quarta-feira, 3 de julho de 2024

Vereda da Poesia = 51 =


Trova Humorística de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

Entre o passado e o futuro,
mudou o amor um bocado:
- o que o vovô fez no escuro,
faz o neto, escancarado!
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Poema de Vila Velha/ES

APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA

À espera...

Aqui me pego, à tua saudade, esperando
que venhas e traga ternura em teus traços...
Porém, passam-se as horas... E já desanimado
Cismo que não chegarás até meus braços

E meus anseios vão se arrastando
em tua ausência c’os meus embaraços...
Tão depressa as horas foram passando,
Que até ouço a saudade e seus tristes passos...

Perto de mim, uma pá de gente segue cruzando
indiferente ao anseio de que desejo ver-te
e que aos poucos estou me definhando...

Esgotou-se o tempo... Esperar-te foi em vão.
Mas a angústia louca de amanhã rever-te,
faz regressar feliz este meu coração!...
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Aldravia do Rio de Janeiro/RJ

ELVANDRO BURITY

tentando
ser
amado
cobiço
seu
coração
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Soneto de Leopoldina/MG

AUGUSTO DOS ANJOS
(Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos)
Cruz do Espírito Santo/PB (1884 – 1914) Leopoldina/MG

Asa de Corvo

Asa de corvos carniceiros, asa
De mau agouro que, nos doze meses,
Cobre às vezes o espaço e cobre às vezes
O telhado de nossa própria casa...

Perseguido por todos os reveses,
É meu destino viver junto a essa asa,
Como a cinza que vive junto à brasa,
Como os Goncourts, como os irmãos siameses!

É com essa asa que eu faço este soneto
E a indústria humana faz o pano preto
Que as famílias de luto martiriza...

É ainda com essa asa extraordinária
Que a Morte — a costureira funerária —
Cose para o homem a última camisa!
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Trova Premiada  em Natal/RN, 2001

J. STAVOLA PORTO 
(Niterói/RJ)

Labaredas, nas queimadas
da floresta em combustão,
lembram mãos agoniadas,
rogando aos céus proteção.
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Poema de São Paulo/SP

FILEMON FRANCISCO MARTINS

O amor

É como a flor que nasce no jardim
e vai florindo com cuidado e zelo.
O amor também floresce e cresce assim
com carícia, paixão, amor, desvelo...

É preciso cuidar, plantando, enfim,
compreensão, carinho e defendê-lo
da praga do ciúme tão ruim
que teima em desfazer e ser, sem sê-lo.

Um grande amor toda a beleza exprime,
porque o amor faz a vida mais sublime
e exige inspiração de quem o quer.

A vida a dois há de ficar mais bela,
se houver no coração a flor singela
e um sorriso feliz de uma MULHER.
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Quadra Popular

Toda vez que considero
que tenho de te deixar,
me foge o sangue da veia,
e o coração do lugar.
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Soneto de São Paulo/SP

PEDRO XISTO
(Pedro Xisto Pereira de Carvalho)
Limoeiro/PE, 1901 – 1987, São Paulo/SP

Unidade

Do crepúsculo as faixas carregadas
eu desato, as primícias perseguindo
do sonho a que se volva o dia findo
(já não terá o rei suas espadas).

De toda diferença, ora, prescindo:
disputem outros sobre as bem-amadas
(ai! alma, em dúbio sangue sobrenadas...)
ou se é o rosto, sob os véus, mais lindo.

A pouco e pouco, afrouxaram-se estas malhas;
os olhos as trespassam, de tão falhas;
e um só, de volta em volta, o meu caminho.

As mãos, eu pouse — ó Vida! — em frescas toalhas
eu, contra o peito, quando me agasalhas
definitivamente, sou sozinho.
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Trova de Santos/SP

CAROLINA RAMOS

Ante o horror de uma queimada,
tenho a impressão verdadeira
de ver a Pátria enlutada,
sem mais verde na bandeira!
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Poema de Niterói/RJ

JACY PACHECO
Duas Barras/RJ, 1910 – 1989, Niterói/RJ

Primavera do Mundo 

Primavera do mundo, tu virás!
Talvez não venhas na tranquilidade
de um dia claro e musical.
Trarás as mãos ensanguentadas
e as rosas se abrirão todas vermelhas.

Mas chegarás!
E extirparás a tirania
e todos os princípios egoístas.
E as máquinas da paz
revolverão o solo redimido
pelo sangue de irmãos idealistas.

Primavera do mundo, eu te entrevejo
numa nesga de sol recém-nascido,
anunciando o bem dos homens livres,
a vitória do amor, do ideal fecundo!   

Aguardo o teu instante triunfal
primavera do mundo!
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Haicai de Caucaia/CE

JOÃO BATISTA SERRA

Azulão contempla
O firmamento azulado:
Deseja ser livre.
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Sextilha Agalopada de Natal/RN

JOSÉ LUCAS DE BARROS
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN

Ontem vi, na internet, em lindas cores,
a beleza da aurora boreal...
Lembrei todas as flores do sertão
e os encantos do verde litoral
para expor, em palavras coloridas,
uma espécie de língua universal.
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Trova de Campinas/SP

ARTHUR THOMAZ

Poeta! Em que mundo vives?
Vais flanando, sonhador,
lapidando feito ourives
os versos de um grande amor…
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Glosa de Fortaleza/CE

NEMÉSIO PRATA

MOTE 
Caminhando pro horizonte 
quis a minha dor levar, 
lá eu encontrei uma fonte, 
sem água pra me aliviar! 
José Feldman 
(Campo Mourão/PR)

GLOSA
Caminhando pro horizonte, 
sedento, foi que eu dei fé 
que um rio, descendo um monte, 
corria até o seu sopé! 

A vida, já por um fio, 
quis a minha dor levar 
pra junto daquele rio 
pra minha sede passar! 

Dei a volta pelo monte 
mas cruel foi o destino; 
lá eu encontrei uma fonte, 
vazia..., que desatino! 

Qual foi a minha agonia 
quando pude constatar 
que a fonte estava vazia; 
sem água pra me aliviar!
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Aldravia de Itajaí/SC

ANNA RIBEIRO

nas
entrelinhas
em
busca
de
mim
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Soneto de Recife/PE

JORGE WANDERLEY
(Jorge Eduardo Figueiredo de Oliveira Wanderley)
1938 – 1999

Pátio secreto

Vejo-o talvez em sonho, quando nada
Parece mal: o mesmo pátio, as sombras,
O chafariz envelhecido, a pátina
Que a algum luar de mármore responde.

O muro, o musgo, a vinha, o abandono
Da pedra e a quase fria madrugada
Passada em névoa ao cinzento do outono,
O sono que flutua em tudo, em nada.

Tudo está morto e vivo pela imagem,
Recanto, quadro, música, memória
Que visito dormindo e sem matéria.

Outros o viram, também. De passagem
Deixaram algo oculto a sua história,
Marca secreta, assinatura etérea.
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Trova Premiada  em São Jerônimo da Serra/PR, 1992

ADELIR COELHO MACHADO 
São Gonçao/RJ, 1928 - 2003, Niterói/RJ

Nosso grisalho carinho
é bênção que Deus nos deu:
és presença em meu caminho,
eu sou presença no teu!
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Poema de Campinas/SP

NORTON CORDEIRO

Maria rainha

Maria rainha não minha
Maria de outro, seu dono,
Vigilante perspicaz e cruel
Que não lega a ninguém o direito
De usufruir, mesmo um pouco
Pequeno que seja,
Do toda daquela sensual nobreza.

Maria rainha não minha
vã esperança - mas viva -
deste plebeu sonhador que anseia,
num dia de sorte reversa,
despistar seu cruel ditador,
pra num rompante de pura ousadia
fazê-la aia do meu amor.
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Triverso de de Guarulhos/SP

JOÃO TOLOI

Silêncio na estação
Sobre o trem que parte
A chuva de outono.
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Setilha Sobre o Mar, de Dom Basílio/BA

CREUSA MEIRA 

Primeiro dia do ano
As flores eu vou levar
São as minhas oferendas
Para a rainha do mar
Jogo gotas de alfazema
Leio um belo poema
Nas ondas a caminhar
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Trova de Santos/SP

CLÁUDIO DE CÁPUA
São Paulo/SP, 1945 – 2021, Santos/SP

Em noite alta... madrugada,
contemplo a lua contrito:
- Barca de prata aportada
nos segredos do infinito.
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Hino de Limeira/SP

Música: Prof.ª Dyrcéia Ricci Ciarrochi
Letra: Dr. Guilherme Mallet Guimarães

Chão bendito de berços gloriosos
Tua origem uma linda limeira,
Fundada por labores ditosos
És cidade tão bela e faceira

Frutas doces, colhemos aos montes
Pomares verdejantes com flores
Laranjais circundam as fontes
Acariciando a vida de amores.
 
Tuas indústrias crescem e agigantam
As grandezas de nosso porvir
Jardins - Praças todos se encantam
Com músicas sonoras a ouvir.

Chão bendito de berços gloriosos
Tua origem uma linda limeira,
Fundada por labores ditosos
És cidade tão bela e faceira

Povo amigo de ação relevante
Nossas escolas padrões elevados
Nossa fé seguirá triunfante
Sendo os mestres heróis abençoados.

Chão bendito de berços gloriosos
Tua origem uma linda limeira,
Fundada por labores ditosos
És cidade tão bela e faceira

Limeira! Limeira!
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Hino de Limeira: Uma Ode à Terra de Frutas e Indústrias
O 'Hino de Limeira - SP' é uma celebração poética e musical da cidade de Limeira, localizada no interior do estado de São Paulo. A letra exalta as belezas naturais, a prosperidade econômica e o espírito comunitário da cidade. Desde o início, a música destaca a origem gloriosa de Limeira, referindo-se a ela como um 'chão bendito de berços gloriosos'. A palavra 'limeira' no contexto histórico remete à árvore de limão, simbolizando a fertilidade e a abundância da região.

O estribilho da música enfatiza a riqueza agrícola de Limeira, mencionando as frutas doces e os pomares verdejantes. A imagem dos laranjais circundando as fontes sugere uma paisagem idílica e fértil, onde a natureza e a vida humana coexistem em harmonia. Essa parte da letra não só celebra a produção agrícola, mas também evoca um sentimento de amor e carinho pela terra.

Além das belezas naturais, o hino também destaca o crescimento industrial da cidade, mencionando que as indústrias 'crescem e agigantam'. Isso reflete a modernização e o desenvolvimento econômico de Limeira, que se tornou um importante polo industrial. A letra também faz referência à educação e à fé, exaltando as escolas de padrões elevados e a fé triunfante do povo limeirense. A música termina com um chamado apaixonado à cidade, repetindo o nome 'Limeira' como um grito de orgulho e pertencimento.  https://www.letras.mus.br/hinos-de-cidades/564261/ 
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Poetrix de João Pessoa/PB

REGINA LYRA

Afinado

Nas cordas do violão
o músico faz de um chorinho
belo sorriso.
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ

BASTOS TIGRE
(Manuel Bastos Tigre)
Recife/PE, 1882-1957, Rio de Janeiro/RJ

Amor de pronto

Suplicas que eu te escreva e que te diga
Se te não quero mais com o mesmo ardor.
Pedes "três linhas... uma frase amiga,
Um rápido bilhete... o quer que for."

Nada perdeu da intensidade antiga
Meu sempre novo e apaixonado amor;
O ofício de te amar não me fatiga
E além do mais eu sou conservador.

Dizes estar de tanta espera farta;
Que os homens, às amantes sempre infiéis,
Só merecem (que horror!) que um raio os parta.

Não! Meu silêncio tem razões bem cruéis:
Ando "por baixo" e custa cada carta
Tinta, papel e um selo de cem réis.
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Trova Humorística de São João de Meriti/RJ

CLEBER ROBERTO DE DE OLIVEIRA

Fiquei surpreso!... Foi chato,
com gente no "reservado",
ter de correr para o mato
e ler num galho: "OCUPADO"!
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Fábula em Versos da França

JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

O lobo e o cordeiro

De ardente sede obrigados,
Foram ao mesmo ribeiro
A beber das frescas águas
Um lobo e mais um cordeiro.

O lobo pôs-se da parte
De onde o regato nascia;
O cordeiro, mais abaixo,
Na veia de água bebia.

A fera, que desavir-se
Com a mansa rês desejava,
Num tom severo e medonho,
Desta sorte lhe falava:

«Por que motivo me turvas
A água que estou bebendo?»
E o cordeirinho inocente
Assim respondeu, tremendo:

«Qual seja a razão que tenhas
De enfadar-te, não percebo!
Tu não vês que de ti corre
A mim esta água que bebo?»

Rebatida da verdade,
Tornou-lhe a fera cerval:
«Aqui haverá seis meses,
Sei de mim disseste mal.»

Respondeu-lhe o cordeirinho,
De frio medo oprimido:
«Nesse tempo, certamente,
Ainda eu não era nascido!

— Que importa? Se tu não foste,
Disse o lobo carniceiro,
Foi teu pai.» E, por aleives,
Lacera o pobre cordeiro!

Esta fábula dá brados
Contra aqueles insolentes
Que por delitos fingidos
Oprimem os inocentes.

(tradução: Malhão)
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Colaborações: gralha1954@gmail.com

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