ENCANTAMENTO
-
Sou filha das águas azuis do meu rio.
Criei-me nas praias do meu Tapajós
ouvindo as yaras cantando em surdina
seu canto de amor
que embriaga, que encanta,
lavando os cabelos com a espuma das ondas,
seus longos cabelos, tão lisos, tão verdes,
da cor da esperança que a gente acalanta.
A hora do sol, deitadas nas pedras
seus corpos secavam,
enquanto os cabelos, tão lisos, tão longos,
as águas levavam, pra lá e pra cá…
À noite elas riam e brincavam de roda
na areia da praia, à luz do luar,
enquanto serena a lua banhava
seu rosto redondo nas águas do rio
e a gente medrosa do boto encantado
fechava-se em casa, tremendo de frio.
E foi numa noite de maio bissexto,
de águas tão grandes, tocando o assoalho
que eu vim a este mundo,
por mãos do destino,
tão frágil, tão tenra como um mururé.
Depois as yaras meu berço embalaram
e ensinaram à mamãe suas canções de ninar.
A fada madrinha seu nome me deu
e velou por meu sono
quando eu era criança.
Por isso ainda hoje eu escuto seu canto.
Uma doce cantiga de amor e esperança.
-
O RIO E O MAR
-
Amo a tranquilidade das águas serenas
do rio, que descem cantando pro mar.
O doce ondulado das calmas maretas
que batem na areia
sem a machucar.
Adoro a cantiga serena da yara
em noites prateadas com a luz do luar
que me fala à alma,
que entorpece o espírito,
que não me magoa
nem me faz chorar.
Amo a placidez das coisas encantadas.
As lendas que falam de coisas bonitas,
do boto encantado, do uirapuru,
da cigarra amiga ao cair da tarde
ciciando na folha do pé de caju.
Sou rio e não mar.
Sou yara e não ninfa.
Sou cabocla flor,
como dizia meu pai
com carinho e amor.
Sou musgo da pedra
que o vento arrancou
jogando no mar
e o mar destroçou.
-
(SEM TÍTULO)
-
Eu não sou aquela Nega Fulô
do poema escrito por Jorge de Lima
que conta a história de outros amores
bem mais diferentes do amor que te dou.
Da minha janela contemplo o horizonte
aberto, terrível, de ondas bravias
que se atiram ferozes nas pedras escuras
se despedaçando, quebrando-as também.
Que levam pra longe a mirada da gente,
arrastando, ondulando como uma serpente.
Adoro a mareta que vem se chegando
de manso, rolando na areia branquinha,
chegando, chegando, suave, maneira
e eu caminhando tranquila, sem medo,
esperando que venha, amorosa, cheirosa,
molhar os meus pés, me contar um segredo!
Prefiro ser lenda
a ser uma história
de heróis, de vikings,
de naus com mil remos
lutando, matando,
sofrendo, morrendo
por uma coroa,
por um Imperador.
Fonte:
Poesia do Grão-Pará. RJ: Graphia, 2001.
-
Sou filha das águas azuis do meu rio.
Criei-me nas praias do meu Tapajós
ouvindo as yaras cantando em surdina
seu canto de amor
que embriaga, que encanta,
lavando os cabelos com a espuma das ondas,
seus longos cabelos, tão lisos, tão verdes,
da cor da esperança que a gente acalanta.
A hora do sol, deitadas nas pedras
seus corpos secavam,
enquanto os cabelos, tão lisos, tão longos,
as águas levavam, pra lá e pra cá…
À noite elas riam e brincavam de roda
na areia da praia, à luz do luar,
enquanto serena a lua banhava
seu rosto redondo nas águas do rio
e a gente medrosa do boto encantado
fechava-se em casa, tremendo de frio.
E foi numa noite de maio bissexto,
de águas tão grandes, tocando o assoalho
que eu vim a este mundo,
por mãos do destino,
tão frágil, tão tenra como um mururé.
Depois as yaras meu berço embalaram
e ensinaram à mamãe suas canções de ninar.
A fada madrinha seu nome me deu
e velou por meu sono
quando eu era criança.
Por isso ainda hoje eu escuto seu canto.
Uma doce cantiga de amor e esperança.
-
O RIO E O MAR
-
Amo a tranquilidade das águas serenas
do rio, que descem cantando pro mar.
O doce ondulado das calmas maretas
que batem na areia
sem a machucar.
Adoro a cantiga serena da yara
em noites prateadas com a luz do luar
que me fala à alma,
que entorpece o espírito,
que não me magoa
nem me faz chorar.
Amo a placidez das coisas encantadas.
As lendas que falam de coisas bonitas,
do boto encantado, do uirapuru,
da cigarra amiga ao cair da tarde
ciciando na folha do pé de caju.
Sou rio e não mar.
Sou yara e não ninfa.
Sou cabocla flor,
como dizia meu pai
com carinho e amor.
Sou musgo da pedra
que o vento arrancou
jogando no mar
e o mar destroçou.
-
(SEM TÍTULO)
-
Eu não sou aquela Nega Fulô
do poema escrito por Jorge de Lima
que conta a história de outros amores
bem mais diferentes do amor que te dou.
Da minha janela contemplo o horizonte
aberto, terrível, de ondas bravias
que se atiram ferozes nas pedras escuras
se despedaçando, quebrando-as também.
Que levam pra longe a mirada da gente,
arrastando, ondulando como uma serpente.
Adoro a mareta que vem se chegando
de manso, rolando na areia branquinha,
chegando, chegando, suave, maneira
e eu caminhando tranquila, sem medo,
esperando que venha, amorosa, cheirosa,
molhar os meus pés, me contar um segredo!
Prefiro ser lenda
a ser uma história
de heróis, de vikings,
de naus com mil remos
lutando, matando,
sofrendo, morrendo
por uma coroa,
por um Imperador.
Fonte:
Poesia do Grão-Pará. RJ: Graphia, 2001.
Nenhum comentário:
Postar um comentário