilustre nada percebe. Imagina ter sido uma simples parada para o motorista tirar água do joelho. E prosseguem para Carneirópolis.

Uma aeronave a esbanjar luz corta o espaço sobre eles. Velocidade escomunal. Seria um Miraje da base de Anápolis?

No veículo a caminho de Marte a tripulação comenta o êxito da pesquisa em curso na Terra. Em Carneirópolis o prefeito espera a convidada com uma festa. Danilo vai para casa jantar na companhia da esposa e dos filhos.

A pessoinha continua em sua memória como em um sonho.

Fontes:
Texto enviado pelo autor

Imagem obtida na Universidade Federal de Juiz de Fora

domingo, 1 de maio de 2011

Jesus Barros Boquady (1929 – 2002)




Nasceu em Crateús (CE), em 22 de abril de 1929, mas foi em Goiás que passou a maior parte de sua vida e onde cristalizou a parte mais importante de sua obra. Os últimos anos de sua vida foram passados em Brasília, cidade em que se aposentou por serviços prestados à Câmara dos Deputados e em que veio a falecer, em Brasília, 8 de dezembro de 2002.

Nasceu em Crateús (CE), em 22 de abril de 1929, filho de Alexandre Lucas Boquady e Albertina Vieira Boquady.



Transferiu-se para Goiás, morando em Filadélfia, Araguacema e Miracema do Tocantins, municípios hoje pertencentes ao estado do Tocantins.

Em Miracema, em 1934, começou seus estudos primários. Chegou em Goiânia em 1941, onde bacharelou-se em Direito pela Universidade Federal de Goiás (1954) e licenciou-se em Letras Modernas pela Faculdade de Filosofia.

Na mesma cidade, atuou no jornalismo como redator e secretário de redação da Folha de Goiás, redator do Diário da Tarde e do Diário do Oeste, dirigindo suplementos literários desses jornais antes citados e do Jornal de Notícias. Com os jornalistas Genaro Maltez e Antônio Geraldo Ramos Jubé, fundou em Brasília, em 1959, os jornais Primeira Hora e Hora de Brasília.

Por concurso público, tornou-se fiscal e inspetor do trabalho. Foi professor de literatura brasileira, na Faculdade de Filosofia, da Universidade Católica de Goiás.
Em Brasília, foi membro da Associação Nacional de Escritores, trabalhou como delegado de polícia, professor da Secretaria de Educação do Governo do Distrito Federal, professor do Centro Universitário de Brasília (CEUB), e finalmente como Analista Legislativo da Câmara dos Deputados Federal, por onde se aposentou.

Em 1990, ganhou o 2º lugar do Prêmio Serzedello Corrêa, de monografias do Tribunal de Contas da União - TCU, com o título O Tribunal de Contas da União e a República.

Foi um dos primeiros a fazer experiências concretistas em Goiás, e parte de sua obra está inserida conceitualmente na Geração de 45, sobretudo pelo seu livro de estréia, que traz traços cabralinos. Trata-se de uma poesia que, inegavelmente, contribuiu, pela ousadia de abarcar avanços estilísticos em prática em outras regiões, para oxigenar com o ar da modernidade a poesia goiana.

Bibliografia:
O cego, Bolsa de Publicações da Associação Brasileira de Escritores/seção de Goiás, 1959;
Goiânia: sonho & argamassa, Companhia Editora Social Indústria e Comércio, 1959;
Gagárin e Shepard/combateremos o sol, s/editora, 1961;
Canções do adivinho, 1968; e
Romanceiro Goiano, s/editora, 1971.

Fontes:
Wikipedia.
Antonio Miranda.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

J. Castro (Antologia Poética)


DORES DE PARTO

Entre a colcha acetinada
e os alvos lençóis,
geme com dores de parto a madre donzela.
Lágrimas silentes,
sussurros contidos,
face enternecida:
— Salve, agraciada!
— Bendito o fruto do teu ventre!
Ao sorriso cúmplice do pai,
uma criança de olhos fugazes
canta ao mundo a sua liberdade.
— Amém! — louva o poeta com fervor.

MÁGOA DE UM POETA

Procuro nas mais belas canções um som que me embale
E na natureza, uma imagem que me inspire.
Devasso as águas, as profundezas dos oceanos
Com seus mistérios, os pássaros, os animais, o céu.
Vejo uma estrela: de estrela, de mulher.
Os olhos turmalíneos são talhados num rosto de traços angelicais.
Um demônio. Bela.
Os lábios sensuais de morango emolduram com graça
A boca maliforme - a medida exata do pecado.
Ela desfila seu encanto na relva granítica
Os passantes esquecem o queixo ao vê-la passar.
Sigo sem rumo. Sozinho.
Com a mente despida,
Os olhos sem viço,
Amaldiçôo a minha existência.
O relógio biológico me censura:
Dezesseis horas. Em jejum.
Na esquina um quiosque.
Procuro uma moeda, a última.
Paro na porta, indeciso.
Ao lado um verme.
Sim, maltrapilho, sobre um vaso de detritos debruçado.
Em volta de seu corpo,
Centenas de moscas zumbem furiosamente,
Disputando a mesma porção.
Então os lábios se me abrem
Numa prece arrependida:
- Oh, Deus, por que me fizeste Poeta?!

Fonte:
– O Autor
– Poetas del Mundo

J. Castro (1962)


Jonan de Castro Reis, conhecido também como 'J. Castro' nasceu a 14 de setembro de 1962, em Jandaia-GO, onde viveu a sua infância. Filho de Manoel Libório dos Reis* e de Maria Benedita de Castro, é graduado em Letras pela UEG - Universidade Estadual de Goiás, Unidade Universitária de Quirinópolis, em 2003.

Sendo o oitavo filho de uma numerosa família de quinze irmãos, é o primeiro a concluir o curso de nível superior. Professor de Língua Portuguesa [Redação], é um dos imortais, membro-fundador da ALESG - Academia de Letras e Artes do Extremo Sudoeste de Goiás, tendo como patrono o grande escritor Guimarães Rosa.

Tendo participado de alguns concursos, obteve:

 Menção honrosa no VI Concurso Nacional de Contos e Poesias 'Poeta Nuno Álvaro Pereira' com os poemas 'Infância' e 'Confissões de Omar', na cidade de Valença - RJ.

 Premiado no II Concurso Nacional de Literatura Revelação do Terceiro Milênio, na cidade de Caçu - GO, obtendo o Prêmio Ana Luiza de Lima, com o poema 'Castelo de Roma', classificado em 1º lugar na categoria Regional;

 Prêmio Adelice da Silveira Barros, com o conto 'A primeira calça comprida', classificado em 3º lugar na categoria Regional;

 Prêmio Adelice da Silveira Barros, com o conto 'Por um triz', classificado em 1º lugar na categoria Local, cujas obras integram o II Volume da 'Antologia Revelações do Terceiro Milênio’ em 2004.

Participa também das antologias 'O que os homens estão escrevendo', da Litteris Editora - RJ., e 'Pegadas', esta, organizada pela ALESG - Academia de Letras e Artes do Extremo Sudoeste de Goiás.

Autor de vários textos, entre crônicas, contos e poemas. Tem contos e poemas publicados em jornais, mas o sua maior alegria foi a publicação do romance 'Marcas do infortúnio.

Imortal da Academia de Letras do Brasil/GO, representante da cidade de Quirinópolis

Fonte:
Academia de Letras do Brasil

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Tagore Biram (Goiás Poético)


PRÓLOGO

Chegou a hora de incendiar as palavras
e atiçar fogo na noite escura.
Ah, erga-se o facho das estrelas
nesta noite de puro abril:
eu quero a luz derramada
sobre a chaga do meu peito
e a sangria de minhas mãos à mostra.
E não me venham dizer que não é tempo
de falar de flores e que
passou-se o tempo de falar de amores.
Eu, do meu lado, não me cansei ainda
de amar com o meu amor desesperado
(Mesmo não havendo intervalo
no calendário de minhas dores).

Mesmo que me digam: “Não é tempo de falar de amores”,
eu viro as costas e não me importo
e abro as portas dos meus tumores.

Tudo que habita na retina do meu olhar
são os passos largos do barco fundo
no mar imenso do procurar.

Esta noite, sob o manto das estrelas,
erguerei o incêndio das palavras!
Venham todos assistir o grande espetáculo.
Não vês, na vidraça dos meus olhos,
uma colméia de abelhas? Uma centelha
desesperada, debulhando raios de luz?

Eis o prenúncio de um grande acontecimento.
(Não haverá gozo nem sofrimento,
mas a explosão da lucidez de um louco).

Venham todos! Vou incendiar o mundo
com um só dos meus olhares.
(Eu mesmo sou uma aldeia
e o meu coração pode matar a sede
de todos os mares).

Ah, eu peço pelo amor de Deus ou do demônio:
Abram as comportas do mundo.
Façam silêncio por um segundo:
aqui existe um homem incendiado
de amor e um coração que vai saltar
pela janela do peito!

ÚLTIMO ATO

Com um tiro no crânio
o gigante Maiakovski
disse adeus à estupidez.
Com uma navalha
acariciando o pulso,
Iessenin, angelical,
despediu-se do tédio,
escreveu com sangue seu último suspiro.
Há também os que tomam cianureto,
e ainda, mais comumente,
os que saltam dos edifícios.
Quanto a mim, será mais terrível.
Comigo será diferente.
Farei meu ato-de-fé,
dançarei um ballet invisível
e cantarei a invenção da cigarra.
Ah, seguirei cantando e cantando.

Não. Não tenha pena da minha voz,
nem é preciso me dar a mão.
Apenas seguirei cantando
(e ninguém pode impedir que eu cante)
até que você se espante
com a última sílaba do meu coração.

A NAVALHA DOS ANOS

A noite chegou lambendo
minha juventude
com sua língua tristíssima
E como se fosse
uma navalha,
a noite me sangrou
por mais de vinte vezes
Com sua
longa calda de solidão.
Esta noite
mais de vinte
séculos
Ficaram por terra
como o golpe inevitável
da navalha
noturna e tristíssima
dos meus anos

"O RÍO TIRÚA"

Que trágica é a vida dos rios
Que trágica é a vida dos mananciais
Com sua voz mineral
Cheia de peixes e pedras
E também um olhar de esperança.

Os rios arrependidos
Que viajam tantas voltas entre selvas,
Costas montanhosas,
Para voltar sem cansaço
Á sua fonte original.

E há rios tranquilos e sinuosos,
Rios tranquilos y sinuosos
como serpentes,
silenciosos rios,
rios indiferentes aos crimes dos homens.

Que conformada é a vida deste veios,
Estes veios que sangram a terra
E alimentam de batatas os semeados,
De milho, amor, vinho,
Todos os elementos possíveis.

A voz musical desta agua,
Que o homem insiste em calar para sempre.

Dizem que há rios que se lamentam.
Sim, há rios que se lamentam.

Eis sentido o coração
Que esgota suas últimas lágrimas,
As últimas de um rio sedento.

Estes rios generosos não se lamentam por si,
Sim pelos seus próprios assassinos.

Tenho visto rios e lagos,
Rios e lagos cadavéricos,
Rios que se cansaram de ser rios,
Rios que se foram ao exílio,
Rios que se esconderam debaixo da terra,

Aguas que deviam abandonar a seus filhos.

Sim,
Tenho conhecido rios que retornaram a ser nuvens,
Mananciais de aguas que não retornaram nunca mais.

Se foram para sempre estas aguas,
Estas aguas que persistem nos olhos,
Estas aguas, estas aguas.

(tradução: José Feldman)
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Tagore Biram (1958-1998)



Tagore Biram era pseudônimo de Ubiratan Moreira, em homenagem ao poeta indiano Rabindranath Tagore.

Ubiratan Moreira nasceu em 6 de janeiro de 1958, em Olho D´Àgua, antigo distrito de Anicuns (Goiás) e hoje município de Americano do Brasil.

Sua estréia literária foi em 1981 com o livro Flauta Noturna.

Em 1985, publicou Poemas do Amor e da Ausência e viajou para Moscou, como delegado do Festival Mundial da Juventude. Na União Soviética, participou do Encontro Internacional de Jovens Escritores. Fez recitais e falou sobre o Brasil.

Teve poemas seus traduzidos para o russo e publicados em Moscou.

Em 1986, criou e presidiu o Comitê Pablo Neruda de Solidariedade ao Povo Chileno.

Em 1987, conquistou, em Goiânia, o Prêmio Cora Coralina de Poesia, com o livro O Anjo Desafinado, seu divisor de águas poéticas.

Na década de 1990, transferiu-se para Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, onde viveu por vários anos e trabalhou como editor cultural (Caderno B, do Jornal do Brasil Central) e redator-criador em agências de publicidade. Conheceu o poeta pantaneiro Manoel de Barros e dele se tornou amigo.

Em 1996 mudou-se para o Chile e ganhou o prêmio literário Cidade de Concepción, onde publicou os livros El Enderezador de Vientos e Poesia Pasajera.

O poeta rebelde e saudoso de casa faleceu em Tirúa (Chile), em 13 de junho de 1998, dez anos depois da publicação de seu segundo livro, O Anjo Desafinado.

Em Campo Grande (MS), o auditório na sede da TV Educativa foi inaugurado com o nome de Tagore Biram. Em Tirúa (Chile) um centro cultural também leva seu nome. Quando morreu em 1998, Tagore Biram deixou, inéditos, os livros, Muro de Berlim e Poemas de Santiago, dos quais, até o momento, não se sabe o paradeiro. (Valdivino Braz)

Se fosse hoje, eu não teria deixado Tagore Biram cair tão facilmente. Mas nunca conseguimos impedir uma queda, pois, quando vamos notar, a derrota já alcançou a todos nós. Mas a história humana carece de algumas quedas precoces para termos presentes a nossa fragilidade. Também quanto mais intenso o fogo mais rápido o destroçar da madeira. E ele que seria uma renovação total da poesia goiana! Dois livros que editou foram suficientes para deixar um clarão intenso. Dormi uma vez no apartamento dele em Goiânia, e umas duas noites ele passou em minha casa. É do poeta Valdivino Braz — seu mais fiel amigo, tanto em vida como de sua memória — o texto que o apresenta, publicado recentemente no Jornal Opção . O poema “El rio Tirúa”, que se encontra numa página chilena, talvez tenha sido escrito no período final de sua vida, quando ele morava naquele país. (Salomão Sousa)

Fonte:
Antonio Miranda

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Genaura Tormin (1945)


Picuí, Paraiba (03 de julho de 1945)

Filha de José Patrício da Costa e Angelina Muribeca da Costa.

Após os estudos primários em sua terra natal, fez o ginásio no Colégio Santo Agostinho e o Técnico de Contabilidade, na Escola de Comércio de Goiânia.

Formou-se em Direito, pela Faculdade Anhanguera.

Advogada, Ex-Delegada de Polícia. Serventuária do Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região, em Goiânia.

Professora da Academia de Polícia de Goiás.

Escritora, Poetisa, Ensaísta. Pesquisadora, Memorialista, Intelectual. Pensadora, Ativista, Produtora Cultual. Literata, Cronista, Contista. Administradora, Educadora, Ficcionista.

Membro da União Brasileira de Escritores de Goiás, da Ordem dos Advogados do Brasil, da Associação dos Delegados de Polícia, além de diferentes entidades sociais, culturais e de classe, entre as quais, Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica.

Presente na Estante do Escritor Goiano, do Serviço Social do Comércio e em diferentes antologias de poesia e prosa. Biografada no Dicionário Biobibliográfico de Goiás, de Mário Ribeiro Martins, Master, Rio de Janeiro, 1999.

Genaura Maria Da Costa Tormin, é o meu nome. Nasci ao amanhecer de um domingo de julho, embalada pela sinfonia do vento e pelo cantar de pássaros. Filha de pais camponeses, tenho por lema a coragem, a fé por legado e o amor por escudo. Já vivi meio século, conheço bem a jornada. Fui menina, rebelde, barulhenta, traquina. O colégio de freiras me fez moça educada, comportada, bem intencionada. Sou casada e tenho filhos.

Nasci no nordeste brasileiro, mas reputo-me goianiense, pois aqui resido desde os nove anos de idade. Aqui conclui os meus estudos. Fiz o curso Direito e especializei-me em algumas áreas. Sou Delegada de Polícia. O tempo legou-me a aposentadoria. Irreverente que sou, arranjei outra ocupação. Estudei e prestei concurso. Sou Analista Judicário do Tribunal Regional do rabalho de Goiás.

Fui poeta, como toda adolescente, porém essa marca não passou por mim. Retenho-a até hoje. Não me importa se canto o amor, a vida, a morte... O que importa é cantar, extravasar, curtir as palavras lindas, tristes ou fortes.

Sou escritora: meu livro Pássaro Sem Asas estreou em 1991 e já está em 50 edição. A 6ª já está a caminho. Afinal, a vida é dinâmica. Tenho, ainda outro: Apenas uma flor, de poemas para acalentar a alma, colorir os momentos desbotados e falar de amor.

Em versos vou levando a vida, desnudando anseios e deixando jorrar todas as emoções de viver. No meu caminhar tenho pressa. Vivo o hoje, o agora. Sou poeta.

Fontes:
Poetas del Mundo.
Usina de Letras

domingo, 31 de janeiro de 2010

Paulo Nunes Batista (Goiás Poético)


LIÇÃO DA PEDRA

Não basta olhar a pedra.
O importante é saber
que ela também nos vê
com seus mil e um olhinhos de pedra.
Já pensaste em sentir a alma de cada pedra?
Já buscaste saber - antes de usá-la -
se ela quer ser só pedra de alicerce
ou se prefere ser estátua?
João Cabral nos falou sobre a Educação pela pedra.
É que a pedra tem vida e sabe muitas coisas
quer da Esfinge, das Pirâmides do Egito,
das ruínas de Machu Picchu, de Stonehenge,
dos Himalaias com seu Pico do Everest,
das estátuas da Ilha da Páscoa e da Muralha da China
e dos tempos que vêm desd a Idade da Pedra
e antes, do muito antes, quando neste planeta
só ela - a pedra - águas e areias havia...
Não. Não basta ver a pedra.
É preciso aprender cada Lição da Pedra.

MINHA FILHA

Em memória de minha querida
neta Euliana

Darei a minha filha
o nome de Poesia
É incrível, mas não conheço
ninguém com esse nome
Um nome tão humano
tão cheio de sonho e sugestões.
E minha filha será
bela como a Verdade
e equânime como a Justiça.
Outro nome que nunca
vi aplicado a ninguém.

Ensinarei a minha filha
a deitar-se com o Amor
e a erguer-se com a Harmonia.
E lhe darei as ferramentas
para lapidar seus desejos
os brutos diamantes do instinto
para que brilhantes sejam
entre as mais límpidas estrelas.

Seus seios verterão flores
e sua boca música
e ela perfumará com seus dedos
o que quer que alcancebr> com seu manso toque mágico.
Dos olhos de minha filha nascerão auroras
A Noite dormirá em seu sexo
e anjos bailarão ao ritmo de seus passos.

Seus beijos serão vôos místicos
beija-florindo as manhãs
abrindo asas na tarde
antes que o sol se despeça.
Farei de minha filha o meu melhor poema.
E quando eu me mudar de mim
nas inexoráveis ondas do tempo
ainda ficarei por muito espaço
dançando nas esquinas da vida
porque minha filha se chamará
POESIA.

CANTO DOS CRISTOS DA TERRA
OU
COMO NASCE UM CANGACEIRO

A Maria do Socorro C. Xavier

Cristos da terra, nascidos
na Manjedoura do NÃO:
não têm terra nem saúde,
justiça nem instrução.
Só conhecem 3 reis magos
- que sempre lhes causam estragos - :
Polícia, Imposto e Patrão.

São filhos de Zé Ninguém
e de Maria Qualquer...
Naturais de algum 'Belém'
que não se sabe onde é
e onde, entre espinhos e grota,
'o Judas perdeu as botas'
jogando mais Lucifer...

Frutos do chão duro e seco
como um rio que já foi...
Vidas de pedras agudas...
Terras de 'Deus me perdoe!'...
Essa terra, aquela vida
têm a tristeza doída
de uma caveira de boi...

Irriga as maçãs do rosto
com o chuvisco da Esperança:
luta e sofre! Sofre e espera
na Fome que a dor amansa...
Num prato - pesa a Pobreza;
no outro - o peso é da Tristeza
que sua vida balança...

Pega um fiapo de Sonho
e tece a própria mortalha.
Toca o carro... mas, encalha
nas Pedras da Solidão...
seu canto traz a Amargura
dos lamentos de um Aboio...
da cicatriz de um arroio
na Face da Sequidão!

Planta um Pé de Sacrifício
- nasce uma Flor de Saúva!
Estende a Mão para a Chuva
- e alcança o Olho do Sol...
Só lhe dão, como presente:
Pobreza... falta de escola...
Leva mais chute que bola
em campo de futebol...

Mora num rancho de palha,
dorme num jirau de vara.deixa, um dia, o 'seu' Sertão...
Seu, uma vírgula, que, dele,
não possui nem mesmo os Braços
que são, apenas, pedaços
das posses de algum Patrão...

O Patrão manda no velho,
manda na velha, na filha.
E na quadra. E na quadrilha...
na quadrinha... no quadrão...
Entonce, o Cristo da Enxada,
cansado do mandonismo,
muda o nome de batismo
pra Silvino ou Lampião...

Cristo da terra, pregado
na cruz de um cabo de Enxada,
sua alma está calejada
pelos séculos de Dor...
Traz dois olhos bem abertos
- mas anda cego de tudo:
cego, cabisbaixo e mudo
pelas terras do Senhor!

Belo dia, um desses cristos
humilhados, oprimidos,
forma no rol dos Bandidos
contra a Opressão Social...
E - é Jesuíno Brilhante,
Corisco, Antônio Silvino
ou o 'Capitão Virgulino'
- 'Justiça' escrita a Punhal!

É - Liberato, Jurema,
Moita Braba, Pitombeira,
Zé Sereno, Mão Foveira
ou 'Quelé do Pajeú'...
É - abareda - vingando
a honra da irmã sertaneja
que ficou nos 'Ora, veja'
de um 'cabo' de instinto cru...

Vai acender as fogueiras
da rebeldia matuta
- contra a força absoluta
dos senhores 'coronéis'.
É - mais um, que troca a Enxada
pela 'lei' de um pau-de-fogo,
onde a Morte ganha o Jogo
cheio de lances cruéis!

Seu 'coroné' manda-chuva
manda na vida e na morte,
no Sul, no Centro, no Norte,
no litoral, no Sertão...
Manda - porque tem dinheiro,
tem nome, poder e terra:
promove a Injustiça e a Guerra
e até 'Deus' lhe dá razão!...

Almas de lama e de aço
vivem no chão Nordestino
tentando o nó do destino
de algum modo desatar. . .
Muitos escravos da gleba,
num passado ainda recente,
tinham dois rumos, somente:
um - morrer. . . o outro - matar. . .

Com Corisco terminou
o tempo dos cangaceiros.
Mas agora os pistoleiros
fazem o que manda o patrão.
Quantas vidas são ceifadas
na base da morte paga
motivado a dura saga
do sangue ensopando o chão.

Acabou-se Lampião -
entrou em campo outro time:
o Sindicato do Crime
tomou conta do País.
No Nordeste, Norte ou Centro
cangaceiro de gravata
pra ganhar dinheiro - mata,
no seu ofício infeliz.

Quando a JUSTIÇA mandar
no Seu Coroné Mandão
- nesse Dia há de acabar
a Desgraça do Sertão:
nunca mais o brasileiro
terá outro Cangaceiro
Virgulino Lampião!

Na Injustiça Social
repousa a causa do mal.

SÊ COMO O LÓTUS

Ao amigo Paulo Jaime

Sê como o lótus, que, a raiz, afunda,
lá, na abjeta escuridão do lodo
e, ao contato da luz, abre-se todo,
só fragrância e pureza, em flor jucunda.

A flor do lótus, na matéria imunda,
no milagre da flor, põe luz a rodo.
Transmuta, pois, a escuridão do engodo,
na Verdade — que é Deus e a tudo inunda.

Às trevas, como o lótus, não maldigas.
Acende a tua humílima velinha
e aguarda a ajuda de outras mãos amigas.

Em vez de blasfemares, vai, caminha.
Ama e serve, que lótus, na alma abrigas
e o Amor de Deus não deixa a alma sozinha...

VELHAS PRAIAS

A Francisco Miguel de Moura

Ó minhas alvas praias nordestinas,
enfeitadas com velas de jangadas,
que, sobre o mar, vão leves, enfunadas
ao vento bom das ilusões meninas.

Praias perdidas na longínqua infância,
mas que retornam na sutil fragrância,
no adeus dos coqueirais, que o ser me invade...

Praias de brisas mansas soluçando...
Os olhos do Menino marejando...
E o coração chorando de saudade...

A ASA DA NOITE

A asa da noite vem, devagarinho,
adormecendo os seres, no abandono
desse torpor onírico do sono,
que deixa o ser humano mais sozinho;

e traz, no manto, a embriaguez do vinho;
da música do sonho, traz o abono.
O seu poder, de nós, se faz o dono
e abre caminhos para o descaminho.

A asa da noite, ungida de segredo,
se, às vezes, traz a sensação de medo,
é dádiva dos céus, óbolo santo:

— Ao vir da sombra, o corpo se enlanguece,
mas a alma sai de nós tal como prece,
agradecendo a Deus por todo canto.

MEU DIA

Meu dia, às vezes, passa tão de manso,
que nem lhe noto os fatos e acidentes.
Comparo esses meus dias a repentes,
que vou compondo e de que não me canso.

É como água de rio sem remanso,
que desliza no leito suavemente.
Borboletas pousando docemente
ou valsa lenta que sonhando danço.

De repente, lá surge a tempestade.
E o dia, que era calmo, então se agita
em cachoeiras de intranqüilidade.

Mas, depois disso, volta a santa calma.
E vou rolando assim, face bendita,
a refletir a paz que sinto na alma.
-----------------
Fontes:
Poetas del Mundo.
Antonio Miranda.

Paulo Nunes Batista (1924)



Paulo Nunes Batista [João Pessoa-PB, 2/8/1924], poeta e escritor paraibano radicado em Anápolis-GO, é autor, entre outros, dos livros: Canto Presente [1969], Cantigas da Paz [1971], A Caminho do Azul [1979], De Mãos Acesas [1981], ABC de Carlos Drummond de Andrade e Outros abecês [1986], O Sal do Tempo [1996], O Vôo inVerso [2001], Alguns Poemas/Algemas [2003] e Sonetos Seletos [2005] - poesia -; Anápolis em Tempo de Música [parceria com Jarbas de Oliveira, 1993] - ensaio; e Chamego, o urubu [1997] - contos.

Bacharel em Direito, repentista, cronista e jornalista, escreve na imprensa do Brasil e Portugal desde 1940.

Em 1994 representou o Brasil nos Encontros de Improviso em Lisboa.

Membro da Academia Goiana de Letras [Cadeira nº 8] e de várias entidades culturais.

Consta de antologias e é citado por diversos autores.

Fonte:
Poetas del Mundo. http://www.poetasdelmundo.com/verInfo_america.asp?

José Faria Nunes (Goiás Poético)



QUERO INDIGNAR-ME

Quero indignar-me
com a mãe que se submete
ao aborto de uma vida.
Mas como indignar-me
se a própria vida dessa mãe
já foi abortada?
Quero indignar-me
com uma criança que na rua
assalta à mão armada.
Mas como indignar-me
se essa criança jamais
conheceu o afago da mãe
ou o valor de ser gente?
Quero indignar-me
com a fome
a miséria
a deseducação.
Mas como indignar-me
se me falta tempo
até de ver como gente?
Quero indignar-me
com o desamparo de crianças e idosos
de filhos sem pais e de pais sem filhos.
Mas como indignar-me
se a vida neste mundo global
colocou uma cifra
no lugar do meu coração

* * * * * * * * *

O SONHO DE UM POVO

Um dia um povo sonhou com a liberdade
e esse povo acreditou no sonho e lutou por ele.
Houve até quem por ele morresse.
O sonho deste povo foi objeto do sonho
de tantos outros.
Mas o sonho deste povo foi um sonho
diferente dos outros sonhos.
Enquanto o sonho de além-mar
era um sonho de ambição e dominação
o sonho deste povo era de libertação.
O sonho deste povo era sonho de amor à terra;
terra já irrigada pelo suor
até de sangue de filhos deste povo.
O sonho deste povo foi um sonho de amor
e no ato de amar até parceiros de além-mar
a este sonho vieram se somar.
E no somar dos sonhos eis que ecoou o grito
de independência deste povo. E aquele grito
do sonho deste povo ainda ecoa no ar.
Ecoa aos ouvidos de geração a geração
que ainda insiste em sonhar.

* * * * * * * * *

POESIA E LIBERDADE

A caneta do poeta
rebela-se
ante a injustiça
do poder.
E faz-se podr
na liberdade
do ato de pensar.
Quando o poder
em seu império de força
impõe-se
sobre a caneta do poeta
então este carece
de ser mais que poeta:
dele se exige
a engenharia dos deuses
na construção mágica
do amor.

* * * * * * * *

TRANSCENDÊNCIA

Qual bisturi a extrair o cisto
arranco minhas angústias
e as deposito, amorfas,
em um tubo de ensaio
como um troféu de batalha.
Agora quero rir da tristeza
e dizer que o amor pode mais
que a mágoa secular
cristalizada no peito.
A partir desta hora
a poesia transcenda os limites
da cibernética
seja esta humanitária
e se dilua etérea sobre seres mal-nascidos.
Mesmo que a vida tenha sido negada
e o futuro um sonho precocemente abortado
não maldigo o poema: com meus sentidos despertos
faço caminho no espaço
enlaço o céu num abraço
arranco os olhos do sol
e faço meu firmamento.

* * * * * * * *

ORAÇÃO DO EDUCADOR

Inspirai-me
oh! Mestre dos Mestres
para que o mister a que me proponho
ilumine as mentes a mim confiadas
nessa jornada. Daí-me sabedoria
Oh mestre, para que mais que professor
seja eu educador, condutor de esperanças
para um novo amanhã. Tenha eu
complacência para com aqueles
que de mim mais necessitam. Como orientador
de vidas jamais a intolerância consiga
meu domínio e me force a trilhar
o cômodo caminho do descompromisso.
Esteja eu mais para Apóstolos que para Pilatos
com um assumir constante da Divina
Missão de educar, criar vidas, reinventar mundos.
Possa eu educar para a vida
longe da discriminação sem marginalizar ninguém,
pois todos da luz são herdeiros e merecedores.
Tenha eu sempre na alma a imagem,
a lembrança do Mestre-Amor, Mestre-Perdão
e jamais expulse meu aluno
que merece ser mais gente,
jamais um desviado na marginalidade da vida.
Jamais me deixe esquecer
de que a palavra orienta, mas o amor
e o exemplo constroem, dignificam para a vida
para o mundo
e para Deus.

* * * * * * *

AUSENTE PRESENÇA

Presença ausente no universo
da saudade. Presença
etérea de alma anônima
mesmo sufocada pela multidão.
Solidão não ausência
do ponderável. É ausência
da alma gêmea.
De repente a solidão
esmaga-me na multidão
e se dilui no imponderável.
Ela esvai-se
de mim no instante
em que, mesmo só,
sacia-me o âmago
da alma na interação
de imaginada presença.
O poeta mesmo só
nunca fica á sós.
Acompanha-se-lhe
sempre a presença
do ente sonhado.
O poeta só está só
se perdido na multidão
do inimaginável.
O poeta só está só
se tiver a alma
vazia de sonhos para sonhar.

* * * * * * *

ESSÊNCIA

Toda criança tem, um dia,
a fantasia
de crescer logo, libertar.
Mas cedo, cedo ela constata
a sina ingrata
de vir pra vida pra lutar.
Se nasce pobre, é pior.
Mais dói a dor
de sempre ter que obedecer.
Por que uns nascem pra mandar,
para gozar,
e outros nascem pra sofrer?
Foi o que vi desde criança:
insegurança,
poucos motivos pra sonhar.
Orvalho, espinho, dura lida.
Mas vi na vida
maior motivo pra lutar.
Hoje aprendi que o futuro
é jogo duro,
sem muito tempo pra viver.
Cada momento que se vive,
como os que tive,
é o prêmio que se pode ter.
Importa menos a vitória.
A maior glória
é ter mais força pra lutar.
O que mais vale é a esperança,
perseverança
em ter mais sonho pra sonhar.

* * * * * * * * *

A LINGUAGEM DO SILÊNCIO

No brincar com as palavras
Perco-me no exercício do discurso.
Saltitam-se-me à frente palavras e palavras
[palavras pequenas, palavrões].
De um salto caio sobre elas que, brincalhonas e lépidas,
fogem-se-me das mãos.
E eu, no desalento busco
no canto um encanto - desencanto.
Perco-me nos axiomas, nas polissemias
nos sintagmas e, na busca do assujeitamento
do sujeito, alternam-se-me possibilidades
na promessa de um encontro paradisíaco.
O pretendido torna-se invisível. Descubro
que a vida é um ensaio, o primeiro ensaio
o rascunho sem tempo de se passar a limpo.
A memória do futuro se constrói agora
com o desejo do sonhado.
O futuro se constrói no sonho do poeta
sonho que não se tem.
Dos versos escolhidos vários se me desenharam proibidos
para uma comunhão de linguagens
na universalidade das mensagens.
O superego submete o ID - paradoxo -
discurso do candidato e do eleito,
do religioso-cético-pecador-herege-santo.
Eis que soa a trombeta e o mundo
do poeta se desperta. Só então percebo
que a verbalização de meu discurso
não se encontra nas palavras
mas no silêncio existente entre elas.

* * * * * * *

DESAMOR

Análoga lâmina
Fina
Frio corte
Silente ação
No profundo do aço.

Navalha
Valha noite
Lâmina ferina
Felina
De sequioso corte

Sangra a alma
Cota o sono
O sonho
Assanha
A sanha de fria lápide
Em profundo talho.

Tangidos cartilagem e osso
Dilacerado universo
Entalhe
Do profundo corte.

Detalhe
Negada premissa.

O certo
Prova-se no contexto
Pretexto.
Arrimado parasito
Antítese do amor.

* * * * * * * *

SONHO E VIDA

Brilhe o sol ou caia a chuva, seja inverno ou primavera
Hei de levar meu canto por onde quer que caminhe.
É um canto de vida que sonhei 'inda criança
Talvez de quando nasci naquele sete de dezembro.
Meu canto é alegre como um riso de criança
Na festa de aniversario - mas por vezes meu canto
É triste - triste como uma flor esmagada sob pés indiferentes
Ingratos - mas eu canto, canto a dor de uma criança
que um dia conheci...
A criança que vivi o desalento da dor
tocou-me forte na infância
Ao quebrar-me o antebraço na brincadeira de pique
em uma noite qualquer.
Com meus pais aprendi que a crueza da vida
e pode romper com luta
Mais amor e trabalho.
Este exemplo segui: Inobstante a dor,
dos pés no quente da areia
Em diuturnas caminhadas para a roça eu ia.
Boné na cabeça, aos ombros o bornal com garrafa de café
O caldeirão de almoço que minha mãe
preparava para a fome de meu pai.
Comida gostosa aquela: Arroz, feijão e farinha,
outra vez frango, verdura
Mandioca, batata frita... Banana madura.
Criança franzina, deficiência no braço,
mesmo assim eu seguia.
Sob o sol escaldante capinava a erva daninha
da roça ou do quintal
Ajudava no plantio e na colheita do arroz.
Eis que um dia o sonho explodiu forte na mente
E em tempo descobri não bastar-me o limite
Da produção de alimento para o corpo vegetar.
Um passo, outro passo, busquei
uma seara de alimento pra alma.
Na escola busquei alimentar-me o bastante, beber sabedoria
Na fonte da experiência dos produtores da história.

A escolinha de meu tio, depois o grupo escolar.
Nem a chuva ou o sol, nem orvalho das manhãs
Nada fez-me recuar das primeiras lições.
Chegou o fim do primário, não mais pude estudar
E no recesso da escola fui viver outras histórias:
A do servente de pedreiro, do balconista de bar,
Do vendedor de verduras, do lenhador com meu pai
Mas também a do garoto que nadava na barrinha
Ou no campinho aos domingos com os companheiros jogava.
Outra fase do sonho amanheceu em meu ser:
Na fazenda soledade vi-me, súbito, professor.
O tempo - ah! O tempo!
Jamais faz concessões e em suas ondas voltei.
Minha cidade, cidades outras, cheguei até à capital.
O admissão ao ginásio, a madureza, o supletivo
Vestibulares, faculdades de Jornalismo, Direito
Licenciatura plena em Economia e Legislação
Aplicada e cursos de extensão,
especialização em psicopedagopgia.
Neste caminhar vivi o bibliotecário publico,
o auxiliar de escritório
Correspondente de jornal, locutor de rádio, repórter...
Assessor de imprensa de secretaria de Estado.
Fiz poemas, contos, artigos...
publiquei-os em livros, jornais e revistas.
Tive a ventura de ser divulgador de minha terra
por onde quer que passasse:
nas faculdades, nos clubes, nas entidades culturais,
jamais neguei as raízes do campônio que sou.

O sonho não findou: Eis-me de volta às raízes
onde a vida me espera.
Quero a união dos amigos, dos inimigos
a paz para um mundo fraterno
Podermos, juntos, buscar.
De minha vida faço lema a educação, cultura, a justiça social
O progresso do homem em dimensão integral.
Busco o futuro - conquista e tempos de liberdade,
de amor e de paz.

* * * * *

NOS CAMPOS DE PARNASO

Ser livre, leve, solto
o que sempre sonhei
no caminhar pela vida.

O cupido, em seu capricho
aproveitou-se do instante
de uma incauta distração
e sorrateiro, pertinaz
fisgou-me fundo no peito
latejante e ardente o amor.

Em sonho transportar-me-ei
até os campos de Parnaso
onde as musas me habitarão e amar-te-ei como Eros.

Em sonho hei de cravar
minha lança na gruta doce
de teu triângulo de Vênus.

Amar-te-ei com tal arte
que só um Deus Faria
e em teu triângulo de Vênus
cravarei minha lança.

Até o âmago de teu ser
hei de levar meu amor
faze-la Deusa da Vida
e eu da vida Senhor.
---------

José Faria Nunes (1948)



José Faria Nunes é natural de Caçu-GO, onde nasceu aos 7/12/1948.

É Licenciado em Direito e Legislação, em Legislação Aplicada e em Economia e Mercados, pelo CEFETE de Belo Horizonte, Pós-graduado em psicopedagogia pela UEMG, Bacharel em Direito, pela UFG, e Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, Rádio e TV, pela UFG.

Homenageado pelo Ministério Público do Estado de Goiás, pelo Conselho Estadual de Cultura de Goiás, pela Associação Goiana de Imprensa, Diretoria Regional dos Correios Goiás e Tocantins e pela União Brasileira dos Escritores de Goiás.

Diretor e Editor do Jornal da Terra.

Atual presidente da ALESG-Academia de Letras e rtes do Extremo Sudoeste de Goiás, mandato 2005/2006;

Membro do IHGG-Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, e da Academia Mineirense de Letras.

Livros publicados, entre outros: Plantio, poemas, Editora Kelps, Goiânia, 1992; Água Fria do Rio Claro, ensaio, Editora de O Popular, Goiânia, 2001; A Reprise, romance, Litteris Editora, Rio, 2003.

Este último participou, em outubro de 2004, da Feira Internacional de Livros de Frankfurt, na Alemanha.

Fonte:
Poetas del Mundo.

Safia dos Pireneus de Goiás ( Goiás Poético)


Alguma poesia oral de Safia

NASCI NOS PIRENEUS

Nasci nos Pireneus
junto com meu pai eterno
numa campina tão bonita
no meio de muitas emas
num ranchinho na beira-córrego
rebuçado de sapé,
cobertinha de algodão
tomando chazinho de mé,
num colchãozinho pequeno
num caquinho de buriti,
parecendo ninho de rolinha
ninho de juriti.

Um dia de garoa
já tava pra dar o inverno
eu tava perdida
no meio de muitas emas.

Minha mãe deu um grito
eu respondi.
Ela me encontrou
e me deu um tapa.
Meu pai também xingou.
Eu então respondi:
mas eu não gosto de vocês!
só das ema e do meu avô!

Depois, papai teve idéia de mudar,
nós se mandou.
Eu fiquei apaixonada,
porque as ema ficou.

MALEITA

É terreno do sertão
nem dado não aceita,
a gente compra um sítio
fica alegre e satisfeita.
Espera boa colheita
pode dar bom mantimento.
Mas bem pouco aproveita.
Quando a febre vem
o caboclo deita
chama o curador
e dá a receita,
purgante de tal
purgante de azeita
toma surufato
não pode beber leite,
quando for daí um pouco
o caboclo purga preto
eu falo porque sei
porque passei
por este aperto

Quem sofreu maleita
não tem mais conserto
ainda que cura de um
o peito.

VOZ DE PÁSSARO

Macuã e anúm preto
dizem que cantam assim:

“Minha mulher não presta
- não presta por que?
é com um e com outro
é com um e com outro”

“Finca, finca, eu ranço
pinico, pinico, jogo fora
primo com prima
se casá fazerá má.
Quá, pode casá!
Chica, cê vai, eu fico
cê fica, eu vou.
Fico, ficô”
---------------

Safia dos Pireneus de Goiás (1929)

SAFIA nasceu Celestina Teixeira Siqueira, a 8 de junho de 1929, no Morro do Pireneus, em Goiás, onde desliza o córrego chamado Gostoso. Habitava a vizinhança da família uma tribo de emas, entre as quais a menina cresceu brincando e correndo pelo cenário deslumbrante da Serra que volteia Pirenópolis.Tinha sete anos, quando os pais camponeses Anjo Teixeira Martins e Leduvina Rosa Venucci decidiram descer o morro com os três filhos pra viver na cidade.

Lá, Celestina continuaria a dar sinais do futuro que a aguardava. Arteira, independente e sabedora do que queria de seu caminho, enveredava os brejos à cata de argila, matéria-prima de suas primeiras criações em forma de potes, bichos e bonecas. Volta e meia se queixavam ao pai: sua fia é danada de levada... sua fia fez isto... sa fia fez aquilo.... sua fia... safia... E assim consagrou-se o nome com que passaria a se distinguir no universo da arte popular brasileira.

No entanto, escola só freqüentou quando foi trabalhar em casa de família. Casou-se com um boiadeiro, voltou a morar na roça e o estudo virou matéria encerrada. Mas nem por falta de lápis, livros e professores sua genialidade de artista engaiolou-se. Ao contrário, o sobrevôo livre da menina entre as emas nos Pireneus de Goiás assentou-se em múltiplas expressões. Esculturas e telas em poética de cândida sensualidade, além de um manancial de poesias, histórias, canções e anedotas cultuadas oralmente, Safia cria com desmesurado talento.

Gênio e origem somados explicam a qualidade que sua obra alcançou. Safia herdou dos dois lados da família o gosto pela arte, trazendo no inconsciente o classicismo da estética européia. Bruno Teixeira, seu avô paterno, era tecelão, filho de portugueses; a avó, Escolasta Tavares, fazedora de panelas, potes, jarros, candeeiros, ensinou a arte da panelagem à sua mãe, cujo pai, descendente de italianos, era pintor de quadros.

Matriarca respeitada e admirada pelos seis filhos que criou sozinha (dos quais, três são também artistas populares), e pelos 14 netos e sete bisnetos, Safia não pratica arte sacra embora sua religiosidade seja visceral, e ao modo dela. “Não rezo, mas gosto de me sentar na Igreja e ficar lá”.

Segreda que talvez aceitasse se convidada a pintar um mural, ou o que fosse, na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, patrimônio histórico da colonial Pirenópolis. “Mas”, reconsidera com humor, “gosto mesmo é de pintar moça dançando, menino pelado... eu ia ofender os santos”.

Artista reverenciada por quem quer que conheça seu trabalho, ela, no entanto, permanece em anonimato, vivendo sozinha numa casa humilde, em Pirenópolis. Ao completar 80 anos em junho de 2009, lá, um grupo de admiradores de suas artes prepara-lhe grande celebração. Querem que em sua terra natal, sobretudo, Safia mereça reconhecimento e assuma o seu lugar na trindade goiana, ao lado de Cora Coralina e de Antonio Poteiro.

FORTUNA CRÍTICA

João Evangelista, especialista em história da arte, ex-diretor dos museus de Arte de Brasília e de Santa Catarina: “Safia é um gênio da arte. Eu colocaria sua obra no capitulo do classicismo, mas teria uma certa dificuldade nisso, porque a arte de Safia é complexa”.

Ziraldo Alves Pinto conceitua Safia como a maior escultora de arte popular do Brasil, e aponta para o que ele chama de “o gesto culto” na poesia dos seus personagens de cenas rurais e urbanas, como cavalheiro e dama, casais em pista de dança, madonas com crianças à volta e no colo, jovens mulheres em lânguidas posições. “Ela é o máximo, é a maior”, vibra o multi-Ziraldo.

José Mindlin, ao visitar uma mostra de arte popular brasileira no MAB, onde estavam expostas peças de Safia, classificou: “Esta peça é a Vênus De Milo brasileira”

NT.: Material de pesquisa e fotos do arquivo pessoal do advogado Eduardo Nogueira da Gama, colecionador, amigo e divulgador do trabalho de Safia. Texto de abertura escrito originalmente para documentário do cineasta Armando Lacerda sobre a artista.

Fonte:
Antonio Miranda