quarta-feira, 26 de junho de 2024

Vereda da Poesia = 45 =


Trova Humorística, de São Paulo/SP

JAIME PINA 
 
Só três?! (o paizão lamenta),
vendo os bebês no bercinho.
Ah, se a rede não rebenta,
"nóis" enchia esse quartinho!
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Soneto de São Paulo/SP

ÁLVARES DE AZEVEDO
(Manuel Antônio Álvares de Azevedo)
1831 – 1852, Rio de Janeiro/RJ

Soneto do anjo

Pálida, à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!

Era a virgem do mar! na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d'alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!

Era mais bela! o seio palpitando...
Negros olhos as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...

Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti — as noites eu velei chorando,
Por ti — nos sonhos morrerei sorrindo!
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Aldravia de Mesquita/MG

CIDA PINHO

colo
de
mãe
cantinho
de
céu
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Soneto de São Luís/MA

ARTHUR* DE AZEVEDO
(Arthur Nabantino Gonçalves de Azevedo)
1855 – 1908, Rio de Janeiro/RJ

Infantilidade

Que reboliço vai em casa de Marieta!
É que fugiu Mignonne, a gata favorita,
E tanto chora e chora a pobre pequenita,
Que o papai manda pôr anúncio na gazeta.

Da vizinhança alguém, com olho na gorjeta,
A trânsfuga encontrou, que andava de visita
Ao demo de um maltês filósofo que habita
De um canto de fogão a cálida saleta.

Marieta, ao ver Mignonne, estende-lhe os bracinhos.
Dá-lhe um banho de amor em beijos e carinhos,
Nervosa, a soluçar, e, ao mesmo tempo, a rir.

E entre afagos lhe diz: "Senhora, foi preciso
Pôr um anúncio! Veja o que é não ter juízo!"
E todo o anúncio lê para Mignonne ouvir...
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* Segundo registrado na Biblioteca Nacional, o correto é Arthur (com h após o t)
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Trova Premiada  em Nova Friburgo/RJ, 2004

ELISABETE SOUZA CRUZ 
(Nova Friburgo/RJ)

Este amor, mal necessário,
que a insensatez fez surgir,
é o erro mais arbitrário
que eu não quero corrigir! 
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Poema de Recife/PE

EDLA FEITOSA
(Edla Feitosa Costa)

Órion
 
Não está escuro!
Existe um jogo de luz e sombra
E um certo silêncio.
Órion muda de lugar
E me confunde ….
Um cão ladra ao longe
Um gato ágil escala telhados
A taça enche e esvazia
Como a maré que sussurra ao longe.
As nuvens cobrem as estrelas ….
E dói a solidão.
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Quadra Popular de Faro/Portugal

ISIDORO CAVACO
(António Isidoro Viegas Cavaco)

Destino que me condenas
a viver da dor tão perto,
não sendo ave de penas
de penas estou coberto.
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Soneto de Portugal

FILINTO DE ALMEIDA
(Francisco Filinto de Almeida)
Porto, 1847 – 1955, Rio de Janeiro/RJ

Cansaço

A velhice é cansaço... E esse cansaço
Não nos vem de trabalho ou movimento...
O que ora faço é demorado e lento
E acho mal feito o pouco que ainda faço.

Tudo me cansa: — até o pensamento!
Já pouquíssimo ando e arrasto o passo...
Quase sempre dorminte ou sonolento,
Vivo uma triste vida de madraço.

Nunca fui mandrião nem calaceiro,
Nem também muito ativo, é bem que o diga,
Mas domei sempre a inércia, sobranceiro.

Agora, a própria inércia me castiga,
Pois se acaso repouso um dia inteiro
Esse mesmo repouso me fatiga!
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Trova do Rio Grande do Sul

LISETE JOHNSON
Butiá/RS, 1950 – 2020, Porto Alegre/RS

Às vezes, da terra bruta
e de um par de pés no chão
que vêm o exemplo de luta
e ânsias de superação!
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Poema de Ribeirão Preto/SP

ELISA ALDERANI

As maritacas

No alto do ipê, com galhos ressequidos,
chegaram de repente
duas maritacas multicoloridas.
Pararam para conversar
e, encantaram meu olhar.

O ipê tão despido de flores,
agora é rico de vagens,
cheias de sementes.
Espera as visitas das aves,
que alegram o final das tardes.

O casal de maritacas, rodeando os galhos.
Mostravam os belos trajes,
abriam as asas avermelhadas.
Enchiam o peito esverdeado,
para gorjear com mais vaidade.

Com a janela aberta, apreciando a dança,
entrei no ritmo da fotografia.
Elas observavam, arranjavam pose,
haviam percebido
uma presença amiga…
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Haicai de Ilhéus/BA

ABEL PEREIRA

O Ocaso

No rio profundo,
o sol parece outro sol
a emergir do fundo.
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Sextilha Do Rio Grande do Norte

ADEMAR MACEDO
Santana do Matos, 1951 – 2013, Natal+

Eu sempre passo o domingo
sentindo e dando alegrias,
visitando meus amigos
que não vejo há vários dias;
e caçando inspiração
pra fazer minhas poesias…
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Trova de São Paulo/SP

THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

Sozinho na madrugada,
cabelos brancos ao vento,
canta o boêmio... e a toada
é um triste e doce lamento!
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Glosa de Fortaleza/CE

NEMÉSIO PRATA

MOTE 
Chamaste meu pai de otário? 
Repete-o, se és homem... vem! 
- Chamei não, pelo contrário... 
Mas que ele tem cara, tem!
A. A. de Assis 
(Maringá/PR) 

GLOSA 
Chamaste meu pai de otário? 
Pois saiba..., mexeu comigo! 
Puxe logo o seu "rosário" 
pois vou furar teu umbigo! 

Cabra, não fale besteira! 
Repete-o, se és homem... vem! 
Pois comigo é na peixeira; 
não dou sopa pra ninguém! 

- Se eu chamei teu pai de otário? 
- Isto é pergunta que faça? 
- Chamei não, pelo contrário... 
acho-o até um "boa praça"! 

Eu juro, por Cristo, o Rei, 
e por São José, também, 
que, nem na "mente" eu falei.. 
Mas que ele tem cara, tem!
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Aldravia de Juiz de Fora/MG

CECY BARBOSA CAMPOS

árvores
alpinistas
escalam
montanhas
cumprimentando
nuvens
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Soneto de São Paulo/SP

ELISA BARRETO
(Elisa Virgínia Kirsten Barreto Rolim de Moura)
1919 – 2005

Soneto Trágico III

É o fingido, o mentiroso
com olhos desmesurados
num sofrimento horroroso,
tributo dos seus pecados.

É o ladrão, o usurpador,
que sem dó nem piedade
fez de um puro e santo amor
um campo de crueldade.

É o opressor que suplica
aflito, desesperado,
comutação para a pena.

Minha alma em dúvida fica:
Que caos desesperançado
que sufoca e que envenena!
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Trova Premiada  em Natal/RN, 2010

MARISA VIEIRA OLIVAES 
(Porto Alegre/RS) 

Inspiração, não me deixes 
neste mundo imerso em dor! 
– Sem ti, sou rio… sem peixes… 
Sou coração… sem amor…!
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Poema de São Paulo/SP

FILEMON FRANCISCO MARTINS

Prefiro ser...

Prefiro ser a flor
Que perfuma, ainda que fira com seus espinhos...

Prefiro ser o orvalho da noite
Que cai, aos poucos, umedecendo a terra
E deixando as plantas e flores com seiva e vida...

Prefiro ser o pássaro, em algazarra,
Pulando de galho em galho
No cantar das manhãs.

Prefiro ser a água que corre pelos rios
Entre serras e vales, contornando obstáculos
Até chegar ao oceano...

Prefiro ser o mar imenso e forte, 
que apesar de belo,
Traz na valentia a marca da morte...

Prefiro ser a praia com areia branca e fina
Beijando as ondas que vão e vêm... Inconstantes...
Como se fossem inquietos amantes.

Prefiro ser um sonho bom cheio de cores e sons
De quem ama e sonha... 
De quem nunca sonhou...

Prefiro ser a lua que vagarosamente ilumina a todos
E emociona os casais de namorados
Inspirando-lhes idílios de amor...

Prefiro ser o sol que brilha intensamente para todos
E até empresta sua luz à lua 
para iluminar a noite...

Mas prefiro ser mesmo
A esperança no rosto da criança que, infelizmente,
O mundo nunca viu e sempre a abandonou...
Mas traz, dentro de si, 
o futuro, a paz, o amor e o perdão!
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Triverso de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS
(Antônio Augusto de Assis)

Na fila de idosos,
troca-troca de sintomas.
Quem não tem inventa.
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Setilha de Natal/RN

MARCOS MEDEIROS

A chuva mal começava,
a meninada partia
pra debaixo das biqueiras,
por onde a água escorria
e, depois na enxurrada,
morria de dar risada
extravasando alegria.
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Trova de Bauru/SP

ERCY MARIA MARQUES DE FARIA

A insônia que vai além
das horas da madrugada,
por teimosia mantém
minha saudade acordada...
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HINO DE PINHALÃO/PR

Letra e Música: Lairton Trovão de Andrade

Sob a crista altaneira da serra,
proliferas febril Pinhalão.
Do humilde recanto da terra
surges meiga na imensa nação.

Bis: Nas sombras dos teus bosques
brilhou o céu de anil,
profundo desafio
a virgem selva em flor.

Estribilho
Doce Torrão querido,
Reino dos cafezais,
Bis: Onde se tem palmeiras
E lindos pinheirais.

Verdes campos de reses mimadas,
tremulantes jardins de cereais,
enobrecem tuas mãos calejadas
sobre o solo de mil minerais.

Bis: As ondas das colinas,
Planícies, serranias,
emitem melodias
do ouro vegetal.

Estribilho
Doce Torrão querido,
Reino dos cafezais,
Bis: Onde se tem palmeiras
E lindos pinheirais.

Terra amada de eterna bonança,
com firmeza aderiste ao Brasil.
Turbilhões em caudais de esperança
Revigoram-te o ardor varonil

Bis: "Rio Cinzas"!... "Boa Vista"!
"Triângulo" e "Serrinha"!
"Campina" e "Lavrinha"!
Oh! Salve! Salve! Salve!

Estribilho
Doce Torrão querido,
Reino dos cafezais,
Bis: Onde se tem palmeiras
E lindos pinheirais.
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Poetrix de Belo Horizonte/MG

ÂNGELA TOGEIRO

Leitura

Os dedos do cego
captam detalhes mais íntimos
nas rugas, leem o ego
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ

DOM PEDRO II
(Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga)
1825 – 1891, Paris/França

A Vida e o Barco

Andar e mais andar é a vida a bordo;
Mal estudo, e apenas eu vou lendo;
A noite com a música entretendo;
Deito-me cedo, e mais cedo acordo.

Saudosíssimo a pátria eu recordo,
E, pra consolo versos lhe fazendo,
Desenho terras só aquela vendo,
E para não chorar os lábios mordo.

Enfim há de chegar, eu bem o sei,
Que o Brasil eu reveja jubiloso;
E, se outrora eu servi-lo só pensei,

Muito mais forte e muito mais zeloso,
Para ainda mais servi-lo, voltarei
‘Té que nele encontre o último repouso.
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Trova de Niterói/RJ

PAULO R. O. CARUSO
(Paulo Roberto Oliveira Caruso)

Fogueira em festa junina...
Eu me queimei um bocado!
Na quadrilha eu vi menina
e saí de lá casado!
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Poema de Vila Velha/ES

APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA

Introspecção

MEU SER
Vou confessar-te agora
A distância me apavora
Sinto-me mal sem amor
Sem carinho, sem ternura...
Caminho na desventura
D’uma senda de amargor

Sou barco vagando ao léu
Nas ondas deste escarcéu
Que se acercam de mim...
Estou quase soçobrando
Triste batel esperando
Chegar afinal meu fim

Marinheiro sem guarida
Tão só, ilha perdida,
Sou proscrito de amor
Sinto sede de afeto
Este vil e pobre feto
Neste mar de amargor

E, quem eu não queria
Que fizesse companhia
Junto ao meu coração,
Antes da sua estada,
Deu seu nome na entrada:
“– Eu me chamo “SOLIDÃO”

SOLIDÃO
“...– Eu trouxe também comigo
Alguém pra ficar contigo
Com quem terás amizade
Vai falar-te no passado
Do que tenhas mais gostado
Seu nome é “SAUDADE...”

SAUDADE
“... Serei tua amiga inglória
Narrarei muitas histórias
De amor, de incertezas
Mas, se eu tiver que ir
Há de me substituir
Minha irmã – a TRISTEZA...”

TRISTEZA
“... Serei o teu destino
E também teu desatino
Quando estiveres a sós
Principalmente agora
Que o teu coração chora
Embargando tua voz...”

EU
Ah, meu ser, que loucura
Tamanha a desventura
Pela qual tenho passado...
Quisera morrer agora
Exatamente nesta hora
Estou abatido, acabado!

DOR
“... Espere, eu sou a Dor
Sinto imenso desamor
A corroer tua alma
Quero ao teu lado ficar
Te dar a paz e a calma
Mas preciso contigo morar"

EU
Assim falou-me a dor
Resoluta, com dulçor
Implorando pra ficar
Mas, ah, minha doce amada
Não te posso dar pousada
Se o meu amor regressar

Quisera ter em verdade
Comigo a Felicidade
Que se foi sem um adeus...
Deixou-me há muito tempo
Dando lugar ao Tormento,
Um dos parentes teus.

TORMENTO
"Também quero me aconchegar,
Ao teu lado, ser teu amigo,
Fazer parte do teu mundo...
Se não me deixares ficar,
Posso até vir a soçobrar,
Devido a desgosto profundo."

EU
"Não, Tormento, não te quero
Fica bem longe, peço que vá
Hoje, bem sei, estou perdido
Mas não me pilhei,
De todo, vencido,
Minha Amada breve retornará"

AMADA
"Que bom que acreditastes
Na minha volta, paixão
Se magoei teu coração
Perdoa, eis-me aqui
Acabou tua infelicidade
Sou tua Felicidade: voltei pra ficar."

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