LEONTINO FILHO
(Aracati,1961)
DENTRO DA NOITE, PENSO EM TI
Volta e meia
sigo rumo à ilha do amor
coisas antigas que ficaram
nau perdida no porto abandonado
barco sem vela
que persiste no desenho
formado pelas águas dos rios.
Volta e meia
o fluxo de imagens paira sobre as águas
e sigo devorando
a cauda dos sonhos
retornando ao chão descontínuo da ilusória
estrada do bem querer:
uma outra história.
Volta e meia
o amor perturba o sono descontente das estrelas
e o luar embaraçado
por tantos murmúrios
arma a provisória tenda da paixão:
o meu olhar de neblina
costurado na memória
tece a infância medieval
do teu corpo.
=============================
JOSÉ LINHARES FILHO
(Lavras da Mangabeira , 1939)
A MINHA MAE, HABITANTE DA MORTE
Tua branca rede já não se arma
para a sesta. Todavia guardo,
com o ranger longínquo dos armadores,
a placidez do teu sono
a entreter o meu sonho.
No teu aposento, mansa e invisível, dorme uma ave.
A mesa posta, entre o apetite e a lembrança,
há uma cadeira sem dono.
Falta ao alimento o tempero
que de tuas mãos ninguém pode aprender.
Mas junto a mim esta um cântaro
que se encheu de lágrimas que libertam.
As dálias do jardim continuam a florescer,
cada ano, tão brancas, tão viçosas! Contudo
parecem reclamar a sutileza
de um carinho que o meu sono não esquece...
Teus pincéis dormem
com a resignação de pincéis.
Minha alma imperfeita, a despeito de teres sido
artista perfeita, pede, todo dia,
os últimos retoques.
Santa e elmo,
no navio em que eu encontrar borrasca,
os teus olhos serão santelmo...
No silêncio noturno não se ouvem mais
os passos cautelosos com que fechavas
a janela que dá para a rua,
no entanto percebo,
na lã escura da noite,
o abrigo do teu xale.
=====================================
MYRIA DO EGITO
(Fortaleza)
PINCELADAS TORTURADAS,
esparramando cores
na tela apática,
embebe-se e nasce,
da mão torturada
do pintor.
Feridas jorrando tons,
amarelos desesperados,
vermelhos sangrantes.
E azuis
todas as nuances
mar, noite, água, céu.
Angústia borbulhante
em criação incansável
como se soubesse
que o tempo esvaía-se
como os que partiam
como os que morriam.
Desespero explode
vulcão em erupção.
Alma atormentada
amputando-se.
Faca, orelha, dor,
tela, campo, cor.
Olhar perdido,
sem saber de si.
Perdendo-se
no torturante
pesadelo de criar.
Carente
de um olhar por dentro
da carcaça infame.
Banido.
Tingido de cores
em tela de sombras.
Teu legado.
que o mundo rejeitou.
espraia-se por
galerias e museus.
Inatingível
e eterno.
Impassível
como as cabeças de cervos
em paredes anónimas,
Conheço tua tortura,
parceiro na loucura,
na busca do ponto final.
==================================
EDUARDO PRAGMACIO DE LAVOR TELLES FILHO
(Fortaleza, 1969)
INVASÃO
Essas imagens perdidas na noite
antes me despertavam encanto,
agora me trazem tormento.
E quando me tocam,
a rosa arranca o espinho,
a taça rejeita o vinho
e o tempo se cobre,
rapidamente,
com um lençol branco de linho.
A imagem
escorrega até a ponta
dos meus dedos,
no íntimo da palavra,
invade o papel.
==============================
(Aracati,1961)
DENTRO DA NOITE, PENSO EM TI
Volta e meia
sigo rumo à ilha do amor
coisas antigas que ficaram
nau perdida no porto abandonado
barco sem vela
que persiste no desenho
formado pelas águas dos rios.
Volta e meia
o fluxo de imagens paira sobre as águas
e sigo devorando
a cauda dos sonhos
retornando ao chão descontínuo da ilusória
estrada do bem querer:
uma outra história.
Volta e meia
o amor perturba o sono descontente das estrelas
e o luar embaraçado
por tantos murmúrios
arma a provisória tenda da paixão:
o meu olhar de neblina
costurado na memória
tece a infância medieval
do teu corpo.
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JOSÉ LINHARES FILHO
(Lavras da Mangabeira , 1939)
A MINHA MAE, HABITANTE DA MORTE
Tua branca rede já não se arma
para a sesta. Todavia guardo,
com o ranger longínquo dos armadores,
a placidez do teu sono
a entreter o meu sonho.
No teu aposento, mansa e invisível, dorme uma ave.
A mesa posta, entre o apetite e a lembrança,
há uma cadeira sem dono.
Falta ao alimento o tempero
que de tuas mãos ninguém pode aprender.
Mas junto a mim esta um cântaro
que se encheu de lágrimas que libertam.
As dálias do jardim continuam a florescer,
cada ano, tão brancas, tão viçosas! Contudo
parecem reclamar a sutileza
de um carinho que o meu sono não esquece...
Teus pincéis dormem
com a resignação de pincéis.
Minha alma imperfeita, a despeito de teres sido
artista perfeita, pede, todo dia,
os últimos retoques.
Santa e elmo,
no navio em que eu encontrar borrasca,
os teus olhos serão santelmo...
No silêncio noturno não se ouvem mais
os passos cautelosos com que fechavas
a janela que dá para a rua,
no entanto percebo,
na lã escura da noite,
o abrigo do teu xale.
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MYRIA DO EGITO
(Fortaleza)
PINCELADAS TORTURADAS,
esparramando cores
na tela apática,
embebe-se e nasce,
da mão torturada
do pintor.
Feridas jorrando tons,
amarelos desesperados,
vermelhos sangrantes.
E azuis
todas as nuances
mar, noite, água, céu.
Angústia borbulhante
em criação incansável
como se soubesse
que o tempo esvaía-se
como os que partiam
como os que morriam.
Desespero explode
vulcão em erupção.
Alma atormentada
amputando-se.
Faca, orelha, dor,
tela, campo, cor.
Olhar perdido,
sem saber de si.
Perdendo-se
no torturante
pesadelo de criar.
Carente
de um olhar por dentro
da carcaça infame.
Banido.
Tingido de cores
em tela de sombras.
Teu legado.
que o mundo rejeitou.
espraia-se por
galerias e museus.
Inatingível
e eterno.
Impassível
como as cabeças de cervos
em paredes anónimas,
Conheço tua tortura,
parceiro na loucura,
na busca do ponto final.
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EDUARDO PRAGMACIO DE LAVOR TELLES FILHO
(Fortaleza, 1969)
INVASÃO
Essas imagens perdidas na noite
antes me despertavam encanto,
agora me trazem tormento.
E quando me tocam,
a rosa arranca o espinho,
a taça rejeita o vinho
e o tempo se cobre,
rapidamente,
com um lençol branco de linho.
A imagem
escorrega até a ponta
dos meus dedos,
no íntimo da palavra,
invade o papel.
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HORÁCIO DÍDIMO PEREIRA BARBOSA VIEIRA
(Fortaleza, 1935)
A PALAVRA CHAVE
a palavra chave
já não fecha
nem abre
a palavra amor
muda de cor
a palavra verde
amadurece
a palavra ave
voa no papel
==========================
CARLYLE DE FIGUEIREDO MARTINS
(Fortaleza, 1899 – 1986)
E S T Ó I C O
Pelo caminho estreito em que ora sigo,
Pisando em cardos, sob um céu escuro,
Não vejo a paz serena de um abrigo,
Nem sol que aclare as trevas do futuro.
Encontrar leve alfombra não consigo,
Em toda parte o solo é áspero e duro,
Mas, no árduo impulso do vigor antigo,
Em seguir a jornada me aventuro.
Viva eu a dores infernais sujeito,
Pedradas rudes batam no meu peito,
Pervague à toa, esquálido e sozinho,
Sei que a mágoa da vida é transitória,
E hei de um dia cantar, de amor e glória,
Vendo estrelas e sóis no meu caminho.
(Fortaleza, 1935)
A PALAVRA CHAVE
a palavra chave
já não fecha
nem abre
a palavra amor
muda de cor
a palavra verde
amadurece
a palavra ave
voa no papel
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CARLYLE DE FIGUEIREDO MARTINS
(Fortaleza, 1899 – 1986)
E S T Ó I C O
Pelo caminho estreito em que ora sigo,
Pisando em cardos, sob um céu escuro,
Não vejo a paz serena de um abrigo,
Nem sol que aclare as trevas do futuro.
Encontrar leve alfombra não consigo,
Em toda parte o solo é áspero e duro,
Mas, no árduo impulso do vigor antigo,
Em seguir a jornada me aventuro.
Viva eu a dores infernais sujeito,
Pedradas rudes batam no meu peito,
Pervague à toa, esquálido e sozinho,
Sei que a mágoa da vida é transitória,
E hei de um dia cantar, de amor e glória,
Vendo estrelas e sóis no meu caminho.
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