terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Mário A. J. Zamataro (Dois Olhares)

Noite de céu coberto
sem luar
lanterna
estrelas
mas ao longe
um brilho é guia
do andarilho
vacilante

Mesmo o longe
muito longe
não inibe a caminhada
são dois tempos
dois lugares
dois espaços
numa noite

Noite longa
já se arrasta
por estradas
avenidas
ruas tortas
curvas retas
por subidas
e descidas
pradarias
altas serras
vales fundos
cumes rasos
chão batido
asfalto frio
mato ralo
mato grosso
um corguinho*
um rio mais largo
nas esquinas
e nas praças
tantas casas
a cidade

E eis que o longe diminui
mesmo o escuro
a noite cansa
e passo a passo ele andarilho arremete o pó as pedras
vento chuva e tempo tempo]

São dois tempos
dois lugares
dois espaços
numa noite

O andarilho 
enxerga a noite
no horizonte e mais além
nas viradas do terreno
do outro lado da divisa
e a noite é boa
a noite é livre
a noite é clara
é linda a noite
do andarilho
a noite é chama
e ele declama
e se derrama
e se declara
à noite ele ama
a noite é dama e dela emana aquele brilho (brilho ao longe)
do andarilho

Mas andarilha 
ela é também
na mesma trilha
a noite escorre
pelos vãos do tempo tempo
e nos vãos do vento (ui)vento
há muitos vãos
em poucas mãos

São dois tempos
dois lugares
dois espaços
dois olhares
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* Nota:
Corguinho é córrego em linguagem popular. Deve ter nascido do fato de os rios, riachos e córregos serem naturalmente os limites das propriedades.
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Fonte:
CHIARI, Alcir et al. Antologia Novos Autores Curitibanos.  Curitiba: Gusto Editorial, 2013.
Imagem - montagem com imagens obtidas na internet

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