sábado, 27 de julho de 2024

Vereda da Poesia = 68 =


Trova Humorística de Porto Alegre/RS

IALMAR PIO SCHNEIDER

Quem come pizza demais,
pode saber, com certeza,
que os efeitos especiais
vão ser sua sobremesa.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poema de Lancram/Romênia

LUCIAN BLAGA
(1895 – 1961)

Aos leitores

Aqui é minha casa. Ali ficam o sol e o jardim com colmeias.
Vocês vêm pela trilha, olham da porta por entre as grades
e esperam que eu fale.  ... Por onde começar?
Creiam em mim, creiam em mim,
sobre seja o que for pode-se falar quanto se queira:
sobre o destino e sobre a serpente do bem,
sobre os arcanjos que lavram com o arado
os jardins do homem,
sobre o céu para onde crescemos,
sobre o ódio e a queda, tristezas e crucifixões 
e acima de tudo sobre a grande travessia.
Mas as palavras são as lágrimas de quem teria desejado
tanto chorar e não pôde.
São tão amargas as palavras todas,
por isso... deixem-me
passar mudo por entre vocês,
sair à rua de olhos fechados.

(tradução: Caetano Waldrigues Galindo)
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Aldravia de Osório/RS

MARILENE BORBA

Em
meus 
versos
líricos
nostálgica
saudade.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto de Salvador/ BA

RAYMUNDO DE SALLES BRASIL 

Árvore
 
Abrigas, sem vaidade, a tantos quantos,
vindos de lutas, buscam refrigério;
não cobras um real por serem tantos,
não usas esse sórdido critério.
 
Ao que sorri feliz, ao triste, ao sério,
dás, a todos, os mesmos acalantos…
és um delubro* puro e sem mistério,
templo das alegrias e dos prantos.
 
E ainda dás o fruto ao que tem fome,
sem sequer perguntar nem mesmo o nome
ao cansado e faminto repousante.
 
Oh! Árvore! tu és, não só um templo,
és, também, um belíssimo exemplo
de bondade – frondosa e verdejante! 
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 
* delubro = templo pagão
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Premiada em Maranguape/CE, 2014

ANA MARIA NASCIMENTO 
(Aracoiaba/CE)

Quando o coração faz greve 
deficitário de amor, 
nenhum médico prescreve 
alivio para essa dor. 
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poema de Manaus/AM

SILVIAH CARVALHO

O Silêncio da poesia

Quem pode encher as palavras de sustento?
Se no silêncio da alma há tão pouco alimento!
O vazio das respostas inibe as perguntas
Quando nem você é aquilo que vejo ou invento
 
Se posso criar minha paz viveria eu em guerra?
O silêncio desta pergunta ecoará no tempo
E não haverá resposta, pois isso se torna um delito
Já que, há aqueles que, não vivem sem seus conflitos
 
Onde errei quando decidi acertar?
Quando ao invés de só falar de amor resolvi amar
Saio do sonho, passo a viver a realidade
Entro na vida pra vivê-la em sua totalidade
 
Quem me dirá não tendo Deus dito Sim?
Agora que este vazio encheu-se de mim
Recolho do mundo meu sentimento
Minhas palavras, meu coração...
 
Deixo minha poesia vagando pelo ar?
Sim, buscando qualquer porto a ancorar
Descomprometida e responsável
A poesia tem em si, um todo razoável.
 
Quem eu gostaria que me amasse 
Senão aquele a quem amo?
Minha vida deixou de ser só e vazia
Voltarei para escrevê-la um dia...
 
 Vim apenas deixar,
 O meu silêncio nesta poesia...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Popular

Os olhos de meu benzinho
são joias que não se vendem,
são balas que me feriram,
são correntes que me prendem.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto de Belo Horizonte/MG

SÍLVIA ARAÚJO MOTTA

Aquela passagem perdida

Data perdida, tempo já passado!
Dinheiro não resgata voo, mas alerta;
o novo cheque pôs destino alado,
ao salvador da pátria, em mente aberta.

As horas passam, basta ver marcado
por certo ao centro ter poltrona certa;
ponteiros voltam, checam sinal dado,
razão à AM que vê desculpa incerta.

Trânsito em aços, transporte não anda!
Aeroporto cheio! Todos clamam!
Os passageiros cobram, mais demanda...

Vários eventos não serão mais feitos!
Aeromoças testam, nem reclamam:
– A gripe mata, mostra causa e efeitos.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova do Rio de Janeiro/RJ

ANIS MURAD
(1904 – 1962)

Há uma lâmpada encantada,
acesa no coração,
que tem a chama sagrada,
que se chama inspiração.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poema de Joinville/SC

ELSE SANT´ANNA BRUM

Independência

Do alto de uma colina
Espalhou-se aos quatro ventos
O brado de independência.
Independência menina
Deste Brasil que a amou.
Tornou-se a linda menina
A eterna companheira
Desta terra brasileira
Que seu povo fez crescer.
Quando há difíceis momentos
Vê-se o aceno da menina
Que do alto da colina
Faz o Brasil reviver.
Porque ser independente
É o grande e maior presente
Que um país pode ter.
Quando de setembro a aragem
Envolve aquela colina
Ouve-se, então, da menina,
Uma sublime mensagem:
- Brasil, o teu povo é forte,
Teu povo sempre venceu.
Entre "Independência ou Morte"
A Independência escolheu!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Humorística de Juiz de Fora/MG

VERA MARIA DE LIMA BASTOS

De remédios tem mania
a coroa Soledade.
Na farmácia, todo dia
pergunta: - "tem novidade"?
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Uma Dobradinha Poética* de Bandeirantes/PR

LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DECARLI

Bendição

Em versos, sementes espalho;
meu solo é o papel, que aceita…
Entrego a Deus o trabalho
e espero pela colheita!…

Bendigo, aqui, a grandiosa obra de Deus:
o sol, a lua, estrelas – maravilhas.
Todo o ar da terra; a vida em jubileus;
montanhas, vales, rios, mares e ilhas!

Bendigo os homens – nobres e plebeus -
e os outros animais em suas trilhas;
todas as plantas que em seus apogeus
se reproduzem entre vastas milhas!

Da Natureza, assim, bendigo a lida,
com força ativa, segue destemida
a perpetuar a criação, perfeita.

Bendito o grão, que é dado a semear,
bendita a chuva, pois irá germinar…
Bendito o lavrador, pela colheita!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 
* Dobradinha poética = inicia com uma trova e em seguida um soneto.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova de São Fidélis/RJ

JOSÉ MOREIRA SOBRINHO

Abra um livro, leia, estude...
Não conte sempre com a sorte.
Siga em frente com atitude,
mostre ao mundo o quanto é forte...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Spina de Francisco Beltrão/PR

RICHARD ZAJACZKOWSKI

Astro

Traçada na alma,
desenhada nas estrelas,
escrita no coração.

Nos holofotes da vida celestial,
repousam as glórias da esfera.
Mundo rotundo repleto de adoração.
Espíritos sequiosos de paz cordial,
mitigam anseios anímicos com afeição.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova de São Paulo/SP

SOLANGE COLOMBARA

As inúmeras metades
que habitam meu coração,
às vezes gritam saudades,
noutras, choram de emoção.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto do Rio de Janeiro/RJ

WALDIR NEVES
(1924 – 2007)

Minha casa

Ela é um velho chalé de toques suburbanos.
Modesta, do portão à fachada singela,
nada existe invulgar, por fora ou dentro dela,
capaz de comover sicranos nem beltranos.

Mas é a mesma onde vi, já se vão tantos anos,
pela primeira vez abrir-se uma janela
aos raios matinais da ensolarada umbela,
sublime no esplendor dos halos soberanos.

No seu mesmo aconchego acolhedor de outrora,
intensamente eu vivo, em meu “aqui e agora”,
a paz familiar e as bênçãos da amizade.

Em saudade é comum que ela more na gente;
mas Deus me deu, estranha e afortunadamente,
a ventura maior de morar na Saudade...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Premiada em Natal/RN, 2005 

JOSÉ OUVERNEY 
(Pindamonhangaba/SP)

Meu filho, que Deus te ajude
e a tua fé te incentive
a plantar o que eu não pude
e a colher o que eu não tive!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poema de Lisboa/ Portugal 

AMÁLIA RODRIGUES
(Amália da Piedade Rodrigues)
1920/22 – 1999

Ó Gente da Minha Terra

É meu e vosso este fado
Destino que nos amarra
Por mais que seja negado
Às cordas de uma guitarra

Sempre que se ouve o gemido
De uma guitarra a cantar
Fica-se logo perdido
Com vontade de chorar

Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que recebi

E pareceria ternura
Se eu me deixasse embalar
Era maior a amargura
Menos triste o meu cantar

Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que recebi

Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que recebi.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Haicai de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

De pai para pai:
Caro colega Noel,
só quero carinho.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Setilha de Porto Alegre/RS

GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS

Vemos com grande emoção:
se aproxima a primavera,
cheia de cor e beleza;
se vai a estação severa.
Nascem novas esperanças,
ansiosas como crianças...
Terminou a nossa espera!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova de Taubaté/SP

JUDITE DE OLIVEIRA

Vendo o fogo que a devora
e toda a fauna enlutada,
a linda floresta chora,
antes de morrer queimada.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Hino de Aquidauana/MS

Viva sempre esta terra idolatrada
Este belo torrão de Mato Grosso,
E as belezas sem fim deste colosso,
Da minha grande pátria sempre amada.

Viva sempre esta terra encantadora,
E o bom sonho de gênio altipotente,
Desta raça valente e vencedora,
Que um astro bem tirou do céu luzente.

Juntos cantemos, e alto proclamemos,
Quer aqui, quer também em toda parte,
A bravura, o trabalho, e o amor destarte,
Que, em folhas d'ouro sempre guardaremos.

Salve o Brasil, seus homens e sua história,
Que, tornando o sertão bendita terra,
Elevaram o país que tudo encerra,
Belezas naturais, grandeza e glória.

Honra e glória aos heroicos fundadores,
Desta linda Aquidauana fulgurante,
Graciosa filha do Brasil gigante,
Cheia de vida, repleta de esplendores.

Galante sob um céu risonho e azul,
Ela, a cidade, espelha-se num rio,
Que, em formosura, faz-lhe desafio,
Num calmo deslizar, de norte à sul.
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * 
Aquidauana: Um Hino de Amor e Orgulho
O 'Hino de Aquidauana - MS' é uma celebração poética e musical da cidade de Aquidauana, localizada no estado de Mato Grosso do Sul. A letra exalta a beleza natural e a importância histórica da região, destacando o orgulho dos habitantes por sua terra natal. Desde o início, a música enaltece a 'terra idolatrada' e as 'belezas sem fim' do lugar, criando uma imagem de um paraíso natural que é parte integrante da grande pátria brasileira.

A canção também faz referência à bravura e ao trabalho dos habitantes de Aquidauana, descrevendo-os como uma 'raça valente e vencedora'. Essa descrição não só reforça o orgulho local, mas também conecta a cidade à história mais ampla do Brasil, celebrando os esforços e conquistas dos seus fundadores. A letra menciona a importância de preservar a memória e os feitos desses heróis, guardando-os 'em folhas d'ouro'.

Além disso, o hino presta homenagem ao Brasil como um todo, reconhecendo a contribuição de Aquidauana para a grandeza e glória do país. A cidade é descrita como uma 'graciosa filha do Brasil gigante', refletindo a sua beleza e vitalidade. A imagem final da cidade espelhando-se num rio sob um 'céu risonho e azul' encapsula a tranquilidade e a majestade natural de Aquidauana, reforçando a conexão íntima entre a cidade e seu ambiente natural.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poetrix de Ipiaú/BA

JUSSARA MIDLEJ

troca-se

O luar e a gente do sertão
Pelas chuvas e o verde
De outra região!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto de São Paulo/SP

DIVENEI BOSELI

Lucidez 

Se eu te disser que sou feliz agora,
nesse momento em que a razão cochila
e, na modorra, enxerga só a mochila
que carregavas quando foste embora;

que o meu rancor, agora, não destila
o fel que dentre estas paredes mora,
e que saudade alguma hoje devora
o coração que recobri de argila;

se eu te disser que a porta do meu quarto
por onde tu partiste foi o parto
da solidão que eu quis, sem dor, sem ira,

por hoje, podes crer, mas toma tento:
È falsa a lucidez do meu tormento
e tudo o que eu disser, hoje, é mentira!... 
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova de Curitiba/PR

VANDA ALVES DA SILVA

O trem, na sua partida,
leva o sonho... e por maldade,
volta trazendo escondida
a bandida da saudade!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Fábula em Versos da França

JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

O rato caseiro e o rústico

Convida, uma vez, ratinho
Mui galante e cortesão,
Certo arganaz* montesinho
A sobras dum perdigão.

Em guedelhudo* tapete
Luzia o esplêndido talher.
São dois, mas valem por sete.
Que apetite! Que roer!

Foi folgança* regalada;
Nada inveja um tal festim.
Se não quando, na malhada*,
Pilha-os súbito motim.

Passos à porta da sala...
Param os nossos heróis.
E o terror, que pronto os cala,
Lança em pronta fuga os dois.

Foi-se a bulha*. Muito à mansa
Vêm-se chegando outra vez.
“Demos remate à folgança,
Diz o da corte ao montês.

— Nada. Mas vem tu comigo
Jantar amanhã; bem sei
Que lá me não gabo, amigo,
Desta vidinha de rei.

Mas ninguém me turba em meio
Do jantar; sobra o lazer.
Que pode aguar um receio,
E adeus. Figas ao prazer.”
(tradução: José de Sousa Monteiro)
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * 
*Vocabulário: 
Arganaz = pequeno roedor parecido com esquilo.
Bulha = gritaria, desordem.
Folgança = folguedo, farra.
Guedelhudo = cabeludo.
Malhada = toca.

Nenhum comentário: