sexta-feira, 26 de julho de 2024

Vereda da Poesia = 67 =


Trova Humorística de Taubaté/SP

ARGEMIRA F. MARCONDES

Levando um coice da mula,
minha sogra se mandou;
a mulinha nem calcula
o galho que me quebrou.
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Poema de Brusque/SC

MARIA LUIZA WALENDOWSKY

Tristeza

Tristeza d´alma
vá para longe...
não fiques me sufocando
com esta angústia,
dor no peito
sem fim.
- De onde vens?
São tantos os motivos...
mas por que insistes em ficar?
Deixe-me ser livre... solta!
Voar bem alto
e, no infinito,
mergulhar em meu íntimo,
a sorrir com orgulho,
de uma vida prestes
a desabrochar...
tímida e imprevista.
- Por favor,
não insistas mais
em ficar.
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Aldravia de Ipatinga/MG

MARÍLIA SIQUEIRA LACERDA
retratos
pela
casa
digerir
saudades
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Soneto de Jaboatão dos Guararapes/PE

PAULINO DE ANDRADE
(1886 – ????)

Olinda

No alto, a paisagem verde-escura e acidentada.
Em baixo, o ouro da praia e a saudade do mar...
Sugere lendas... reis magos... terra encantada...
Fidalgas castelãs... troveiros a cantar...

É bem de vê-la sob a tragédia sagrada
Do crepúsculo: é grande, heroica, singular!
Eu, quando a vejo assim, tenho a alma amplificada
E uma dilatação de beleza no olhar.

E se, pela alterosa e lendária Palmira
Longa e empolgada, a vista amplamente se estira,
Lembro o Nebo sob a ânsia imortal de Moisés!...

E um ninho azul coroa a epopeica Cidade...
Rumina o coqueiral uma velha saudade,
E a saudade do Mar rumoreja-lhe aos pés...
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Trova Premiada em Maringá

WANDIRA FAGUNDES QUEIROZ
Curitiba/PR

Enfeitando de poesia
suas canções de ninar,
enquanto o filho dormia
mamãe podia sonhar.

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Poema de Belo Horizonte/MG

CARLOS LÚCIO GONTIJO

Peão de Letras

Palavras são novilhos
Novelos de rios e lã
Cavalos bravios, puro-sangue
Na escuridão esperando manhã
Mangue de fala nascente
Veneno de língua poente
Pauta sonhando som
Feno bom para a mente animal
Que não sabe ser silente
Nesta campina sou cavaleiro
Poeta visionário social
Guerreiro, desbravo o dicionário
Matagal de mel em favos
Onde enlaço palavras com laço de céu
Feito abraço, prisão que afaga
Esta é minha saga, minha sina
Que se algum dia termina
Quero meu corpo ao lado da mãe
E o conforto da inscrição final:
"Meu irmão, aqui jaz um peão de letras”
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Trova Popular

Amor com amor se paga:
nunca vi coisa tão justa;        
paga-me contigo mesmo           
saberás quanto te custa.
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Soneto de Curitiba/PR

VANDA FAGUNDES QUEIROZ

Antes de fechar a porta

Recordo, muita vez, sentada à porta
de mim mesma, o tão nosso antigamente!
O que espreito, bem sei, não mais importa
que a mim só que de novo estou presente.

É a mão da saudade que transporta
o que sou ao que fomos. De repente,
tanta coisa, com rótulo de morta,
vive em mim nova vida, inteiramente...

Julgas mera tolice a devoção
de minha ardente peregrinação
ao passado. E me acordas à verdade.

Volvo ao deserto de viver, então.
Mas, antes de esconder o coração,
guardo já dentro mais uma saudade.
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Trova de Juiz de Fora/MG

ARLINDO TADEU VAGEN

Eu vi, ao nascer do dia,
a rosa despetalada
e o assassino que fugia:
o vento da madrugada!
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Poema de Fortaleza/CE

NEMÉSIO PRATA

Poema de vida... sem vida! 

A Rosa, cheia de vida, 
de viço e beleza, tida, 
das flores, a preferida 
de todos, foi bem nascida, 
agora, vive esquecida 
em uma jarra partida 
sem viço, beleza e vida!
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Trova Humorística de São Paulo/SP

THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

"Com Deus, vou subir a serra
sem perigo... eu tenho fé!"
Na curva, o bebum se ferra...
Deus subiu... mas foi a pé!
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Soneto de de Dublin/Irlanda

OSCAR WILDE
(Oscar Fingal O'Flahertie Wills Wilde)
Dublin/Irlanda (1854 – 1900) Paris/França

Soneto à Liberdade

Não que eu ame teus filhos cujo olhar obtuso
Somente vê a própria e repugnante dor,
Cuja mente não sabe, ou quer saber, de nada
É que, com seu rugir, tuas Democracias,

Teus reinos de Terror e grandes Anarquias
Refletem meus afãs extremos como o mar,
Dando-me Liberdade! -à cólera uma irmã.
Minha alma circunspecta gosta de teus gritos

Confusos só por causa disso: do contrário,
Reis com sangrento açoite ou seus canhões traiçoeiros
Roubavam às nações seus sagrados direitos,

Deixando-me impassível e ainda, ainda assim,
Esses Cristos que morrem sobre as barricadas,
Deus sabe que os apoio ao menos parcialmente. 
(tradução de Nelson Ascher)
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Trova Potiguar

ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/RN (1951 - 2013) Natal/RN

Muda-se a cor preferida,
troca-se a corda do sino,
muda-se tudo na vida…
Mas não se muda o destino.
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Glosa do Rio de Janeiro/RJ

REGINA COELI

MOTE: 
Nessas rosas em que espelhas
teus delicados primores,
meu amor, tu te assemelhas
a uma flor me dando flores! 
Humberto-Poeta 
(São Paulo/SP)

GLOSA:
Nessas rosas em que espelhas
teu perfume e tua cor,
há um exército de abelhas
tornando em mel teu amor.

Sinto em tão doce fragrância
teus delicados primores,
pinçados com elegância
das rosas em belas cores.

Se o telhado tem nas telhas
instrumento pra abrigar,
meu amor, tu te assemelhas
à pérgula a perfumar.

Teu doce encanto me enleva
a jardins encantadores;
comparo-te — luz na treva —
a uma flor me dando flores! 
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Trova de Bragança Paulista/SP

MARINA GOMES VALENTE

Contemplar o mar infindo,
entender sua poesia,
ver o sol se despedindo
é sentir paz e alegria.
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Soneto de Manaus/AM

ANIBAL BEÇA
(1946 – 2009)

Mala com alça

É da lama essa mala que retiro
para subir a encosta (como a pedra
que Sísifo ainda empurra todo dia)
numa viagem cheia de sequelas.

Não há como negar tantos espinhos
na travessia turva de mistérios
que vão-se descobrindo nos caminhos:
a mão negada, a fome, o vitupério,

o rito solidário que esquecemos
em troca a vaidade transitória.
Somos do barro e ao barro voltaremos.

A verdade do Homem e de sua Hora
vem com mala e alça, disto sabemos,
mais o peso do corpo e sua história.
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Trova Premiada em Sete Lagoas/MG , 2000

MARINA BRUNA 
Franca/SP, 1935 – 2013, São Paulo/SP

Em cada dia eu renasço
- apesar de envelhecer –
descobrindo, passo a passo,
a alegria de viver!
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Poema de Três Corações/MG

MEIMEI CORREA

Brincando com versos

Um verso
Disperso
Na calada da noite
Pensou ser esperto
E passou de mansinho
Caminhou no meu leito
Bateu forte no peito.

Invisível aos olhos
Sorriu para o coração
Que na distração
Do sonho acordado
Dormiu nessas linhas
Que fingem ser minhas.

Um poema sem métrica
Sem réplica se fez
Escorreu pela alma
Em forma de tintas
Colorindo a madrugada
Que foi enganada
Pelo sono que não veio
Estando em recreio
Com os pingos da chuva
Que uma nuvem esqueceu
No telhado da imaginação!
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Triverso de Curitiba/PR

ÁLVARO POSSELT

Curitiba não nos poupa.
Ontem eu tomei sorvete,
Hoje eu tomo sopa.
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Setilha de Natal/RN

JOSÉ LUCAS DE BARROS
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN

O Pai não deixou talentos
iguais para os filhos seus.
Os seres não são iguais
na família dos pigmeus
nem também na dos gigantes,
e, se somos semelhantes,
já damos graças a Deus.
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Trova de Caicó/RN

PROFESSOR GARCIA

O sol, a brisa e esta rede,
no entardecer, que esplendor!
E o mar morrendo de sede,
mata-me a sede de amor!
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Hino de Cabo Frio/RJ

Cabo Frio, minha terra amada,
Tu és dotada de belezas mil,
Escondida vives num recanto,
Sob o manto deste meu Brasil...

Noites Claras teu luar famoso,
Este luar que viu meus ancestrais...
O teu povo se orgulha tanto,
E de ti, não esquecerá jamais...

Tuas praias, Teu Forte,
Olho ao longe e vejo o mar bravio
A esquerda um pescador afoito,
Na lagoa que parece um rio...

O teu sol, que beleza!
No teu céu estrelas brilham mais...
Forasteiro, não há forasteiro,
Pois nesta terra todos são iguais…
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O Canto de Orgulho e Beleza de Cabo Frio
O 'Hino de Cabo Frio - RJ' é uma ode à cidade localizada no estado do Rio de Janeiro, exaltando suas características naturais e a sensação de pertencimento que ela proporciona aos seus habitantes e visitantes. A letra começa com uma declaração de amor à terra, destacando as belezas naturais que a cidade possui, como se estivesse escondida, mas ainda assim sob a proteção do Brasil.

A referência ao 'luar famoso' e aos ancestrais do narrador evoca um sentimento de continuidade histórica e de conexão profunda com o lugar. O orgulho do povo de Cabo Frio é ressaltado, indicando que a memória e a valorização da cidade são passadas de geração em geração. As praias e o Forte são mencionados como marcos geográficos, enquanto a visão de um pescador e a lagoa que se assemelha a um rio pintam um quadro da vida cotidiana e da relação harmoniosa com o meio ambiente.

Por fim, a canção destaca a igualdade entre as pessoas que se encontram em Cabo Frio, sejam elas moradores ou visitantes, sugerindo uma atmosfera acolhedora e inclusiva. A beleza do sol e o brilho das estrelas no céu são metáforas para a vivacidade e a energia positiva que a cidade emana, reforçando a ideia de que Cabo Frio é um lugar especial tanto para quem vive quanto para quem a visita. https://www.letras.mus.br/hinos-de-cidades/467125/ 
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Poetrix de Palmeira das Missões/RS

CARLOS VILARINHO

um verbo

Entre nós um verbo
Que não cresce
Nem aparece…
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Soneto de Sorocaba/SP

DOROTHY JANSSON MORETTI
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Um olhar sobre Sorocaba

Em pleno ciclo de tantas tropeadas,
quer de mulas, ou quer também de bois,
Sorocaba levanta as mãos armadas...
Mil oitocentos e quarenta e dois. 

Passa o século. A poeira das estradas              
vai-se apagando e vão florir, depois,              
as lindas laranjeiras carregadas...              
Mil novecentos e quarenta e dois. 

Os ciclos vão-se de outros distanciando...
Do bandeirante ao têxtil se afastando,
a indústria abre, imponente, o seu roteiro. 

E hoje, aos ventos do tempo e seus avanços,              
Sorocaba levanta os braços mansos,              
e torna irmãos... filhos do mundo inteiro.       
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Trova de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

O fruto é um santo produto
do mais generoso amor.
Por isso é que antes do fruto
quis Deus que ele fosse flor!
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Conto em Versos do Rio de Janeiro/RJ

ARTHUR DE AZEVEDO
São Luís/MA, 1855 – 1908, Rio de Janeiro/RJ

Improbus amor...

O Alfredo era poeta,
E na imprensa chamavam-lhe eminente;
Todavia, gostava loucamente
De uma mulata quase analfabeta,
Que desdenhava o seu amor ardente,
Pois que lhe preferia
O primeiro caixeiro
De um armazém de secos e molhados.

Suspirando e gemendo noite e dia,
E tirando do fundo do tinteiro
Chorosos versos, versos inflamados,
Que a mulata não lia,
E quando os lesse, não os entenderia,
As esperanças não perdia Alfredo
De, mais tarde ou mais cedo,
Aquele coração tornar mais brando.

Um dia, um belo dia, eis senão quando
Uma poetisa de talento, e bela,
Branca e não amarela,
Misto de musa e fada,

Olhos da cor do céu sereno e puro,
E cabelos da cor da madrugada
Quando reponta no horizonte escuro,
— Apaixonou-se pelo nosso Alfredo,
E tais olhares lhe lançou, tão fundos,
Que não pôde guardar o seu segredo.

O poeta, nos seus versos gemebundos,
Continuou a lastimar, coitado,
Viver pela mulata desprezado
Como folha arrastada pela brisa,
E não deu atenção à poetisa.

Um amigo do peito,
Que de tudo sabia,
Protestou contra essa anomalia:
— Alfredo! Com efeito!
Isso é depravação! Pois tu enjeitas
O amor de uma senhora inteligente,
Líndíssima, atraente,
Que faz poesias e que as faz bem feitas,
Pelo menos tão boas como as tuas,
Por não poderes esquecer um diabo
Uma mulher das ruas,
Que de ti dará cabo
Se não tomares juízo?!...
Vamos! Que os olhos abras é preciso!
Não podes hesitar entre elas duas!…

— Meu caro amigo, respondeu Alfredo,
Tu tens toda a razão, mas eu não cedo.
É uma fatalidade! O fado nosso
Não depende de nós; aquela eu amo,
E outra, seja qual for, amar não posso!
Insulta-a! Não reclamo!
Dize contra ela o mal que bem quiseres;
Mas ha milhões, bilhões de outras mulheres
E não posso outra amar senão aquela,
Que não é boa e nem sequer é bela!

Tanto amor teve, enfim, a recompensa:
A mulata, depois de percorrida
Uma carreira imensa
Que não podia ser menos abjeta,
Condoeu-se do poeta.

Hoje comem os dois à mesma mesa,
Hoje dormem os dois na mesma cama,
Não sei se ela é feliz, mas com certeza
Ele o é, porque a ama,
E a felicidade nada mais precisa.
Por uma coincidência, a poetisa
Casou-se com o caixeiro
De secos e molhados,
Que da mulata o amor logrou primeiro;
E creiam todos que são bem casados.

(convertido para o Português atual por José Feldman)

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