GILVAN CARNEIRO DA SILVA
O truque falha...vermelho,
o mágico diz que o enguiço
é culpa do seu coelho
que ainda é novo no serviço...
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ
ADELMAR TAVARES
Recife/PE, 1888 – 1963, Rio de Janeiro/RJ
Covardia
Se ela bater de novo à minha porta,
arrependida, para o meu amor,
hei de dizer-lhe tudo quanto corta
minha alma, como um gládio vingador!...
O que vier desse gesto, pouco importa!
Não se fez cega e surda à minha Dor?!
Pois bem, nem mesmo se hoje a visse morta,
dar-lhe-ia a reverência de uma flor...
Mas, ai! batem de leve na janela.
Entram na sala... Sua voz... É tarde
para fugir de vê-la! Enfrento-a... É ela!
Hesito... Tremo... E sôfrego... aturdido,
caio nos braços seus como um covarde,
e me ponho a chorar como um perdido!
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Aldravia de Vitória/ES
MATUSALÉM DIAS DE MOURA
minha
alma
chora
um
sonho
morto
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Soneto do Rio de Janeiro
ATHOS FERNANDES
Itaperuna/RJ, 1920 – 1979, Bom Jesus do Itabapoana/RJ
Pedintes
O pobre pede o pão. O nobre pede o trono.
O santo pede o altar, o crente pede a missa,
e quem das leis sociais sofre amargo abandono
ergue as mãos para o Céu, pedindo por justiça.
Quem ama pede amor. O insone pede o sono.
O mártir pede a cruz, e pede, o herói, a liça.
Pede o inverno o verão. A primavera o outono,
e o sábio pede a luz da verdade castiça!
Quem luta pede a paz. O enfermo pede a cura.
O verme pede a terra e a águia pede a altura
e quem sofre a opressão pede a mão que o redima.
E o Poeta, também, seguindo a mesma norma,
é um mendigo a pedir a pureza da Forma,
a beleza da Ideia e a riqueza da Rima!
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Trova Premiada em Ribeirão Preto/SP, 1998
DOROTHY JANSSON MORETTI
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP
Meus pobres sonhos, tão fracos,
a vida em escombro os fez,
mas, teimosa, eu junto os cacos…
e eis-me a sonhar outra vez!
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Poema de Divinópolis/MG
ADÉLIA PRADO
(Adélia Luzia Prado Freitas)
Exausto
Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.
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Quadra Popular
Meu benzinho não é este,
nem aquele que lá vem.
Meu benzinho está de branco,
não mistura com ninguém.
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Soneto de Portugal
FLORBELA ESPANCA
(Florbela de Alma da Conceição Espanca)
Vila Viçosa, 1894 – 1930, Matosinhos
Se Tu Viesses Ver-me...
Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...
Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...
Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri
E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...
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Trova de Belém/PA
ANTONIO JURACI SIQUEIRA
Vão-se as agruras da lida
e tudo tem mais valia
sempre que a vida é envolvida
nos braços da poesia!
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Poema de Petrópolis/RJ
CARMEN FELICETTI
Acalanto do mar
Linda rede azul e verde
Azul e verde é o mar
Uma ponta em Cabo Frio
A outra, onde estará?
A sua franja branquinha
De renda do Ceará
Vai se arrastando na areia
Num doce pra lá pra cá.
O vento a embala fraco
O vento a embala forte
Depende se vem do sul
Depende se vem do norte.
O pescador no seu ventre
Todo dia arrisca a sorte
A sua trama é tecida
Com fios de vida e morte.
Á noite a voz da sereia
O marinheiro convida
Para dormir e sonhar,
Deitar no fundo da rede
E enroscar o seu corpo
No corpo de Iemanjá.
E vai e ondula e oscila
E vem balança e tonteia
E sua renda branquinha
Risca um bordado na areia.
Linda rede azul e verde
Azul e verde é o mar
Uma ponta em Cabo Frio
A outra, onde estará?
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Haicai de Goiânia/GO
RENEU DO AMARAL BERNI
Borboleta
No varal do pátio,
Sobre a saia de florzinhas,
Uma borboleta.
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Sextilha de Limoeiro do Norte/RN
ANTONIO NUNES DE FRANÇA
Em Limoeiro do Norte,
a tarde mudou de clima;
assim houve duas chuvas:
uma d’água, outra de rima;
uma de cima pra baixo,
outra de baixo pra cima.
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Trova Humorística de São Paulo/SP
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
Chegou a sogra, querida,
e a desgraça aconteceu:
veio o cão... Com a mordida,
deu a raiva... e o cão morreu!
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Glosa do Rio Grande do Sul
GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS
Lareira saudade...
MOTE:
Fiz da saudade que aquece
a solidão dos meus dias,
a mensagem que enternece
minhas horas tão vazias.
Carolina Ramos
Santos/SP
GLOSA:
Fiz da saudade que aquece,
minha doce companheira,
peço, fique, quase em prece,
comigo, na noite inteira!
Eu preciso amenizar
a solidão dos meus dias,
minhas noites, a chorar,
são tristes, sem alegrias.
Quando o meu tempo anoitece
lanço em ecos pelo mundo
a mensagem que enternece
desse meu sofrer profundo!
Saudade, lareira ardente,
vem, aquece as horas frias,
enche de amor, ternamente,
minhas noites tão vazias.
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Aldravia do Rio de Janeiro/RJ
MESSODY RAMIRO BENOLIEL
chuvas
gostosas
lembranças
tuas
minhas
nossas
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Soneto de Euclides da Cunha/BA
INÁCIO DANTAS
Soneto aos poetas
Todo poeta canta para si
a paz e o amor que deseja para o mundo!
Canta, entra no mundo da magia,
põe o tom da paixão n´alma inquieta
move do céu os trovões da alegria
diz o amor com lábios de profeta.
Ergue o teu pensar em linha reta
canta o que tem da vida mais valia,
se alguém não se lembrar do poeta
talvez ainda se lembre da poesia.
Fugir do amor quem o faz se ilude,
revela uma poesia feita a esmo
quem ama e se fecha em si mesmo.
O amor é poesia na sua plenitude!
– Poeta, dessa madeira que tu lavras
constrói o teu castelo de palavras!
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Trova Premiada de São Paulo/SP
ROBERTO TCHEPELENTYKY
O destino escreve a escolha
do amor de nós dois assim:
Páginas da mesma folha…
Tu… de costas para mim!…
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Poema de Portugal
AL BERTO
(Alberto Raposo Pidwell Tavares)
Coimbra, 1948 – 1997, Lisboa
Acordar tarde
tocas as flores murchas que alguém te ofereceu
quando o rio parou de correr e a noite
foi tão luminosa quanto a mota que falhou
a curva - e o serviço postal não funcionou
no dia seguinte
procuras ávido aquilo que o mar não devorou
e passas a língua na cola dos selos lambidos
por assassinos - e a tua mão segurando a faca
cujo gume possui a fatalidade do sangue contaminado
dos amantes ocasionais - nada a fazer
irás sozinho vida dentro
os braços estendidos como se entrasses na água
o corpo num arco de pedra tenso simulando
a casa
onde me abrigo do mortal brilho do meio-dia
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Triverso de Curitiba/PR
ALICE RUIZ
Tempo
Voltando com amigos
o mesmo caminho
é mais curto.
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Spina de Campo Mourão/PR
JOSÉ FELDMAN
REPOUSO DA GUERREIRA
Repousa a gatinha
envolta na aura
de pura serenidade.
Em seu semblante, a sensação
de satisfação de outro dia
de lutas contra a adversidade.
Dorme o sono da guerreira,
baú de sonhos da divindade.
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Trova de Caicó/RN
PROFESSOR GARCIA
Na vida, são tantos "ismos",
no entanto, o que é mais feroz,
é aquele que abre os abismos
do abismo que há entre nós!
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Acróstico de Contenda/PR
HILDEMAR CARDOSO MOREIRA
Antônio Eugênio
(Acróstico ao graduando Antônio Eugênio Pavloski)
A escalada do progresso é sempre dura,
Não progride nesta vida quem não luta
Todos têm necessidade da cultura:
O saber, valor garante na labuta.
Não é apenas o diploma conquistado,
Isso que consegue o jovem estudante,
O mais importante, é sim, o aprendizado,
E aprender e saber nunca é bastante.
Um degrau tu venceu galhardamente,
Ganhaste uma batalha heroicamente,
E muitas vencerás nos dias teus.
Não descure porém o analfabeto,
Irmane-se ao inculto, dê-lhe afeto:
O amor é a nave que nos leva a Deus.
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Poetrix de São Paulo/SP
BETO QUELHAS
águas do rio
passam com rapidez
como o amor que partiu
e a dor que se fez
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Soneto do Paraná
EMILIANO PERNETA
(Emiliano David Perneta)
Pinhais/PR, 1866 — 1921, Curitiba/PR
Ao cair da tarde
Agora nada mais. Tudo silêncio. Tudo,
Esses claros jardins com flores de giesta,
Esse parque real, esse palácio em festa,
Dormindo à sombra de um silêncio surdo e mudo...
Nem rosas, nem luar, nem damas... Não me iludo,
A mocidade aí vem, que ruge e que protesta,
Invasora brutal. E a nós que mais nos resta,
Senão ceder-lhe a espada e o manto de veludo?
Sim, que nos resta mais? Já não fulge e não arde
O sol! E no coril negro deste abandono,
Eu sinto o coração tremer como um covarde!
Para que mais viver, folhas tristes do outono?
Cerra-me os olhos, pois, Senhor. É muito tarde.
São horas de dormir o derradeiro sono.
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Trova de Maringá/PR
A. A. DE ASSIS
Na minha idade avançada,
ser sensato é insensatez...
– Agora ou é tudo ou nada:
sou feliz ou perco a vez!
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Poema do Rio de Janeiro/RJ
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Tempo de olhar o tempo
Um olho no relógio, outro na vida;
O tempo não convida, ele intima;
Quem não sabe lutar, foge da esgrima;
Quem bate no destino, ele revida.
Embora a tristeza nos oprima,
Quem não conhece a dor, sente a ferida
Na víscera da dor mais dolorida…
O amor é uma dor que não vitima.
Deus nunca olha o homem lá de cima,
Ele aproxima o ser do Criador;
E quando ele se vê no seu senhor,
Entrega-lhe essa dor que o subestima.
O amor é uma sublime obra-prima
Que prima pela criatividade;
Ele se move acima da maldade,
Por mais que alguma mágoa o deprima.
Ninguém consegue ver olhando a esmo,
E quando o nosso olhar nos desanima,
Fazemos nosso amor ter como rima
A dor que o desamor faz de si mesmo.
Um olho no relógio… e na manhã;
Poetas têm a solidão por prima
Mas é na solidão que os anima
Que a emoção se torna… sua irmã.
(Primeiro Lugar no Concurso Literário da Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil 2013)
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