sábado, 29 de junho de 2024

Recordando Velhas Canções (No Tabuleiro da Baiana)


Compositor: Ary Barroso

No tabuleiro da baiana tem
Vatapá, oi
Caruru
Mungunzá, oi
Tem umbu, pra ioiô

Se eu pedir você me dá
O seu coração, seu amor de iaiá

No coração da baiana tem
Sedução, oh
Canjerê
Ilusão, oh
Candomblé pra você

Juro por Deus, pelo Senhor do Bonfim
Quero você, baianinha, inteirinha pra mim
Sim, mas depois, o que será de nós dois?
Seu amor é tão fugaz, enganador

Tudo já fiz fui até um canjerê
Pra ser feliz, meus trapinhos juntar com você
E depois vai ser mais uma ilusão
Que no amor quem governa é o coração
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A Magia e Sedução do Tabuleiro da Baiana

"No Tabuleiro da Baiana" é um dos maiores sucessos de Ary Barroso nos anos trinta. Sucesso, aliás, que o surpreendeu, conforme confessou à revista Carioca, em 23.10.37: "'No Tabuleiro da Baiana' foi a primeira música que vendi, tão descrente eu estava do seu mérito. Foi-me encomendada por Jardel Jercolis, que pretendia incluí-la em uma das revistas de sua companhia. A música foi mais 'fabricada' que inspirada; produzi-a mais ou menos à força e acabei compondo-a nos moldes de um batuque feito por mim há vários anos (o samba 'Batuque', gravado por Sílvio Caldas e Elisa Coelho em 1931)".

Mas, embora assim classificada, "No Tabuleiro da Baiana" é uma excelente composição, bem ao estilo Ary Barroso, já mostrando várias daquelas inovações que ele começava a incorporar ao samba. Sua introdução instrumental é tão adequada que faz parte integrante da música. A letra dialogada entre homem e mulher, muito bem construída, ideal para um quadro cômico-musical, têm interferências que funcionam como breques, alguns improvisados na gravação original - por exemplo, o breque "Mentirosa, mentirosa, mentirosa..." foi introduzido pelo cantor Luís Barbosa. A seção "Juro por Deus, pelo Senhor do Bonfim..." quase ad libitum, no meio da música, antecipa um procedimento que Ary usaria outras vezes e que sem dúvida, valoriza o retorno ao ritmo marcado, como em "Os quindins de Iaiá" ( 1941 ) e na segunda versão de "No Morro (Eh, eh!)", rebatizada de "Boneca de piche" (1938).

Comprador dos direitos de "No Tabuleiro da Baiana", para uso exclusivo no teatro, Jardel Jercolis o incluiu na revista Maravilhosa (outubro de 36), na qual era cantado e dançado pela dupla Déo Maia e Grande Otelo. Em 31.12, a composição voltou à cena, na revista É Batata!, da mesma companhia, desta vez apresentada por Oscarito e a menina Isa Rodrigues, então chamada de "Shirley Temple brasileira" e que faria carreira no teatro e na televisão. Antes porém da estreia teatral, "No Tabuleiro da Baiana" já estava gravado por Carmen Miranda e Luís Barbosa, sendo revivido em 1980 por Gal Costa e Caetano Veloso e em 1983 por Maria Bethânia e João Gilberto.

A música 'No Tabuleiro da Baiana' é uma celebração da cultura baiana e dos sabores e encantos que ela oferece. A letra começa descrevendo os quitutes típicos que se encontram no tabuleiro de uma baiana, como vatapá, caruru, mungunzá e umbu. Esses elementos não são apenas alimentos, mas símbolos da rica tradição culinária e cultural da Bahia, que é conhecida por sua diversidade e sabor marcante. A menção a esses pratos evoca uma sensação de nostalgia e pertencimento, conectando o ouvinte às raízes culturais da região.

A canção também explora temas de amor e sedução, utilizando a figura da baiana como uma metáfora para a paixão e o desejo. O coração da baiana é descrito como cheio de sedução, canjerê (um tipo de feitiço), ilusão e candomblé, sugerindo que o amor é uma mistura de magia e mistério. A referência ao Senhor do Bonfim, uma figura religiosa importante na Bahia, adiciona uma camada de espiritualidade e devoção ao desejo do narrador de conquistar a baiana. Essa combinação de elementos culturais e emocionais cria uma atmosfera rica e envolvente, onde o amor é visto como algo poderoso e, ao mesmo tempo, efêmero.

A música termina com uma reflexão sobre a natureza fugaz do amor. O narrador expressa sua preocupação de que, apesar de todos os esforços e até mesmo de recorrer a um canjerê para garantir a felicidade, o amor pode acabar sendo apenas uma ilusão. Essa dualidade entre a esperança e a desilusão é um tema recorrente na obra de João Gilberto, que frequentemente explora as complexidades das emoções humanas através de suas canções. 'No Tabuleiro da Baiana' é, portanto, uma ode à cultura baiana e uma meditação sobre os altos e baixos do amor, capturando a essência da vida com sua mistura de sabores, sentimentos e espiritualidade. 

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