MARIA NASCIMENTO SANTOS CARVALHO
No documento é solteira,
mas vendo a idade da dona,
diz a patroa encrenqueira:
solteira, não, solteirona...
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Poema do Estado de São Paulo
MIGUEL REALE
São Bento do Sapucaí/SP, 1910 – 2006, São Paulo/SP
Colunas do tempo
Ardem meus pés na turfa da existência,
pés doridos de avanços e recuos,
nem há como atenuar a dor intensa
que é látego de nervos e perguntas.
Sinto-me planta um plátano partido
pés fincados no chão,
estaca lavrada e fria
relegada à beira do caminho.
É o que resta da vida em labirinto
esgalhada em mil aspirações,
vida barroca incerta e retorcida
à sombra de arabescos e ouropéis.
Como as colunas dóricas perduram!
Esguias retilíneas intocáveis
em sua heráldica forma para o alto,
sem frisos ou volutas perturbando
a serena ascensão vertical.
Quem já se lembra dos antigos ritos
à luz do templo - templo eleusínio
na secreta unidade da semente
donde brotam vitórias e derrotas
que são vaidade e cruz da espécie humana?
É tarde, é muito tarde!
Nem há mais púlpito ou monge que o proclame
para que as horas voltem à sua fonte
na comunhão dos homens e dos deuses.
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Trova de Portugal
AUGUSTO CÉSAR FERREIRA GIL
Lordelo de Ouro/Portugal, 1873 – 1929, Guarda/Portugal
Riquezas tenhas tão grandes,
e tal bondade também,
que ao redor donde tu andes
não fique pobre ninguém.
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Soneto de Maceió/AL
LÊDO IVO
Maceió/AL, 1924 – 2012, Sevilha/Espanha
Soneto de Outubro
Se mais que a forma e mais que o pensamento
guardado na vigília, sem temor.
Fica no meu olhar, como no amor
verteria teu nome em verso atento.
Sê mais que a forma sempre em movimento
tornada mais humana pela dor.
Fica dormindo em mim, quando eu me for
e te deixar entregue ao desalento.
Sê minha mesmo que eu não te conheça
e te ame sem te ver, sempre te vendo
na forma que jamais fuja ou pereça.
Para tocar-te, eu sempre as mãos estendo
mas não te alcanço, e em minhas mãos transformas
teu corpo imaginário em puras formas.
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Trova Premiada em Rio Bonito/RJ, 2006
JOSÉ OUVERNEY
(Pindamonhangaba/SP)
Não deixe que a vida o leve
por caminhos viscerais;
a vida já é tão breve!
Por que encurtá-la ainda mais?
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Poema de Itajaí/SC
SAMUEL DA COSTA
Afra
Um sorriso apenas!!!
Seduz-me.
Manda-me para casa.
Alegra o meu dia...
Embriaga-me de desejo.
Derrota-me por fim,
Esvanece-me!
Re-luz na minha treva diária.
Lança-me para luz...
Na minha luta diária!
Derrota-me...
Por fim.
Um sorriso apenas, e nada mais.
Beltia imortal!
Dos meus desejos mais profanos!
Visita-me no meu sonho, mais sagrado...
Na infinitude, de todo o meu ser.
Imperfeito!
Deusa sagrada.
Me da um sorriso apenas,
Evanece-me por fim!
Sorri e me derrota.
Manda-me para casa.
Sozinho e derrotado
Lança-me para minha treva diária.
Para a minha vida vazia.
Derrote-me...
Esvanece-me por fim.
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Trova Popular
Hei de fazer um relógio
de um galhinho de poejo,
para contar os minutos
do tempo que não te vejo.
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ
BEATRIZ FRANCISCA DE ASSIS BRANDÃO
Vila Rica (atual Ouro Preto)/MG, 1779 – 1868, Rio de Janeiro/RJ
Soneto
Estas, que o meu Amor vos oferece,
Não tardas produções de fraco engenho,
Amadas Nacionais, sirvam de empenho
A talentos, que o vulgo desconhece.
Um exemplo talvez vos aparece
Em que brilheis nos traços, que desenho:
De excessivo louvor glória não tenho,
E se algum merecer de vós comece.
Raros dotes talvez vivem ocultos,
Que o receio de expor faz ignorados;
Sirvam de guia meus humildes cultos.
Mandei ao Pindo os voos elevados,
E tantos sejam vossos versos cultos,
Que os meus nas trevas fiquem sepultados.
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Trova de Santos/SP
CAROLINA RAMOS
Sempre que um tronco desaba,
sob o machado inclemente,
tarde ou cedo a gente acaba
sentindo a dor que ele sente!
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Poema de Porto Alegre/RS
ADÉLIA EINSFELDT
Desconhecida
Sou desconhecida
irreconhecida
entre a multidão.
Minha luz é apagada
Sigo pela estrada
Seguindo trilhas
caminhos
Perdida estou.
A lua clara
brilhante
Me acompanha
Todo instante
intrigante
Andante que sou.
O amanhecer
me pega cansada
Sombras ao longe
Tento reconhecer
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Haicai de Santos/SP
MADÔ MARTINS
Goiaba madura -
Aberta a competição
entre homens e larvas.
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Soneto do Ceará
FRANCISCA CLOTILDE
Tauá/CE, 1862 – 1935, Fortaleza/CE
Teu Nome
É bálsamo de amor que os lábios suaviza
É cântico do céu... encanta, atrai, consola,
Essência lirial que para Deus se evola,
É hino de esperança e as dores ameniza.
Maria! Ao repetir teu nome se matiza
De bençãos meu viver que a dor cruel.
Doce réstia de luz, confortadora esmola
Da graça e do perdão que as almas sublimiza.
Permite, oh! Mãe bondosa, oh! Virgem sacrossanta
De teu nome ideal que a melodia santa,
Vibrando dentro em mim as horas de amargura,
Seja a nota eteral, a nota harmoniosa
Que minha alma murmure, a te fitar ansiosa,
Estrela que nos guia à pátria da ventura!
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Trova de Osório/RS
SUELY BRAGA
Muitas rosas só não falam.
Não nos ferem com espinhos.
Um doce perfume exalam
e nos cobrem de carinhos.
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Glosa de Fortaleza/CE
NEMÉSIO PRATA
Mote:
As trevas se dissiparam
quando apareceu uma luz
que todos abençoaram,
bendito nome... Jesus!
José Feldman
(Campo Mourão/PR)
Glosa:
As trevas se dissiparam
quando os anjos do Senhor,
aos homens, anunciaram
a vinda do Salvador!
Ao mundo se fez presente,
quando apareceu uma luz
nos céus, vinda do Oriente,
anunciando o Rei Jesus!
Os homens glorificaram
a vinda do Deus menino,
que todos abençoaram,
pelo seu nascer divino!
Nasceu numa estrebaria
pra morrer na rude Cruz;
só assim nos salvaria:
bendito nome... Jesus!
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Trova do Rio Grande do Norte
CLARINDO BATISTA DE ARAÚJO
Jardim do Piranhas/RN, 1929 – 2010, Natal/RN
Contra o perigo atual
já não há quem se previna
porque, do gênio do mal,
há um clone em cada esquina!
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Soneto de Poços de Caldas/MG
LAÉRCIO BORSATO
Tributo a Nilton Tuller
(homenagem ao Pastor maringaense)
Há muito ouvi falar de seu talento
Por todos caminhos por onde pisavas.
Ainda agora na cultura em que lavras,
Traze-nos total louvor... Encantamento!
Certo, na vivência e a cada momento,
Nas veredas do altíssimo trilhavas;
Com maestria no manejo das palavras,
Sempre a expor o mais puro sentimento.
Assim em sua missão de fiel e bom pastor,
Em versos, disse ESTOU PRONTO SENHOR,
Daí o reconhecimento de todo povo...
Numa prova de amor santo, verdadeiro,
Deus, como pediste, tal qual o oleiro,
Transformou sua vida, num VASO NOVO!
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Trova Premiada em Caxias do Sul/RS, 2012
ROBERTO TCHEPELENTYKY
(São Paulo/SP)
Sobre a parreira, o luar
no sereno te retrata…
E os teus olhos a brilhar:
“Duas uvas”… cor de prata…
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Poema de Curitiba/PR
CERES DE FERRANTE
1928 – 2016
Simples Geometria
Caminhamos em busca de um encontro…
Nossas vidas eram apenas paralelas.
A curva de nossos braços
não chegou a completar
seu círculo de ternura…
nem eram perpendiculares
nossos caminhos…
por isso permanecemos
dois pontos no infinito.
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Triverso de Guarulhos/SP
ANTONIO LUIZ LOPES TOUCHÉ
A paixão revigora,
Faz o outono primavera
Na hora.
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Setilha de Maringá/PR
A. A. DE ASSIS
Pausa na chuva. Gostei.
Aproveitam-se as florinhas
para alegres se exibirem
quais festivas menininhas.
De múltiplas cores elas,
brancas, azuis, amarelas,
auspiciosas rainhas.
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Trova de Santa Rita do Sapucaí/MG
ANTONIO SIÉCOLA MOREIRA
As paredes que sustentam
meus sonhos, meus ideais,
são tão sólidas que aguentam
os mais fortes vendavais!
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Hino de Piracicaba/SP
Autor: Newton de Almeida Mello
Numa saudade, que punge e mata
Que sorte ingrata longe daqui,
Em um suspiro, triste e sem termo,
vivo no ermo, dês que parti.
Piracicaba que eu adoro tanto,
Cheia de flores, cheia de encantos...
Ninguém compreende a grande dor que sente
o filho ausente a suspirar por ti !
Em outras plagas, que vale a sorte ?
Prefiro a morte junto de ti.
Amo teus prados, os horizontes,
o céu e os montes que vejo aqui.
Piracicaba que eu adoro tanto,
Cheia de flores, cheia de encantos...
Ninguém compreende a grande dor que sente
o filho ausente a suspirar por ti !
Só vejo estranhos, meu berço amado,
Tendo ao teu lado o que perdi...
Pouco se importam com teu encanto,
Que eu amo tanto, dês que nasci...
Piracicaba que eu adoro tanto,
Cheia de flores, cheia de encantos...
Ninguém compreende a grande dor que sente
o filho ausente a suspirar por ti !
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Saudade e Amor à Terra Natal
O 'Hino de Piracicaba - SP' é uma ode à cidade de Piracicaba, expressando um profundo sentimento de saudade e amor por essa terra natal. A letra, repleta de emoção, retrata a dor de estar longe de casa e a constante lembrança dos encantos e belezas da cidade. A saudade é descrita como algo que 'punge e mata', uma dor intensa que acompanha o eu lírico desde que partiu de Piracicaba.
A cidade é personificada como um lugar cheio de flores e encantos, um refúgio de beleza e paz que o eu lírico anseia reencontrar. A repetição do estribilho 'Piracicaba que eu adoro tanto, cheia de flores, cheia de encantos...' reforça o amor incondicional e a conexão profunda com a cidade. A letra também destaca a incompreensão dos outros em relação à dor do 'filho ausente', enfatizando a solidão e a saudade que acompanham aqueles que estão longe de sua terra natal.
Além disso, o hino contrasta a vida em outras plagas com a vida em Piracicaba, sugerindo que, apesar das oportunidades e sorte que possam existir em outros lugares, nada se compara ao conforto e à felicidade de estar em casa. A preferência pela morte junto à cidade natal em vez de viver longe dela é uma metáfora poderosa que ilustra a intensidade do amor e da saudade. A letra também critica a indiferença dos 'estranhos' em relação aos encantos de Piracicaba, ressaltando a conexão única e insubstituível que o eu lírico tem com sua cidade de origem. (https://www.letras.mus.br/hinos-de-cidades/473057/significado.html)
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Poetrix de São Paio de Oleiros/Portugal
ANTHERO MONTEIRO
(Antero Manuel Dias Monteiro)
1946 – 2022
morte
uma cadeira vazia na alameda
sentada numa tarde de outono
a olhar o meu ponto de fuga
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Ampulheta
Quem se concentra no volume da areia
Que se transporta ao outro lado da ampulheta,
Não sabe olhar a solidão da lua cheia
Nem vê o sangue escorrer da baioneta.
Quem se divide entre o sonho e a vida
Encontra tempo entre a dor e a fantasia,
Vê que é real o surgimento da ferida,
Mas faz da vida um motivo de poesia.
Quem exercita o amor de forma rara
Em um planeta onde a inveja vira a cara
Para o sucesso de quem crê no ser humano,
Sabe que o tempo da ampulheta entorpece,
Porém o tempo do amor sempre enternece
Quem sobrevoa a solidão em outro plano.
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Trova de Santos/SP
ANTONIO COLAVITE FILHO
As lágrimas das meninas,
Deus, não podendo contê-las,
recolhe nas mãos divinas
e com elas faz estrelas…
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Fábula em Versos da França
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris
A mosca e a formiga
Uma mosca importuna contendia (discutia)
Com a negra formiga, e lhe dizia:
«Eu ando levantada lá nos ares,
E tu por esse chão sempre a arrastares;
Em palácios estou de grande altura,
Tu debaixo da terra em cova escura.
A minha mesa é rica e delicada;
Tu róis os grãos de trigo e de cevada:
Eu levo boa vida, e tu, formiga,
Andas sempre em trabalho e em fadiga.»
A formiga lhe disse: «Tu me enfadas
Com essas tuas vãs fanfarronadas.
Que te importa que eu ande cá de rastos
Com desprezo das pompas e dos fastos?
Para amparo e abrigo não há prova
De valer mais palácio do que cova.
O palácio é do rei ou da rainha,
E não teu; mas a cova é muito minha;
Eu a fiz com a minha habilidade;
Porventura tens tal capacidade?
Para aqui. Tuas prendas afamadas
Não passam de zunir e dar picadas.
No que toca a comer, os meus bocados
Não me sabem pior que os teus guisados.
Teus lhe chamo? — os que furtas; nesta parte
Vais comigo, que eu uso da mesma arte;
Porém não vivo em ócio e em preguiça,
Como tu, lambareira, metediça;
Por isso te aborrecem e te enxotam
Com uma raiva tal, que ao chão te botam.
Fazem-me porventura esse agasalho?
Louvam-me em diligência e em trabalho:
Eu faço para inverno provimento;
Morres nele — ou por falta de alimento,
Ou por vir sobre ti algum nordeste,
Que para a tua casta é uma peste.»
(tradução: Couto Guerreiro)
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