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sexta-feira, 10 de abril de 2020

Célio Simões de Souza (1947)

Célio Simões de Souza nasceu em Óbidos/PA (berço de José Veríssimo e Inglêz de Souza, fundadores da Academia Brasileira de Letras), em 24.12.1947, único filho homem do fazendeiro, adjunto de promotor e fiscal da SEFA Sr. Francisco Lôbo de Souza e da professora Lady Simões de Souza.

Em sua cidade natal estudou no Grupo Escolar José Veríssimo e integrou a primeira turma do Ginásio São José. Em Belém (onde reside desde janeiro de 1966), foi aluno do “Paes de Carvalho” e da UFPa, onde graduou-se em Direito em Julho/1976.

Em Belém, constituiu família, casado com a Pedagoga Fátima Augusta Oliveira Simões, com quem tem três filhos: Célio Augusto, Francisco Cezar e Sérgio Guilherme, todos formados em Direito. Desenvolve as suas atividades profissionais e acadêmicas, sem prejuízo das viagens que faz anualmente para conhecer a cultura dos muitos países que já visitou.

Pós-graduado em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho pela Universidade Cândido Mendes (RJ) e em História Cultural, pela Universidade da Amazônia (UNAMA)

Foi professor-coordenador na primeira Diretoria da Escola Superior de Advocacia e professor-orientador na UNAMA.

Fundou a Associação dos Advogados Trabalhistas do Estado do Pará, da qual foi vice-presidente, conselheiro e secretário.

Conselheiro da OAB/PA de 1983 a 1986. Ainda na OAB/PA, fundou e presidiu a Comissão de Prevenção ao Trabalho Escravo.

Fundador e conselheiro titular da União dos Juristas Católicos de Belém, tendo recebido do Papa João Paulo II especial benção apostólica pela sua atuação como advogado da população carente.

Fundou também o Centro de Estudos dos Advogados do Banco do Brasil do Pará e Amapá, do qual foi o primeiro Diretor Geral.

Foi nomeado em 12.12.90 para o cargo de Procurador-Chefe da Procuradoria Trabalhista da Secretaria Municipal de Assuntos Jurídicos da Prefeitura Municipal de Belém. É membro vitalício fundador do Conselho de Mediação e Arbitragem do Estado do Pará. Integrou banca examinadora de concurso para Juiz Substituto da Justiça do Trabalho da 8.ª Região.

Juiz do Tribunal Regional Eleitoral do Pará de 2005 a 2010.

Membro da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra da qual foi também Consultor Jurídico da Delegacia do Pará.

Participa atualmente como professor e advogado, de seminários, congressos, encontros, mesas redondas e simpósios de estudos de temas jurídicos, corporativos e sociais como palestrante, debatedor ou expositor, em eventos locais, nacionais e internacionais.

Ensaísta e poeta, tendo algumas de suas poesias musicadas pelo Des. Vicente Fonseca, seu parceiro musical.

Como cronista recebeu medalha de prata em São Paulo, em concurso de âmbito nacional.

Comendador da Ordem do Mérito Advocatício e membro titular das seguintes instituições culturais: Instituto dos Advogados do Pará; Academia Paraense de Jornalismo (Cadeira n.º 20); Academia Paraense de Letras Jurídicas (Cadeira n.º 08); Academia Artística e Literária de Óbidos (Cadeira n.º 01) que idealizou, fundou e preside; Academia Paraense de Letras (Cadeira n.º 26); Academia Paraense Literária Interiorana (Cadeira n.o 30); Sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós.

Possui mais de cem crônicas publicadas e é co-autor do livro “Um Abraço Apertado” editado em 2009. Inserem-se ainda em seu currículo suas atividades como juiz do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB/PA, juiz arbitral do Conselho de Mediação e Arbitragem do Estado do Pará e juiz do próprio Tribunal Regional Eleitoral que pela segunda vez o condecorou.

Livros publicados:
“UM ABRAÇO APERTADO” (obra histórica coletiva), 1969; “UM POUCO DE MUITAS HISTÓRIAS” (crônicas/contos), 2016;  “RECADOS DA MEMÓRIA” (crônicas/contos), 2017; “ENCONTROVERSOS” (poesias), 2017;  “UM RIO DE HISTÓRIAS” (crônicas), 2017; “CONTAR PARA NÃO ESQUECER” (textos premiados), 2017; “ATEP – 40 ANOS – CASOS E MEMÓRIAS” (obra coletiva), 2019.

Algumas letras de músicas de sua autoria (em parceria com o músico e compositor Desembargador Vicente Malheiros da Fonseca):
Hanna (valsa); Elbinha (valsa) ; Izabelle (valsa) ; Santarém de Outrora (samba); Serra da Escama (marcha-rancho); Hino Oficial da Academia Artística e Literária de Óbidos (Aalo); Hino Oficial do Instituto Histórico e Geográfico do Pará (IHGP), entre outras

Obras Premiadas:
A PESCARIA (Crônica) = Medalha de prata da Revista Troféu, São Paulo, em Abril de 1976.
RETRATOS E FATOS DA LITERATURA OBIDENSE (esboço histórico literário) = Troféu Personalidade concedido pela Universidade Federal do Oeste do Pará/UFOPA/Santarém/PA, no IV Festival de Cultura, Identidade e Memória Amazônica de 24 a 25.07.2015.
TROFÉU INDIO PAUXI – Edição 2019 (Manaus/AM) em 27.09.2019, outorgado pela Associação dos Obidenses Residentes em Manaus (ADORM), pelo conjunto da obra como cronista e escritor.

Fonte:
O Impacto 
Dados enviados pelo autor

sábado, 28 de dezembro de 2013

Javier Di Mar-y-abá (Poemas Avulsos)

Libreria Fogola Pisa (facebook)
CASTANHEIRAS

Esperei-te séculos!
Ergui-me viçosa e bela
Até que apareceste
Com ares senhoriais.
Eu sempre pensei
Nosso sexo
Assim mesmo:
Sem nexo.

Mas essa motosserra
Foi demais.

GAMELEIRA

A casta refletirá verdades
Que a selva não denuncia;

Braços embalar-se-ão
Ao sabor de brisas
Que tuas raízes jamais saberão.
Há um sonho escondido ali,
Amores e calumbis
Debaixo da gameleira.
O sol brinca de esconder
Por detrás da gameleira.

Jaz um pedaço do mundo
Debaixo da gameleira.

INFÂNCIAS

O mundo fez piruetas
Com o pé de manga-rosa
Pintou as bolas-de-gude
Com as sobras do arco-íris.
Brincavam de amarelinhas
Felizes muricizeiros.
Curiós, xexéus e sanhaços
Faziam o maior furdunço
Nas frutas, nos arvoredos.

Os anos de todos eles
A gente contava nos dedos.

Com argamassa dos sonhos
A terra forjava os homens:
Era Bruno, Erick, Carol e Rafa
Brincando de lobisomem.
-
Fonte:
www.antoniomiranda.com.br

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Yara Cecim (Sopa de Poemas)

ENCANTAMENTO
-
Sou filha das águas azuis do meu rio.
Criei-me nas praias do meu Tapajós
ouvindo as yaras cantando em surdina
seu canto de amor
que embriaga, que encanta,
lavando os cabelos com a espuma das ondas,
seus longos cabelos, tão lisos, tão verdes,
da cor da esperança que a gente acalanta.
A hora do sol, deitadas nas pedras
seus corpos secavam,
enquanto os cabelos, tão lisos, tão longos,
as águas levavam, pra lá e pra cá…
À noite elas riam e brincavam de roda
na areia da praia, à luz do luar,
enquanto serena a lua banhava
seu rosto redondo nas águas do rio
e a gente medrosa do boto encantado
fechava-se em casa, tremendo de frio.
E foi numa noite de maio bissexto,
de águas tão grandes, tocando o assoalho
que eu vim a este mundo,
por mãos do destino,
tão frágil, tão tenra como um mururé.
Depois as yaras meu berço embalaram
e ensinaram à mamãe suas canções de ninar.
A fada madrinha seu nome me deu
e velou por meu sono
quando eu era criança.
Por isso ainda hoje eu escuto seu canto.
Uma doce cantiga de amor e esperança.
-
O RIO E O MAR
-
Amo a tranquilidade das águas serenas
do rio, que descem cantando pro mar.
O doce ondulado das calmas maretas
que batem na areia
sem a machucar.
Adoro a cantiga serena da yara
em noites prateadas com a luz do luar
que me fala à alma,
que entorpece o espírito,
que não me magoa
nem me faz chorar.
Amo a placidez das coisas encantadas.
As lendas que falam de coisas bonitas,
do boto encantado, do uirapuru,
da cigarra amiga ao cair da tarde
ciciando na folha do pé de caju.
Sou rio e não mar.
Sou yara e não ninfa.
Sou cabocla flor,

como dizia meu pai
com carinho e amor.
Sou musgo da pedra
que o vento arrancou
jogando no mar
e o mar destroçou.
-
(SEM TÍTULO)
-
Eu não sou aquela Nega Fulô
do poema escrito por Jorge de Lima
que conta a história de outros amores
bem mais diferentes do amor que te dou.
Da minha janela contemplo o horizonte
aberto, terrível, de ondas bravias
que se atiram ferozes nas pedras escuras
se despedaçando, quebrando-as também.
Que levam pra longe a mirada da gente,
arrastando, ondulando como uma serpente.
Adoro a mareta que vem se chegando
de manso, rolando na areia branquinha,
chegando, chegando, suave, maneira
e eu caminhando tranquila, sem medo,
esperando que venha, amorosa, cheirosa,
molhar os meus pés, me contar um segredo!
Prefiro ser lenda
a ser uma história
de heróis, de vikings,
de naus com mil remos
lutando, matando,
sofrendo, morrendo
por uma coroa,
por um Imperador.

Fonte:
Poesia do Grão-Pará. RJ: Graphia, 2001.

Yara Cecim (1916 – 2009)

Yara de Araújo de Souza Cecim nasceu em Santarém no dia 13 de maio de 1916. Faleceu em Belém do Pará em 26 de outubro de 2009.

Foi poeta, contista, artista plástica e pesquisadora.

Segundo o escritor Nicodemos Sena – também santareno - “através da pena mágica de Yara, o impossível aconteceu, isto é, o portentoso contexto amazônico (com suas vastidões e belezas naturais), que sempre desorientou a quantos se atreveram a desenhar literariamente a vida amazônica, desta vez não invadiu o texto, mas encontrou a sua expressão mais cabal e adequada”.

Falando de uma Amazônia povoada de mitos e seres fantásticos, Yara Cecim também é assim definida pelo falecido escritor Ápio Campos: “(...) seu realismo fantástico tem cheiro de mato e sopra sobre o leitor o hálito das ilhas e dos seres estranhos que as povoam”.

Com seu estilo peculiar de escrita a autora foi distinguida com Menção Honrosa pela Academia Paraense de Letras no concurso Samuel Wallace Mac Dowell de 1987 com o livro “Taú-Taú e Outros Contos Fantásticos da Amazônia”.

Livros:

Prosa
    Taú-Taú e Outros Contos Fantásticos da Amazônia (Cejup, Belém, 1989)
    Histórias Daqui e Dali (Cejup, 1994).
    Lendário - Contos Fantásticos da Amazônia (Cejup, 2004).

Poesia
    Arabescos (Cejup, 1990)
    Folhas de Outono (Alcance, Porto Alegre, 1997).
-
Fontes:
Memoria da Literatura do Pará.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Yara_Cecim

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Paolo Ricci (1925 – 2011)

Paolo Ricci nasceu em Lucca, na Itália, em 08 de setembro de 1925 e faleceu em 08 de maio de 2011 em Belém do Pará.

Foi cronista, poeta, romancista e artista plástico de expressão internacional.

Integrou a Academia Paraense de Letras (APL) desde 21 de outubro de 1980, ocupando a cadeira de número 19.

Seus pais vieram da Itália morar em Rio Canaticu, na Ilha do Marajó, ainda na época áurea da borracha.

Graduou-se em Direito, estudando em Belém do Pará, colaborando com jornais paraenses da época como “Folha do Norte” e “A Província do Pará”.

Tendo demonstrado desde a infância forte tendência para o desenho   e desejando, ainda menino, aprender pintura, era desestimulado pelos pais que consideravam as artes como "coisas mortas", sem utilidade prática. Em novembro de 1950 recebeu sua primeira aula de pintura realizando um "d'aprés" no salão onde expunha, em Belém, o artista    holandês Wín Wan Dijck. Incentivado a continuar, prosseguiu auto didaticamente quando, em 1951. pintando a nave da Catedral de Belém, foi visto pelo grande interiorista Leonidas Monte, cearense radicado e ativo em Belém, daí em diante tornando-se amigo e discípulo desse artista. A partir desse ano também passou a contar com a orientação critica de Frederico Barata, com quem viria a trabalhar em "A Província do Pará", reinstalada pelos "Diários  Associados".

Em 1966, a convite do Governo dos E.E.U.U. de setembro a novembro visitou artistas. Academias. Museus, Universidades e Galerias de Arte em Washington. Filadélfia, Nova Iorque, Chicago, Búfalo, Oakland, São Francisco e Los Angeles, polemizando e discutindo problemas da arte contemporânea, confirmando o que escrevera Mário Cravo Jr. a seu respeito: "polêmico, preocupado basicamente com sua arte".

Integrou vários júris, inclusive o da Pré-Bienal de 1974, de São Paulo: foi membro de banca examinadora na Universidade Federal do Pará. proferiu inúmeras palestras sobre composição e outros temas, destacando-se a realizada em 1978, no Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro (uma sinopse sobre a História da  Pintura no Pará), por ocasião da coletiva "Artistas do Pará e Minas Gerais", na Galeria Rodrigo M.F. de Andrade, da FUNARTE,  da qual participou.

Pesquisador incansável das artes plásticas no Pará, organizou a exposição “Artistas Plásticos Paraenses do Século XIX” e o livro “As Artes Plásticas No Pará”. É citado pelo “Dicionário de Artes Plásticas” do Ministério da Educação como um dos mais importantes artistas plásticos do Brasil.

Publicações
Poesia – Riso dos Insanos, 2001;
Entre o espaço e o tempo, 2003;
Revoada de anseios, 2004;
25 Madrigais de Amor e Dor, 2004.

Fontes:
Projeto Memória da Literatura do Pará
– Antologia da Academia Paraense de Letras. Poesia & Prosa. Belém/PA: Cultural CEJUP, 1987.

sábado, 25 de agosto de 2012

Betha M. Costa (Livro de Poemas)

FILHA DA AMAZÔNIA

Nasci d’água marajoara,
Moreno-jambo na cor,
Filha do luar paroara,
Com a vitória-régia em flor.

Saias estampadas coloridas,
Danço o sensual carimbó,
Nas cadências já conhecidas,
Que aprendi com minha avó.

Como maniçoba e tapioca,
Comidas típicas gostosas:
Viva a sagrada mandioca,
Das raízes às folhas venenosas!

Samaumeira do meu bem,
De tucupi e açaí sou regada,
Nos rios que cortam Belém,
Vôo junto às passaradas.

Nasci d’água marajoara,
Moreno-jambo na cor,
Filha do luar paroara,
Com vitória-régia a flor!

SOB VÉU RENDADO

Sob rendado véu do silêncio escuto,
Colho palavras ditas pelos ventos,
Apontamentos que na mão perscruto,
Para unir momentos e sentimentos.

Luto por fazer um verso impoluto,
Livre, solto, de melhores caimentos:
Aos olhares, poemas sacros e bentos,
Aos tristes corações - luz e tributo.

Entrelinhas, eu preencho com alentos,
De letras, sons e outros elementos,
Para de o escrito germinar bom fruto...

As letras dos versos são condimentos,
D’alma e corpo puros contentamentos:
Alimentos que sob renda desfruto!

PARA QUEM AMOU SEM SER AMADO

Um grande tapete florido e belo,
Tingido pela vermelha paixão,
Para essa louca rainha sem castelo,
Expuseste o teu nobre coração.

Com ouro puro, do mais amarelo,
Respeito, carinho e muita atenção,
Beijos, doces olhares em anelo,
Ungiste-a de mágica poção...

Deste-lhe a tua vida, amor em elo,
Tanto apego, zelo e dedicação,
Aos teus bons olhos: só desilusão.

Bela na aparência, jeito singelo,
O peito era só fel e perdição,
Amar sem ser amado: maldição!

POEMA DE MAR E AMAR

Ondas espumam em desenhos no ar,
Harmonia, leveza, pura magia,
Eu rubro barco na costa a remar,
Coração acelerado, em euforia...

Lanço minhas mãos ao clarão do luar,
Com os braços abertos e alegria,
Rogo ao Deus e Senhor do meu Altar,
Orientação através de um Anjo-Guia.

Sou uma pobre e pecadora Maria,
A suplicar aqui deste triste lugar,
Que na tua vida possas me aceitar...

Teu calor aquecer-me a noite fria,
Navegar ao bel prazer do teu mar:
Ah, doce felicidade de amar!…

BORBOLETA DE PAPEL

Admiro-te! Voas leve e linda folha,
Trazes ao corpo letras desenhadas,
Para que minha imaginação as colha,
E as pinte nas cores d’alma encantadas.

Bates asas para lá e para cá,
Espalhas mágicos polens de versos,
Semeias poemas flores de manacá,
Dos tons brancos aos lilases diversos...

Que pena tua vida seja tão breve,
E com o repentino cair das chuvas,
A correnteza na sarjeta a leve!...

Ó, borboleta de papel que turvas,
Por águas ora barrentas da verve,
Acode meu amor e suas doces curvas!

O COLECIONADOR DE PAIXÔES

Gajo gentil e de mui boa conversa,
Intelectual que vive em Portugal,
Manhoso e esperto feito gato persa,
Conquista a ala feminina geral.

Seu sorriso aberto é uma arma letal.
Pobre da moça que ele se interessa,
E com desapego e emoção fatal,
O rútilo coração lhe arremessa!...

Descolado, sem nem uma promessa,
Com jeito cordial de fazer corar,
Envolve as raparigas bem depressa.

Réu confesso e isento de compaixões,
Nem foi julgado por colecionar,
E matar a queima-roupa as paixões!

MATA-BORRÃO

Vem calado, achega-te e me beija!
Apazigua a chama que me incendeia,
Para que com olhos de amor te veja,
E caia como tola presa em tua teia...

Carente e licenciosa prisioneira,
Além do limite dos teus abraços,
Seja eu maga ou malvada feiticeira,
Para deixar no teu corpo os meus traços.

Livre da teia, mágicos poemas em penhor,
Que eu escrevi na tua mui amada presença,
Queimaram-se e perderam o valor...

Estrelas decadentes e sem cor,
Caíram ao solo da tua indiferença,
Como mata-borrão do nosso amor.

MINHAS LÁGRIMAS

Desses meus olhos de muitas tristezas,
Colhi lágrimas das dores distantes,
Guardei-as no cântaro das belezas,
E delas tu provaste por instantes...

Ah, que não adoeças da minha loucura,
Nem agregues as minhas incertezas!
Que elas te banhem d’águas de ternura,
E libertem tua alma das impurezas!

Ao teu peito cansado dêem leveza,
Os luzeiros dos mais puros diamantes,
E tirem do teu coração a fraqueza...

Voes além da vilania e pequeneza,
Das nuvens cinza tais véus errantes...
E abre-te para a vida em grandeza!

SEMENTES DE ILUSÕES

Eu plantei fumaças de mil odores,
Palavras licores com chocolates,
Doces olhares das mais belas cores,
Do branco bem calmo ao tenso escarlate.

Arei terras frágeis em plantações,
Adubei-as de afetos sorrateiros,
Até fecundei em negros corações,
Grãos d’amores-perfeitos altaneiros.

Reguei com as melhores intenções,
Usei de puras águas aos canteiros,
E aguardei muito ansiosa as florações...

Nesse tempo de falsas impressões,
Nasceram pés mal-me-queres inteiros:
As sementes eram grãos de ilusões!

MIGALHAS DALMA

Na estrada já fui para ti “a bendita”,
Deixei passos marcados nesse chão,
Tal pedaços d’alma que vaga aflita,
Sou escombros de um amor que foi vão.

Só migalhas eu guardo nessa vida,
De pequenos vôos da imaginação,
Grande parte minha está perdida,
Escondida sob gestos da tua mão...

Mesmo com tuas migalhas iludida,
Eu vivia feliz entre o sim e o não:
A tua boca que me dava a guarida.

Ora alimenta-me a sobra devida...
O teu doce afeto que foi meu pão,
Alivia-me a fome recém-nascida.

COLCHA DE RETALHOS

Cada parte de uma grande amizade,
Coloquei nas mãos do melhor alfaiate:
Amor, paciência e solidariedade,
E faça-me uma colcha em arremate!

Tecida em ponto que nunca desate,
Que seja abrigo contra insanidade,
Amorteça a dor de qualquer embate,
E aqueça-me do frio da soledade.

Cuidadoso fez o artesão sua arte,
Dos fios mais delicados de bondade,
Teceu com a dedicação de um vate.

Por anos eu congelei sem piedade,
Minha tristeza não teve resgate:
A coberta ficou pronta mui tarde…

Fontes:
http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=12056
1a. Antologia Poética Momento Lítero-Cultural

Betha M. Costa (Entrevistada por Selmo Vasconcellos)

Nascida em 26 de dezembro, na cidade Belém no Pará. Filha do médico José Maria de Mendonça com Rdª Yolanda Souza de Mendonça. Batizada Maria Elizabeth Souza de Mendonça, na infância ganhou o apelido de Betha, nome pelo qual se reconhece. Amante das letras escreve desde os 14 anos. Por força do casamento assina documentos oficiais como Maria Elizabeth de Mendonça Costa. Pediatra, mãe de dois rapazes. Adotou o pseudônimo Betha M. Costa e segue escrevendo poemas e prosas como hobby.

SELMO VASCONCELLOS - Quais as suas outras atividades, além de escrever?

Betha M. Costa – Sou médica pediatra. Também mãe, dona de casa, contadora, conselheira sentimental, psicóloga, pedagoga... Enfim: mulher! (risos)

SELMO VASCONCELLOS - Como surgiu seu interesse literário?

Betha M. Costa – A leitura sempre me atraiu. Em criança as fábulas de Esopo, La Fontainne, contos dos irmãos Grimm, Monteiro Lobato, os gibis... Comecei a tomar gosto por escrever, além de ler os romances de José de Alencar, os poemas de Gonçalves Dias e outros autores brasileiros e estrangeiros.

SELMO VASCONCELLOS - Quantos e quais os seus livros publicados dentro e fora do País?

Betha M. Costa – Participo com três textos em prosa da “Antologia Luso-Poemas 2008” (Edium Editores), em Portugal. É uma compilação de diversos textos de vários autores que publicam no site Luso Poemas. Apesar de estimulada por parentes, amigos e ter “paitrocínio” (risos), não tenho nenhum livro solo. Para mim a escrita é hobby e fator de interação com outros escritores amadores em sites e blogues.

SELMO VASCONCELLOS - Qual (is) o(s) impacto(s) que propicia(m) atmosfera(s) capaz (es) de produzir poesia?

Betha M. Costa – A poesia está em toda parte. De acordo com o momento e sensibilidade, o cotidiano dá ferramentas para quem gosta das letras fazer um poema ou uma prosa.Sou estudiosa. Preocupo-me em conhecer os estilos literários e de repente nasce um poema, conto, crônica...O que vier a imaginação!

SELMO VASCONCELLOS - Quais os escritores que você admira?

Betha M. Costa – Cecília Meireles, Clarice Lispector, Gonçalves Dias, Fernando Pessoa (Álvaro de Campos), Drumonnd, Fernando Sabino, Ferreira Gullar, Gibran, Hermann Hesse e tantos outros...

SELMO VASCONCELLOS - Qual mensagem de incentivo você daria para os novos poetas?

Betha M. Costa – Que não tenham medo de exporem-se através da palavra. Que procurem ler bastante, ter cuidado com ortografia e gramática, por respeito a si próprios e aos seus leitores.

Agradeço ao amigo Selmo o simpático convite, o estímulo e oportunidade para que eu mostre um pouco de mim e meus textos.

Fonte:
1a. Antologia Poética Momento Lítero-Cultural

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Vássia Silveira (Pássaros Nasceram para Voar)

O mundo sempre me pareceu um grande mistério. Lembro que ainda pequena, eu devia ter uns seis ou sete anos, vi minha irmã mais velha abater um passarinho para depois, com a ajuda de alguns amigos, dissecá-lo como a um sapo de laboratório familiar. Não arrisco explicar, aos olhos daquela menina, todo o sentimento que a cena lhe trouxe. Mas desconfio que deva ter sido algo aterrador, pois desde então, e observe que já se passaram muitos anos, passei a sentir a vida como uma eterna sucessão de enganos. Eu não cabia na família, na escola, no trabalho e, de resto, nem em mim mesma.

De início, achavam que se tratava apenas de timidez. Depois, os suores nas mãos e o silêncio que podia durar uma festa inteira, passou a ser visto pelos outros como arrogância. ‘Sofia, você precisa aprender a controlar suas emoções’, diziam-me os amigos mais próximos. No meio em que convivia, tornei-me o laboratório ideal para as frustrações alheias. E de tanto ouvir conselhos e repreendas, acabei por ter a sensação de que me dissecavam como àquele passarinho morto por minha irmã.

Primeiro arrancaram-me as pernas. Disseram-me que elas não me levavam na direção correta e que, portanto, não me eram úteis. Em seguida, analisaram e descartaram, um a um, os componentes desse pobre corpo. Foi quando descobri que ao invés de músculos, eu possuía raízes que se entrelaçavam e que pareciam expressar as mais longínquas memórias. E que no lugar de sangue, meus corredores vertiam um líquido gelatinoso e branco, uma seiva de vida que encerra um susto qualquer.

A simples idéia de que tal segredo pudesse vir a ser desvendado por algum de meus perscrutadores, congelava-me a alma. Pobre de mim. Como se não bastasse ter emprestado a esse mundo pernas, bocas e gestos aceitáveis, tinha ainda que esforçar-me para trocar com o ambiente externo, sentimentos corriqueiros, enxaquecas plausíveis, preocupações banais e um choro compreensível aqui e acolá.

Foi agarrada a essa indiscutível certeza que procurei encenar, neste grande palco, um medíocre, porém razoável, papel. Fiz-me mulher e deixei que rasgassem, dentro de mim, as mais finas veias. Como um acrobata, lancei-me em mãos e teias de palavras vilipendiosas. Deixei-me sugar até a última gota e derramei intranqüilas lágrimas em lençóis que nunca envelheciam. Ao final de cada espetáculo, retornava sozinha para o camarim. E ali ficava, ora imóvel — perturbada pelas ondas que me engoliam na mansidão do nada —, ora debatendo-me nas paredes invisíveis que me serviam de prisão.


Com o tempo, desisti de procurar aceitação. Percebi que de alguma forma não merecia ser amada, nem tampouco compreendida. Agarrei-me aos galhos que cresciam silenciosamente em meu mundo, adubando, no frescor das noites insones, algumas poucas lembranças que me pudessem ser úteis. Deixei que transbordasse nas veias partidas pelos inúmeros erros que cometi, aquilo que outrora era líquido e que não sei por qual motivo específico, tornara-se uma gosma pegajosa. Na solidão e na ausência, preguei em cada parede um retrato do que poderia ter sido minha existência e lancei-me aos ventos, experimentando a liberdade do pássaro que desconhece o momento exato da morte. E é feliz por existir na inocência de que está sempre pronto para o abate.

===============
Vássia Silveira nasceu em Belém (PA), em 1971. É jornalista, mãe de Clara e Anaís e autora do site "Ana e suas mulheres". Foi editora da revista "outraspalavras", no Acre. Atualmente mora em Fortaleza e tem textos publicados nos sites Cronópios e Bestiário, entre outros. Assina também o blog "Gavetas e Janelas". Em julho de 2007 lançou seu primeiro livro, "Braboletas e Ciúminsetos" (literatura infantil), pela Editora Letras Brasileiras, com ilustrações de Marcelo Vaz.

Fonte:
http://www.releituras.com/ne_vassia_passaros.asp

domingo, 29 de julho de 2012

José Benedito Leite Pinheiro Junior (Poesias: Da Janela do Meu Quarto)

APRESENTAÇÃO

A coletânea de textos que ora apresento, reúne histórias e poesias produzidas pelos estudantes do Ciclo III e IV (5ª a 8ª no regime seriado) da Escola Municipal Florestan Fernandes em oficinas de criação literárias promovida pelo Projeto Jovens Leitores1.

“Da janela do meu quarto”, primeiro trabalho editado pelo Projeto em 2005, foi uma produção individual de José Pinheiro Jr. e contou na primeira edição com a ilustração de seu amigo de classe Pedro Pacheco.

O livro passou de mão em mão despertando curiosidade e interesse na
comunidade escolar. As oficinas e as publicações semi-artesanais que se seguiram “Cantigas de Florescer” e “No Parque ver de prosa, ver de verso”, tiveram um número cada vez maior de participantes.

É justo reconhecer que o desejo das crianças e jovens de criarem seus
próprios textos foi alimentado pelos encontros com escritores paraenses, pelas rodas de conversas, rodas de leitura, visitas à bibliotecas e livrarias, contação de histórias, recitais poéticos, cantorias...

É oportuno ressaltar ainda que esta ação de estímulo a escrita aconteceu e acontece sem maiores ansiedades de formar prosadores ou poetas.

O foco da atividade está em oportunizar aos estudantes que ampliem seu repertório cultural e se exercitem com as palavras, apropriando-se de mecanismos especiais peculiares de expressão melhorando a cada nova experiência como produtores de textos.

Paulo Demétrio Pomares da Silva
Coord. do Projeto Jovens Leitores

¹ O Projeto é realizado na Escola Florestan Fernandes desde 2002 com crianças e jovens entre 10 e 15 anos. Os estudantes são estimulados a descobrir o sabor de ler e escrever através de um conjunto de ações que prevêem rodas de conversas, rodas de leituras, visitas à bibliotecas, feira de livros, livrarias, empréstimos de livros, oficinas de produção de textos, saraus, recitais poéticos, dentre outras atividades.

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DA JANELA DO MEU QUARTO
Belém, 2005

A JANELA DO MEU QUARTO

Da janela do meu quarto
Vejo um mundo diferente

Da janela do meu quarto
Vejo a verdade
De tudo o que há

De lá vejo a vida
Os pássaros
As crianças
E as razões pelas quais
Vejo um mundo tão cheio
De qualidades
E com muita fantasia.

A janela do meu quarto é mágica
Pois me ajuda a aprender a viver
De uma maneira simples e fácil.

1º, 2º, 3º, ETC... QUAL É A MELHOR?

Meus primeiros passos foram brilhantes
Pois me ensinaram a caminhar pela vida
E tiveram o mesmo efeito
De tudo o que é primeiro neste mundo
Como o primeiro beijo
Ou até o primeiro dente que se arranca.

Tudo nesta vida que se possa imaginar
Tem-se a primeira vez.

E como diria o mais sábio poeta:
A primeira vez é a melhor das melhores.

SER CRIANÇA

Lá fora, num banquinho da praça,
Ana está a admirar o céu.

-Ana, minha filha, vamos embora,
Não fique ai feito boba!!!

-Calma papai, só quero saber por que
Os peixes desse oceano tem asas.

O CÃOZINHO DO RAUL

O cãozinho do Raul morreu.

Mas para onde foi o cãozinho do Raul?
Para baixo da terra
Ou para o imenso céu azul?

A tristeza é tanta que Raul chora
Pois o cãozinho morreu de boca aberta
Como se estivesse dizendo:

“Adeus, meu amigo, até um dia”.

JARDIM FELIZ

Na varanda lá de casa
Vejo um jardim verdinho
E há também um passarinho
Que fez ali seu belo ninho

O cachorro que não bote nem a pata
Pois as formigas fazem ali
Sua grande caminhada.

O gatinho deve ter cuidado
Quando deitar nesse chão
Pois deve estar dormindo ali
O grande camaleão.

É, crianças, nada de brincar lá com faca
Pois entre as folhas deve estar
A preguiçosa dona lagarta.

HOJE TEM FESTA NO GALINHEIRO

Nasceram os pintinhos
Mais novos do pedaço

De repente ouve-se um grande canto
Lá pros lados do brejo.

Será o lobisomem? Não.
É o seu galo cantando
Pela chegada dos novos pintinhos...

JORNAL DO POETA

Extra! Extra! O leão não é mais o rei da selva
o macaco agora é quem dá as regras.
Extra! Extra! O papagaio não vai mais
fazer fofocas.

Extra! Extra! Relógios fazem greve
por salários atrasados.

Extra! Extra! esse é o jornal da imaginação
é o jornal do poeta!

PAPAGAIO TRISTE

Desde sua infância
o papagaio tem um sonho:
Quer ser cantor.
Por esse sonho largaria tudo
porém, não pode: o papagaio é mudo.

Se tiver uma solução
fale com sua imaginação
mas seja rápido
pois ele está sentindo muita dor

o papagaio mudo que sonha
em ser cantor.

BEM -TE – VI

Bem – te – vi que canta!
Bem – te – vi que chora!
Bem – te – vi que grita!
Bem – te – vi que em tudo põe o seu nome,
Diz pra mim: quem tem a beleza
mais encantadora?
(pergunta a menina)
Bem – te – vi!
Bem – te – vi!
( responde o humilde passarinho ).

O VENTO

Vem o vento leve
Vem o vento frio
Vem o vento solto
Que se esconde no barril

Vem o vento louco
Cheio de sabor
Vem o vento bonzinho
Para levar a minha dor.

BOLSA AZUL

Cedo madruga
Papai está na luta
A noite tarda, papai está em casa.

E sempre com aquela bolsa azul
( mas o que levará naquela bolsa azul? )
Serão papeis importantes
Ou quem sabe cachorro um cachorro pit-bul?

Pergunto à mamãe
Ela o protege:
“aquela bolsa nos sustenta, meu filho.
Seu pai é carpinteiro e nela só carrega
ferramentas”.

ALEGRIA DE CRIANÇA

Renata rodou o pião
pela primeira vez.

Como é grande a alegria de Renata.

Ah! Renata, queria eu ser
como você:
Feliz a cada momento
buscando conhecimento
aprendendo com a vida
e brincando com vento.

MENINO POBRE

O menino quer uma bola
Para jogar

O menino quer comida
Para se alimentar

O menino tem sonhos
Porém, realizá-los não pode,
O menino é muito pobre.

Como são grandes os sonhos do garoto!

E como ele é rico
dentro de sua própria imaginação
Pois lá tem comida, brinquedos e tudo
O que ele quiser praticar.
Então diz o garoto:

“como é bom sonhar!”

PÁSSARO NO CÉU

No alto ar
Os passarinhos gostam de brincar
Mas o tempo passa
A noite chega...
E os passarinhos logo tem de voltar.
Mamãe está preocupada.
Papai já vai chegar
Os passarinhos já estão dormindo
Para amanhã recomeçar
A vida de alegria que é brincar no ar.

QUITANDA DA MINHA RUA

Quitanda bela
Cheia de amizade
E com pouca quantia
Se compra a felicidade.

Nessa quitanda quase não há vendedor
Porque não há ódio
Muito menos rancor
Na bela quitanda do amor.

SONHO DE MENINO

Ah! menino
Por esse teu sonho
Vão imaginar
Que estás a flutuar.
Que menino sorridente tu és.
Que felicidade imensa
Tens no coração
Pois para chorar nunca tens razão.
Acho que és como
Uma flauta que toca
Musicas belas e só isso faz.
És o amor em forma de pessoa
És a prova de que os sonhos são reais.

NUNCA ME ESQUEÇA

Se fores a Salvador
Eu estarei por perto
Para aliviar qualquer dor.

Se fores a Belém
Estarei contigo também
Em qualquer lugar
A qualquer hora.

Sempre estarei contigo
Te protegendo
Como se fosse uma luz.

Sou teu salvador,
Meu nome é Jesus!

ORAÇÃO

Meu Deus,
Obrigado por mais esta oportunidade
E se permitir quero esta vida
Por toda a eternidade.

Ser poeta é bom,
É a minha maior vontade.

Meu Deus, me proteja por onde estiver
Guarde-me para sempre em seus braços
Não em lugar qualquer
Guie meus passos por onde eu andar
Pra que eu consiga viver e na vida amar.

Na vida, tenho tido muitas oportunidades
Por isso a sorte nunca me despreza
Mas quero sua benção, senhor,
Pois minha vontade mesmo
É sempre ser poeta.

Fonte:
Jandira Barreto Pereira Maués. Trilogia Contos e poesias da Escola Municipal Florestan Fernandes.

domingo, 8 de julho de 2012

Luiz Manoel Ferreira Maia (O Bailarino)

Luiz Manoel Ferreira Maia é do Pará

 Até o próprio irmão que se julgava um galã irresistível, vez por outra deixava escapar uma expressão de inveja, principalmente quando diante de seus olhos ele as arrebatava nos braços, as mais disputadas jovens, assim vistas como as de mais estonteante beleza nas festas dançantes em que marcávamos presença, fosse qualquer salão, sobretudo porque elas mesmas haviam se esforçado para que os convites caíssem nas mãos do inigualável dançarino.

 O irmão era bom, mas não lhe chegava aos pés, porque ele as fazia rodopiar, girar entre luzes de sonho, embalava-as trocando passos com tal leveza que as extasiava, como se estivessem a voar sobre as flores de um imenso campo, em perfeita comunhão com o ritmo da música que os enlevava. Talvez elas estivessem a recordar algum momento em que já haviam vivido a plenitude de um amor que brotara no passado, no enlaçar de suas cinturas pelo príncipe de suas quimeras.

 Sublimava-se o bailarino naquele prazer, mórbido prazer, pois sabia quão efêmero era o sonho de cada uma delas, a colocar em questão a vez de dançar com o sedutor dos salões, todas a aguardar pacientemente o momento de sorver um pouco do seu veneno, a dose certa que as fazia entrar no torpor endoidecido, prostradas ao seu abraço, a enaltecê-lo na aura dos perfumes femininos. E ele a dar-lhes em troca tudo de si, toda a sua paixão, e o calor de seu corpo a desfazer-se em gotículas.

 Terminado o baile elas desapareciam como borboletas assustadas a vaguear além das sebes do seu domínio. E o irmão a caçoar, fazes o papel de um gigolô fracassado, deixaste-as escapar todas elas, pudera, és feio demais para conseguir enlaçar de verdade pelo menos uma. O que te falta é um charme atraente como o meu, és muito presunçoso, gostarias de estar no meu lugar, retrucava ele. E quem tem inveja de um feio? Rebatia o irmão e assim ficavam a trocar provocações continuadas entre tacacás, tapioquinhas com manteiga e cafés, ou se muita a fome, entre pratos de macarrão, tomate e ovos em banca de comida na feira de Santa Luzia, varando madrugada adentro, até chegarem em casa onde caíam em suas camas feito dois bêbados extrapolados até o dia seguinte, em que só levantavam às custas das advertências da mãe a cumprir a ordem do padrasto que lhes dava a casa para morar. Acorda-os, dizia o velho, chega de vagabundagem.

Fonte:

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Daniel Munduruku (O Menino Que Não Sabia Sonhar)


O escolhido

O pajé olhou com muito amor aquela criança que acabara de nascer. Sorriu e pensou na grande tarefa que teria pela frente: educar o menino na arte da pajelança, na tradição de seu povo. Ele seria o herdeiro da cultura que atravessou os séculos, passada de geração a geração pela memória dos antepassados, que contavam as histórias da criação do mundo.

Chegando a sua “uk'a”, (1) o pajé chamou os pais do menino e disse:

- Meus parentes, ouçam com atenção o que lhes vou dizer: em meus sonhos os espíritos dos sábios disseram que nosso povo será perpetuado graças à criança que hoje nasceu. Ela será um Grande Espírito. Para isso é preciso que vocês concordem com a educação que pretendo passar a ela.

Os pais se entreolharam e sorriram, pois sabiam que isso fazia parte da tradição milenar.

- Não podemos nem queremos contrariar a vontade do Grande Espírito. Entregaremos nosso filho quando chegar a hora.

A nominação

Inspirado pelos antepassados em sonho, Karu Bempô, o pajé, deu à criança o nome de Kaxi, a lua que brilha sobre os homens. Na cerimônia em que batizou o garoto, ele disse:

- Há muitas forças negativas que visam exterminar nosso povo. Os “pariwat” (2) dizem que somos os mais importantes habitantes desta terra, mas o que fazem é sempre o contrário do que falam. Querem comprar nossa terra e trazem a dor, a divisão e a inimizade. Poluíram
nosso “idibi”, (3) derrubaram o espírito de nossas árvores, expulsaram nossa caça. Mesmo assim, a cada ano nosso povo cresce e se fortalece. Nosso povo nunca será exterminado. Renasceremos das cinzas, se preciso for, para manter nossa história.

O modo de vida

Kaxi foi crescendo e passou a participar da vida social da aldeia Katõ. Quando não estava aprendendo a fazer artesanato, brincava com outras crianças. Na época da seca ou na meia-estação - entre abril e setembro -, acompanhava sua “ixi” (4) no plantio de “musukta”, (5) “wexik'a”, (6) “akoba”, (7) milho, cará, “kagã”. (8)

Isso acontecia após a coivara, trabalho masculino que consistia na derrubada e queimada de um pedaço de terreno a que a comunidade chamava de roça.

As mulheres cuidavam da “ku” (9) e das tarefas domésticas e os homens se ocupavam da caça, pesca, coivara, e dos arcos e flechas. Eles se reuniam nos fins de tarde para conversar e contar piadas. Era um povo muito alegre e cheio de disposição.

Kaxi participava dessas conversas. Desde pequeno, ouvia com atenção a história do contato entre brancos e índios, que resultou em muitas desgraças para seu povo. Um espírito de tristeza pairava sobre os presentes quando narravam as atrocidades que os “pariwat” cometiam contra os “baripnia” (10) de outras nações para se apossar das riquezas que havia no chão sagrado deles.

Algumas vezes Kaxi acompanhava as mulheres em suas andanças pelo mato atrás de folhas para fazer remédio. Passou a conhecer as propriedades de cura das plantas e ervas. Aprendeu a respeitar a natureza e a conversar com ela.

Ele brincava boa parte do dia. Logo pela manhã ia até o igarapé nadar, brincar ou competir. Depois, ocupava-se de alguma tarefa com a mãe ou o pai. Quando acabavam seus afazeres, as crianças se reuniam e contavam o que tinham feito: pescar com o pai, ir à roça com a mãe, ralar mandioca para fazer beiju ou jogar massa no tipiti. Então, tomavam um banho de rio, imitando “wasuyu”, (11) “poy'iayn” (12) e outros bichos.

Após o banho todos se reuniam em torno da fogueira para conversar. Um dia, seu pai lhe dissera que os brancos aprendem o seu modo de ser indo a um lugar a que chamam de escola. Kaxi achava estranha essa maneira de aprender, uma vez que as crianças não andavam pela floresta, não imitavam os pássaros, não sabiam fazer arapuca ou armadilha, e tudo lhes era dado pelo papel pesado a que chamavam dinheiro.

Os rituais religiosos

À medida que crescia, Kaxi ia sendo iniciado nos costumes de seu povo. Caçava, pescava, plantava e colhia junto com os adultos. Aprendia sempre mais sobre a história dos antepassados, as guerras travadas entre as várias nações, as pinturas e tatuagens corporais. E ficava atento aos vários rituais que aconteciam na aldeia. A maioria era dirigida pelo pajé: nominação, ou batismo, cura de doenças, ritos de iniciação e purificação, cerimônias de casamento, enterro dos mortos.

Nos seus dez anos de idade, considerava extremamente bonita a índole do seu povo quando se tratava de resgatar os ideais míticos, alcançar o estado de êxtase e adquirir sabedoria. Era assim que Kaxi se sentia quando participava dos rituais: em êxtase!

Um dia, após a sessão de cura do pajé, Kaxi se aproximou dele e perguntou à queima-roupa:

- Padrinho, o que o senhor estava fazendo no corpo daquela mulher?

O pajé, cansado do trabalho que realizara, sorriu para o menino e disse-lhe:

- Pequeno pajé, passe amanhã em minha “uk'a”. Antes, porém, vá até o mato e traga algumas folhas de fumo para mim.

Kaxi respondeu:

- Amanhã estarei lá quando o sol se encontrar no seu ponto mais alto.

Naquela noite, Karu Bempô teve o presságio de que havia chegado a hora de começar a preparar o garoto para a missão que o esperava. O pajé sonhou que era uma grande ave e sobrevoava a Amazônia. Durante o vôo viu grandes clareiras na mata, máquinas que comiam árvores, rios sujos. Visitou vários povos, amigos e inimigos, e viu a deterioração da sua cultura. Voou para junto de seu povo e o viu desnorteado pela aproximação dos brancos; sua gente fugia pela ausência de um espírito forte que lhe desse coragem de lutar pelo chão.

Aproximou-se mais do solo e viu a si mesmo agonizando, incapaz de auxiliar sua gente. Assustado, ele acordou. Caminhou até o terreiro e chorou. Chegara a hora de preparar o espírito de Kaxi para ajudar o povo a lutar.

No dia seguinte, o pajé disse a Kaxi:

- Pequeno pajé, é hora de contar-lhe um segredo. Estamos vivendo um momento delicado. Nosso povo corre o risco de não ter continuidade. Há pessoas que querem acabar com nossa cultura, roubando as riquezas de nossa mãe Terra. Você sabe que nosso povo sempre foi amistoso com os “pariwat”. Isso enfraqueceu nosso espírito guerreiro, e os brancos se aproveitaram dessa fraqueza para criar rivalidade entre nós. Precisamos de alguém que tenha a sabedoria dos antepassados e a juventude do guerreiro, e ajude o povo a resistir com bravura. Os espíritos dos antepassados escolheram você para ser esse líder. Não precisa assustar-se, vai demorar um pouco, ainda; mas você deve começar sua instrução a fim de saber mais e, acima de tudo, aprender a sonhar.

- O que tenho que fazer? - perguntou o jovem índio.

- A partir de agora, ficará sob minha guarda. Serei seu guia e lhe passarei o conhecimento necessário para enfrentar tudo com coragem e certeza.

- E meus pais?

- Seus pais já sabiam que isso iria acontecer.

- Por que eu?

- Não sei - disse o pajé. - O destino não é determinado por nós mesmos: somos guiados pelos antepassados.

- Tenho condições para me tornar um líder? - perguntou, curioso.

- Todos têm. Aprender não é difícil. É mais difícil dispor-se a aprender e a aprender com vontade, e saber que o que se faz não é para si mesmo e sim para toda a comunidade.

Kaxi levantou-se, olhou com carinho para o pajé e disse:

- Estou pronto, padrinho. Que seja como querem os espíritos.

A iniciação

- O pajé é um líder religioso. É ele quem preside os rituais mais importantes da aldeia, pois está investido do poder das forças cósmicas que atuam por meio dos antepassados. O pajé é uma grande energia. Sem ele, a gente se enfraquece, perde o alicerce que mantém o equilíbrio das forças espirituais, e se divide.

A partir daquele dia Kaxi passou a acompanhar o pajé em toda parte. Muitas vezes ficava dias e dias na casa dos homens sozinho a pensar sobre os ensinamentos do pajé. A cada dia aprendia coisas novas e agora, com doze anos, era o momento de passar pelo ritual da maioridade. Teria de provar a todos que já era um homem, um guerreiro e estava pronto para o matrimônio. Durante um mês, ele e mais vinte e quatro ficaram em retiro na casa dos homens, onde eram iniciados pelos pais e padrinhos na arte da caça, pesca e sobrevivência na mata. Kaxi sabia que o teste consistia em permanecer alguns dias sozinho na floresta e
dela tirar a sobrevivência necessária para vencer a prova e voltar para casa como um bravo, trazendo nas mãos alguma caça grande.

Terminado o retiro, os vinte e cinco adolescentes cantaram e dançaram por um dia inteiro no centro da aldeia. Ao despontar a lua, os homens se reuniram e o cacique assim se expressou:

- É hora de novos guerreiros provarem que são dignos de pertencer a esta nação. Encontrarão perigos e armadilhas feitas pela mãe Natureza, mas lembrem-se de que a Natureza é nossa irmã e não nossa inimiga. Vão com o Grande Espírito que anima nossa luta, vão com coragem, e que Deus os acompanhe.

Na floresta

Nos primeiros dias de viagem, o grupo permaneceu unido. Aos poucos, foram se separando. Segundo a tradição, quanto mais sozinhos ficassem, mais coragem teriam.

Após seis dias de viagem sem encontrar carne para alimentar-se, Kaxi armou a rede, chamada uru, deitou-se e recordou as palavras de Karu Bempô:

- Sonhar é a mais antiga forma de aprendizado do nosso povo. Resistimos a muitas batalhas porque soubemos ouvir a voz dos antigos, que nos falavam em sonhos. É pelo sonho que nos metamorfoseamos nos seres da natureza para ver mais adiante, viajar para longe e reconhecer os perigos que nos rodeiam. O pajé é o intérprete oficial dos sonhos na comunidade. Sem ele, o espírito das pessoas fica fraco e facilmente é vencido pelas forças inimigas.

- Mas como interpretarei o sonho de outras pessoas?

- Há tempo para tudo, meu rapaz. Um dia, você dominará os símbolos naturais dos sonhos. As pessoas não precisarão contar seus sonhos, porque você mesmo os contará a elas. É o que acontece comigo.

Quando Kaxi sonhava, não conseguia entender o sonho; bastava contá-lo ao pajé e já recebia respostas prontas. Recordou também uma noite em que os dois saíram para colher plantas na beira da floresta.

Kaxi afastou-se um pouco do pajé e, quando voltou, percebeu que o padrinho cantava uma melodia triste contando que estava chegando a hora de se reunir ao Grande Espírito. Uma intensa luz o rodeava.

- Estou prestes a passar para outra realidade. Estou triste porque não pude fazer mais pelo nosso povo, mas feliz porque ele fica em boas mãos, pois você tem se mostrado um ótimo discípulo, capaz de grandes sacrifícios.

Kaxi não quisera entabular conversa com o pajé naquele dia. Sabia que ele estava triste e não desejava perturbá-lo. No dia seguinte, aproximara-se do velho e indagara sobre a função de um líder religioso na aldeia. Karu Bempô respondera:

- Um pajé é como um médico, um profeta. Cura as feridas do corpo, pois as doenças são espíritos ruins, “cauxi”, (13) que habitam o corpo do doente. E cura as feridas da alma, procurando unir o que está desunido. O pajé, meu filho, é alguém que mostra caminhos. Os “pariwat” acham que o pajé é um enganador, porque tira da floresta os remédios que curam o corpo. Eles acham que o mal vem de fora: são comidas mal digeridas, cansaço, preocupação. Nós, pajés, acreditamos que a doença possui alma própria; ela entra no espírito da pessoa para desarmonizá-la.

A rede de Kaxi balançava num ritmo lento e constante. Ele só tinha em mente a fala do pajé antes de partir para a floresta:

- Quando você voltar, não estarei mais aqui, mas meu coração o acompanhará sempre. Enquanto estiver na floresta provando sua coragem, o Grande Espírito virá me buscar. Continuarei a ser seu guardião, pois nosso espírito continua a viver com os outros espíritos num plano mais elevado que este para proteger os que caminham nesta vida. Você já está preparado. Este é o seu momento.

Kaxi sentia-se desmotivado, enfraquecido, solitário. Não sentia a mínima vontade de prosseguir no rito de iniciação para a vida adulta. Além disso, ainda não aprendera a “jexeyxey”. (14) Como dar conta de tamanha responsabilidade?

Finalmente, o sonho

Pensando nisso, o pequeno pajé adormeceu e sonhou. Seu padrinho o guiou pelos caminhos do sonho. Kaxi entrou no espírito de uma “jakora”, (15) felino comum na floresta amazônica. Percorreu grande extensão de mata e viu homens e máquinas destruindo árvores; em seguida transformou-se em águia, sobrevoou os rios e inquietou-se. Foi cobra, entrou no espírito das árvores e ouviu sua dor. Transformou-se em “idibi” para sentir a dor dos rios, encharcados de detritos. Kaxi inquietou-se, mas não deixou de ver a inquietude de seus irmãos. Muitos usavam “doti” (16) para cobrir o corpo, envergonhados de andarem harmonizados com a mãe Terra; outros, fascinados pela tecnologia do homem branco, ouviram a caixa que fala e engana. Viu a luta de um irmão com outro por causa do papel pesado; viu seu povo com vergonha de acreditar no Grande Espírito; viu seus irmãos com medo de morrer porque se sentiam culpados de terem nascido "selvagens".

O pequeno pajé viu muitos guerreiros fortes atirados pelo chão por uma água de fogo que os deixava fora de si. Viu homens brancos que traziam essa água e negociavam para comprar suas terras. Kaxi voltou para o seu corpo e ao despertar chorou muito. Em seguida sentiu-se fraco e abatido, como se muitos dias houvessem passado. Sentia, porém, que agora estava mais preparado.

Nesse momento Kaxi viu um grande clarão na floresta. Em torno dele pairavam luzes maravilhosas. Notou um rosto conhecido a sorrir-lhe. Era Karu Bempô. Diante de tanta felicidade por se saber detentor de um conhecimento secular, Kaxi sentiu as pernas enfraquecerem e desfaleceu.

Acordou depois de algumas horas. O cansaço havia desaparecido, a fome não. Sabia que tinha uma grande missão a cumprir junto a seu povo. Sentou-se à beira da rede e ficou pensando em tudo o que tinha visto e sentido, e percebeu que era uma sensação muito agradável poder visualizar o futuro e ver com clareza os pontos que deveria atacar. Sentia-se harmonizado, completo e unido ao espírito do velho pajé que havia lhe passado todo o conhecimento que agora possuía.

Com esse espírito de gratidão Kaxi percebeu que estava na hora de retornar para o seio de sua gente. O ritual tinha sido um sucesso, pois descobrira sua verdadeira vocação. Mas ainda era preciso encontrar uma caça grande para servir à comunidade como pagamento. Ali perto encontrou uma manada de “bio”; (17) caprichou na pontaria, ferindo uma delas bem no coração. No entanto, ainda sentia fome. A uns cem metros viu uma pequena cutia à procura de alimento. Desferiu uma mortal flechada sobre o animal, que caiu desfalecido. Acendeu o fogo, assou a carne e comeu, tranqüilo. Em seguida se pôs a caminho da aldeia.

Estava cumprida uma missão: o aprendizado com seu querido padrinho Karu Bempô... Teria que iniciar outra bem mais difícil, a de conduzir seu povo rumo ao futuro e à sobrevivência...
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Nota:
(1) Uk'a é uma palavra munduruku que significa "casa".
(2) Homem branco (não índio).
(3) Água, rios.
(4) Mãe.
(5) Mandioca.
(6) Batata-doce.
(7) Banana.
(8) Cana.
(9) Roça.
(10) Parentes.
(11) Pássaros
(12) Macacos.
(13) Feitiço.
(14) Sonhar.
(15) Onça.
(16) Roupas.
(17) Anta.


Fonte:
Conta que eu conto (Ana Maria Machado, Angela-Lago, Daniel Munduruku, Heloisa Prieto, Roger Mello ; apresentação de Tatiana Belinky ; ilustrações de Mariana Massarani. - 1a. ed. - São Paulo : Companhia das Letrinhas, 2002. (Coleção Literatura em minha casa ; v. 2)

Daniel Munduruku (1964)


Daniel Munduruku (Belém do Pará, 28 de fevereiro de 1964) é um escritor e professor brasileiro. Pertence à etnia indígena mundurucu.

Graduado em filosofia, história e psicologia.

Tem mestrado em antropologia social pela Universidade de São Paulo.

Doutor em educação pela Universidade de São Paulo.

Relações-públicas do Instituto Indígena Brasileiro da Propriedade Intelectual.

Diretor-presidente do Instituto Uk'a - a casa dos saberes ancestrais.

Conselheiro-executivo do Museu do Índio do Rio de Janeiro.

Como escritor, se destaca na área da literatura infantil.

Membro da Academia de Letras de Lorena.

Recebeu diversos prêmios no Brasil e Exterior entre eles o Prêmio Jabuti, Prêmio da Academia Brasileira de Letras, o Prêmio Érico Vanucci Mendes (outorgado pelo CNPq); Prêmio Tolerância (outorgado pela UNESCO).

Muitos de seus livros receberam o selo Altamente Recomendável outorgado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).

Obras publicadas

A primeira estrela que vejo é a estrela do meu desejo e outras histórias indígenas de amor
Você lembra, pai?
Sabedoria das águas
Contos indígenas brasileiros
Parece que foi ontem
Outras tantas histórias indígenas de origem das coisas e do universo
A caveira-rolante, a mulher-lesma e outras histórias indígenas de assustar
O banquete dos deuses
A velha árvore
As peripécias do jabuti
As serpentes que roubaram a noite
Caçadores de aventuras
Catando piolhos contando histórias
Coisas de índio
Crônicas de São Paulo
O diário de Kaxi
Um estranho sonho de futuro
Os filhos do sangue do céu
Histórias de índio
Histórias que eu ouvi e gosto de contar
Histórias que eu vivi e gosto de contar
Kabá Darebü
Meu vô Apolinário
O homem que roubava horas
O olho bom do menino
O onça
O segredo da chuva
O sinal do pajé
O sumiço da noite
Parece que foi ontem
Sobre piolhos e outros afagos
Tempo de histórias
O sonho que não parecia sonho
Uma aventura na Amazônia

Fonte:
Wikipedia
Mundurukando

terça-feira, 31 de maio de 2011

Carlos Correia Santos

  1. Carlos Correia Santos é paraense, natural de Belém. Bacharel em Direito. Poeta, contista, cronista, dramaturgo, roteirista e romancista, Carlos Correia Santos tem feito da diversidade uma grande marca de sua carreira. É escritor vencedor do Prêmio Dalcídio Jurandir 2008, na categoria romance, com a obra "Velas na Tapera", concurso de vulto nacional criado para celebrar o centenário do romancista Dalcídio Jurandir. É autor do premiado livro de poemas "O Baile dos Versos", obra que ganhou especial saudação da Academia Brasileira de Letras, em 1999. Também são de sua autoria as obras "Poeticário" (poemas), "No Último Desejo a Carne é Fria" (coletânea de contos), "Nu Nery" (teatro), Ópera Profano (teatro / Prêmio Cidade de Manaus) e "Batista" (teatro).
Como escritor na área de artes cênicas, coleciona importantes láureas nacionais, como o Prêmio Funarte de Dramaturgia por três anos consecutivos (2003, 2004 e 2005), o Prêmio Funarte Petrobras de Fomento ao Teatro (2005), o Prêmio Funarte Petrobras de Circulação Nacional (2006) e o Edital Seleção Brasil em Cena do Centro Cultural Banco do Brasil.

Incluídos no Catálogo da Dramaturgia Brasileira da renomada autora Maria Helena Kühner (iniciativa detentora do Prêmio Shell), seus textos teatrais já ganharam diversas montagens e já foram apresentados nas cidades brasileiras de Belém, São Luís, Natal, Recife, Camaçari, Piracicaba, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.

Suas peças já foram traduzidas para o francês e espanhol. Importantes artistas brasileiros, como Stella Miranda (que interpretou a síndica do humorístico "Toma La, Dá Cá", de Miguel Falabella, exibido na TV Globo), já assinaram direção de suas obras.

Em 2009, foi o autor vencedor da categoria dramaturgia do III Concurso Literatura para Todos, promovido pelo Ministério da Educação. O texto premiado chama-se "Não Conte com o Numero Um No Reino de Numesmópolis". No cinema, foi agraciado com o Prêmio do Edital Curta Criança do Ministério da Cultura. Assinou a seção Contando Um Conto, no jornal O Liberal (um dos maiores da região Norte) e Portal ORM. É colaborador, com seus contos, do jornal O Estado do Acre e dos sites BV News (Roraima), Amapá Digital (Amapá), Manaus On Line (Manaus), Madeira On Line (Rondônia) e Timor On Line (Timor Leste).

Fonte:
Texto enviado pelo Autor

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Alonso Rocha, IV Príncipe dos Poetas do Pará falece em 22 de Fevereiro de 2011

Se tivessemos o poder de prolongar a vida do corpo físico de quem quisessemos, Alonso Rocha certamente estaria entre os nomes que desejamos. Mas, somos mortais, e assim mesmo, quando nos encantamos com versos tão soberbos como os de Alonso, mesmo que não presente em corpo físico, seu espírito estará sempre imortal dentro de nós. Este poeta-trovador se indagava em sua trova:

Sem resposta que conforte,
dúvida imensa me corta:
Qual o segredo da morte?
Fim? Partida? Porto? Porta?

Fim? Não existe fim para alguém que escreve versos tão sublimes. Serás sempre imortal.
Partida? Apenas deste plano físico, pois onde vais é apenas o repouso merecido pelo que fez.
Porto? Voce, caro poeta, era o porto de nossas almas, de nossas emoções.
Porta? Para ti, uma porta em direção a um andar superior onde observarás a nós que o reverenciamos, e que perpetuaremos seus versos e sua pessoa.

Eu te saudo pelo legado que nos deixou. Salve, Alonso Rocha!
(José Feldman)

Alonso Rocha (Livro de Poesias)


SONETO À LUA CHEIA

Lua de celofane – lua amarga,
a mensagem de amor que hoje me trazes
rasga no coração como tenazes,
essa dor que se alarga, que se alarga.

Lua de gesso estéril, em tua carga,
por não me decifrar, tu te comprazes,
em ver que eu sou, em tons tristes, lilases,
jogral de um circo azul, na noite larga.

De sofrer já cansei, mas dizes: - “Ama!”
e tua luz – espelho onde me encanto –
na ante-manhã deserta, se derrama.

Porém não creio mais no teu milagre;
- quem teve tanto amor, odeia tanto;
eu que fui vinho agora sou vinagre.

SONETO À MESMA FLOR

Quando moço roubei na madrugada
do seio de uma flor recém-aberta
uma gota de orvalho e como oferta
a deixei em teus lábios, abrigada.

Hoje, quando recordo (Oh! Doce Amada!)
esse tempo de arroubo e descoberta
uma saudade, trêmula, desperta
e vem sangrar-me com a sua espada.

Iguais a flor, também envelhecemos
mas ao despetalar ainda trazemos
almas unidas, mãos entrelaçadas,

porque do amor a essência mais preciosa
( assim como o perfume de uma rosa)
permanece nas pétalas secadas.

SONETO À JOVEM ESPOSA

Hoje eu te trago, em minhas mãos, guardada,
a gota d’água – a pérola serena –
que eu roubei de uma pálida açucena
recém-aberta pela madrugada.

Louco poeta que sou! (Oh! Doce Amada!)
Em trazer-te essa dádiva pequena.
Culpa as estrelas, culpa a cantilena
do vento. E em nossa alcova penumbrada

dormes. E nem percebes no teu sono
que em teus lábios, fechados, abandono
a lágrima de luz – um mundo pleno.

Não despertes, ririas certamente
se me visses beijando, ingenuamente,
tua boca molhada de sereno.

POEMA DO ULTIMO INSTANTE

( ao poeta José Guilherme, onde estiver)

.
Havia o sonhador
a mesa e os seus convivas.
O pão infermentado
fragmentado
e o vinho das angústias.
- Senhor! Afasta o cálice ( câncer sobre a carne)
e a cruz dos sem-perdão.
Deixa-me (ainda) repartir os peixes
e os lírios de teus campos
- dízimo deste encanto
lobo que me devora.
Atira sobre o poema o círculo perfeito
e os dados da palavra.
Derrama a chuva
tua lança e os teus cravos
na terra que semeio.
Assim falava o Poeta
enquanto o sol e outros deuses (os mortos esquecidos)
com essência de mirra em seus turíbulos
já perfumavam a pedra
- altar para o seu corpo.

MINHA PRECE
POR MEU FILHO NO DIA DA SUA MORTE
(... para Ronaldo Alonso)

Ele era um pássaro, Senhor,
cujas asas feriste antes do vôo.
Ele era fonte
e sufocaste o canto em sua garganta
e pouca além da lágrima e do riso
- como apelo ou mensagem –
lhe deixaste.
Ele era frágil, Senhor,
e lhe enevoaste o entendimento
e com agudos espinhos o pregaste
tantos anos no seu leito.
Até seus olhos, Senhor,
- inquietos peixinhos coloridos –
aprisionaste
no reduzido aquário do seu quarto.
Mas eu te louvo, Senhor,
por Tua bondade
quando lhe ensinaste a gritar a palavra “mãe”
- única de sua boca –
como sinal de angústia e como hino de amor.
Hoje, Dá-me a beber, Senhor,
o Vinho de Tua Paz
na mesma taça de fel e sofrimento
com que o premiaste,
para que eu possa de joelhos
celebrar contigo
um retorno de um anjo ao Teu reinado!

BREVE TEMPO

Se me queres amar ama-me nesta hora
enquanto fruto dando-te a semente.
Se te apraz me louvar louva-me agora
quando do teu louvor vivo carente.

Aprende a te doar antes que a aurora
mude nas cores cinza do poente.
Se precisas chorar debruça e chora
hoje que o meu regaço é doce e quente.

A vida é breve dança sobre arame.
Sorve teu cálice antes que derrame
ninho vazio que o vento derrubou.

Porque quando eu cair num dia incerto
parado o coração o olhar deserto
nem mesmo eu saberei que já não sou.

NO ESPELHO

Da armadura do medo me desnudo
o estandarte na mão, a flor no peito
e enfrento, temerário, o cristal vivo
de tua face – espelho onde me busco.

Sou dócil ao teu poder e mel e seiva
da boca se derramam em doce riso,
como a rasgar a carne me entretenho
para me alimentar de encantamento.

Entrego-te meu rosto e o desfiguras
e a máscara real pesada tomba
- envelhecido pó – na tua lâmina.

E na visão da imagem refletida
em desespero e espanto me descubro
na placenta da morte prisioneiro.

Fontes:
Portal dos Sonhos e das Poesias
http://www.sarahmrodrigues.com/luau/prece_alonso.htm
http://covadospoetas.blogspot.com/2011/02/alonso-rocha-o-principe-dos-poetas.html

Alonso Rocha (1926 – 2011)


Nascido a 15 de dezembro de 1926, foi casado com Rita Ferreira Rocha e pai de cinco filhos: Sérgio Alonso (médico), Nelson Alonso (médico), Ângela Rosa (arquiteta), Geraldo Alonso engenheiro-elétrico e eletrônico) e Ronaldo Alonso (falecido em 1977). Filho do poeta Rocha Júnior e Adalgiza Guimarães Pinheiro Rocha. Faleceu em 22 de fevereiro de 2011.

É IV Príncipe dos Poetas do Pará, escolhido após consulta a um colégio eleitoral constituído de 200 personalidades integrantes dos círculos culturais, científicos e sociais do Estado, pessoas essas ligadas às artes e selecionadas por uma comissão especial formada pelos escritores Georgenor de Sousa Franco Filho, Pedro Tupinambá, Victor Tamer e Albelardo Santos. O resultado de votação através de voto assinado, foi apurado em sessão pública do dia 8 de outubro de 1987, tendo recebido sufrágios de 14 poetas residentes no Pará. Por maioria absoluta de votos (56,77%) do total, Alonso Rocha foi eleito, tendo recebido na sessão solene de 21 de julho de 1989 (sesquicentenário de Machado de Assis) a comenda de 35 gramas de ouro, oferecida pelo governo do Estado do Pará.

Na adolescência, em 1942, fundou a Academia dos Novos em companhia de Jurandyr Bezerra, Max Martins e Antônio Comaru Leal. Ao grupo vieram juntar-se jovens intelectuais da época, como Benedito Nunes, Haroldo Maranhão, Leonan Cruz, Raimundo Melo, Fernando Tasso de Campos Ribeiro, Arnaldo Duarte Cavalcante, Gelmirez Melo, Edmar Souza, Benedito Pádua, Otávio Blatter Pinho, Antero Soeiro, Eduálvaro Hass Gonçalves, Alberto Bordalo e Lúcia Clairefort Seguin Dias.

Seu livro de poesias Pelas Mãos do Vento, obteve os prêmios Vespasiano Ramos (1954) da Academia Paraense de Letras E Santa Helena magno (1955) do governo do Estado do Pará.

Raimundo Alonso Pinheiro Rocha ocupou a cadeira n° 32 da Academia Paraense de Letras, eleito em 22.11.96, em sucessão a Olavo Nunes e Bruno de Menezes, tendo como patrono o poeta Natividade Lima.

Participou da diretoria da Academia desde o ano de 1964, ininterruptamente, com mandato até 2.006.

Possui vários troféus, medalhas e diplomas, resultantes de certames poético como:
1º. Lugar no concurso promovido pelo jornal “A Província do Pará” e Prefeitura Municipal de Belém (1961),
2° Concurso do Norte e Nordeste de Poesia, patrocinado pelo jornal “Folha do Norte”, Palma de Ouro e Palma de Bronze,
no concurso Poetas do Mundo Lusíada da Academia de Poemas de Massachusetts (Estados Unidos da América -1987),
Medalha de Bronze, no concurso Evolução da Cultura Brasileira, na segunda metade do século XX,
do Cenáculo Brasileiro de Letras e Artes (Rio de Janeiro, 1933),
1º. Lugar, por unanimidade, do 1º. Concurso Nacional de Poesia do Clube dos Magistrados do Rio de Janeiro (1997) e
honrosas classificações em concurso de sonetos em Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de janeiro.

Foi presidente (4º. Mandato) da União Brasileira de Trovadores – seção Belém, tendo promovido em 1997 o I Jogos Florais de Belém, bem como o XIII Concurso nacional de Trovas no ano de 2.002/Belém-Pará.

A trova, forma poética que cultivou somente há pouco tempo, proporcionou a Alonso Rocha inúmeras vitórias em Jogos Florais e concursos pelo Brasil, notadamente no Pará, no Ceará, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul.

Como sonetista, foi apontado como um dos melhores dos últimos tempos e um dos maiores dos últimos 50 anos do Pará.

Malba Than, no livro A Lua (editora Luz, Rio, 1955) publica o seu soneto à Lua Cheia e o classifica como “autêntico príncipe da poesia contemporânea).

Alonso Rocha que, com muito encanto, declamou os seus trabalhos em festas literárias pelo Brasil, foi sócio-correspondente das:
Academia Norte Rio-Grande de Letras,
Academia Municipalista de Letras do Brasil,
Academia Sete-Lagoana de Letras,
Academia Eldoradense de Letras,
Cenáculo Brasileiro de Letras e Artes,
sócio honorário da Academia Piauiense de Letras e
cidadão honorário do Município de Marapanim-PA.

Livros Publicados:
"Pelas Mãos do Vento" (poesia) - Editora Falangola - Belém - 1955;
"Bruno de Menezes" ou a sutiliza da transição - (Ensaio ao lado de Célia Coleho Bassalo, J.Arthur Bogéa, João Carlos Pereira e Joaquim Inojosa) - Universidade Federal do Pará - 1994;
Nota: o mesmo trabalho (ensaio) foi publicado pela Universidade Amazônia, na Revista do Curso de Letras (Asas da Palavra) - Outubro de 1996.
"O Tempo e o Canto" (poesia) - Universidade da Amazônia - Agosto de 2009.


Medalha e diploma possuídos:

Medalha condecorativa José Veríssimo, medalhas culturais Olavo Bilac, Paulino de Brito, Dr. Acylino de Leão, D. Pedro I, Centenário do Teatro da Paz, Bicentenário da Igreja São João Batista, Centenário da Fundação da Biblioteca e Arquivos Públicos do Pará,conferidos pelo governo do Estado do Pará, Conselho de Cultura do Pará e Academia paraense de Letras. Medalha Olavo Bilac, do Cenáculo Brasileiro de Letras e Artes, medalha condecorativa da Academia Municipalista de Letras do Brasil e diploma de honra ao mérito do Instituto de Educação do Pará.

Como bancário atuou no sindicalismo de 1954 a 1976, tendo sido membro fundador da Federação dos Bancários do Norte-Nordeste (Recife 1958) e da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Empresas de Crédito- CONTEC (Belo Horizonte, 1958) de onde foi diretor. Também diretor do Sindicato dos Bancários de Belém. Atuou como delegado em 17 congressos de trabalhadores em vários Estados. No Pará, foi coordenador-geral dos I e II Encontro de Trabalhadores do Pará (1962 e 1968), membro da executiva e secretário-geral do I Congresso de Trabalhadores da Amazônia (1963).

No último conclave a que compareceu (RJ-1976), foi unanimemente escolhido como representante dos bancários e securitários do Norte-Nordeste, tendo presidido uma das cinco sessões plenárias e pronunciado o discurso oficial em nome das duas regiões. Deixou as atividades sindicais por recomendação médica, tendo recebido a medalha do Cinqüentenário do Sindicato dos Bancários do Pará e Amapá.

Poeta eclético, não aprisionado a escolas e sem preconceito com qualquer forma de manifestação poética, Alonso Rocha foi dinâmico colaborador da gestão e representatividade da Academia Paraense de Letras.

Fontes:
Portal dos Sonhos e das Poesias