segunda-feira, 1 de julho de 2024

Daniel Maurício (Poética) 70

 

Humberto de Campos (A derradeira "morada")

O administrador do cemitério de São Geraldo, Alfredo Costa Ximenes, residia há anos, na rua Real Grandeza, quando, em março último, forçado a mudar de casa, foi alugar um prédio de segunda ordem, de que era proprietário o Comendador Augusto Gonçalves Teixeira, que lhe foi dizendo logo, sem circunlóquios:

— O aluguel da casa é quinhentos e vinte mil réis, fora a pena d'água e a taxa sanitária. Além disso para que eu lhe dê a chave, o senhor terá de pagar-me seis contos de réis, de "luvas".

Debalde o honrado funcionário da Morte chorou, suplicou, implorou; o Comendador mostrou-se inabalável na sua exigência, e ele teve de arranjar, mesmo, as "luvas", para não se ver de uma hora para outra, lançado à rua com a família.

Dois meses depois desse episódio, estava o administrador, uma tarde, no seu posto, na secretaria da necrópole, quando parou ao portão, buzinando e rolando, um cortejo funerário. Levada às suas mãos a papeleta fúnebre, o funcionário viu pelo nome, que o morto era, nada mais, nada menos, do que o seu senhorio, o Comendador Gonçalves Teixeira e teve, de repente, a ideia de uma represália: chegou ao portão, onde o esquife já repousava, agaloado, na carreta do cemitério, e recebendo da família a chave do caixão, mandou rodar o ataúde no rumo da sepultura.

Terminadas, ali, entre lágrimas e vertigens, as angustiosas despedidas da praxe, um filho do defunto mandou chamar o administrador, a quem havia dado a chave do esquife, para que fosse identificar o morto, e fechar o caixão.

— Pronto! — apresentou-se Ximenes, apertado na sua sobrecasaca preta. — Que desejam?

— A chave! — explicou um parente do defunto.

— Suspendam a tampa do esquife! — ordenou o administrador.

Um amigo abriu o caixão funerário, onde jazia, inteiriçado, vestido de preto o corpo do desventurado capitalista.

Ximenes passou, meticuloso, a vista sobre o cadáver, e, vendo-lhe as mãos nuas, cruzadas sobre o peito bojudo, reclamou, severo:

— E as "luvas"? Querem, então, que ele desça à derradeira "morada" sem as "luvas"?

E não entregou a chave!

Humberto de Campos. A Serpente de Bronze. Publicado originalmente em 1925. Disponível em Domínio Público.  

Vereda da Poesia = 50 =


Trova Humorística de São Paulo/SP

THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

Diz, já caduco: - Que tédio!...
E a esposa, sempre calminha:
“- Quer jogar dama?” E, do prédio,
ele jogou a velhinha!
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Soneto Do Rio de Janeiro/RJ

MANUEL BANDEIRA
(Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho)
Recife/PE, 1886 – 1968, Rio de Janeiro/RJ

Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento , de desencanto
Fecha meu livro se por agora
Não tens motivo algum de pranto

Meu verso é sangue , volúpia ardente
Tristeza esparsa , remorso vão
Dói-me nas veias amargo e quente
Cai gota à gota do coração.

E nesses versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre
Deixando um acre sabor na boca

Eu faço versos como quem morre.
Qualquer forma de amor vale a pena!!
Qualquer forma de amor vale amar!
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Aldravia de Ponte Nova/MG

MARIZA DE CASTRO GODOY

água
parada
aedes
faz
a
festa
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ

SÔNIA SOBREIRA

A Semente

Não vou plantar semente que me afaste
da luz perene e clara do luar,
nem vou deixar que a mágoa me desgaste,
ou que me faça em pedras tropeçar.

Não vou deixar que a solidão me arraste
nas tramas de uma história secular,
nem que uma dor no coração se engaste
e esta semente venha a germinar.

Eu vou plantar sementes de alegria
flores vermelhas, rimas de poesia
colher nas mãos um sonho que brotou.

Vou ser poeta e em minha estrada infinda,
mostrar que posso ser feliz ainda
e nunca mais serei o que hoje sou!
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Trova Premiada  em Cantagalo/RJ, 2012

ÉLBEA PRISCILA DE SOUZA E SILVA
Piquete/SP, 1942 – 2023, Caçapava/SP

A maquiagem pesada, 
diante do espelho, desfaço
e em minha cara lavada
rugas brigam por espaço…
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Poema de Curitiba/PR

CELITO MEDEIROS
(Celito Freitas de Medeiros)

Eu juro

Que importam os riscos que vou correr
Afinal sabemos que não vamos morrer
Mas é melhor riscos se poder arriscar
Do que riscar a morte sem poder amar.

Se de risadas é parecer um tolo
Se chorar parecer sentimental
Estendo minha mão e me envolvo
Vou mostrar que sou muito real.

Minhas ideias defendo sempre
Pois eu sei que atrás vem gente
Mesmo incompreendido vou amar
Ainda é tempo de também inovar.

Morrer um corpo não é mistério
Viver como espírito é o importante
Um corpo pode ir para o cemitério
Um espírito é o meu comprovante.

Se arriscar pode gerar um fracasso
Não me importo sou mesmo de aço
Estou aqui é para as experiências
Buscar as mais novas tendências.

Busquei a liberdade e já era tempo
Tudo do passado fazer na soma
Opressão que não mais aguento
Meu determinismo que assoma.

Importante é lutar, vencer nem tanto,
Encontrei há tempo meu porto seguro
Juntos seremos cobertos pelo manto
Daqueles que nos esperam..., eu juro!
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Quadra Popular

Sete e sete são quatorze,
com mais sete vinte e um;
ainda ontem eu tinha sete,
hoje não tenho nenhum.
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Soneto do Rio de Janeiro

OLAVO BILAC
(Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac)
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918

Língua Portuguesa

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o tom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho"!
E em que Camões chorou, exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
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Trova de Corumbá/MT

LÍCIO GOMES DE SOUZA

Na História o fato maior
está por vir, aliás:
- Vir num mundo melhor,
em pacto eterno de paz.
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Poema de Belo Horizonte/MG

CLEVANE PESSOA

Arrependimento

Mais que amei, amei errado
ou amei sem saber de limites
e de impossibilidades...

Amei com a fúria dos ventos
e a ternura das brisas
nos rostos das flores:
esta, insuficiente  para a sanha dos desejos,
aquela rasgou pétalas e sépalas
e abriu cálices...

Queria ter amado menos que o demais
E muito mais que o possibilitado...
Queria que os excessos de busca,
Perfumassem, de repente,
Todos os ares da angústia incandescente...
Nas grutas do desconhecido,
As estalagmites ,
Tão fantásticas ao primeiro olhar,
São de tal forma frágeis
Que se tornam poeira e barro
Para não mais voltar...
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Haicai do Rio de Janeiro/RJ

MARIA NASCIMENTO SANTOS CARVALHO

Do capim rasteiro
vêm uns cri-cris estridentes...
Seresta de grilos ...
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Limerique de Ribeirão Preto/SP

NILTON MANOEL
1945 – 2024

Limeriques Urbanos I

Dizem que a calçada é do povo...
Quero ver crianças de novo
Brincando... brincando,
Vivendo...sonhando...
porém o povo só leva ovo!
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Trova de Pindamonhangaba/SP

JOSÉ VALDEZ DE CASTRO MOURA

As afrontas do passado
não guardo! Vou esquecê-las!
Pois bem sei que um céu nublado
não me deixa ver estrelas!
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Glosa de Fortaleza/CE

NEMÉSIO PRATA

MOTE 
Doce flor que desabrocha, 
perfumando seu cantinho 
envolvendo toda rocha 
com doçura e com carinho. 
José Feldman 
(Campo Mourão/PR) 

GLOSA 
Doce flor que desabrocha, 
exalando os seus olores 
deixa a todos feito tocha 
em busca de seus favores! 

Discreta, a flor permanece 
perfumando seu cantinho 
mas logo que um aparece, 
desaparece em seu ninho! 

Aquele que vem em tocha 
pressente, a distância, o olor, 
envolvendo toda rocha, 
que exala, doce, da flor! 

E todo que busca o amor 
da flor, não fica sozinho; 
recebe-o, em seu ninho, a flor, 
com doçura e com carinho.
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Aldravia do Rio de Janeiro/RJ

ARLENI BATISTA

sinto
simplesmente
saudades
você
ausente
presente...
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Soneto de Minas Gerais

NATHAN DE CASTRO
(Nathan de Castro Ferreira Júnior)
João Pinheiro/MG, 1954 – 2014, Uberlândia/MG

        Soneto em Luta de Esgrima

        Conta até seis e bate o pé no chão,
        quando chegar a dez, prepara a rima...
        O primeiro quarteto está na mão
        e a mágica do sonho se aproxima.

        Deixa que flua a conta da emoção,
        sem ela o peito esfria e desanima...
        O segundo combate é o da paixão
        e imprescindível à luta de esgrima.

        O sabre exige pulso e coordenados
        movimentos perfeitos nos espaços...
        Um toque na cabeça, tronco ou braços,

        pode levar-te à lona dos tablados...
        Mas se vencer, amigo, comemora,
        e te prepara: a morte está lá fora!
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Trova Premiada em Nova Friburgo/RJ, 1987

EDMAR JAPIASSÚ MAIA 
(Miguel Couto/RJ)

Olhando a sogra de pé,
com o rosto sujo de tinta,
viu que o “diabo” ainda é
mais feio quando se pinta!… 
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Poema de Amherst/ Massachussets/ EUA

EMILY DICKINSON
(Emily Elizabeth Dickinson)
(1830 – 1886)

Morri pela Beleza

Morri pela beleza – mas mal me tinha
Acomodado à campa
Quando alguém que morreu pela verdade,
Da casa do lado –

Perguntou baixinho “Por que morreste?”
“Pela beleza”, respondi –
“E eu – pela verdade – Ambas são iguais –
E nós também, somos irmãos”, disse ele.

E assim, como parentes próximos, uma noite
Falámos de uma casa para outra
Até que o musgo nos chegou aos lábios 
E cobriu – os nossos nomes.

(Tradução de Nuno Júdice)
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Triverso de Curitiba/PR

ÁLVARO POSSELT

O clima ficou tenso
Meu pensamento defumou
depois da queima de incenso
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Setilha de Natal/RN

JOSÉ LUCAS DE BARROS
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN

Somos do país do amor,
grande como um continente,
rico que só marajá,
pobre que só indigente;
tem corrupção como regra,
mas tem carnaval que alegra,
de ano em ano, nossa gente.
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Trova do Rio de Janeiro/RJ

ARCHIMINO LAPAGESSE
Florianópolis/SC, 1897 – 1966, Rio de Janeiro/RJ

Saudade, a ponte encantada             
entre o passado e o presente,              
por onde a vida passada
volta a passar novamente
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Hino de Paranavaí/PR

Compositores: Geraldo Marques e Carlos Cagnani

Quando te vemos hoje, assim radiosa,
Teus filhos agitados no labor,
Lembramos da empreitada gloriosa,
Que calejou as mãos do lavrador
E fez romper da terra generosa
Os ricos frutos do progresso e amor!

Estribilho:
Nasceste sob o signo da vitória
Que os filhos teus souberam conquistar
És a um só tempo a evolução e a glória
Cidade que não pode mais parar!

Ó Paranavaí dos cafezais
Simétricos, em flor sobre a paisagem,
De belos e de extensos matagais,
Planícies verdejantes de pastagem...
Da glória tu chegaste até os umbrais!

Estribilho
Nasceste sob o signo da vitória
Que os filhos teus souberam conquistar
És a um só tempo a evolução e a glória
Cidade que não pode mais parar!

Salve teus filhos, que na faina ardente
Sobre teu solo ainda hostil e agreste
Traçaram teu destino florescente!
Salve, ó cidade que te engrandeceste
Ó bela Capital do Noroeste!

Estribilho
Nasceste sob o signo da vitória
Que os filhos teus souberam conquistar
És a um só tempo a evolução e a glória
Cidade que não pode mais parar!
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O 'Hino de Paranavaí - PR' é uma celebração poética da cidade de Paranavaí, localizada no noroeste do Paraná. A letra exalta o progresso e a evolução da cidade, destacando o esforço e a dedicação de seus habitantes. Desde o início, a música remete à imagem de uma cidade radiante, onde o trabalho árduo dos lavradores transformou a terra generosa em frutos de progresso e amor. Essa metáfora da terra fértil simboliza não apenas a riqueza agrícola da região, mas também o crescimento e desenvolvimento contínuo da cidade.

O estribilho reforça a ideia de vitória e evolução, afirmando que Paranavaí nasceu sob o signo da vitória, conquistada pelos seus filhos. A cidade é descrita como um símbolo de evolução e glória, um lugar que não pode mais parar de crescer. Essa mensagem de constante progresso e superação é um tributo ao espírito resiliente e trabalhador dos habitantes de Paranavaí, que, através de suas conquistas, moldaram o destino da cidade.

A letra também faz referência às paisagens naturais de Paranavaí, como os cafezais simétricos, os matagais extensos e as planícies verdejantes. Essas imagens evocam a beleza e a riqueza natural da região, que contribuíram para o seu desenvolvimento. O hino termina com uma saudação aos filhos da cidade, que, com seu trabalho árduo, traçaram um destino florescente para Paranavaí. A cidade é celebrada como a 'Capital do Noroeste', um título que reflete seu crescimento e importância na região. (https://www.letras.mus.br/hinos-de-cidades/943384/
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Poetrix de Portugal

ANTHERO MONTEIRO
(Anthero Manuel Dias Monteiro)
São Paio de Oleiros, 1946 – 2022

uma gaivota só
um til sobre a palavra
Imensidão
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Soneto de de Curitiba/PR

EMÍLIO DE MENESES
(Emílio Nunes Correia de Meneses)
Curitiba/PR, 1816– 1918, Rio de Janeiro/RJ

Supremo apelo

Por que causas, de ti, foge a antiga ventura
E toda, em ti, se embebe a alma, em fel e vinagre?
Certo, uma grande dor te fere e te tortura!
- Mas tão grande, que a grande alma assim te conflagre?

Tanto Sol! Tanta Luz! E esta treva perdura!
- De um espírito mau, diabólico milagre -
Mas olha! Volta à Luz! Volta ao Sol que fulgura
Nos Poemas que te eu dê, no Amor que te eu consagre!

Vem beber no meu verso a fortaleza e a vida!...
Vê tu quanto poder num hemistíquio impera,
E o vigor que há na rima - arma nunca excedida!. ..

Vem, que ao fim da jornada, a glória nos espera!
Vamos! - a galopar, - em fora! a toda a brida,
Na esplanada genial do sonho e da quimera!
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Trova Humorística de Santos/SP

ANTONIO COLAVITE FILHO

 Ao “bebum” que choraminga,
o doutor não mais engana:
-“Se, por lá, cana dá pinga;
por aqui, pinga dá cana!!!”
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Fábula em Versos da França

JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

O leão e o mosquito

«Vai-te, inseto mesquinho e vil na terra!»
Depois de assim ter dito
O leão ao mosquito,
Este lhe declarou cruenta guerra:
«Pensas tu que por seres rei dos bichos
Tua audácia tolero?
Mais força tem o boi e, quando quero,
Sujeito-o a meus caprichos!»
Diz, e toca a avançar;
Foi o herói e o trombeta na batalha.
Zumbe em torno ao leão, tanto o atrapalha,
Que o faz desesperar.
Ao longe põe-se um pouco;
Depois, salta-lhe em cima do cachaço
E torna-o quase louco.
A fera com o rugido atroa o espaço.
De ouvir o horrendo grito
Seus ecos prolongar atroadores,
Tremem os animais dos arredores;
Tudo obra dum mosquito!
O inseto pequenino, ousado e pronto,
Ora ao dorso lhe salta,
Ora as ventas lhe assalta.
A raiva no leão sobe de ponto:
Com a cauda açoita os flancos,
Com o olhar ameaça
E, rugindo duríssimos arrancos,
Com as garras a si se despedaça,
Até que, de fatigado,
Cai, fica estatelado!
O inseto do combate sai com glória
A mais alta e completa,
E na mesma trombeta
Em que a avançar tocou, cantou vitória.
Mas, proclamando ao mundo esta façanha
Não vista e desmedida,
Na teia duma aranha
Cai, fica embaraçado e perde a vida!

A fábula vos diz que os inimigos
Nunca deveis considerar somenos;
E que pode o que escapa a grandes perigos,
Não poder escapar aos mais pequenos.

(tradutor: José Inácio de Araújo)
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Colaborações: gralha1954@gmail.com

Aluísio de Azevedo (Uma lição)

Era uma saleta ao lado de uma sala de jantar; ao fundo um reposteiro corrido com ares burocráticos; ao centro uma banquinha de charão, conspurcada de cinza de charuto e nicotina diluída em saliva. É noite e a luz que vem de cima, transbordando de um globo de gás, iluminando o grupo de três velhotes, mais ou menos barrigudos, que conversavam em voz baixa e com voluptuoso interesse.

Um deles acabou de contar alguma coisa que ainda faz rir aos outros dois. E, tal é o riso, que os três amigos, segurando cada qual a competente barriga com ambas as mãos, deixam-se cair para as costas do sofá e arfam ao som uniforme da mesma gargalhada.

– Ora o Silveira …. Ora o nosso Silveira!… dizia um, aproveitando as curtas intermitências da hilaridade. Não sabia, desembargador, que você em rapaz fora tão levado! Ora o demo!

O desembargador, limpando as lágrimas do riso, ia talvez contar mais alguma das suas, quando o terceiro velhote segredou ao grupo:

– Homem, deixe lá falar! Todos nós pagamos o nosso dízimo ao diabo! Aqui onde me veem, pai de dois filhos homens, avô por aí naturalmente, e em vésperas de conselheiro do Estado; eu, acreditem, também tive as minhas rapaziadas…

Estas palavras acalmaram, como por feitiço, o riso dos outros dois, que se voltaram para quem as pronunciou, já dispostos a saborear a nova anedota.

– Uma ocasião, isto vai há coisa de uns trinta anos, – principiou o quase conselheiro - uma ocasião, recolhi-me para o meu quarto de estudante, um pouco apressado pelo mau tempo, quando dou com uma rapariga muito bem parecida, que vinha em sentido contrário e sem guarda-chuva.

Instintivamente parei defronte dela. O demônio da pequena tinha uns olhos!… Parei e logo em seguida retrocedi, acompanhando-lhe o passo.

Ela não deu resposta.

No fim de três minutos acrescentei:

– Por que não aceita o meu chapéu?… Não posso ver uma dama apanhar chuva deste modo!

– Obrigada. - volveu ela, sem me voltar o rosto.

E apressou o passo.

– Ingrata!

E apressei o passo também.

– Mau! – exclamou a perseguida, estacando em frente de mim e desferindo-me um olhar, tão sobranceiro, imponente e tão digno, que eu abaixei as pálpebras e pedi-lhe perdão com um gaguejo.

– Não tive intenção de a magoar… disse. Vossa excelência apanhava chuva e entendi que era do meu dever oferecer-lhe uma parte do meu chapéu.

– E se eu fosse para muito longe?…

– A verdadeira cortesia não olha distâncias!…

Ela, ao que parece, compreendeu a sinceridade das minhas palavras, porque interrogou logo, desfranzindo o rosto:

– Foi então por mera delicadeza que…?

– Juro-lhe que sim, minha senhora. Uma vez, porém, que vossa excelência se julga ofendida, peço-lhe mil perdões e sigo de novo o meu caminho…

Nisto, uma formidável rajada de vento passou por entre nós, e a chuva recrudesceu tempestuosamente.

– E, para provar que não minto, acrescentei, entregando-lhe o chapéu, tenha a bondade de levá-lo, e depois me restituirá…

– E o senhor?…

– Ali! Eu moro muito perto, naquele sobrado de alugar cômodos. Vossa excelência fará o obséquio de remetê-lo para o nº 5. Aqui o tem.

Ela consultou o tempo, mediu-me de alto a baixo e depois, tomando uma resolução, disse:

– Não! Dê-me o seu braço e acompanhe-me ao canto da rua. Talvez apareça um carro.

Mal, porém, avançamos alguns passos, por tal forma recresceu a chuva, que era quase impossível prosseguir.

E esta?… – resmungou ela, muito contrariada. – Esta só a mim sucede!… A maldita chuva aumenta, e nada de aparecer um carro!…

Ao chegarmos à esquina, tivemos de parar defronte da grande enxurrada que cortava a rua. Não era possível ir mais adiante. De carro, nem sinal! As casas fechavam-se todas, se bem que não passasse de nove horas da noite; os relâmpagos repetiam-se num bruxulear elétrico, os trovões abalavam os prédios e faziam tremer os vidros gotejantes dos lampiões. Já ninguém se animava a afrontar o tempo; os próprios cães escondiam-se pelos batentes das portas trancadas.

E o meu belo par, muito impaciente, mordia os beiços e marcava compassos, espaçando a lama debaixo dos pés, sem dar palavra.

Eu também não dava.

Entretanto, não podíamos ficar ali: a peste da chuva crescia… crescia…

Em breve teríamos água até ao meio da canela. De vez em quando passava um carro, mas ao longe, com as rodas a levantar água, como as de um vapor.

– E agora?… – perguntou-me a desconhecida, com raiva.

Eu sacudi os ombros.

Decorreu mais um instante.

– Se vossa excelência quisesse…

– Quê?

– É verdade que não tenho mais do que um pobre quarto de estudante, todavia…

– Entrar numa república?… Ora!…

– Perdão! Não é uma república, minha senhora. Moro naquele sobrado; casa muito séria, ocupo um quarto da frente, e…

– Que não pensariam seus companheiros?

– Moro só, vossa excelência não seria vista, nem desacatada por ninguém…

– Ainda assim seria estúrdio!…

– Em todo o caso, sempre me parece mais razoável do que ficar aqui, com este tempo!… A chuva não durará toda a noite… eu poderia arranjar um carro, e…

– Diga-me uma coisa: O senhor dá-me a sua palavra de honra em como será cavalheiro?

– Oh! Minha senhora!…

– Jura que se portará condignamente comigo?… Jura que não me faltará ao respeito?…

– Dou-lhe minha palavra de honra!

– Bem. Aceito o seu convite. Estou certa de que o senhor não quererá desmerecer da confiança que me inspirou! E vamos, vamos que já me sinto resfriar até aos ossos!

Dei-lhe de novo o braço e voltamos ambos por onde tínhamos andado.

Na ocasião em que eu acendia a vela que costumava ficar atrás da porta da rua, a senhora ainda insistia, cravando-me um olhar muito sério!…

– O senhor promete então quê …

– Pode entrar descansada, minha senhora!

E as nossas duas sombras estenderam-se juntas pelo fundo esvazamento de corredor.

Chegamos ao primeiro andar, abri meu quarto, dei luz ao gás, ofereci uma cadeira à bela hóspede e fui buscar a um canto uma garrafa.

– Acho que vossa excelência fará bem em tomar uma gota de conhaque… – propus, enchendo dois cálices. – Está frio e talvez vossa excelência sinta os pés molhados.

– Não, os pés estão enxutos, trago galochas. Mas aceito.

Bebido o conhaque, a senhora começou a correr com os olhos uma silenciosa revista no aposento. Em seguida ergueu-se e foi, um pouco apavorada, contemplar de perto o meu esqueleto de estudo, que jazia pendurado ao fundo do quarto; depois encaminhou-se para a minha pequena mesa de trabalho, abriu os compêndios que aí estavam, fez uma careta de indignação à vista das gravuras de um tratado de fisiologia, que lhe caiu às unhas; e ficou muito espantada encontrando sobre o criado-mudo um revólver e um carregamento de balas inglesas.

– Isto então é o que se chama uma república?… – perguntou afinal, abrangendo com um gesto o que seus olhos lobrigavam.

E depois da minha resposta:

– Mora inteiramente só?!

– Inteiramente.

– E tem família?

– Em Minas.

– Ah! É da província. Está há muito tempo na corte?

– Há cinco meses.

– Apenas?…

E aproximou-se de mim.

– É exato. – disse eu - Ainda não conheço bem isto por aqui…

– Tem gostado?

– Nada posso dizer por enquanto. Minha vida tem sido tão pouco divertida… Saio de casa para as aulas, das aulas para o restaurante e do restaurante para casa. Ainda não tenho amigos…

– Deve então sentir muita saudade da família…

– Pudera! Vivi sempre em companhia dela, e agora, de um momento para outro, ficar assim tão só.. tão…

– Por que não mora com outros estudantes?

– Ainda não descobri um bom companheiro… Além disso, sou mesmo um pouco esquisito de gênio. Prefiro estar só.

– Ah! Mas há de ter algumas relações…

– Muito poucas, e essas poucas em consideração a meu pai.

– E por que não frequenta os teatros?

– Vou de vez em quando. Não posso perder noites seguidas: quero ver se faço dois anos em um só.

– Ah! é estudioso!…

– Não sou dos mais vadios…

– Bom será que continue assim. Esta cidade é muito perigosa para os rapazes…

– Ora! não é tanto como se diz… Eu, pelo menos, confesso que supunha outra coisa!… Sempre imaginei gozar no Rio de Janeiro uma vida mais divertida…

– Em que sentido?

– Em todos. A respeito de amores, por exemplo, sou de um caiporismo!…

– Creio que levantou o tempo!… – observou a senhora, afastando-se de mim escrupulosamente e lançando o olhar para a janela.

Eu supliquei perdão com um gesto de ternura e humildade.

– Tenha a bondade de ver se levantou o tempo. - exigiu ela batendo com o pé.

– Chove a cântaros! Ah! mas pode ficar tranquila, que eu sei respeitar a quem o merece.

Ela deixou-se cair numa cadeira, soltando um suspiro de resignação.

– Vossa excelência toma uma xícara de café?… - perguntei, indo buscar a máquina e a garrafa de espírito de vinho.

– Não se incomode por minha causa.

– Costumo fazer café todas as noites.

– Nesse caso…

– Tenho também requeijão e doce. Se vossa excelência quisesse… O que nos falta aqui é pão!

Ela sorriu à simplicidade destas palavras.

– E estou quase aceitando… – respondeu já de bom humor, e vindo assentar-se perto da mesa, depois de tirar o chapéu e o mantolete.

– Bem. Vou num instante arranjar o que falta!…

– Com este tempo? Não! não consinto!

– É um momento! Não me molho! Há uma confeitaria na esquina! Ora! quantas vezes não tenho feito o mesmo com tempo ainda pior!…

Ela tornou a sorrir.

– Quer ver?… – perguntei, lançando sobre a cabeça uma grande capa de borracha, sacando as botinas e as meias e enrodilhando as calças nos joelhos. – De um pulo estou lá e de outro cá!

Ela soltou uma risada.

Voltei daí a meia hora, não com os pães simplesmente, mas também com uma empada de camarões, uma galinha assada, alguns pastéis de Santa Clara, duas garrafas de Borgonha e outra de moscatel de Setúbal.

– Que é isto, Nossa Senhora! – exclamou a moça, largando o livro, que ficara a ler durante a minha ausência.

– Pareceu-me melhor cearmos juntos… Eu estou com tanto apetite!

– Que extravagância! Por isso é que vocês estudantes andam sempre atrapalhados no fim do mês!… Se esbanjam a mesada logo nos primeiros dias!…

– Mas eu faço nisto tanto gosto… Espero que vossa excelência aceitará uma asa desta galinha, que me parece deliciosa. Vamos! Arranja-se a mesa aqui mesmo.

– E eu posso ajudá-lo. - declarou a senhora, afastando os meus livros e os meus papéis para um canto do quarto.

– Tenha a bondade de não segurar o tinteiro desse modo. Está quebrado…

– Estes estudantes! Ainda chove muito lá fora?

– Chih! Horrorosamente! Um dilúvio!

– E eu aqui!…

– Não terá motivos para arrepender-se, verá! Bom! Agora, faz favor? Dê-me aqueles embrulhos que eu trouxe.

– Pronto!

– Obrigado.

– Três garrafas! -… Para que tanto vinho?

– Fica aí, se sobrar.

– Vocês!

– Muito bem! O diabo é que só temos um talher… Ah! posso arranjar-me com esta espátula e este canivete. Felizmente há dois pratos e não faltam copos. Principiemos!

– Isto contado não se acredita!

– Não sei onde esteja o mal!… Creio que não praticamos até agora nenhuma ação feia…

– Não digo que haja mal, nem que praticássemos ações feias, mas parece-me extraordinário, imprevisto pelo menos, achar-me neste momento ceando ao lado de um rapaz, que eu há duas horas não conhecia…

– Rapaz que procura merecer essa honra, esforçando-se para cumprir com os seus deveres de cavalheiro…

– O senhor como se chama?

– João Carlos do Souto. E a senhora?

– Não lhe posso dizer. Compreenderá que…

– Está claro, e não insisto.

– Espero mesmo que se algum dia nos encontrarmos noutro lugar, o senhor guardará toda a discrição sobre estas casualidades de hoje…

– Oh! Certamente, minha senhora!

– Sim, porque afinal de contas não me pesa na consciência o que sucedeu… Se não fosse esta maldita chuva!…

– Diga antes: esta chuva abençoada!…

– Mal! Não vá por esse caminho, que vai mal! Nada de galanteios!…

– Já aqui não está quem falou!

E calamo-nos os dois por um instante, a mastigar em silêncio, enquanto lá fora o vendaval esfuziava contra as janelas.

– Vossa excelência bebe tão pouco… não gosta de Borgonha?

– Gosto, e este me parece bem bom, mas não convém abusar. O senhor já tomou quase uma garrafa!… Cuidado!

– Ora, este vinho é inocente!

– Fie-se nisso!

– Quer mais um pouco?

– Vá lá!

– Além de que a chuva não parece disposta a parar tão cedo… Ainda sente muito frio?

– Já vai passando.

– Está aborrecida?

– Não. E a graça é que me chegou o apetite… Quer saber? Vou repetir a empada!

– É tão bom comer em companhia, não é verdade? E agora, são bem poucas as vezes em que eu não como sozinho!… Isto para quem estava acostumado com família!… Por meu gosto, casava-me…

– Já tem noiva?

– Qual!

– Podia ter deixado alguma na província…

– Ninguém me quer…

– É porque ainda é cedo; quando chegar a ocasião…

– Estarei velho…

– Velho? Tem graça. Que idade é a sua?

– Vossa excelência não acredita. Dezoito anos.

– Só?

– Mostro ter mais, não é?

– Parece ter vinte e tantos. Mas está criança; eu sim é que me posso chamar velha…

– Tem vinte, aposto!

– Acrescente mais cinco.

– Vinte e cinco… Ninguém dirá.

– E então que idade represento?

– Aí dezoito, quando muito…

– Lisonjeiro…

– Afianço-lhe que não sou…

E, com o pretexto de servir-lhe o doce, fui aproximando a minha cadeira da sua.

– Quê… Pois o senhor ainda vai abrir essa terceira garrafa?…

– Não nos havemos de servir de Borgonha para o doce…

– Não lhe faça mal!…

– Qual! Sou de cabeça muito forte!

– Então, à sua saúde!

– Obrigado. Toque!

– Sim; mas não precisa chegar-se tanto ….

– Eu não me estou chegando…

– Deixe-se disso! Lembre-se do que me prometeu!…

– Tem razão. Desculpe, e bebamos à saúde do feliz mortal que possui o seu coração…

– Não sei quem seja, mas acompanhado. Passe-me aquele queijo.

Em vez do queijo, o que lhe passei foi o braço em volta dos quadris, chamando-lhe a cabeça para junto dos meus lábios.

– Mau, mau, mau! – exclamou ela, defendendo-se– . O senhor parece que bebeu demais! Já não estou achando muita graça!

– Não são os vinhos que me embriagam… A senhora bem o vê.

– Não quero ver coisa alguma…

– Então, bem o sente…

– Não sinto nada!

– Adivinhe então, minha senhora, adivinhe o que não tenho ânimo de dizer, meu anjo!

– Ora bolas! Isso já passa de desaforo! solte-me! Se eu desconfiasse disto, não tinha entrado!

– Que queres?… A gente nem sempre se governa em certas ocasiões! És tão bela! Tão bela! Eu te amo! Sim! eu já te amo, minha flor!

E, como acompanhasse estas palavras com uma gesticulação em extremo correlativa, ela ergueu-se de improviso e fez menção de sair.

Alcancei-a já na porta do quarto e caí aos seus pés, envolvendo-a nos braços.

– Perdoa, perdoa, minha santa! – exclamara, a cobrir-lhe de beijos as duas mãozinhas, que nessa ocasião me pareciam mais bonitas, sem luvas.

– Perdoa! Sou um bruto, sou um grosseiro, mas…

– Quero sair! Já! Não fico aqui nem mais um instante! Deixe-me! Deixe-me!

– Pois sim, mas hás de sair depois de haver perdoado! Juro que estou arrependido do que fiz!

– Não sei! Deixe-me!

– Oh! Ainda chove tanto! Espere ao menos que chegue o carro que mandei buscar pelo caixeiro da confeitaria.

– Um carro?…

– Sim, e não deve tardar. É mais um segundo! Um segundo apenas!

– Mas se o senhor está com tolices!.

– Prometo não fazer nada!

– Jura!

– Juro!

– Ora, vamos a ver!

Acabamos de tomar café, quando a carruagem parou à porta.

– Ei-la aí! – disse a tirana pondo-se de pé.

– Ainda chove… – observei eu timidamente.

– Não faz mal!…

– Ao menos não se vá, fazendo de mim um juízo desfavorável, creia que…

– Não. Adeus. Não vou fazendo juízo algum! Adeus, obrigada!

– Jura que não está ressentida?…

– Pode ficar descansado. Adeus.

– Acredite que…

– Adeus!

– Não. Diga primeiro se ainda está contrariada! Com franqueza!

– Com franqueza – estou!

– Não me perdoa?…

– Não. Boa noite!

Acompanhei-a ao corredor e, já na porta da rua, ainda lhe pedi perdão.

***

Dois dias depois, entrando num hotel, habitado só por mulheres, fugiu-me da garganta um grito de pasmo:

– Que vejo?!... Pois é a senhora?! A senhora aqui?!

Ela soltou uma gargalhada e apontou-me com o dedo a três companheiras que lá se achavam.

– É o tal!…

– Ora esta!… – resmunguei. – Para que então me iludiu daquele modo?

– Iludi! Ó filho, eu estava no meu papel, fazendo o que fiz; tu é que não estavas no teu acreditando! Quem te mandou ser tolo?…

– É boa! – disse um dos velhotes. – É muito boa!

E as três barrigas tornaram-se a agitar nas convulsões do riso.

Fonte: Aluísio de Azevedo. Demônios. Publicado originalmente em 1893. Disponível em Domínio Público.