Soneto de Bandeirantes/PR
LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DECARLI
Amor Primeiro
Amei-te, sim, meu Deus, como eu te amei!
Relembro, aqui, dos meus sofridos passos...
Inenarráveis dores suportei,
vagando, enquanto estavas noutros braços.
À tua indiferença eu me curvei...
Longe de ti, consciente dos fracassos,
Deixei a luta, e ali, me acovardei,
Ouvi a razão, rompi meus frágeis laços.
Contudo, agora enxergo claramente,
Após tentar tirar-te, em vão, da mente:
— ninguém esquece o imenso amor primeiro!
Há muitos anos vivo neste mundo...
O tempo vem provar: — mesmo infecundo,
Tão grande amor se fez ... o derradeiro!
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Soneto de Santos/SP
CAROLINA RAMOS
Velho Rio
Deslizas velho rio, amargo e silencioso,
a esconder, bem ao fundo, a injúria e a dor calada.
Cresceste manso, puro! E teu caudal piscoso
refletia o esplendor da luz da madrugada!
Quantas milhas coleaste! Fértil, dadivoso,
quantos lares supriste! E se a sede saciada
afugentou a seca, esse fantasma odioso,
tiveste, em paga injusta, a face maculada!
Hoje, segues tristonho… sujo… moribundo...
tendo no seio o estigma e, na alma dolorida,
toda a angústia de ser a lixeira do mundo!
Velho rio... depois de tanto desengano,
entendo porque, enfim, protestas contra a vida
e afogas tua dor no abismo do oceano!
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Trova Premiada na Ilha da Guanabara, 1965
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Poema de Lisboa/Portugal
ANA MAFALDA LEITE
Caixinha De Música
impregno-me em ti como um perfume
como quem veste a pele de odores ou a alma de cetins
quero que me enlaces ou me enfaixes de muitos laços
abraços fitas ou fios transparentes
em celofane brilhando uma prenda
uma menina te traz vestida de lumes
incandescendo incandescente
te quer embrulhado em véus de seda e brocado
encantada a serpente a flauta o mago
senhor a toca
e quando me toca
o corpo eu abro
caixinha de música
dentro
com bailarina que dança
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QUADRA POPULAR
As rosas é que são belas,
são os espinhos que picam,
mas são as rosas que caem,
são os espinhos que ficam...
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Soneto de Juiz de Fora/MG
ROMILTON ANTÔNIO DE FARIA
Bons Tempos
Sou do tempo do pão posto à janela,
de contemplar a lua cor de prata,
do tempo que guardava a carne em lata,
do meu blusão xadrez, chita ou flanela.
Nesse tempo benzia até espinhela.
Via o leite fervido dando nata,
do tempo que dizia a paixão mata
chorando ao machucar sem ter sequela.
Os conselhos, histórias e respeitos,
todos os bons valores, seus efeitos
se afastaram de mim. Eu vivo, agora,
sem moda de viola em minha sala,
sentindo que a saudade, hoje, me cala,
percebo que esse tempo foi-se embora!
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Spina de Contagem/MG
ZEZÉ DE DEUS
Família Pulgões
Estava eu sugando
a seiva do
brotinho da planta.
Tudo ia muito bem, quando
veio sobre todos nós aquela
fedida botina do tipo jamanta.
Logo, gritei: filhinhos, saiam fora!
Deixem para depois a janta!
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Trova do Rio de Janeiro
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Poema de Cabo Frio/RJ
ABEL FERREIRA DA SILVA
Galo cantando
Tem tempo que não ouço um galo
cantando na madrugada
um galo chamando o dia
dentro da noite calada
Seu canto marcando o terreno
de sua própria ousadia
entre a sombra e o clarão
na noite a sua vigia
Canto que puxa o tempo
de dentro do poço escuro
sangue de um outro dia
carne de um outro futuro.
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