segunda-feira, 1 de julho de 2024

Vereda da Poesia = 50 =


Trova Humorística de São Paulo/SP

THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

Diz, já caduco: - Que tédio!...
E a esposa, sempre calminha:
“- Quer jogar dama?” E, do prédio,
ele jogou a velhinha!
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Soneto Do Rio de Janeiro/RJ

MANUEL BANDEIRA
(Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho)
Recife/PE, 1886 – 1968, Rio de Janeiro/RJ

Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento , de desencanto
Fecha meu livro se por agora
Não tens motivo algum de pranto

Meu verso é sangue , volúpia ardente
Tristeza esparsa , remorso vão
Dói-me nas veias amargo e quente
Cai gota à gota do coração.

E nesses versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre
Deixando um acre sabor na boca

Eu faço versos como quem morre.
Qualquer forma de amor vale a pena!!
Qualquer forma de amor vale amar!
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Aldravia de Ponte Nova/MG

MARIZA DE CASTRO GODOY

água
parada
aedes
faz
a
festa
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ

SÔNIA SOBREIRA

A Semente

Não vou plantar semente que me afaste
da luz perene e clara do luar,
nem vou deixar que a mágoa me desgaste,
ou que me faça em pedras tropeçar.

Não vou deixar que a solidão me arraste
nas tramas de uma história secular,
nem que uma dor no coração se engaste
e esta semente venha a germinar.

Eu vou plantar sementes de alegria
flores vermelhas, rimas de poesia
colher nas mãos um sonho que brotou.

Vou ser poeta e em minha estrada infinda,
mostrar que posso ser feliz ainda
e nunca mais serei o que hoje sou!
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Trova Premiada  em Cantagalo/RJ, 2012

ÉLBEA PRISCILA DE SOUZA E SILVA
Piquete/SP, 1942 – 2023, Caçapava/SP

A maquiagem pesada, 
diante do espelho, desfaço
e em minha cara lavada
rugas brigam por espaço…
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Poema de Curitiba/PR

CELITO MEDEIROS
(Celito Freitas de Medeiros)

Eu juro

Que importam os riscos que vou correr
Afinal sabemos que não vamos morrer
Mas é melhor riscos se poder arriscar
Do que riscar a morte sem poder amar.

Se de risadas é parecer um tolo
Se chorar parecer sentimental
Estendo minha mão e me envolvo
Vou mostrar que sou muito real.

Minhas ideias defendo sempre
Pois eu sei que atrás vem gente
Mesmo incompreendido vou amar
Ainda é tempo de também inovar.

Morrer um corpo não é mistério
Viver como espírito é o importante
Um corpo pode ir para o cemitério
Um espírito é o meu comprovante.

Se arriscar pode gerar um fracasso
Não me importo sou mesmo de aço
Estou aqui é para as experiências
Buscar as mais novas tendências.

Busquei a liberdade e já era tempo
Tudo do passado fazer na soma
Opressão que não mais aguento
Meu determinismo que assoma.

Importante é lutar, vencer nem tanto,
Encontrei há tempo meu porto seguro
Juntos seremos cobertos pelo manto
Daqueles que nos esperam..., eu juro!
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Quadra Popular

Sete e sete são quatorze,
com mais sete vinte e um;
ainda ontem eu tinha sete,
hoje não tenho nenhum.
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Soneto do Rio de Janeiro

OLAVO BILAC
(Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac)
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918

Língua Portuguesa

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o tom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho"!
E em que Camões chorou, exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
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Trova de Corumbá/MT

LÍCIO GOMES DE SOUZA

Na História o fato maior
está por vir, aliás:
- Vir num mundo melhor,
em pacto eterno de paz.
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Poema de Belo Horizonte/MG

CLEVANE PESSOA

Arrependimento

Mais que amei, amei errado
ou amei sem saber de limites
e de impossibilidades...

Amei com a fúria dos ventos
e a ternura das brisas
nos rostos das flores:
esta, insuficiente  para a sanha dos desejos,
aquela rasgou pétalas e sépalas
e abriu cálices...

Queria ter amado menos que o demais
E muito mais que o possibilitado...
Queria que os excessos de busca,
Perfumassem, de repente,
Todos os ares da angústia incandescente...
Nas grutas do desconhecido,
As estalagmites ,
Tão fantásticas ao primeiro olhar,
São de tal forma frágeis
Que se tornam poeira e barro
Para não mais voltar...
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Haicai do Rio de Janeiro/RJ

MARIA NASCIMENTO SANTOS CARVALHO

Do capim rasteiro
vêm uns cri-cris estridentes...
Seresta de grilos ...
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Limerique de Ribeirão Preto/SP

NILTON MANOEL
1945 – 2024

Limeriques Urbanos I

Dizem que a calçada é do povo...
Quero ver crianças de novo
Brincando... brincando,
Vivendo...sonhando...
porém o povo só leva ovo!
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Trova de Pindamonhangaba/SP

JOSÉ VALDEZ DE CASTRO MOURA

As afrontas do passado
não guardo! Vou esquecê-las!
Pois bem sei que um céu nublado
não me deixa ver estrelas!
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Glosa de Fortaleza/CE

NEMÉSIO PRATA

MOTE 
Doce flor que desabrocha, 
perfumando seu cantinho 
envolvendo toda rocha 
com doçura e com carinho. 
José Feldman 
(Campo Mourão/PR) 

GLOSA 
Doce flor que desabrocha, 
exalando os seus olores 
deixa a todos feito tocha 
em busca de seus favores! 

Discreta, a flor permanece 
perfumando seu cantinho 
mas logo que um aparece, 
desaparece em seu ninho! 

Aquele que vem em tocha 
pressente, a distância, o olor, 
envolvendo toda rocha, 
que exala, doce, da flor! 

E todo que busca o amor 
da flor, não fica sozinho; 
recebe-o, em seu ninho, a flor, 
com doçura e com carinho.
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Aldravia do Rio de Janeiro/RJ

ARLENI BATISTA

sinto
simplesmente
saudades
você
ausente
presente...
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Soneto de Minas Gerais

NATHAN DE CASTRO
(Nathan de Castro Ferreira Júnior)
João Pinheiro/MG, 1954 – 2014, Uberlândia/MG

        Soneto em Luta de Esgrima

        Conta até seis e bate o pé no chão,
        quando chegar a dez, prepara a rima...
        O primeiro quarteto está na mão
        e a mágica do sonho se aproxima.

        Deixa que flua a conta da emoção,
        sem ela o peito esfria e desanima...
        O segundo combate é o da paixão
        e imprescindível à luta de esgrima.

        O sabre exige pulso e coordenados
        movimentos perfeitos nos espaços...
        Um toque na cabeça, tronco ou braços,

        pode levar-te à lona dos tablados...
        Mas se vencer, amigo, comemora,
        e te prepara: a morte está lá fora!
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Trova Premiada em Nova Friburgo/RJ, 1987

EDMAR JAPIASSÚ MAIA 
(Miguel Couto/RJ)

Olhando a sogra de pé,
com o rosto sujo de tinta,
viu que o “diabo” ainda é
mais feio quando se pinta!… 
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Poema de Amherst/ Massachussets/ EUA

EMILY DICKINSON
(Emily Elizabeth Dickinson)
(1830 – 1886)

Morri pela Beleza

Morri pela beleza – mas mal me tinha
Acomodado à campa
Quando alguém que morreu pela verdade,
Da casa do lado –

Perguntou baixinho “Por que morreste?”
“Pela beleza”, respondi –
“E eu – pela verdade – Ambas são iguais –
E nós também, somos irmãos”, disse ele.

E assim, como parentes próximos, uma noite
Falámos de uma casa para outra
Até que o musgo nos chegou aos lábios 
E cobriu – os nossos nomes.

(Tradução de Nuno Júdice)
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Triverso de Curitiba/PR

ÁLVARO POSSELT

O clima ficou tenso
Meu pensamento defumou
depois da queima de incenso
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Setilha de Natal/RN

JOSÉ LUCAS DE BARROS
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN

Somos do país do amor,
grande como um continente,
rico que só marajá,
pobre que só indigente;
tem corrupção como regra,
mas tem carnaval que alegra,
de ano em ano, nossa gente.
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Trova do Rio de Janeiro/RJ

ARCHIMINO LAPAGESSE
Florianópolis/SC, 1897 – 1966, Rio de Janeiro/RJ

Saudade, a ponte encantada             
entre o passado e o presente,              
por onde a vida passada
volta a passar novamente
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Hino de Paranavaí/PR

Compositores: Geraldo Marques e Carlos Cagnani

Quando te vemos hoje, assim radiosa,
Teus filhos agitados no labor,
Lembramos da empreitada gloriosa,
Que calejou as mãos do lavrador
E fez romper da terra generosa
Os ricos frutos do progresso e amor!

Estribilho:
Nasceste sob o signo da vitória
Que os filhos teus souberam conquistar
És a um só tempo a evolução e a glória
Cidade que não pode mais parar!

Ó Paranavaí dos cafezais
Simétricos, em flor sobre a paisagem,
De belos e de extensos matagais,
Planícies verdejantes de pastagem...
Da glória tu chegaste até os umbrais!

Estribilho
Nasceste sob o signo da vitória
Que os filhos teus souberam conquistar
És a um só tempo a evolução e a glória
Cidade que não pode mais parar!

Salve teus filhos, que na faina ardente
Sobre teu solo ainda hostil e agreste
Traçaram teu destino florescente!
Salve, ó cidade que te engrandeceste
Ó bela Capital do Noroeste!

Estribilho
Nasceste sob o signo da vitória
Que os filhos teus souberam conquistar
És a um só tempo a evolução e a glória
Cidade que não pode mais parar!
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O 'Hino de Paranavaí - PR' é uma celebração poética da cidade de Paranavaí, localizada no noroeste do Paraná. A letra exalta o progresso e a evolução da cidade, destacando o esforço e a dedicação de seus habitantes. Desde o início, a música remete à imagem de uma cidade radiante, onde o trabalho árduo dos lavradores transformou a terra generosa em frutos de progresso e amor. Essa metáfora da terra fértil simboliza não apenas a riqueza agrícola da região, mas também o crescimento e desenvolvimento contínuo da cidade.

O estribilho reforça a ideia de vitória e evolução, afirmando que Paranavaí nasceu sob o signo da vitória, conquistada pelos seus filhos. A cidade é descrita como um símbolo de evolução e glória, um lugar que não pode mais parar de crescer. Essa mensagem de constante progresso e superação é um tributo ao espírito resiliente e trabalhador dos habitantes de Paranavaí, que, através de suas conquistas, moldaram o destino da cidade.

A letra também faz referência às paisagens naturais de Paranavaí, como os cafezais simétricos, os matagais extensos e as planícies verdejantes. Essas imagens evocam a beleza e a riqueza natural da região, que contribuíram para o seu desenvolvimento. O hino termina com uma saudação aos filhos da cidade, que, com seu trabalho árduo, traçaram um destino florescente para Paranavaí. A cidade é celebrada como a 'Capital do Noroeste', um título que reflete seu crescimento e importância na região. (https://www.letras.mus.br/hinos-de-cidades/943384/
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Poetrix de Portugal

ANTHERO MONTEIRO
(Anthero Manuel Dias Monteiro)
São Paio de Oleiros, 1946 – 2022

uma gaivota só
um til sobre a palavra
Imensidão
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Soneto de de Curitiba/PR

EMÍLIO DE MENESES
(Emílio Nunes Correia de Meneses)
Curitiba/PR, 1816– 1918, Rio de Janeiro/RJ

Supremo apelo

Por que causas, de ti, foge a antiga ventura
E toda, em ti, se embebe a alma, em fel e vinagre?
Certo, uma grande dor te fere e te tortura!
- Mas tão grande, que a grande alma assim te conflagre?

Tanto Sol! Tanta Luz! E esta treva perdura!
- De um espírito mau, diabólico milagre -
Mas olha! Volta à Luz! Volta ao Sol que fulgura
Nos Poemas que te eu dê, no Amor que te eu consagre!

Vem beber no meu verso a fortaleza e a vida!...
Vê tu quanto poder num hemistíquio impera,
E o vigor que há na rima - arma nunca excedida!. ..

Vem, que ao fim da jornada, a glória nos espera!
Vamos! - a galopar, - em fora! a toda a brida,
Na esplanada genial do sonho e da quimera!
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Trova Humorística de Santos/SP

ANTONIO COLAVITE FILHO

 Ao “bebum” que choraminga,
o doutor não mais engana:
-“Se, por lá, cana dá pinga;
por aqui, pinga dá cana!!!”
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Fábula em Versos da França

JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

O leão e o mosquito

«Vai-te, inseto mesquinho e vil na terra!»
Depois de assim ter dito
O leão ao mosquito,
Este lhe declarou cruenta guerra:
«Pensas tu que por seres rei dos bichos
Tua audácia tolero?
Mais força tem o boi e, quando quero,
Sujeito-o a meus caprichos!»
Diz, e toca a avançar;
Foi o herói e o trombeta na batalha.
Zumbe em torno ao leão, tanto o atrapalha,
Que o faz desesperar.
Ao longe põe-se um pouco;
Depois, salta-lhe em cima do cachaço
E torna-o quase louco.
A fera com o rugido atroa o espaço.
De ouvir o horrendo grito
Seus ecos prolongar atroadores,
Tremem os animais dos arredores;
Tudo obra dum mosquito!
O inseto pequenino, ousado e pronto,
Ora ao dorso lhe salta,
Ora as ventas lhe assalta.
A raiva no leão sobe de ponto:
Com a cauda açoita os flancos,
Com o olhar ameaça
E, rugindo duríssimos arrancos,
Com as garras a si se despedaça,
Até que, de fatigado,
Cai, fica estatelado!
O inseto do combate sai com glória
A mais alta e completa,
E na mesma trombeta
Em que a avançar tocou, cantou vitória.
Mas, proclamando ao mundo esta façanha
Não vista e desmedida,
Na teia duma aranha
Cai, fica embaraçado e perde a vida!

A fábula vos diz que os inimigos
Nunca deveis considerar somenos;
E que pode o que escapa a grandes perigos,
Não poder escapar aos mais pequenos.

(tradutor: José Inácio de Araújo)
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Colaborações: gralha1954@gmail.com

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