O Joaquim Pereira acabava de chegar da "terra" com o seu chapelão de abas largas e seu sólido jaquetão de veludo, quando "sô" Manoel Guimarães, proprietário da Padaria "Flor de Braga", o convidou para caixeiro.
- O essencial - avisou, entretanto, "sô" Manoel, - é que sejas honesto. O outro rapaz que eu cá tinha, pu-lo eu ontem na rua por me haver deitado fora dois mil réis que dele não eram. Toma tu juízo, que, cá, comigo, prosperarás.
O Joaquim prometeu não bulir, jamais, em dinheiro da casa, e, dois dias depois, era admitido, com todos os sacramentos da rosca e da farinha de trigo, como caixeiro da "Flor de Braga". E estava já há uma semana no emprego, quando "sô" Manoel o chamou:
- "Sô" P'reira?
- Cá 'stou! - acudiu o Joaquim.
- Vá à casa do Almeida, no principio da rua, e receba esta conta de vinte mil réis.
E recomendou, prudente:
- Cuidado com o dinheiro!
O Joaquim pegou na conta, foi à casa indicada, recebeu uma cédula de vinte mil réis, e vinha, reto, no rumo da padaria, quando se encontrou com um conterrâneo, o Zé Moreira, a quem não tinha visto desde a chegada. Trocados os primeiros abraços, o Moreira convidou:
- Vamos solenizar o encontro! Arre, lá! Vamos cá à cervejaria!
Aceito o convite, foram os dois, beberam duas garrafas, trocaram notícias e saudades, e ia o Joaquim despedir-se, quando o Zé reclamou:
- E quem paga isso?
- Tu; ora essa!
- Mas eu cá não tenho um vintém; e se não pagares tu, iremos os dois bater à cadeia, o que é pior!
Amedrontado e arrependido, o Joaquim arrancou do bolso a cédula de vinte, pagou os mil e seiscentos da cerveja, recebeu dezoito mil e quatrocentos de troco, e ia pensando no meio de justificar-se perante "sô" Manoel, quando teve uma ideia, que pôs em pratica. Entrou na padaria pela porta lateral e, chamando o "Leão", um canzarrão que tomava conta da casa, pôs-se a brincar com ele, aos pulos, até que, de repente, soltou um grito.
- Que é isso lá? - trovejou "sô" Manoel, acorrendo.
Com os olhos em lágrimas, o P'reira contou o desastre:
- Foi uma desgraça, patrão! Imagine o senhôre, que eu vinha cá com o dinheiro na mão, uma cédula de vinte mil réis, e o cachorro avançou-me neles, e engoliu-os!
"Sô" Manoel franziu a testa, calculou o prejuízo, e, de um salto, estava diante do "Leão", empunhando uma garrafa de óleo de rícino. Auxiliado pelo Joaquim, abriu a boca ao animal, e, depois de purgá-lo, recomendou ao rapaz:
- Agora, fica-te cá, junto do bicho, à espera do dinheiro. Logo que ele o deite, segura-o. Meia hora depois estava "sô" Manoel de volta, a saber noticias do purgante:
- Já deitou o dinheiro? indagou do empregado.
O Joaquim, que esperava, ansioso, por esse momento, abriu a mão, e mostrou, desafogado:
- Todo, todo, não senhôre; até agora só deitou 18$400!
E entregou o troco da cerveja.
Fonte:
Humberto de Campos. A Serpente de Bronze.
- O essencial - avisou, entretanto, "sô" Manoel, - é que sejas honesto. O outro rapaz que eu cá tinha, pu-lo eu ontem na rua por me haver deitado fora dois mil réis que dele não eram. Toma tu juízo, que, cá, comigo, prosperarás.
O Joaquim prometeu não bulir, jamais, em dinheiro da casa, e, dois dias depois, era admitido, com todos os sacramentos da rosca e da farinha de trigo, como caixeiro da "Flor de Braga". E estava já há uma semana no emprego, quando "sô" Manoel o chamou:
- "Sô" P'reira?
- Cá 'stou! - acudiu o Joaquim.
- Vá à casa do Almeida, no principio da rua, e receba esta conta de vinte mil réis.
E recomendou, prudente:
- Cuidado com o dinheiro!
O Joaquim pegou na conta, foi à casa indicada, recebeu uma cédula de vinte mil réis, e vinha, reto, no rumo da padaria, quando se encontrou com um conterrâneo, o Zé Moreira, a quem não tinha visto desde a chegada. Trocados os primeiros abraços, o Moreira convidou:
- Vamos solenizar o encontro! Arre, lá! Vamos cá à cervejaria!
Aceito o convite, foram os dois, beberam duas garrafas, trocaram notícias e saudades, e ia o Joaquim despedir-se, quando o Zé reclamou:
- E quem paga isso?
- Tu; ora essa!
- Mas eu cá não tenho um vintém; e se não pagares tu, iremos os dois bater à cadeia, o que é pior!
Amedrontado e arrependido, o Joaquim arrancou do bolso a cédula de vinte, pagou os mil e seiscentos da cerveja, recebeu dezoito mil e quatrocentos de troco, e ia pensando no meio de justificar-se perante "sô" Manoel, quando teve uma ideia, que pôs em pratica. Entrou na padaria pela porta lateral e, chamando o "Leão", um canzarrão que tomava conta da casa, pôs-se a brincar com ele, aos pulos, até que, de repente, soltou um grito.
- Que é isso lá? - trovejou "sô" Manoel, acorrendo.
Com os olhos em lágrimas, o P'reira contou o desastre:
- Foi uma desgraça, patrão! Imagine o senhôre, que eu vinha cá com o dinheiro na mão, uma cédula de vinte mil réis, e o cachorro avançou-me neles, e engoliu-os!
"Sô" Manoel franziu a testa, calculou o prejuízo, e, de um salto, estava diante do "Leão", empunhando uma garrafa de óleo de rícino. Auxiliado pelo Joaquim, abriu a boca ao animal, e, depois de purgá-lo, recomendou ao rapaz:
- Agora, fica-te cá, junto do bicho, à espera do dinheiro. Logo que ele o deite, segura-o. Meia hora depois estava "sô" Manoel de volta, a saber noticias do purgante:
- Já deitou o dinheiro? indagou do empregado.
O Joaquim, que esperava, ansioso, por esse momento, abriu a mão, e mostrou, desafogado:
- Todo, todo, não senhôre; até agora só deitou 18$400!
E entregou o troco da cerveja.
Fonte:
Humberto de Campos. A Serpente de Bronze.
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