MARINA BRUNA
Franca/SP, 1935 – 2013, São Paulo/SP
"Dez filhos do mesmo leito?!"
pergunta o padre e ela fala:
"Acho que não, pois suspeito
que um é da rede da sala..."
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Poema da França
CARLOS EDMUNDO DE ORY
Cádiz/ Espanha, 1923 - 2010, Thézy-Glimont/ França
Poema
Amo aquilo que arde
o que voa e se abre
o que enlouquece e cresce
o que salta e se move
aquilo que bebe os ventos
e é música e contato
o que é vasto e é casto
o que é milagre e perigo
e se espreguiça e respira
e viaja por capricho.
Amo viajar descalço.
(Tradução: Herberto Helder)
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Aldravia de Belo Horizonte/MG
ANGELA TOGEIRO
mente
jovem,
corpo
envelhecendo:
ninguém
merece!
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ
JOÃO COSTA
Viajante do Tempo
Venho de longe, nos ombros trazendo
peso de vidas outrora vividas.
Venho de longe, venho de outras vidas,
tempo afora vivendo e revivendo.
De tempos idos, priscas eras idas
venho volvendo tempo-espaço, sendo
em cada ciclo (vivendo e aprendendo)
preparado para futuras vidas.
E sigo nesta contínua viagem
pelo que chamam tempo. Na bagagem
vou transportando infinitas memórias.
Venho de longe e vou rumo ao futuro
– destino infinito. Sigo seguro
de que ainda viverei muitas histórias.
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Trova Premiada em Jambeiro/SP, 2003
ABÍLIO KAC
(Rio de Janeiro/RJ)
Num dos rodeios da vida
conquistei o meu espaço...
Não pela prova vencida,
mas por vencer meu fracasso!
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Poema do Rio Grande do Sul
MÁRIO QUINTANA
Alegrete/RS, 1906 – 1994, Porto Alegre/RS
A Torre Azul
É preciso construir uma torre
- uma torre azul para os suicidas.
Têm qualquer coisa de anjo esses suicidas voadores,
qualquer coisa de anjo que perdeu as asas.
É preciso construir-lhes um túnel
- um túnel sem fim e sem saída
e onde um trem viajasse eternamente
como uma nave em alto-mar perdida.
É preciso construir uma torre…
É preciso construir um túnel…
É preciso morrer de puro,
puro amor!…
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Quadra Popular
Que cigarro tão cheiroso!
Me dê uma fumacinha.
Com a desculpa do cigarro,
sua mão pega na minha.
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ
FERNANDO FORTES
Carlos Fernando Fortes de Almeida
1936 – 2016
X
Tu finges que és feliz e em ti persiste
A miséria de todos os humanos
Se os anos da existência foram tristes
Não há por que ocultar teus próprios danos.
Fizeste pela vida tantos planos
E nenhum de teus planos construíste
Tudo aquilo que um dia possuíste
Foi poeira na estrada de teus anos.
A velha eternidade te carrega
No seu colo triunfal de fantasia
Mas foge o tempo e a morte ainda não chega.
Buscas a Deus e o mesmo Deus te nega
O coração do céu que se anuncia:
Pois Deus existe mas jamais se entrega.
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Trova de Curitiba/PR
VANDA ALVES DA SILVA
Na vida vivo tentando
tornar meu mundo risonho,
pois a tristeza vem quando
existe ausência de um sonho.
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Poema de Belo Horizonte/MG
ROGÉRIO SALGADO
Conceito
para Otávio de Campos
Sou o que representa
a febre, a dor
a expressão exata
a corda que desata
todos os nós acorrentados
aos conceitos do que
querem que a poesia seja.
Canto a canção ferida
daquilo que é doído
tenho olhos de vidros partidos
e a imensidão de compor.
Não me estabeleço
amanheço, entardeço, anoiteço
na forma mais concreta.
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Haicai de Ilhéus/BA
GIL NUNESMAIA
Vi a lua cheia
entre fios telegráficos:
uma semibreve!
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Setilha de Caicó/RN
PROFESSOR GARCIA
Mesmo com tanta maldade
eu alimento a esperança,
de ver um mundo feliz
sabendo que não se alcança;
mas esta fé que me guia,
vem da força da poesia
que trago desde criança.
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Trova de Belo Horizonte/MG
OLYMPIO COUTINHO
Nada recebe quem nega
dar amor ou coisa assim...
Só colhe flores quem rega
dia e noite o seu jardim.
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Glosa do Rio Grande do Sul
GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS
Entrar no céu sonhando
MOTE:
Sei que, deste mundo lindo,
vou sair, só não sei quando,
mas quero morrer dormindo
para entrar no céu sonhando.
José Lucas de Barros
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN
GLOSA:
Sei que, deste mundo lindo,
o meu tempo está escasso,
mas continuo sorrindo...
Sou feliz, por onde passo.
Tenho sim, plena certeza,
vou sair, só não sei quando,
vou deixar esta beleza:
o mundo, que estou amando!
Dias e noites, vão indo,
e a morte ronda por perto...
Mas quero morrer dormindo,
morrerei feliz, por certo!
Vou dormir, tal qual criança,
mil sonhos acalentando,
não perderei a esperança...
Para entrar no céu sonhando.
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Aldravia de São Gonçalo do Rio Abaixo/MG
MIRIAM STELLA BLONSKI
olhos
vazios
de
sonhos:
face
perdida
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Soneto de São Paulo/SP
MARIA JOSÉ GIGLIO
[4]
Não se deve gritar ao surdo vento
a canção destinada a ser ouvida
na glória silenciosa de um momento
no efêmero momento de uma vida.
Não se deve pedir ao isolamento
a comunhão ao gênio oferecida,
na face opaca do deslumbramento
espelha-se a maldade enlanguecida.
Não bastam para a vida os temas puros,
não dês à morte falsos esconjuros
que vida e morte se rirão de ti.
Ama, inda que esse amor semelhe um crime
pois só o amor de teu amor redime
a dispersão das almas que perdi.
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Trova Premiada em Curitiba/PR, 2010
MILTON SOUZA
Porto Alegre/RS, 1945 – 2018, Cachoeirinha/RS
Madrugada… No infinito,
estrelas a cintilar…
Mas meu céu é mais bonito:
ele brilha em teu olhar!
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Poema de São Paulo/SP
OSWALD DE ANDRADE
1890 – 1954
Escapulário
No Pão de Açúcar
de cada dia
Dai-nos Senhor
a Poesia
de cada dia.
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Triverso de São Paulo/SP
GRACIANE DOS SANTOS SILVA
Vento forte na janela
a menina se assusta -
Trovoada.
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Ramalhete de Trovas Traiçoeiras com Final Feliz!
NEMÉSIO PRATA
Fortaleza/CE
Olhando com bem clareza
pras marcas do seu herdeiro,
já não tem tanta certeza
de ser o pai verdadeiro!
Olho azul, branco e lourinho
o filho do "Zé Negão"
lembrava mais o vizinho;
coitado, tinha razão!
Mas o popular ditado
diz que Pai é o que cria,
sem olhar se foi botado,
ou se feito à revelia!
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Trova de Fortaleza/CE
FRANCISCO JOSÉ PESSOA
Fortaleza/CE, 1949 - 2020
Quando o sol se faz mais forte
e a chuva responde...não!
a silhueta da morte
se espraia pelo sertão.
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Hino de Juiz de Fora/MG
Compositores: Duque Bicalho e Lindolfo Gomes
Viva a Princesa de Minas,
Viva a bela Juiz de Fora,
Que caminha na vanguarda
Do progresso estrada a fora!
Os seu filho operosos
Asseguram-lhe o porvir,
Para vê-la grandiosa
Nunca têm mãos a medir...
Das cidades brasileiras
Sendo a mais industrial,
Na cultura e no trabalho
Não receia outra rival.
Das cidades brasileiras
Sendo a mais industrial,
Na cultura e no trabalho
Não receia outra rival.
Demos palmas, demos flores
Aos encantos da Princesa!
Ela é rica de primores
Da poesia e da beleza.
É a cidade aclamada,
Do trabalho e da instrução,
É do Cristo abençoada
Sob o sol da religião.
Das cidades brasileiras
Sendo a mais industrial,
Na cultura e no trabalho
Não receia outra rival.
Das cidades brasileiras
Sendo a mais industrial,
Na cultura e no trabalho
Não receia outra rival.
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Poetrix de Limeira/SP
CARLOS ALBERTO FIORE
Pico
Sons, buzinas, neuroses.
Pressa predadora, desumana.
A rua enfrenta o dia.
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Poema de Portugal
HERBERTO HELDER
Funchal/Ilha da Madeira, 1930 – 2015, Cascais
Sobre um Poema
Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.
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Trova de São Paulo/SP
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
Se vejo o mundo às escuras,
embarco em meu sonho...e assim,
subo a escada e, nas alturas,
acendo um sol para mim!
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Fábula em Versos da França
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris
Ossos do ofício
Uma vez uma besta do tesouro
Uma besta fiscal,
Ia de volta para a capital
Carregada de cobre, prata e ouro,
E no caminho
Encontra-se com outra carregada
De cevada
Que ia para o moinho.
Passa-lhe logo adiante
Largo espaço,
Coleando arrogante
E a cada passo
Repicando a choquilha,
Que se ouvia distante.
Mas salta uma quadrilha
De ladrões,
Como leões,
E qual mais presto
Se lhe agarra ao cabresto.
Ela reguinga e dá uma sacada,
Já cuidando
Que dispersava o bando;
Mas, coitada!
Foi tanta a bordoada,
Que exclamava enfim
A besta oficial:
«Nunca imaginei tal!
Tratada assim...
Uma besta real!
Mas aquela, que vinha atrás de mim,
Porque a não tratais mal?!
— Minha amiga! cá vou no meu sossego:
Tu tens um belo emprego;
Tu sustentas-te a fava, e eu a troços;
Tu lá serves El-Rei, e eu um moleiro;
Eu acarreto grão, e tu dinheiro:
Ossos do ofício... que não há sem ossos!»
(tradução: João de Deus)
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Colaborações: gralha1954@gmail.com
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