sábado, 15 de janeiro de 2011

Trova 189 - Colbert Rangel Coelho (RJ)

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.96)


Uma Trova Nacional

Ao responder a uma enquete,
o esportista beberrão
diz que prefere o basquete
por causa do garrafão!
(EDMAR JAPIASSU MAIA/RJ)

Uma Trova Potiguar

Já fiz tudo quanto pude
pra viver saudavelmente,
mas meu “plano de saúde”
deixa-me o bolso doente.
(ZÉ DE SOUZA/RN)

Uma Trova Premiada

1993 > Nova Friburgo/RJ
Tema > “LIVRE” > 1º Lugar

“PRESERVE O MEIO AMBIENTE.”
E o luso, lendo o letreiro:
“Mas por que MEIO somente
e não o ambiente inteiro?”
(PEDRO ORNELLAS/SP)

Simplesmente Poesia

MOTE : (AO POETA ADEMAR)
VOCÊ NÃO LEVOU CANGALHA;
POR QUE TANTA DOR NO LOMBO?

GLOSA :
Sei que o colega trabalha
como jumento andaluz,
mas, graças ao bom Jesus,
você não levou cangalha;
a carga da vida o malha,
mas nunca lhe deu um tombo;
no espinhaço não há rombo
nem marcas de pisadura.
Então, diga, criatura,
por que tanta dor no lombo?
(JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN)

Uma Trova de Ademar

Sem galinha cabidela,
sem ter arroz nem feijão,
hoje eu botei na panela
meu sapo de estimação!...
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram

A cova do falecido
tinha tranca e cadeado.
Por ciúme desmedido
da viúva do coitado.
(CESAR TORRACA/RJ)

Estrofe do Dia

Dois mil e oito será
um ano extraordinário,
isso, porque dia “quinze,
de janeiro”, o calendário,
vai me deixar “prafrentex”.
Eu vou estar bem mais sexy
serei sexagenário!
(FRANCISCO MACEDO/RN)

Soneto do Dia

-Cláudio Manoel da Costa/MG-
SONETO III

Pastores, que levais ao monte o gado,
Vêde lá como andais por essa serra;
Que para dar contágio a toda a terra,
Basta ver-se o meu rosto magoado:

Eu ando (vós me vêdes) tão pesado;
E a pastora infiel, que me faz guerra,
É a mesma, que em seu semblante encerra
A causa de um martírio tão cansado.

Se a quereis conhecer, vinde comigo,
Vereis a formosura, que eu adoro;
Mas não; tanto não sou vosso inimigo:

Deixai, não a vejais; eu que lhe imploro;
Que se seguir quiserdes, o que eu sigo,
Chorareis, ó pastores, o que eu choro.

Fonte:
Ademar Macedo

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

João Justiniano da Fonseca (Antologia Poética)


A BELEZA DA VIDA

A beleza da vida está na própria vida,
nas flores do jardim, no fruto do pomar.
No amanhecer do dia, o sol vindo do mar,
ou da várzea, da serra - eterno na subida.

A beleza da vida está no conjugar
os rios, a floresta, e a comprida avenida...
Pista e velocidade, os pneus a rolar!
Ou, no espinho e na rosa? Ou na idade vivida?

A beleza da vida – o homem no trabalho,
no campo ou na cidade. A enxada. A pena. O malho.
Mover de sonho e fé, de luz, de cabedais.

A beleza da vida – o todo na impulsão
de tudo que se move. O amor, o coração...
O destino da paz, a paz. A íntima paz!

A MORTE DO SONHO

Era o sustento e a crença, a fé, o arrimo
em que me equilibrava para a luta.
Veio a ser desespero e dor - cicuta
que a esperança levou à morte e ao limo.

Assim mesmo o bendigo - ao sonho ardente
que, infinito, vivemos cem por cento
e ao ocaso passou. Gemia o vento
quando o sonho descia no poente...

Hoje, que tudo foi, direi apenas,
que as tuas rosas, dálias e açucenas,
murchas, guardei-as com o maior carinho...

Morreu, morreu! Vamos adiante, eu me erga,
ator no palco da tragédia grega
busque outro sonho, siga outro caminho...

AS PLANTAS DO SERTÃO

É um milagre do Eterno; não sei de onde
vem, a potente força com que vinga
a planta no Sertão, por mais que a ronde
e roa, da canícula a língua!

O umbuzeiro sagrado, na caatinga,
alarga, entrança e reentrança a fronde,
para se proteger do sol; e à míngua
da chuva, a água na raiz esconde.

Macambira, umburana, xiquexique,
têm as raízes ou o caule aquosos,
para que o sol não os seque e mumifique.

Em outras plantas, troncos mal porosos,
pode ser que a dureza justifique
a resistência aos raios venenosos.

CORAÇÃO DO VELHO

O coração do velho é a mansidão do lago,
a angústia do passado, a lembrança do sonho...
Roída pelo tempo, é uma raiz, suponho,
exposta, ressequida, à procura de afago.

O amor que se lhe dê, pesa tanto em conforto,
que sendo uma migalha, é por milhões que vale...
Se quer vê-lo feliz, do futuro lhe fale,
se quer vê-lo sofrer, lembre o passado morto...

Consente em rir e é sol, tão só porque lhe apontem
a gota de ilusão que a velha angústia acalma,
chora o belo perdido, as mágoas que se contem...

O coração do velho é a sensitiva da alma,
que marca desolada e triste, o riso do ontem,
tem lembrança e não fé, já não espera a palma...

O ESQUECIMENTO

Não dá para esquecer: Um sonho. Nos seus braços
Corria mansa a vida. O amor de adolescente
Ensejava a esperança e a fé. Primeiros passos
De um mundo idealizado – o futuro da gente.

Eu e você. A casa erguida na colina
No mais alto do topo. A fonte. O minadouro.
Um córrego descendo. A água cristalina
Banha meu corpo e o seu. Aqui nosso tesouro.

Vem o primeiro filho, agora somos três.
As vacas no curral. As cabras. As galinhas.
Crescia a vida. O tempo andava mês a mês.

E fomos quatro, cinco... O tempo, ano a ano
Levou a mocidade. Os filhos e as vizinhas...
De nós o esquecimento, em nós o desengano...

O TECELÃO DA VIDA

O tempo tece a vida fio a fio,
sem pressa e sem recuo na memória.
Como o curso das águas, vão, em rio,
um para o mar, o outro para a história.

Não pára o tecelão. A sua glória,
é a força do tear. E, como em cio,
a si se soma subtraindo a escória.
Ao fim da era é fósforo e pavio.

Explode em chamas ou submerge, ou oculto,
sobe ao espaço aéreo e aí se planta
por milênios sem pôr à mostra o vulto.

Renasce na pesquisa e se suplanta.
É o passado remoto. Cresce, e adulto,
às novas gerações empolga e espanta.

Fonte:
http://www.joaojustiniano.net/

João Justiniano da Fonseca (1920)



Poeta e ficcionista, com incursões na historiografia e na biografia.

Nasceu em Rodelas, Estado da Bahia, a 30 de junho de 1920, filho de Manoel Justiniano da Fonseca e Eufrosina Maria de Almeida.

Servidor Público, João tem um longo percurso de trabalho. Serviu ao Exército Nacional entre 1940 e 1944, tendo aí realizado o curso de formação de graduados - sargento.

Preparou-se para a vida por via de cursos intensivos, para realizar concursos públicos. Nesses cursos estudou, além da matéria de conhecimentos gerais, matemática, contabilidade geral e pública, geografia, voltada especialmente para informações sobre portos marítimos e fluviais, direito tributário, direito administrativo, direito comercial, direito civil e direito penal na área de crimes contra a administração pública.

Tem aprovação nos concursos públicos então realizados pelos extintos - Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP) e Departamento Estadual de Serviço Público (DSP\BA), para Escrivão de Coletoria Estadual (Bahia) Fiscal de Rendas do Estado (Bahia), Escrivão de Coletoria Federal e Agente Fiscal do Imposto de Consumo, cargos reestruturados com denominação outra. Exerceu, por concurso público, os cargos de Auxiliar de Coletoria Federal, Escrivão de Coletoria Federal e Agente Fiscal do Imposto de Consumo, correspondente, na atual nomenclatura, a Auditor Fiscal da Receita Federal.

Em comissão, passou pelos cargos de Inspetor de Coletorias Federais, Fiscal do Selo nas Operações Bancárias, Inspetor Fiscal do Imposto de Consumo e Inspetor Fiscal de Rendas Internas na área federal; Assessor Técnico de Planejamento na área estadual (Bahia) e Diretor Administrativo Financeiro da extinta COHAB/SALVADOR, na área municipal.

Aposentou-se como Auditor Fiscal da Receita Federal com redução de tempo de serviço, como participante de operações bélicas.

Nomeado posteriormente para o cargo vitalício de Conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios do Estado da Bahia, renunciou a aposentadoria federal para exercer o novo cargo, no qual veio a aposentar-se em 1990, encerrando, então, sua carreira no serviço público. Exerceu, ainda, o mandato eletivo de Prefeito de sua terra natal no período 1967/1971 e posteriormente o mandato de vereador.

Obra Literária:
Safiras e Outros Poemas (poesia lírica),
Sonhos de João (poesia lírica),
Brados do Sertão (poesia épico-social),
Sonetos de Amor e Passatempo, Rio Grande do Sul (poesia vária).
Luiz Rogério de Sousa - Educador Emérito (resumo biográfico e coroa de sonetilhos),
Cacimba Seca (romance),
Terra Inundada (romance),
Grilagem (romance),
Aquele Homem (romance),
Rodelas - Curraleiros, Índios e Missionários (história da colonização na região das corredeiras do Rio São Francisco),
Sertão, Luz e Luzerna (contos),
Cantigas de Fuga ao Tédio (poesia lírica),
Memórias de Pedro Malaca (romance).

É editor da Revista da POEBRAS SALVADOR, no 4o número em 2002.

Instituições culturais a que pertence

1 - Academia Rio-grandense de Letras, acadêmico correspondente;
2 - Academia Goianiense de Letras, cadeira nº 47;
3 - Academia Petropolitana de Letras, sócio correspondente, cadeira nº 103;
4 - Academia Petropolitana de poesia Raul de Leoni, sócio correspondente;
5 - União Brasileira de Trovadores, seção de salvador;
6 - Casa do Poeta Rio Gradeasse - C.A.P.O.R.I., sócio correspondente nº 761;
7 - Clube baiano de Trova - CBT, sócio efetivo nº 12;
8 - POEBRAS - Casa do poeta Brasileiro em Salvador, presidente e editor da revista.

É verbete na Enciclopédia de Literatura Brasileira, de Afrânio Coutinho, 1990 e 2001, verbete no Dicionário de Poetas Contemporâneos, de Francisco Igreja, 2a edição, 1991.

Fonte:

14a. Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo (Convite)

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Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.95)


Uma Trova Nacional

O acaso foi caprichoso
e agendou tua chegada,
mas o destino, maldoso,
te fez página arrancada!
(ELISABETH SOUZA CRUZ/RJ)

Uma Trova Potiguar

Pirilampos – trovas soltas
nas ribeiras do sertão,
são faíscas semi-envoltas
nas tintas da escuridão.
(ANTÍDIO AZEVEDO/RN)

Uma Trova Premiada

1975 > Nova Friburgo/RJ
Tema > ENCONTRO > 1º Lugar.

Eu e tu, duas metades
que a vida vai separando...
Eu e tu, duas saudades
na saudade se encontrando...
(IZO GOLDMAN/SP)

Simplesmente Poesia

MOTE:
Eu passei a vida inteira
colecionando ilusões!...

GLOSA:
A desilusão primeira,
não me serviu de lição.
Viví sempre, com emoção,
a tomar por verdadeira
uma promessa, uma jura...
E, assim, cheia de ternura
eu passei a vida inteira.
Acreditei nas paixões,
numa amizade sincera,
e também no amor que impera
quando enlaça corações.
Sou mesmo assim... Que fazer?
Sei que vou envelhecer
colecionando ilusões!...
(ZENAIDE MARÇAL/CE)

Uma Trova de Ademar

Perdê-la, sempre me assusta,
vivo em sua dependência,
só eu sei quanto me custa
suportar a sua ausência.
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram

A dor que meu peito invade
vem sempre quando eu me deito:
de tanto sentir saudade,
já tenho um calo no peito!
(EDMILSON F. MACEDO/MG)

Estrofe do Dia

Eis o baixo meretrício,
lugar que a mulher perdida
joga sua própria vida
na corrupção e no vício,
no mais miserável ofício,
cada uma se envolvendo,
trocando beijos, bebendo,
tomando a pulso e pedindo;
manchando a alma e sorrindo,
vendendo a carne... E comendo.
(MANOEL BELARMINO/PB)

Soneto do Dia

– Carolina Ramos/SP –
MINHA AMIGA.

Ah! Poesia...Poesia... quanto eu devo
à tua bênção repousante e pura!
Nos versos pobres, que a sonhar escrevo,
vejo crescer à luz minha ventura!

Nos instantes contigo, dás-me o enlevo
da amizade leal. Tua ternura
leva-me à confidência – a ti, me atrevo
a erguer o véu, se a angústia me tortura!

Com teu calor, se o inverno se avizinha,
devolves-me a ilusão das primaveras!
Nos teus braços, eu chego a ser rainha!

Ah! Poesia, que em versos eu bendiga
tudo o quanto me deste! E, se o não deras,
bastaria saber... que és minha Amiga!

Fonte:
Ademar Macedo

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Inoema Nunes Jahnke (Livro de Poesias)


IMORTAL

Procuro uma canção
Em que meu amor se reconheça,
Apenas uma melodia
Capaz de alegrar o dia,
Fácil de cantarolar
Como é amar,
Um solo de violão
Que bata na batida do coração,
Que pra se reconhecer
Não tenha que prestar atenção,
Onde até os desatentos
Possam sentir a alegria do amor,
Amor imortal como a vida,
Que renasce a cada batida.

CORAÇÃO GUERREIRO

Na tua ira recai impiedosa maldade
Dissoluto do amor guerreiro,
Esgotado, vencido...
Se faz pesado o fardo
De amar sem ser notado,
Amor só de um lado,
Amor renegado,
Guerreiro vencido em batalha,
Surrado, abatido, cansado,
Desmorona em meu peito
Acalenta em meu seio
Retorna a mim
Coração guerreiro,
Tua luta é minha luta,
Tuas dores são minhas lágrimas,
Tua saudade é minha agonia,
Tua história é minha vida,
Teu desespero é minha salvação,
Pois retorna à Deus
O coração que amou,
E a alma que sofreu
Só aprendeu.

CORPO E ALMA

Sou como um belo jardim de flores do campo
Cercado por uma bela cerca de madeira
Toda pintada de branco...

No jardim à vida tem razão pra existir
Pra alegrar os olhos de quem o refletir,
Das margaridas o perfume, impossível confundir
Que mesmo longe dali é capaz de se sentir.

A cerca é a moldura de paisagem tão serena
Contida em seu jardim...
A alma dentro de mim.

Um dia, toda amadeira perecerá
Por mais cuidado que se tenha
Por melhor que seja a lenha,
Um dia se extinguirá.

O jardim não mais contido
Pela cerca de madeira,
Lançará ao vento seu pólen
Fecundará outra terra,
-Viverá em outro jardim-

A moldura será outra
Branca, amarela, vermelha
Outra, bela cerca de madeira!

Que emoldura o jardim
Que hoje...
Desabrocha dentro de mim

ESPERANÇA

Eu sou o sorriso sincero,
Sou o medo na solidão,
Sou a dúvida sussurrada,
E a resposta encontrada,
Sou a saída, e a chegada,
Na mesma estrada,
Sou a luz na escuridão,
A ternura no coração,
Sou o sorriso da criança,
Eu sou...A própria esperança.

SAUDADE

Se do nada uma lágrima
Rolar no seu rosto...
Não tente entender,
Se mesmo, sem você querer,
Outra lágrima teimar
Em embaçar teu sorriso...
Não procure nem tente entender,
Com certeza e teu coração,
Com vontade de me ver.

REFÚGIO

Só estou, e só fico
A solidão é meu refúgio,
Meu instante de meditação,
De escutar meu coração,
No silêncio mudo
Transcendo o mundo,
Em absoluta união
Numa contemplação,
Que foge a qualquer compreensão.

LASCIVA

Sou madrugada que chora sozinha,
Chuva que se perde em poças
E escorre pelos bueiros
A despertar a madrugada...
Em teus olhos vejo-me refletida
Ofuscada na retina do teu olho
Feito água na poça d’água
Escorrendo no teu corpo...
As linhas que traçam teu rosto
Revelam um sorriso jocoso,
Talvez, teus braços sejam o bueiro
Que desnuda minha alma
E recebe o meu corpo...

Ali, meu corpo se acalma
Repousando no teu peito
Feito rio e leito...

JANELA DA EMOÇÃO

Beijar eu já beijei
Alguns morrerão na boca
Outros queimarão em vão,
Já dei beijos de despedida
Que marcaram minha vida,
Beijar eu já beijei
Alguns mornos, mas, nunca frios
Uns deram tremedeira, outros arrepio,
...O beijo que não esqueço
Deu choque na janela da emoção
E trancou o amor dentro do meu coração!

É PRECISO

É preciso que a saudade machuque de verdade,
Que leve ao vento as lágrimas
Envoltas em pensamentos,

É preciso, que a ausência seja sentida...doída
Que se relembre a partida
E se anseie o retorno,

É preciso sentir a inquietude do desejo
Que não cessa e arranca o sossego,

A vida assim, jamais cansa...
Renova-se na esperança!

COMPAIXÃO PELA VIDA

Do nada uma freada,
Uma trombada...
E num segundo
Tudo se apaga.

Bebida, velocidade...
Imprudência, fatalidade...
Culpados e inocentes
Vidas perdidas simplesmente.

Acabou a vida promissora,
Acabou o futuro brilhante,
Mais um na estatística
Desta tragédia constante.

Partisse uma família,
Acabou a alegria,
Acabou o sorriso do pai...
Acabou o sorriso da filha.

Acabou mais uma vida,
Desperdiçada nas estradas,
Acabou!... E não se faz nada?
Acabou, acabou, acabou...

Choram os pais...
Choram os filhos,
Choram os amores...
Choram as dores,
Choram os amigos...
Choram comigo!

O FIM

Percebo o fim; mas tenho medo,

É tão triste!... A idéia assusta,
É minha a culpa!... Sua?
Não importa!...
São tantos beijos
Tantos anos,
Tanta vida jogada fora...
Vira um nada, um passado,
Chorar não adianta,
Mas como não chorar,
Lutar pra que,
Contra o que?
O tempo ninguém para, nada muda...
Mas eu sinto!... Pressinto o inevitável,
Então, porque não ter
A mesma intensidade,
A mesma força,
E eis minha esperança,
Que o inevitável fim...
Seja pra você, e pra mim.
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Sobre a Poetisa

Inoema Nunes Jahnke (1971)
Inoema Nunes Jahnke gaúcha de Pelotas, nasceu no dia dezesseis de agosto em 1971, empresária na área de software atualmente reside em Cachoeirinha, Rio grande do Sul, esposa e mãe, a escritora dedica boa parte do tempo à poesia, em 2008 publicou seu primeiro livro"Imortal", em 2009 publicou o segundo, autora de poesias consagradas como “Orgulho gaúcho” e “Compaixão pela vida”, acredita no amor e no poder da poesia de emocionar e inspirar os corações!

Fontes:
http://inoemaescritora.blogspot.com/
http://www.poesias.omelhordaweb.com.br/
http://www.artistasgauchos.com.br/

Luis Fernando Verissimo (Vitor e seu Irmão)



Não era prevenção. A professora tinha o cuidado de tratar todos os seus alunos da mesma maneira.

Pelo menos, se esforçava para isto. Mas, com o Vitor, ela sempre estava com um pé atrás. O Vitinho era um caso à parte.

— Qual é a população do Brasil?

Um aluno levantou a mão e leu a resposta que estava no livro.

— Cento e vinte milhões.

O Vitor levantou a mão. A professora sentiu um vazio na barriga. Lá vinha ele.

— O que é, Vitinho?
— Cento e vinte e um milhões. (*)
— Por que, Vitinho?
— Minha mãe teve um filho esta semana.

Uma risadinha correu pela sala, mas o Vitor ficou sério. Estava sempre sério.

— Quantos filhos a sua mãe teve, Vitor?
— Até agora?
— Não, desta vez.
— Um. Mas dos grandes.

Outra risadinha, como marola na superfície de um lago.

— Então não são cento e vinte e um milhões. São cento e vinte milhões e um.

E a professora escreveu o número no quadro-negro. Depois apontou para o um no fim do número e disse:

— Este aqui é o seu irmãozinho, Vitor.

Depois, antes mesmo do Vitor falar, ela se deu conta de como aquele um parecia solitário, no fim de tantos zeros.

— Coitadinho do meu ermão.
— Irmão, Vitor. E é claro que este número não é exato. Tem gente nascendo e morrendo a todo momento...
— Lá no hospital tava cheio de crianças. Será que já contaram?
— Não sei, Vitor, eu...
— Bota mais uns dois ou três pra acompanhá meu ermão, tia.

Ela teve que rir junto com os outros.

— Você, hein, Vitinho? Com você eu tenho que ficar sempre com um pé atrás.
— Cuidado pra não caí pra frente, tia.
— Chega, Vitor!

Outro caso era o da Alicinha, que se espantava com tudo. Era só a professora dizer, por exemplo, que a capital do Brasil era Brasília e a Alicinha arregalava os olhos e exclamava:

— Brasília?!
— É, Alice. Por quê?
— Nada.

Depois ficava com aquela cara de que só ela era certa no mundo de loucos, onde se viu a capital do Brasil ser Brasília, mas era melhor deixar pra lá. Um dia a professora disse que o Brasil tinha 8.000 km de costa marinha e ficou esperando a reação da Alicinha.

Nada.

— O Brasil é banhado pelo oceano Atlântico.
— Atlântico?!
— É, Alice.
— Desde quando?
— Desde sempre, Alice.
— Eu, hein?

"Eu, hein" era mortal. "Eu, hein" era de matar, mas a professora precisava se controlar. Entre o Vitinho e a Alicinha ainda acabaria louca.

(*) É claro que este livro foi escrito há alguns anos. Hoje são mais de cento e sessenta milhões.

Fonte:
VERISSIMO, Luis Fernando. O Santinho. Ed. Objetiva, 2002.

Livro de Sonetos I

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Héron Patrício (São Paulo – SP)
COLHEITA

É no riscar do solo, no trabalho
que torna o chão estéril em fecundo;
é na escolha do bom e melhor talho
que o arado irá ferir, de leve ou fundo…

É, do nascer do sol que seca o orvalho
até depois que o dia, moribundo,
busca da noite o fúnebre agasalho,
que o lavrador não pára, um só segundo…

E é, juntando esperanças às sementes,
com chuva certa e sol – sempre presentes -,
que a recompensa vem, mais que perfeita,

pois o plantio, para Deus, é prece
que tem resposta pronta… quando a messe
transborda no celeiro, na colheita!…

Cecim Calixto (Curitiba – PR)
COLHEITA DA FÉ

É pouca chuva! E o sol sem dó castiga
a terra arada que semente espera.
A luta insana não lhe traz fadiga
e nem fenece a singular quimera.

A vocação não lhe sugere briga
e nem o ódio o coração verbera.
Chuva madrinha há de lhe dar a espiga
que no paiol o dissabor supera.

Vai à capela e de emoção se agita
e ao Lavrador que lá no céu habita
em pranto implora tudo a nova empreita.

E a chuva cai… tão silenciosa veio…
para alegria do celeiro cheio
e à gratidão pela integral colheita.

Maurício Pindamonhangaba Cavalheiro (Pindamonhangaba – SP)
COLHEITA PARA DEUS

Enquanto o sol, no repousar, se atrasa
asseverando a seca que prospera,
o sertanejo, em vão, se desespera
ao ver o filho delirar em brasa.

A fome e a sede expostas pela casa
ceifam-lhe a fé, enquanto à cruz, pondera:
“Plantei e o chão rachado não coopera…
por que a miséria, a minha vida, arrasa?”

Nisso uma lágrima, do Cristo, escorre
no mesmo instante em que o menino morre
sem que pudesse dar, ao pai, adeus.

E um anjo chega nesse anoitecer
envolto em luz para no amor colher
mais uma flor para o jardim de Deus.

Thereza Costa Val (Belo Horizonte – MG)
COLHENDO VERSOS

O pensamento enchi de lindos versos
colhidos em leituras fascinantes;
dentro do coração, deixei imersos
meus sonhos de poeta, fervilhantes.

Na mente e no papel, tracei diversos
esboços de poemas, incitantes…
O tempo foi passando… e pôs dispersos
meus sonhos, ideais e os planos de antes,

mas nunca reneguei esta magia
que, em mim, exerce ainda a Poesia.
E vi chegado o dia da colheita!

Vesti-me de emoções – a idéia feita –
e, no papel em branco que escolhi,
o soneto nasceu… e eu o colhi!

Thereza Costa Val (Belo Horizonte – MG)
CONSELHOS PARA A COLHEITA

Busca plantar sorrisos no caminho,
tenta esconder as queixas, amargores…
Os bons momentos sorve, como um vinho
ou, talvez, o mais doce dos licores.

Com alegria e amor, constrói teu ninho
e segue pela vida, sem temores.
Evita pôr teu passo em descaminho,
as más palavras cerca, com rigores.

Busca plantar a paz, cada momento,
e o sonho replantar, em novo alento,
se tudo parecer desmoronar…

Mantém tua esperança sempre à espreita:
na vida, existe o tempo da colheita
do bem que se viveu sempre a plantar.

Pedro Ornellas (São Paulo – SP)
GENEROSIDADE

Pergunta um jovem intrigado ao ver
plantando uma figueira um ancião:
“Antes que cresça, é certo, irás morrer…
não vais colher – por que plantar então?”

Responde o velho, o moço a comover,
deixando ali bem forte uma lição:
“Plantar, meu filho, é o que me dá prazer…
não vou colher, eu sei, mas vocês vão!”

Que não te esqueças nunca de ser grato
pelo alimento que te chega ao prato
que alguém plantou com generosidade…

Planta também o bem na vida afora
que se não tens a recompensa agora
vais receber bem mais na eternidade!

Roberto Resende Vilela (Pouso Alegre – MG)
MOMENTOS DE REFLEXÃO

Quem acha caro o que produz a roça
nada sabe de lá. Também ignora
quem, já no alvorecer, deixa a palhoça
e volta quando o Sol se foi embora!

Nem pode avaliar o que destroça
(o estio… a enchente…) sem marcar a hora;
e às vezes leva tudo… até a carroça!…
- Só não carrega o coração que chora!

Tais momentos exigem reflexão;
que não se faça a mínima desfeita
àquele que do solo tira o pão

que mata a fome da família e a fome
de quem nunca fez parte da colheita,
não conhece, não viu, nem sabe o nome!

Edmar Japiassú Maia (Rio de Janeiro – RJ)
O TOLO E O SÁBIO

- O que colheste nesta vida, amigo?…
pergunta o tolo ao sábio que o escuta.
Só te vejo empenhado na labuta,
como se a vida fosse o teu castigo.

- E o que colhes na tua, ele refuta,
se tens na ociosidade o teu abrigo?
Quem busca o florescer de um Bem antigo,
semeia o fértil solo que desfruta…

O amor é um grão que o humano fertiliza,
que faz brotar a floração precisa,
para a divina graça da colheita…

E conclui, ante o tolo, com paciência:
- Um coração plantado de indulgência,
por amor, a Seu jeito, Deus ajeita!

Alba Helena Corrêa (Niterói – RJ)
SEMEADURA DO BEM

Imita o agricultor em tua vida;
verás o quanto é nobre semear.
Repara – sempre a terra agradecida,
com flores, frutos, vai recompensar.

O ser humano que na sua lida
espalha o bem sem disso se ufanar,
terá colheita farta, garantida,
e, lá, no céu, terá o seu lugar.

Sejamos, pois, fraternos lavradores;
sem esperar por glórias ou louvores,
plantemos, na existência, o bem-querer.

Qual árvores deixemos sombra amiga;
talvez o nosso esforço alguém bendiga
ao estender as mãos para colher!

José Tavares de Lima (Juiz de Fora – MG)
TEMPO DE COLHEITA

Semeia a benquerença pelo mundo,
indiferente ao tanto da colheita…
O solo semeado é mais fecundo
se a plantação só por amor for feita!

Perdoa, que o perdão quando oriundo
de uma fonte sincera, a Deus deleita.
Mata no peito o teu rancor profundo,
e, com sorrisos, tua vida enfeita.

Estende tua mão à dor alheia;
reparte com famintos tua ceia;
ampara contra o frio o descoberto…

Mas segue, atentamente, esta sentença:
não ajudes pensando em recompensa,
que a colheita virá no tempo certo!

Fonte:
Academia de Letras de Maringá

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.94)


Uma Trova Nacional

No coração sem maldade,
relevo a minha cobiça.
Da feição à liberdade,
amor, prazer e justiça.
(ANTONIO PAIVA RODRIGUES/CE)

Uma Trova Potiguar

Por hábito a mulher mente
e em tudo se contradiz:
– sente, e não diz o que sente,
– diz, e não sente o que diz.
(ANTÔNIO DAMASCENO/RN)

Uma Trova Premiada

2000 > Niterói/RJ
Tema > DELÍRIO > Menção Especial

Em meus delírios risonhos
fiz de você quase um Deus...
e fui vivendo os seus sonhos
como se fossem os meus!
(ARLINDO TADEU HAGEN/MG)

Simplesmente Poesia

MOTE:
Na paineira do sertão,
muito longe da cidade,
sabiá, na solidão,
canta o choro da saudade.
(DÁGUIMA VERÔNICA/MG)

GLOSA:
Na paineira do sertão,
nas horas santas - amém!,
reza, o vento, uma oração
que os anjos ditam, do além.

A casinha de sapé,
muito longe da cidade,
abriga, com amor e fé
a nossa felicidade.

Sol a pino! Sobre o chão
animais agonizantes...
Sabiá, na solidão,
canta/dor dos retirantes.

Após nosso amor desfeito
tamanha é a dor que me invade
que meu coração, no peito,
canta o choro da saudade”.
(JURACI SIQUEIRA/PA)

Uma Trova de Ademar

Eu, no sertão, meninote,
depois de tomar mingau,
corria atrás de um garrote
no meu cavalo de pau.
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram

Desfaz-se a flor, mas, no galho,
deixa, em pétala singela,
uma lágrima de orvalho,
que a noite chorou por ela
(CARLOS GUIMARÃES/RJ)

Estrofe do Dia

Com uma insônia aloprada
que não deixava eu dormir
comecei a refletir
na minha infância passada.
Lembrei da roça, da enxada,
daquele esforço medonho,
do meu trabalho enfadonho
no início da minha vida,
a noite não foi perdida
a reflexão virou sonho.
(FRANCISCO MACEDO/RN)

Soneto do Dia

– José Antonio Jacob/MG –
ILUSÃO MATERNA.

Ele era criança e pouco compreendia
O que era a dor de ter amor ausente:
Seu quintal era tudo o que ele via,
E via tudo muito de repente...

Contava estrelas mal morria o dia,
E ao vê-las pela noite simplesmente,
Fitava a mãe, e com o olhar pedia,
Uma delas para ele de presente.

E a mãe bondosamente lhe dizia,
Que a estrela era a alma boa que subia,
Para ir no Além com Deus sempre existir.

Hoje este homem aponta a estrela guia,
Feito uma criança se enche de alegria,
Ao ver a mãe no céu a lhe sorrir.

Fonte:
Ademar Macedo

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.93)


Uma Trova Nacional

Você me faz tanta falta,
que eu tenho a triste impressão
de ser nota numa pauta
sem clave nem duração...
(JEANETTE DE CNOP/PR)

Uma Trova Potiguar

Minha mãe – por sua cruz,
meu pai – por sua bondade,
hoje são anjos de luz
que tenho na eternidade.
(BENTO RABELO/RN)

Uma Trova Premiada

2000 > Niterói/RJ
Tema > DELÍRIO > M/H.

Quando a ilusão me conclama
a esperar por quem não vem,
eu deliro... e, em minha cama,
beijo o lençol... sem ninguém...
(PEDRO MELO/SP)

Simplesmente Poesia

– Antonio M. A. Sardenberg/RJ –
SORRISO

Esse seu sorriso aberto,
Mais lindo do que o luar
É como chuva miúda
Que faz a vida nascer
E a esperança germinar.

Ele é toque de ternura,
Toda candura que há,
É a beleza mais pura,
Tem a leveza e frescura
Da brisa que vem do mar.

Esse seu sorriso aberto
Transmite tanta energia
Que parece a luz do sol
Raiando ao nascer do dia.

Ele é doce que nem mel,
É como um jardim florido,
É pedacinho do céu,
O meu mundo colorido.

Uma Trova de Ademar

Uma mensagem de luz,
que trouxe uma fé tamanha,
foi aquela que Jesus
deixou pra nós na montanha.
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram

Chuvarada de granizo
deu cabo da plantação,
deu cabo do meu sorriso,
do cabo da enxada, não!...
(DURVAL MENDONÇA/RJ)

Estrofe do Dia

Eu fiquei contemplando o Ser divino
Exalando seu mundo de inocência
Os orvalhos cristais da transparência
Cintilavam no rosto pequenino.
O seu jeito delicado e cristalino
Expressava da vida a flor ternura,
Cada planta se curvava com brandura
Ofertando respeito e reverência,
Onde os galhos sutis da consciência
Tinham Deus na divina criatura.
(GILMAR LEITE/PE)

Soneto do Dia

– João Justiniano da Fonseca/BA –
SONETO SEM SAL E SEM PIMENTA.

Eu te responderei. Tenho presentes
os teus olhos, nas praias do infinito,
aonde o azul do céu é mais bonito,
em manhãs de maré, sonhos ardentes!

Nos teus porões de sonhos descontentes,
de bruxas e duendes, de maldito,
há sofrimento? Então, dá por proscrito,
o mal. Põe riso nos teus alvos dentes.

Busca-me sempre e mais, estás bem viva,
na lembrança do amado. És a Diva
do sonho, do ideal - o que desejo.

Toca a orquestra do amor no coração,
e mais te quero e com maior paixão,
onde me encontre, junto a ti me vejo.

Fonte:
Ademar Macedo

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.92)


Uma Trova Nacional

Num lance de rebeldia,
deste amor jurei fugir...
- Promessa que fiz um dia
e nunca pude cumprir.
(CONCEIÇÃO A. DE ASSIS/MG)

Uma Trova Potiguar

Com Jesus, não tenho escolhos,
e a luz que emana de Deus,
não vejo pelo meus olhos,
vejo pelo os olhos seus...
(CLÉA REVOREDO/RN)

Uma Trova Premiada

2000 > Niterói/RJ
Tema > DELÍRIO > M/H.

Num delírio descabido,
meu estro, em versos febris,
supõe o amor não vivido
e finge que foi feliz!
(PEDRO ORNELLAS/SP)

Simplesmente Poesia

MOTE:
Lua branca, prateada,
Surge por trás do arvoredo.

GLOSA.
Chega a noite embaciada
pelo véu do Sol poente,
mas não tarda, é iminente,
Lua branca, prateada,
Vem, assoma desnevada,
portando o mesmo segredo,
que supera todo enredo
do que padece ao relento;
igual é seu nascimento
surge por trás do arvoredo.
(MANOEL DANTAS/RN)

Uma Trova de Ademar

Na minha “transposição”,
que eu faça a escolha certa:
em Deus encontre o perdão
e a porta do céu aberta!...
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram

Quanto mais disciplinado,
mais valor terá seu filho;
o diamante lapidado
se conhece pelo brilho.
(CAROLINA A. DE CASTRO/PE)

Estrofe do Dia

Desponta o sol no nascente,
o camponês vai pra roça,
a porca velha se coça
nos tijolos do batente,
corta o mato com o dente
faz uma cama e dá cria,
sem precisar cirurgia
e nem parteira aparando;
brilha o sol iluminando
tudo quanto a terra cria.
(JOÃO PARAIBANO/PB)

Soneto do Dia

– Darly O. Barros/SP –
MELANCOLIA.

O sol boceja! A Noite Santa avança
e, em meio ao lusco-fusco do poente,
volto a sentir saudades da criança
que a vida fez crescer e, de repente...

Nada, contudo, guarda semelhança
com os Natais do meu antigamente:
o mundo é outro, a bem-aventurança
da data, um breve hiato, num presente

de tanta violência entre os mortais,
que é fácil compreender não volte mais
essa criança que se foi tão cedo;

prefiro vê-la agora recolhida,
neste meu peito que, de volta à vida
mas, infeliz e trêmula de medo!

Fonte:
Ademar Macedo

Andreia Donadon Leal premiada em 18 de Janeiro

A Sociedade Fluminense de Belas Artes (fundada em 1940) e a Ordem dos Advogados Brasil outorgarão a Medalha Joaquim Nabuco à Artista Visual Mineira e Ex-aluna da UFOP, Andreia Aparecida Silva Donadon Leal, pelo destaque no mundo da arte e da cultura brasileira

Efigênia Coutinho (Cristais Poéticos)


PORQUE AMO

Amo-te na união de todos os sonhos
Que te completam em cada era destinada.
Amo-te nos meus ideais mais risonhos...
Teu coração é minha estrela Futurecida!

Amo-te até na aerosfera que respiro…
Tal qual o verão estação que prefiro,
Amo-te acima, aos céus, onde és meu suspiro,
Porque creio nos sonhos e por ti aspiro!

Num amor pelos deuses do Olimpo aclamado,
Onde sou vestal preparando a tua vinda,
Vestida em brocados de cristal dourado,
Para te ofertar o amor de minha alma infinda!

Amo-te! E amarei assim tão docemente,
Afagando os sonhos postos em minha mente.
Amo-te! Deste grande amor eu sou ciente
Que seremos abençoados eternamente!

Sei que a vida nos colocou num só destino,
Por esta razão o meu amar eu proclamo.
Vou embalando o amor ao tons cristalinos,
Acalentando por todo Universo porque Amo!

O SONHO REALIZADO

E na noite, onde o sonho que te inflama,
Tornar-se-á na mais bela realidade.
Ao amanhecer tecendo toda trama,
Unindo corpos em aprazível felicidade.

No real que nos tinge nas cores do amor,
Serei tua, sequiosa de todos os desejos.
Na pele, sentirei da paixão todo ardor
Do teu afago em mim, tão benfazejo.

E nas noites, jamais sozinho ficarás,
Porque o futuro ditará a nossa vontade.
Na cama, teu corpo ao meu tu unirás
E no sempre viveremos nessa dualidade.

Este sentir que hoje é tão sonhado,
Logo será o nosso mais belo momento.
Quando se fizer em ato consumado,
O aconchego deste sublime sentimento.

SONHOS

Quando tiver um sonho, construa um altar:
um espetacular altar de rua
que lhe couber em sorte no ato de amar
ainda que imperfeito à luz da Lua!

Quando você sonhar, construa um caminho
de saibro ou granito, pouco importa!,
onde a Lua possível seja o linho
dum telhado com janelas e uma porta!

Não há sonho que dure eternamente,
perdemos um-a-um, sem grande esforço,
sorrimos à deriva pela mente
que nos atrai o pólo ou o seu dorso.

Somos fiéis ao amor pra nosso mérito
porque nele encontramos o que é feérico...

CANÇÃO DO AMOR

Quando em teus braços estou
sou o teu sonho todo esplendor
vestida nas cores dum arco-íris
Palpitando o coração amoroso!

Com teu Amor deixo-me a sonhar
dentro, teu olhar, ouvindo teu cantar
outra vez, em teus olhos banho-me
Com este imenso Amor a Sonhar...

Vou levando essa melodia sem par
Se é sonho ou soneto, veio para ficar...
Com teu olhar tua voz, eu Amo sonhar!

De Amar e de ser Amada...,
Todo meu esplendor te dou
Na canção que nasceu essa paixão!

SÓ QUERO EXISTIR

Me dão asas que me prendem
Querem-me mãe-líder
Porque você resolve tudo
E me mantém submissa

Me querem omissa
Mas me cobram decisões
Não me permitem ir
Mas me cobram a busca

Me prendem nas prendas
Enclausuradas do lar
Afinal, você faz tudo
Mas exigem tudo de mim

Me tolhem ações e pensamentos
Mas quando ajo e penso
Querem saber o que fiz
Querem saber o que penso

Me tiram até o direito ao sonho
Mas me exigem sonhando
Me tiram até o direito ao canto
E me querem só música

Me prendem imobilizada
Sem deixar de cobrar-me liberdade
Sem que eu possa me dividir
Nem me doar a ninguém
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Elmano Cardim (As Primeiras Revistas Literárias)

Idade d'Ouro do Brasil (1a. edição publicada)
Contudo, a imprensa literária surgiu cedo no Brasil, logo em seguida aos dois primeiros periódicos, que se registram na história do nosso jornalismo.

Depois da Gazeta do Rio de Janeiro e da Idade d’Ouro do Brasil, apareceu na Bahia em janeiro de 1812, com o título AS VARIEDADES ou ENSAIOS DE LITERATURA, o primeiro jornal literário, que foi, ao mesmo tempo, o terceiro publicado no país. Fundou-o, ao que tudo indica, Diogo Soares da Silva de Bivar, português culto, dado às letras, formado em Coimbra e de espírito liberal. Dizia-se descendente do Cid, o Campeador. Mandado em degredo para Moçambique, por haver hospedado Junot na sua casa da vila de Abrantes, desviou-se na viagem para a Bahia, onde se instalou e obteve depois o perdão pelo crime que hoje seria chamado de colaboracionismo com o inimigo. Da Bahia, onde exerceu a advocacia, passou para o Rio e aqui viveu até os 80 anos, ocupando vários cargos em associações cultas, benquisto e considerado. Era sócio do Instituto Histórico e faleceu aos 10 de outubro de 1865, deixando dois filhos ilustres, Rodrigo Soares Cid de Bivar e Luís Garcia Soares de Bivar, e uma filha que foi a primeira jornalista brasileira, Violante Atalipa Ximene de Bivar e Velasco, diretora, em 1852, do Jornal das Senhoras.

O Sr. Hélio Vianna desfez todas as dúvidas e confusões dos bibliógrafos sobre As Variedades, que se publicou em três números, reunidos os dois últimos num só, e assim se apresentava aos leitores:

"O Folheto que oferecemos ao Público, mostra de alguma forma o plano que havemos concebido, e que, quanto em nós é, desejamos desempenhar na redação e publicação do presente Periódico. Discursos sobre os costumes e as virtudes morais e sociais, algumas novelas de escolhido gosto e moral; extratos da história antiga e moderna, nacional ou estrangeira, resumo de viagens; pedaços de autores clássicos portugueses, querem em prosa, quer em verso, cuja leitura tenda a formar gosto e pureza na linguagem; algumas anedotas e boas respostas, etc. - tais são os materiais que tencionamos servir-nos para a coordenação desta obra, que algumas vezes oferecerá artigos que tenham relação com os estudos científicos propriamente ditos, e que possam habilitar os leitores a fazer-lhes sentir a importância das novas descobertas filosóficas".

O sumário dos três números das Variedades é interessante, de nível evidentemente elevado para o meio, o que determinaria, por certo, o seu fracasso, pois logo desapareceu, por falta de assinantes.

O segundo jornal com o tipo de revista literária surgido no Brasil foi O Patriota, fundado em janeiro de 1813 pelo Coronel Manoel Ferreira de Araújo Guimarães, redator da primeira folha brasileira, a Gazeta do Rio de Janeiro, e fundador do Espelho, que foi, no período da Independência, um periódico muito informativo.

O Patriota teve, para a época e para o seu feitio, uma longa duração, pois se publicou até dezembro de 1814. Foi, na opinião do Sr. Carlos Rizzini, comprovada pelos fatos, a melhor publicação literária, não apenas da Colônia, mas do Reino e da Regência. Foi o primeiro jornal no Brasil a apresentar ilustrações.

O seu fundador, que abreviava o nome para Ferreira de Araújo, igual ao do jornalista que foi no fim do século uma glória da imprensa carioca, era baiano e tinha uma marcada vocação profissional. Fez carreira de engenheiro, alcançou o cargo de professor da Academia da Marinha de Lisboa, onde estudara, lecionou depois nas Academias da Marinha e Militar do Brasil e chegou ao posto de brigadeiro.

Tinha um grande pendor para as letras e por isso fundou O Patriota, cujas páginas publicaram a melhor produção literária da época, dos escritores Borges de Barros, Garção Stockler, Mariano da Fonseca, José Bernardes de Casto, Camilo Martins Lage, Ildefonso José da Costa e Abreu, Pedro Francisco Xavier de Brito, Silva Alvarenga, José Bonifácio, Silvestre Pinheiro e José Saturnino.

O Patriota, pelo seu subtítulo, se destinava a ser um jornal literário, político, mercantil etc. Saiu da Imprensa Régia. Publicou - diz Inocêncio - muitos documentos inéditos e notícias importantes para a história de Portugal e do Brasil, muitas poesias e artigos de arte, ciências e literaturas, como se vê do índice geral inserto no terceiro e último volume.

Manoel Ferreira de Araújo Guimarães, que era poeta, divulgou muitos dos seus versos no Patriota. Da veia lírica do jornalista, Joaquim Norberto, no seu Bosquejo da História da Poesia Brasileira, diz "que Araújo Guimarães cultivava a poesia lírica com pouca felicidade, porque a sua fantasia estragada com círculos e retas não era para poesia; e suas produções, a maior parte delas seladas com o cunho da mediocridade, ali jazem, e foram o assunto de muitas censuras dos seus coevos".

Os Anais Fluminenses de Ciências, Artes e Literatura estavam fadados a morrer de inanição, por falta de assinaturas que correspondessem ao esforço representado pela sua criação. Era uma revista, com 15 páginas, aparecida em princípios de 1822 e publicada uma só vez pela Sociedade Filotécnica, associação literária, que não chegou propriamente a funcionar, presidida pelo Conde da Palma e que fora fundada por José Silvestre Rebelo, que depois serviu à Diplomacia brasileira e foi um dos fundadores do Instituto Histórico.

A introdução, ou plano da revista, teria sido escrita por José Bonifácio, segundo a Vale Cabral declarou Varnhagen.

Os Anais foram o terceiro jornal literário do país. O seu redator era José Vitorino dos Santos e Sousa, que tinha uma oficina tipográfica e era matemático, autor de livros de álgebra e geometria e foi depois redator do Jornal Científico, Econômico e Literário.

O único número dos Anais tem na capa externa esta quadra, seguida de tradução:

Père de la nature, Être puissant et bon
Protège cet Empire, où l’humaine raison,
Dans un ordre nouveau, sous ton Auguste auspice,
De la Societé rebatit l’édifice.

O principal trabalho publicado nos Anais é o estudo do Desembargador Antônio Rodrigues Veloso de Oliveira sobre "A Igreja no Brasil", com dados e informações que constituem ótimo subsídio para a história eclesiástica do país.
***

Todos os historiadores são acordes em reconhecer o relevante papel que teve a imprensa na proclamação da Independência. A influência desse fator da emancipação nacional foi, no entanto, menos dos jornais propriamente ditos e dos panfletos de então do que dos redatores, cuja ação estudamos rapidamente nesta palestra. Com exceção de Hipólito da Costa, todos eles agiram à margem dos periódicos que redigiam, em ação política desenvolvida nas associações secretas, como a Maçonaria, nas reuniões, na Assembléia Legislativa e no próprio seio do governo.

Os nomes dos redatores das folhas de então não apareciam nos cabeçalhos, nem assinavam os artigos publicados. As "correspondências" valiam pelos "A pedido" de hoje. A luta contra o anonimato era, como já vimos, uma preocupação dos homens públicos, a fim de coibir os excessos da liberdade de imprensa.

Estudando esse aspecto da época, o Sr. Octávio Tarquínio de Souza acentua que "por força da estreiteza e do acanhamento do meio social do Rio desse tempo, de par com a exaltação das paixões políticas, o jornal era a expressão de uma personalidade, refletindo-lhe as idéias, os sentimentos, o feitio moral. O jornal era o seu redator, recebia-lhe a marca, como um livro, como uma obra individual a recebe do seu autor exclusivo".

Nas lutas da Independência, como em todos os outros momentos graves da nacionalidade, a imprensa representou, de fato, um grande papel. Mas não é de crer que a sua influência sobre a elite dirigente resultasse do reflexo da opinião pública, expressão que raramente aparecia nos escritos da época, embora neles se usasse e se abusasse mesmo das invocações ao povo.

Mas povo, em verdade, ainda não havia no país, cuja população era na sua grande maioria composta de analfabetos e de escravos.

Na época da Independência, o "povo" brasileiro era um valor muito relativo, uma expressão muito mais social do que demográfica. Basta dizer-se que o apelo entregue ao Príncipe Regente em favor da Independência continha 8.000 assinaturas, quando a população do país andava por três milhões de habitantes.

Como mostraram Armitage, Oliveira Lima, Oliveira Viana, Barbosa Lima Sobrinho e outros publicistas, o "povo" eram então os fazendeiros, os letrados, o clero, a burguesia comerciante.

Havia, naturalmente, as manifestações da rua, nas quais aparecia, não o povo, mas a plebe, facilmente manejada pelos agitadores que a usavam como instrumento para os seus desígnios políticos.

Foi essa plebe que acompanhou, com vaias e assobios, os deputados presos por ocasião da dissolução da Constituinte, o que levou José Bonifácio, ao entrar no Arsenal da Marinha, caminho da Fortaleza da Lage, onde ficaria preso, a dizer ao General Morais, que o recebeu: " hoje é o dia dos moleques".

Os fatos marcantes da época tinham pouca repercussão no noticiário, e entre eles a própria proclamação da Independência, sobre a qual os periódicos foram omissos ou parcimoniosos. Nem se usava, para a divulgação dos acontecimentos, das colunas dos jornais, embora em 1822 constasse o Rio de Janeiro com quatro tipografias e 14 jornais, entre os quais dois quotidianos, o Volantim, de existência muito passageira, e o Diário do Rio de Janeiro, aparecido em 10 de junho de 1821 e cuja publicação foi até 1878. Esse jornal, que teve uma grande importância na imprensa brasileira, timbrando no começo em não cuidar de política, deixou de noticiar a proclamação da Independência.

Os acontecimentos da história pátria eram conhecidos, seja por editais afixados nas esquinas, seja por meio dos bandos, que vinham à praça pública, numa pitoresca encenação, descrita por Max Fleiuss como uma "espécie de proclamação de caráter todo municipal, consistente em uma ruidosa cavalgada, em que tomava parte todo o Senado incorporado: presidente, procurador, porta-estandarte, oficiais, almotáceis e meirinhos, precedidos de um pelotão de cavalaria de polícia, seguido de uma banda de música da milícia burguesa.

"À frente iam pretos, soltando foguetes, e fechava o préstito outro pelotão de cavalaria e o povo dando vivas.

"Nas encruzilhadas das ruas, parava o cortejo e um dos oficiais da Câmara, a cavalo e de cabeça descoberta, procedia à leitura do bando ou proclamação como assim sempre se fazia, nos três dias antes das principais solenidades da Corte, tais como o nascimento, casamento ou falecimento de alguma pessoa real.

"Nos bandos que anunciariam a aclamação e coroação de D. João VI, que se realizou em 6 de fevereiro de 1818, e as cerimônias da coroação e sagração de D. Pedro I, a 10 de dezembro de 1822, os mais notáveis personagens disputavam a honra de neles figurar
".

A imprensa, com a restrita circulação dos periódicos, era então essencialmente política, doutrinária e personalista. Mas nem por isso deixava de existir e de pesar sobre o ânimo dos que detinham o poder e orientavam os acontecimentos formadores da nação que se criava.

É que já se forjara, nítida e robusta, como alavanca de comando dos episódios históricos, uma consciência nacional, que naqueles dias confusos e tormentosos orientava o patriotismo dos brasileiros.

(Jornalistas da Independência, 1958)

Fontes:
Academia Brasileira de Letras
Imagem = http://hcnb.wordpress.com

Elmano Cardim (1891 – 1979)



Elmano Gomes Cardim era natural de Valença, no Estado do Rio de Janeiro, onde nasceu a 24 de dezembro de 1891, filho de Francisco Eduardo Gomes Cardim e de Adelia Figueiredo Cardim. Faleceu na cidade do Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1979.

Estudou nos Colégios Pedro II e Alfredo Gomes. Concluiu o curso de Direito na Faculdade do Rio de Janeiro em 1914.

Iniciou cedo a carreira de jornalista em "O selo" e no "Diário de Notícias". Integrou-se, em 1909, na equipe do "Jornal do Commercio", do Rio de Janeiro. No jornal redigiu por algum tempo as famosas “Várias” e passou de revisor de provas a diretor e proprietário.

Exerceu cumulativamente alguns cargos públicos, no Arquivo Nacional e mais tarde foi indicado escrivão de uma das Varas de Órfãos e Sucessões.

Em 1935 presidiu a delegação de jornalistas que acompanhou o presidente Getúlio Vargas em viagem aos países do Prata.

Recebeu em 1951 o Prêmio Moors Cabot de Jornalista. Foi eleito sócio honorário do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro" em 1937, passando a efetivo em 1970 e a benemérito em 1976. Integrou a missão cultural no Uruguai em 1943, onde pronunciou conferências na Universidade daquele país.

Entre os trabalhos publicados por Elmano Cardim merecem destaque - "Justiniano José da Rocha", "A vida jornalística de Rui Barbosa", "Joaquim Nabuco, homem de imprensa", "Na minha Seara", "Jornalistas da Independência", "Discursos", "Rocha Pombo", "Vidas Gloriosas", "Graça Aranha e o modernismo Brasil", "Na pauta da História".

Presidiu Elmano Cardim a Associação Brasileira de Imprensa.

No Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro ingressou como sócio honorário em 1937, passado a efetivo em 1970 e a benemérito em 1976.

Membro da Academia Brasileira de Letras, quinto ocupante da Cadeira 39, eleito em 13 de abril de 1950.

Obras publicadas:
Justiniano José da Rocha,
A vida jornalística de Rui Barbosa,
Joaquim Nabuco, homem de imprensa,
Na minha Seara,
Jornalistas da Independência,
Discursos,
Rocha Pombo,
Vidas Gloriosas,
Graça Aranha e o modernismo Brasil,
Na pauta da História.

Fonte:
Academia Brasileira de Letras

Adelto Gonçalves (Uma “redescoberta” da Literatura Africana no Brasil)


I

A Editora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) colocou no mercado uma nova coleção, Poetas de Moçambique, em que apresenta antologias dos maiores poetas modernos de língua portuguesa e origem moçambicana. Segundo a editora, os autores escolhidos estabeleceram freqüentemente diálogo com a literatura brasileira, especialmente com as obras de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), Cecília Meireles (1901-1964), Vinicius de Moraes (1913-1980) e Manuel Bandeira (1886-1968). Os primeiros volumes são dedicados a José Craveirinha (1922-2003) e Rui Knopfli (1932-1997).

Craveirinha, primeiro autor africano galardoado com o Prêmio Camões, em 1991, é um dos nomes fundamentais da literatura moçambicana. Filho de pai algarvio e mãe ronga, é dono de uma obra concisa, que cobre cinco livros publicados em vida e duas coletâneas póstumas, além de dezenas de poemas espalhados em periódicos e antologias. Este livro reúne os principais poemas do autor com nota biobibliográfica de Emílio Maciel.

Já Rui Knopfli produziu uma encorpada e original obra literária durante o período colonial. Seus poemas selecionados estabelecem diálogo com as principais tradições clássicas e modernas da poesia. O livro traz posfácio com texto crítico e nota biobibliográfica de Roberto Said.

Ao mesmo tempo, a Ateliê Editorial, em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp), acaba de lançar Portanto... Pepetela, organizado por Rita Chaves e Tania Macêdo, professoras de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa da Universidade de São Paulo (USP). O angolano Pepetela, nascido Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, ganhador do Prêmio Camões de 1997, é talvez o mais importante romancista de seu país. Com apresentação do moçambicano Mia Couto, o livro reúne 38 artigos e ensaios de estudiosos da obra de Pepetela.

Nada mais alvissareiro do que essa “redescoberta” da literatura africana de expressão portuguesa. Mas desses três autores, apenas José Craveirinha é resultado da mistura do sangue português com africano. O que se espera é que esse interesse não se restrinja apenas a autores lusodescendentes, mas seja aberto a todos os africanos que fazem literatura em Língua Portuguesa.

II

Nada contra Pepetela, Agualusa, Mia Couto ou Luandino Vieira, nomes hoje incontestáveis no panorama da literatura africana de expressão portuguesa. O que se estranha é por que só descendentes de portugueses que nasceram em terras africanas têm largo espaço nos veículos de comunicação de Portugal e nas universidades de Portugal e do Brasil.

Basta ver que o livro Portanto... Pepetela traz, ao final, uma lista de 56 teses de doutorado e dissertações de mestrado defendidas em universidades brasileiras sobre a obra de Pepetela. Um exagero, evidentemente, porque há muitos outros autores africanos de expressão portuguesa que poderiam ser estudados. E não o são. Não se quer acreditar que seja por racismo, pois o que se espera é que esse tipo de comportamento seja algo já superado, sem razão de existir neste começo de século XXI.

Talvez seja ainda a "saudade do império colonial perdido", como disse Patrick Chabal, professor de Estudos Africanos do King´s College, de Londres, para se citar aqui um nome isento destas questiúnculas lusófonas, que impeça os acadêmicos e editores portugueses de enxergar que a lusofonia é uma falácia – que não vai chegar a lugar nenhum – enquanto eles não aceitarem a verdadeira dimensão da língua portuguesa para além da Europa.

Em outras palavras: Pepetela, Agualusa, Mia Couto e Luandino Vieira fazem parte da última geração de lusodescendentes que, nascidos na África, praticam uma literatura com vivência africana. Dentro de 20 ou 30 anos, quando provavelmente já não estiverem mais neste mundo, quem irá representar a Literatura Africana de expressão portuguesa senão os autóctones ou um ou outro miscigenado?

Portanto, o futuro da Língua Portuguesa na África vai depender dos naturais desses países por onde os portugueses criaram raízes – e também daquelas regiões que, hoje, sofrem com a opressão de vizinhos que não falam português. É o caso da Casamansa, província do Sul do Senegal, que ainda aspira livrar-se da opressão de Dakar para se tornar um país independente e membro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Será que em Casamansa não há um único poeta ou escritor que escreva em português? Ou somos nós que não queremos vê-los?

Como diz o escritor moçambicano João Craveirinha, por mais que se assumam "lusófonos", os escritores de tez escura serão sempre os "outros", os outsiders, os ex-colonizados. Entre esses, além de João Craveirinha, pode-se citar de uma enfiada Paulina Chiziane, Ungulani ba Ka Kossa, Nelson Saúte, Noémia de Sousa, Kalungano, Luís Bernardo Honwana e Suleimane Cassamo, de Moçambique; Adriano Mixinge, João Melo, Ondjaki, Victor Kajibanga, Uanhenga Xitu, Ana Paula Tavares, Luís Kandjimbo, de Angola; José Luís Hopffer Almada e Germano Almeida, de Cabo Verde; Abdulai Sila, Hélder Proença (?-2009) e Odete Semedo, da Guiné-Bissau; Alda do Espírito Santo e Tomás Medeiros, de São Tomé Príncipe. E muitos outros.

O que é preciso dizer – e quase ninguém o faz – é que persistir nessa visão preconceituosa é um erro, que equivale a dar um tiro no próprio pé, pois recusar-se a reconhecer que o futuro da Língua Portuguesa na África depende dos naturais daqueles países é condená-la ao desaparecimento. E olhem que quem escreve isto é um brasileiro de primeira geração, de pai português de Paços de Ferreira, Norte de Portugal, e de avós maternos açorianos.

III

Embora o desconhecimento no Brasil acerca dos assuntos africanos seja abissal, não se pode deixar de reconhecer que foi graças aos literatos brasileiros que a Língua Portuguesa continuou viva nas décadas de 1950, 60 e 70 na África de expressão portuguesa, especialmente entre aquela camada mais culta, que gostava de ler Jorge Amado (1912-2001), Érico Veríssimo (1905-1975), Guimarães Rosa (1908-1967) e outros tantos.

Rui Knopfli mesmo é um poeta fortemente influenciado pela literatura brasileira, além de suas grandes ligações com a poesia portuguesa moderna. De africano, só carrega o fato de ter nascido em Inhambane. Trata-se de um fino poeta, cuja poesia está entre o que de melhor se escreveu em Língua Portuguesa no século XX, mas que, ao contrário de Pepetela que permaneceu em Angola e lutou contra o colonialismo, deixou Moçambique tão logo o país se separou de Portugal. Jamais se assumiu "moçambicano" no anterior e muito menos no atual contexto africano e sociopolítico do pós-independência. Assumiu-se, sim, como um português de Moçambique agastado com os "pretos" da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) que queriam ser iguais aos "brancos".

A visão que Knopfli tinha da África era eurocêntrica, de um colono que pertencia a uma elite colonial intelectual que, provavelmente, sonhava com um Moçambique semelhante à Rodésia ou à África do Sul sem apartheid, mas com os chamados “brancos” a mandar nos "pretos", ou seja, “cada macaco no seu galho", para se repetir aqui uma expressão politicamente nada correta que se ouve ainda neste Brasil de racismo disfarçado. A lusitanidade européia de Knopfli sempre falou mais alto.

Quem conhece a vida moçambicana pré-independência sabe muito bem que Knopfli atacara a arte banta do escultor Alberto Chissano e do pintor Malangatana em termos depreciativos, como a dizer que eles nunca poderiam ascender a artistas plenos em razão de sua origem "primitiva", tal como os "bons selvagens" de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), que seriam congenitamente limitados. Isto está na Revista Tempo, de Lourenço Marques (hoje Maputo), dos anos 1970-1971. Quem duvidar que consulte na Biblioteca Nacional de Lisboa a coleção da revista. Mas é claro que isto ninguém gosta de lembrar.

Como se sabe, na África os conceitos não são os mesmos vigentes no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa em relação ao ser e estar africano. Até porque na África os "nativos" não foram exterminados como os ameríndios nas Américas. E, como continuam a sê-lo no Brasil em pleno século XXI. Para se ter um exemplo desse holocausto, basta ver que os traços indígenas hoje são pouco perceptíveis no brasileiro médio, exceto talvez no homem do Centro-Oeste e do Amazonas, ao contrário do que se pode constatar no Chile, no Paraguai, na Bolívia, no Equador e até na antigamente tão conservadora Argentina. Basta ver o que fazem, nos dias de hoje, certos fazendeiros e seus capangas com os caiowás, em Mato Grosso do Sul, sem que as autoridades tomem qualquer providência mais efetiva.

Na África, os autóctones continuam a ser maioria esmagadora e isso tem um peso enorme na consciência dos africanos, mesmo em meio a crises econômicas. Até mesmo porque eles estavam num estágio de desenvolvimento superior ao dos indígenas americanos, o que obrigou a chamada colonização portuguesa a restringir-se a vilas e destacamentos litorâneos. Até mesmo para “atravessar” o comércio da escravatura, os portugueses dependiam de nações africanas que traziam subjugados seus inimigos para comercializá-los nas praias. Com isso, a ocupação européia, de um modo geral, nunca conseguiu apagar no homem africano o grande sentimento de pertença ao legado banto.

Como tudo isso são águas e ressentimentos passados, o que importa hoje é preservar a Língua de Camões também na África. E essa preservação passa por um apoio mais decisivo em favor da divulgação e estudo da literatura de expressão portuguesa que é hoje praticada por africanos de todos os matizes de pele, indistintamente.
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PORTANTO... PEPETELA, de Rita Chaves e Tania Macêdo (organizadoras). São Paulo: Ateliê Editorial/Fapesp, 2009, 389 págs.

ANTOLOGIA POÉTICA, de José Craveirinha. Organizadora: Ana Mafalda Leite. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010, 198 págs.

ANTOLOGIA POÉTICA, de Rui Knopfli. Organizador: Eugénio Lisboa. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010, 206 págs.
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Adelto Gonçalves é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002) e Bocage - o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003). E-mail: marilizadelto@uol.com.br

Fonte:
Literatura Sem Fronteiras.

Luiz Eduardo Caminha (Lenda de Iaraguaçu)


Lenda premiada em 1º.Lugar no 1º. Concurso Internacional de Lendas e Poesia ME (Mulheres Emergentes) - 2010

Iaraguaçu, grande mãe d’água, era uma velha índia da aldeia Mbyá, do tronco Guarani-karijós, que habitava a ilha de Santa Catarina nos séculos XVI a XVIII, quando o homem branco chegou. Sua tribo descendia dos últimos sete casais fugitivos dos brancos invasores que massacraram a maioria dos Guaranis-karijós da Ilha da Magia. Antes, os casais refugiaram-se no sul da ilha, donde atravessaram para a Praia da Pinheira. Ali, permaneceram apenas um verão, temerosos de novos massacres. Foram para o Morro dos Cavalos. Anos mais tarde, seus pais e parentes migraram para o local onde vivia. Eram pescadores e não podiam viver longe das águas. Dela tiravam seu sustento em canoas de um pau só de garapuvu. Assentaram-se, ainda na segunda metade do século XVII, às margens da Lagoa de Fora, como chamavam a Lagoa de Santo Antônio onde, na margem oposta, crescera a Vila de Laguna.

Iara, como gostava que a chamassem, vivia numa choupana de paus e telhado de folhas de Indayá, uma palmeira da região. Desde pequena tinha visões que prenunciavam coisas boas ou ruins. Na tribo, estas atribuições eram próprias dos Pajés, mas muitos de seus “irmãos da terra” - como ela chamava os índios – dela se valiam. Também era dada a práticas medicinais e até caciques vinham atrás de seu conhecimento sobre as ervas.

Era o ano de 1838. Sua idade era desconhecida, mas os fatos que narrava ter vivido, como a fundação de Laguna em 1776, supunham que beirava os 75 anos. Sua vida resumia-se aos arredores da choupana e, boa parte do dia, em torno de um fogão de barro construído por um de seus netos. Curava muita gente, dava muitos conselhos e mesmo as autoridades de Laguna e as famílias de posse, de vez em quando, a ela recorriam. Afirmavam que, além das curas, ela mudara a vida de muita gente com seus aconselhamentos e adivinhações.

Ainda menina, fora levada pela mãe para servir a uma família da Vila, mas não sabia viver longe da liberdade da mata. Quase nada fazia que fosse costume dos brancos. Sua Senhora, uma mulher má, surrava-lhe com açoites e com uma espalmadeira “pra aprender as coisas”, como dizia.
Um dia, já moça feita, depois de inúmeras tentativas de fuga, fora mandada embora. A mãe já não vivia mais. Havia morrido de fraqueza nos pulmões, doença trazida pelos brancos. A maioria da aldeia havia deixado o lugar.

Iara foi catequizada aos 30 anos e aprendeu malmente a língua dos brancos misturando palavras com o tupi-guaraní. Era assim que falava com as pessoas que a procuravam. A todos atendia e transmitia sua paz interior, fruto das bênçãos de Nhanderú-etê, o Deus Verdadeiro, em quem acreditava.

Vivia com o neto, um cachorro velho e uma formosa águia cinzenta que ela mesma amestrara. Os moradores de Laguna já haviam se acostumado com sua presença soberana e solitária nos céus. Sempre que ela aparecia com seus estridentes trinados, alguma coisa estava por acontecer. Diziam que era Iaraguaçú que a enviava para lhes avisar. Era corrente a crença: quando a águia de Iaraguaçú plainava silente era época de calmaria e peixe em abundância, mas quando aparecia gritando e fazendo voos rasantes, um tempo ruim estava por vir. Era melhor guardar os animais, não sair para o mar e recolherem-se em suas casas, “prá modo de mal algum assussedê”, como diziam os matutos pescadores. Era dito e feito. Quando alguém desafiava o aviso, alguma tragédia acontecia. Barcos que soçobravam, pessoas que adoeciam – e até faleciam – vítimas de uma molha de chuva, gado que morria por ter ficado fora dos potreiros, enfim, o melhor era se precaver.

Uma das protegidas de Iaraguaçú era Aninha, a quem chamava kunhataí, filha do tropeiro Bentão. Fora Iara quem prevenira Aninha que seu casamento, arranjado pela mãe, com o sapateiro da cidade, não vingaria. Também previra que Aninha iria esposar um aventureiro de outras terras, vindo do mar, um valente que viria junto com a guerra que aconteceria no sul do Brasil e que tentaria criar em Laguna uma outra nação, a República Juliana. Tudo acontecera como dissera. Até a doença do pai, também vítima dos pulmões, quando tomara uma chuvarada no alto da Serra do Dose, assim escrita, com “esse”, em virtude de um estalajadeiro italiano da família Dose que vivia no sopé da escarpada montanha. O pai não aguentara e, como previra Iara, atravessara “manõ yvy ugwa” - o vale da morte, para se juntar a Nhanderú-etê.

Aninha não dava um passo sem consultar a velha índia. Muitas vezes, quando algo lhe afligia, era a própria águia que pousava num galho alto de um garapuvu, perto de sua casa, emitindo trinados peculiares, sinal de que a índia queria lhe falar.

Por isso, Aninha muito chorou quando a velha amiga partiu. Teve um estranho pressentimento naquela manhã, ao ver a chuva incomum com raios e trovões como se fosse uma chuvada de verão.

De repente, o sol se abriu, o vento parou e um duplo arco-íris, que ia em direção à Lagoa de Fora, apareceu no céu.

A passarada, que já vinha se ocupando do acasalamento, no leva e trás de palhas e raminhos para os ninhos, parecia ter sido convocada por um Ser Supremo para uma revoada conjunta. O barulho dos pardais, tico-ticos, sabiás laranjeiras, coleirinhas e dos sanhaçus azuis, se misturavam com o gorjeio das pombas rolas e com o grito agudo dos gaviões. Uma Sinfonia da Natureza. Todos os pássaros seguiam o mesmo rumo, em direção ao final do arco-íris. Nas ruas, cavalos relinchavam como se pressentissem um predador. Cães ladravam. Não um latido comum. Uivavam como se estivessem a sofrer, a chorar.

Foram três minutos daquela algaravia. E uma calada se fez. Um grito agudo, da águia cinzenta que voava acima de tudo, rompeu o silêncio. A atenção se voltou para os lados da Lagoa de Fora.

A notícia correu pela Vila como o vento gelado vindo do Sul. Era trazida por “pena-esvoaçante” o pequeno indiozinho carijó, o neto que vivia com Iaraguaçu.

~ Mãe Iara suspirou! Foi pra terra de seus pais! Seu espírito viaja pra encontrar “Nhanderú etê”.

Aninha montou seu cavalo assim mesmo, no pelo, sem perder tempo de encilhá-lo. Disparou em cavalgada para as bandas de onde, à beira da laguna, jazia no leito de palha, o corpo da amiga. Chorava pelo caminho. Suas lágrimas escorriam pelo rosto e embaçavam-lhe a visão.

Não foi só Aninha a única que para lá se dirigiu. A cidade quase se esvaziara para reverenciar a velha índia. Até o Vigário se abalou, em uma charrete, para lá estar. Embora guardasse alguma ligação com aquela espécie de ocultismo dos silvícolas, ele não tinha dúvidas, ali, naquele corpo, habitara um Anjo. Não! Iaraguaçu não era uma bruxa como insistiam alguns poucos maldizentes. Seu Deus era o mesmo Deus da Cristandade. Quando fazia uma prece a “Nhanderú etê”, estava orando ao Deus Verdadeiro dos cristãos. Quando rogava a “Nhanderu ra'y”, o filho de “Nhanderú etê”, era a Jesus Cristo que evocava. Por isso, e por ser batizada, merecia um enterro cristão, no Cemitério da Vila.

Mas, estas vãs preocupações eram desnecessárias. Iara tinha um testamento. Queria um enterro cristão, mas também, de acordo com a tradição tupi-guarany, ser enterrada no Campo dos Espíritos, aonde muitos de sua tribo jaziam em paz. Manifestou ainda em vida, o desejo de ter os serviços funerais de um padre, mas queria que seus restos repousassem com sua gente.

Aninha estava desolada, mas ao mesmo tempo resignada. Embora triste, ficou ali, velando aquele corpo cuja alma, cujo espírito, já estava no lugar que a vida eterna lhe reservara. Um lugar diferente da choupana humilde e pobre que vivera, embora Iara sempre lhe dera a impressão que era feliz do jeito que vivia, da sorte que “Nhanderú etê” lhe reservara. Talvez porque soubesse que a morte era uma passagem para um lugar de Paz, sem sofrimentos, sem o frio gelado do inverno e o calor insuportável dos verões. Uma vida onde as primaveras e os outonos eram as únicas estações. Lá, onde dizia que seu pai Bentão também estava, Iara seria uma luz a brilhar em todos os momentos.

Hoje, as águias cinzentas são uma raridade. Como os índios, foram enxotadas por seu predador, o homem. Mas o espírito de Iaraguaçu ainda paira sobre a Lagoa. Dizem os mais antigos que quando uma tormenta vinda do sul ameaça os pescadores, basta uma prece: “Iaraguaçu, grande mãe d’água, socorrei-nos!” Logo o vento se dissipa e a calmaria reina absoluta.

Quando uma águia cinzenta ainda é vista plainando silente e graciosa sobre os céus da região, os mais velhos sabem que a pesca do camarão e das tainhas será afortunada.
E ainda se recolhem e se protegem quando ouvem alguma delas, com trinados agudos voarem em rasantes por ali.

Luiz Eduardo Caminha
Ratones, Florianópolis

Fontes:
– O autor
– Imagem = http://www.angela.amorepaz.nom.br

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.91)


Uma Trova Nacional

Na calmaria aparente,
num silêncio enganador,
saudade, dentro da gente,
grita mais alto que a dor...
(DOMITILLA BORGES BELTRAME/SP)

Uma Trova Potiguar

Minha mãe, favo de mel,
doçura de um alfenim,
quando estiveres no céu
guarda um lugar para mim.
(CELSO DA SILVEIRA/RN)

Uma Trova Premiada

2010 > Camboriú/SC
Tema > SEGREDO > Vencedora

A vida é tão passageira,
para que tanto segredo?
Se você me ama inteira
revele ao mundo, sem medo!
(GLEDIS TISSOT/SC)

Simplesmente Poesia

– Selmo Vasconcellos/RJ –
MATA

Hoje me matas
violentamente com este machado.
Mas, amanhã das minhas flores
te farão uma coroa,
do meu caule
tua urna mortuária.
Aí sim,
irás ao encontro da minha raiz.

Uma Trova de Ademar

Na natureza eu obtive
uma verdade que ocorre:
sem sangue a gente não vive...
e, sem seiva a planta morre!...
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram

Dentro do próprio conceito,
sejam quais as conseqüências,
a justiça, por direito,
não permite reticências...
(CAROLINA A. DE CASTRO/PE)

Estrofe do Dia

Não troco o meu Deus por nada,
Ele é o meu soberano.
Sem Ele eu sou um qualquer
Sem eira e beira, sem plano.
Deus é a minha alegria,
Inspiração, poesia,
Dia, noite, mês e ano...
(DAMIÃO METAMORFOSE/RN)

Soneto do Dia

– Diamantino Ferreira/RJ –
CONSELHO

Afasta de mim os teus olhos... Procuras
curvar-me ao seu brilho? Por que não desistes?
Nas lutas de amor não triunfam loucuras:
mais pode um sorriso que os olhos mais tristes...

Se almejas da vida somente as venturas
por que – se é frustrado – no intento persistes?
Não poupes sorrisos, palavras, ternuras...
E foge de tudo, daquilo em que insistes.

Repara nos outros que vivem ditosos:
felizes, tranqüilos, semblantes formosos...
Sem manchas no dia do Eterno Juízo!

A vida é tão bela! Desterra a tristeza!
Insere em teus olhos a eterna beleza!
Reabre teus lábios num doce sorriso!...

Fonte:
Ademar Macedo